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Resenha: A Invasão das Abelhas de Arthur Herzog

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"Um dos melhores livros de ficção do ano - senão o melhor." Sunday Times

"Uma fascinante história que prenderá o leitor até o fim."Robert Ludlum

"A Invasão das Abelhas é algo absolutamente inesquecível, denso como um favo de mel, apaixonante e inteiramente plausível."Lois Gould

Sinopse:
FAMÍLIA ATACADA POR ABELHAS!! DUAS PESSOAS MORRERAM.
Maryville, Nova York, 26 - Uma família de cinco pessoas foi atacada ontem, nesta cidade, próxima a um rio, por um enxame de abelhas. O Sr. e a Sra. William Peterson morreram em virtude das picadas recebidas e seus três filhos se encontram sob cuidados médicos, sendo que a filha mais velha, Karen, de doze anos, está em estado grave.  O médico local, o Dr. David P. Znac, informou que as vítimas não sofriam qualquer tipo de alergia, afastando assim a hipótese da morte por reação alérgica à picada das abelhas...


O Zumbido do Apocalipse
 As abelhas fazem parte do seleto grupo de insetos essencial para a manutenção da vida humana no planeta, além de sua grande importância econômica, como na produção de mel, cera e própolis, elas tem um papel fundamental na agricultura, através da polinização das flores, alimentos como maçã, soja, café e feijão dependem essencialmente de seu trabalho, o de transportar o pólen de uma flor à outra, para produzirem frutos. Se algum tipo de cataclismo exterminasse todas as abelhas do planeta, a sociedade mundial entraria em colapso em poucos meses sem a polinização, colheitas seriam extremamente prejudicadas, frutas e verduras desapareceriam das prateleiras de supermercados, a cobertura vegetal do planeta sofreria uma redução de mais de noventa por cento, afetando diretamente animais herbívoros, em um efeito tão devastador que destruiria a cadeia alimentar, atingindo um número cada vez maior de espécies até chegar ao homem. Em outras  palavras o apocalipse começaria no estômago, a humanidade enlouquecida pela fome entraria em uma guerra autodestrutiva.
   A Invasão das Abelhas de Arthur Herzog, publicado em 1974, se insere no grupo das obras inovadoras que prenunciaram a importância do diálogo sobre o resultado das ações devastadoras do homem na natureza, misturando ficção científica com suspense a estória consegue surpreender pela profundidade e a maneira didática com que os assuntos são abordados. O grande vilão do livro é o homem, anos de má escolhas e ações baseadas na ganância transformaram a natureza de tal modo que a retribuição fez-se necessária. O gatilho inicial para a invasão dos insetos é a importação de uma espécie de abelha africana, seu grande tamanho resultava em uma produção de mel superior ao da variedade americana, por conseguinte o único ônus era sua natureza agressiva. Os apicultores logo descobriram que a abelha africana se tornava extremamente territorialista e violenta, grande parte devido a alteração climática que enfrentavam, canibalizando a espécie americana e invadindo suas colmeias. As abelhas começaram a fervilhar em enxames raivosos, invadindo cidades e atacando a população, inicialmente o fenômeno ocorreu apenas na América do Sul, em especial no Brasil, e mesmo com o inimigo surgindo nas imediações de seu quintal, os americanos não se preocuparam com o problema até que o zumbido do apocalipse pudesse ser ouvido dentro de suas mansões  luxuosas. 
   A utilização de substâncias químicas foi o elemento que selou a destruição da humanidade. No início dos anos setenta um estudo sociobiológico sobre os gafanhotos do Vietnã, com relação ao uso indiscriminado de pesticidas nas plantações, foi realizado, os gafanhotos haviam conseguido sintetizar uma substância química, através de um desfolhante, e a usavam como arma de defesa contra predadores, o que ocasionava uma alteração na cadeia alimentar e um problema que, como uma bola de neve, crescia a cada nível atingido até alcançar o homem. Os pesticidas utilizados contra as abelhas africanas funcionaram relativamente bem no começo, mas a transmissão hereditária de informações tornou as novas gerações imunes à substância e como resultado a potência de seu veneno foi ampliada substancialmente, de modo que uma picada da nova espécie de abelha afro-americana poderia matar um ser humano. Conforme os ataques das abelhas crescem em número ao longo do país, o pânico aumenta e o que parecia ser apenas mais uma história de suspense sobre ataques de animais ganha um tom apocalíptico assustador. 
   Em suma A Invasão das Abelhas é um ótimo livro e proporciona uma leitura divertida e instigante, mas existem ressalvas no percurso que impedem sua perfeição, principalmente com relação ao livro físico. Existem duas edições nacionais do livro, a clássica A Invasão das Abelhas publicada pela Artenova e a edição do filme publicada como O Enxame. Minha análise se baseia na primeira edição que possui erros crassos em sua tradução, há partes em que computador está escrito como cumpatador!, o suficiente para atrapalhar a leitura em alguns momentos. Outro problema é a fragilidade dos livros, atualmente encontrar uma obra publicada nos anos sessenta em boa qualidade é extremamente difícil e esse fenômeno está chegando ao livros dos anos setenta. A escrita de Arthur Herzog é ágil, mesmo nos momentos em que cita estudos científicos e discorre sobre curiosidades dos insetos, o problema da trama se concentra no início de sua segunda metade, quando as descrições dos processos genéticos imaginados pelos cientistas se arrastam pelas páginas. Mas no final o livro garante uma boa diversão, o apocalipse das abelhas é mais um dos cenários arrepiantes a servirem como fonte de pesadelos sobre os prováveis finais da humanidade.   

Nota: ☠☠☠☠☠☠☠☠☠(9/10 Caveiras)


Resenha : Mr. Mercedes de Stephen King

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Sinopse:
  Nas frigidas madrugadas, em uma angustiante cidade do Centro-Oeste, centenas de pessoas desempregadas estão na fila para uma vaga numa feira de empregos. Sem qualquer aviso um motorista solitário irrompe no meio da multidão em um Mercedes roubado, atropelando os inocentes, dando ré e voltando a atropelá-los. Oito pessoas são mortas, quinze feridos.

Opinião:
   Será que o homem nasce essencialmente bom e sua inocência é corrompida pela maldade do ambiente em que cresce? Ou mal é uma mancha inerente da alma humana, cujo florescer está predestinado desde as primeiras lágrimas do bebê? Ao longo dos séculos a natureza humana é fonte de debates calorosos, alimentados diariamente pelas tragédias expostas pela mídia, notícias de jovens que invadem escolas e deixam uma trilha de cadáveres ou explodem em centros populacionais estão cada vez mais regulares. Hoje em dia o grande bicho-papão que jaz nas sombras da imaginação humana não é mais um ser sobrenatural, mas sim sua própria imagem, quando o homem olha para a escuridão descobre estar defronte a um espelho. Stephen King, em Mr. Mercedes, disseca a mente de um desses predadores, explorando os caminhos corroídos pela loucura e mergulhando no cerne sombrio da insanidade que justifica tais atos abomináveis, o Assassino do Mercedes é um dos seus melhores vilões humanos. 
   Mr. Mercedes é o primeiro livro da trilogia policial protagonizada pelo detetive aposentado Bill Hodges, constituída também por Achados e Perdidos e O Último Turno, uma grande homenagem ao gênero do suspense e às clássicas histórias de detetive, fundamentada numa releitura moderna de vários clichês embalados na austeridade sombria que permeia os romances americanos pós 11 de Setembro. É o livro mais "Dean Koontz" que King já escreveu, Koontz é famoso atualmente por ter encontrado a fórmula perfeita para seus thrillers de mistério, na qual o protagonista corre contra o tempo, perseguido por um psicopata violento, para impedir uma grande catástrofe iminente.  King sorrateiramente percorre os mesmos caminhos que vários autores famosos já trilharam, a exemplo de Raymond Chandler, Donald Westlake e Jim Thompson, seu diferencial está na habilidade de costurar clichês em um cenário moderno fazendo com que o leitor sinta-se inserido no contexto de sua narrativa. Para a obra de Stephen King, Mr. Mercedes é um revigorante mergulho em um gênero pouco explorado pelo autor, e para o leitor uma deliciosa viagem por caminhos ainda não desbravados do universo "kinginiano". 
   Bill Hodges é um detetive policial aposentado, seus dias de descanso são assombrados pelo fantasma do único caso que não conseguiu resolver na ativa, o do Assassino do Mercedes, um maníaco que atropelou uma multidão que se aglomerava na entrada de uma feira de empregos. Hodges recebe uma carta extremamente provocante do assassino e isso é o estopim para o início de uma nova investigação, desta vez sem as amarras da lei, que o levará a uma conclusão sangrenta. O protagonista de King é bem interessante, um detetive aposentado que reconhece suas próprias limitações, grande parte dos embates com o antagonista são psicológicos, mas o destaque, como sempre, é o vilão. Mr. Mercedes é o tipo de monstro que vive camuflado na sociedade, usando pele humana, sua personalidade é uma mescla entre o lado charmoso de Ted Bundy e a fixação doentia de Norman Bates, construída através de situações no presente, que exemplificam o que ele é, e flashbacks que mostram como ele se tornou o que é. Com uma escrita rápida e ágil King mantem o suspense de forma constante na narrativa, as últimas cem páginas são a explosão da tensão acumulada ao longo da história e prendem o leitor até o final, é impossível parar a leitura até chegar às últimas linhas e mesmo assim a ansiedade se volta para os próximos volumes. Mr. Mercedes é um ótimo ponto de partida para uma trilogia que tem tudo para ser fantástica. 

Nota: ☠☠☠☠☠☠☠☠☠☠ (10/10 Caveiras)

Especial Frank De Felitta [ A Entidade de Audrey Rose]

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  Se você é fã de literatura e cinema de terror dos anos setenta provavelmente já ouviu falar de clássicos como A Entidade ou As Duas Vidas de Audrey Rose, escritos por Frank De Felitta, eternizados pela premissa de serem baseados em acontecimentos reais. Recentemente Raymond De Felitta, filho do autor, confirmou a morte de seu pai através do twitter, no dia 30 de Março aos 94 anos de idade, Frank De Felitta faleceu em Los Angeles. Esta é uma pequena homenagem de um fã para um grande nome do gênero, que infelizmente nos dias de hoje é um completo estranho para os leitores brasileiros. 

  Antes de iniciar sua carreira em Hollywood, Frank De Felitta serviu como piloto nas Forças Aéreas Americanas durante a Segunda Guerra Mundial, seus primeiros trabalhos envolveram pequenos roteiros para rádio e televisão, mas o reconhecimento dentro da indústria veio apenas mais tarde, nos anos sessenta, com a produção de um documentário sobre o racismo nas áreas rurais do Mississipi. A verdadeira mudança em sua vida ocorreu quando decidiu seguir pelos caminhos da literatura, em 1973 lançou Terror na Oktoberfest, livro que teve uma recepção modesta, um romance policial que explorava a paranoia das conspirações nazistas do pós-guerra. Foi em 1975 com a publicação As duas vidas de Audrey Rose e a posterior adaptação estrelada por Anthony Hopkins e Marsha Mason que seu nome tornou-se sinônimo de grande sucesso dentro do gênero. 
   Audrey Rose ganhou lugar de destaque no imaginário popular da época ao lado de Regan McNeill e Damien Thorn, com a história misteriosa e intrigante de uma garotinha que era a reencarnação de outra menina que morreu anos antes em um acidente. Felitta se baseou na própria experiência de seu filho, que desde muito pequeno demonstrou grande aptidão com o piano, mesmo sem ter tido uma única aula na sua vida. O livro fez tanto sucesso que em 1982 foi lançada uma continuação, Por Amor a Audrey Rose. Em 1978 o autor voltou a chocar o público ao apresentar mais uma história de horror baseada em fatos reais, A Entidade, que trazia a história de uma mulher assombrada por um estuprador fantasma. Dois anos depois retornou ao suspense policial com Vingança em Alto-Mar, a história de um casal assassino, e em 1984 com seu último grande sucesso O Demônio de Gólgota, a assustadora história de uma igreja possuída pelo Diabo. Marcha Fúnebre das Marionetes, lançado no início da década de noventa marcou o final de sua carreira como escritor e é uma grande homenagem aos grandes assassinatos do cinema. Felitta também é conhecido por dirigir A Vingança do Espantalho de 1981, filme seminal no subgênero “espantalho assassino” dentro dos filmes de terror. Confira a seguir a relação de suas obras: 

Terror na Oktoberfest (1973)

As duas vidas de Audrey Rose (1975)

A Entidade (1978)

 Por Amor a Audrey Rose (1982)

Vingança em Alto-Mar (1982)

O Demônio de Gólgota (1984)

Marcha Fúnebre das Marionetes (1992)


Resenha: Caminho das Sombras de Brent Weeks

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Sinopse:
   Para Durzo Blint, matar é uma arte... e ele é o artista mais talentoso da cidade. Temido por muitos, Durzo é uma lenda viva com as mãos manchadas de sangue e nenhuma culpa pelas vítimas que deixa pelo caminho. Esse mundo sombrio também não é novidade para o jovem Azoth. Sobrevivendo entre becos sujos, ele aprendeu que a esperança é uma piada. Pelas regras das guildas, crianças são agredidas e surradas todos os dias. 
   Tentar contestar essa realidade seria um risco alto demais. Mas quando a morte se torna questão de tempo para ele e seus amigos, Azoth se vê forçado a vencer o medo e agarrar a chance de virar um derramador, um assassino. Ele precisa se tornar discípulo de Durzo Blint. Para ser aceito, o garoto abandona sua antiga vida e abraça uma nova identidade. Ao se tornar Kylar Stern, ele aprenderá a transitar no mundo dos nobres, sobreviver às magias de seus inimigos e cultivar uma amizade muito especial: a da escuridão.

Opinião:
    Caminho das Sombras apresenta a clássica divisão social dos romances modernos de fantasia, na qual a população está dividida entre os dois extremos econômicos, um lado é representado pelos nobres, que imersos em suas riquezas, muitas vezes provenientes de fontes ilícitas, tem suas necessidades primordiais garantidas e relegam seu tempo a maquinações e conspirações políticas, o grupo é essencialmente representado por famílias nobres, mas a nata do submundo criminoso também está presente à margem das sombras, muitas vezes com uma influência política maior que a do próprio rei. E do outro lado jaz a grande parcela da população, que condenada à sujeira chafurda na própria violência alimentada pela fome e pelo desespero. É neste espectro de existência que surge o protagonista, um garoto pobre, que para sobreviver aos perigos da rua se torna parte de uma das inúmeras gangues de crianças, que conseguem seu sustento através de pequenos furtos e crimes. Seu nome é Azoth e ele não é o herói que o leitor espera ele que seja. Em seu horizonte de órfão abandonado existem duas opções, ceder às forças que o humilham e virar o brinquedo sexual de sádicos, ou resistir e se transformar em um dos muitos cadáveres que alimentam os ratos na sarjeta. No fundo dessas opções existe outro caminho sombrio e coalhado de escuridão, uma existência que transcende a humanidade, onde as emoções e medos são extirpados em busca da perfeita máquina de matar. É o caminho das sombras, o de um Derramador. 
   Existe uma espécie de paz mantida através do medo da morte nesta sociedade, na evolução natural da organização social surgiu uma classe altamente especializada de assassinos de elite, os chamados Derramadores. Um Derramador é muito mais que um simples assassino profissional, é uma criatura treinada à exaustão na arte de matar e que possui o conhecimento das maneiras mais sutis e cruéis de abençoar um homem com o beijo frio e vazio da eternidade, partindo desde a aplicação de venenos conhecidos e exóticos até assassinatos tão perfeitamente executados que parecem ter sido cometidos por fantasmas. Parte deste conhecimento é recebido durante o árduo e cansativo treinamento, que lapida o corpo humano através da dor transformando-o em uma máquina assassina, porém a outra metade destas qualidades é adquirida apenas através da magia, uma qualidade inerente na escolha do possível aprendiz, chamada de Talento. 
   O Talento é o que possibilita a execução de um trabalho perfeito por parte do Derramador, é a fonte das qualidades sobrenaturais que os diferenciam de um simples assassino, uma das utilizações básicas do Talento, por exemplo, é na criação de ilusões de sombra, que permitem ao Derramador transitar por ambientes escuros e pouco iluminados em um estado que alcança as raias da invisibilidade. Uma das coisas que o pequeno Azoth aprenderá são os limites desse poder. Outro ponto importante a ser colocado é que os derramadores são apolíticos, ou seja, não estão diretamente ligados a serviço de nenhum governante ou nobre, suas ações são executados através de contratos, pela quantia certa você pode obter a morte de qualquer pessoa, até mesmo a de um rei. Essa curiosa situação faz com que o papel e o poder de um derramador dentro de uma sociedade sejam ilimitados, as guerras já não são mais travadas apenas por exércitos nos sangrentos campos de batalhas, mas também dentro da própria corte através da ação desses Derramadores, os anjos da noite.
   Caminho das Sombras é o primeiro livro da trilogia Anjo da Noite escrita por Brent Weeks, a construção de sua estória se baseia na premissa "clichê" do protagonista de origem humilde, que sofre humilhações ao longo da infância, para após um treinamento com um grande mestre em algum tipo de arte, ressurgir como um dos personagens mais poderosos de todo o reino, isso fez com que minha primeira impressão sobre o conteúdo do livro fosse a de estar diante de uma mistura de Os Nobres Vigaristas com A Saga do Assassino, mas não foi o que aconteceu. O diferencial de Brent Weeks está na sua maneira de conduzir a estória, sombria na medida certa e com um humor bastante peculiar a narrativa é bastante ágil, a fluidez do texto torna a leitura extremamente agradável, ao mesmo tempo em que a construção do enredo não é prejudicada por isso, as transições temporais que regem a evolução dos protagonistas são bem explicadas, de um modo que não fica a sensação da existência de furos dentro da estória. O verdadeiro trunfo do autor são as reviravoltas da trama, seja nas atitudes de personagens que surpreendem ou nas situações chave que modificam totalmente o rumo da narrativa,  consegue prender a atenção do leitor sempre criando a expectativa do que acontecerá na página seguinte. Caminho das Sombras é divertido e surpreendente, o tipo de livro perfeito para uma leitura relaxante. 

Nota: ☠☠☠☠☠☠☠☠☠☠ (10/10 Caveiras)

As Piores Capas de Livros de Terror IV [Especial Coleção Best Of The Best]

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  Continuando a série das piores capas de livros de terror, desta vez com a famosa Coleção Best of The Best da Editora Record, reconhecida por suas belas capas adornadas com fotos de modelos dos anos oitenta. Em 2013, o site The Guardian publicou uma matéria na qual elegeu o pior design de capa de livro do mundo, e a edição desta coleção de O Iluminado de Stephen King ganhou o embaraçoso primeiro lugar, o que convenhamos não é justo, pois existe uma edição americana de A Volta do Parafuso de Henry James, cuja capa é uma chave de boca torcendo um parafuso! A premissa desta coleção era a de publicar os melhores livros independente de gêneros, de modo que em seu catálogo era formado por obras que iam desde suspense sobrenatural até romances tórridos. O que torna a capa dos livros engraçadas, além do fato das mesmas não terem nenhuma relação com o conteúdo, é o retrato da moda da época. Esta lista não conta apenas com livros de terror, mas há também romances de espionagem, guerras, ficção científica... Recomendo que leia a pequena descrição presente em cada página. É bizarro.





Resenha: O Quarto Dia de Sarah Lotz

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“Um livro excelente. Esse cruzeiro veio direto do inferno.” –  Stephen King

Sinopse: 
   Em O Quarto Dia, Sarah Lotz conduz o leitor por uma viagem de réveillon que tinha tudo para ser perfeita. Mas às vezes o novo ano reserva surpresas desagradáveis... Janeiro de 2017. Após cinco dias desaparecido, o navio O Belo Sonhador é encontrado à deriva no golfo do México. Poderia ser só mais um caso de falha de comunicação e pane mecânica... se não fosse por um detalhe: não há uma pessoa viva sequer no cruzeiro.

Opinião:
    A história da navegação moderna está cheia de misteriosos desaparecimentos de embarcações e tripulações, relatos de navios fantasmas e de localizações amaldiçoadas, entre os mais famosos está o caso do Mary Celeste, uma pequena embarcação à vela, que foi encontrada completamente vazia  à deriva no mar, uma investigação apontou que o barco parecia ter sido abandonado às pressas, embora não houvesse qualquer evidência de violência e os pertences pessoais de passageiros estivessem intocados, o mistério aumentou ainda mais com a descoberta do estoque de comida e água fresca praticamente incólume. Outro relato perturbador é o da escuna inglesa Jenny, seu desaparecimento ficou sem respostas por 17 anos até que um baleeiro encontrou seus restos congelados em uma barreira de gelo, os corpos dos sete tripulantes foram encontrados totalmente preservados pelo frio, porém o que mais chamou a atenção foi à última e desesperada anotação do capitão: "4 de Maio de 1823: Sem comida há 71 dias. Sou o único que resta vivo". Um dos relatos mais recentes é o do "iate fantasma" encontrado em 2007 na Costa Norte da Austrália, a embarcação estava completamente funcional, rádio e GPS funcionavam perfeitamente e os coletes salva-vidas estavam intactos. A única coisa que faltava era a tripulação, não havia nenhum sinal de seus ocupantes, exceto por restos de uma refeição deixada pela metade na mesa de jantar. Em O Quarto Dia, Sarah Lotz se lança na imensidão dos oceanos para explorar seu lado sobrenatural, mergulhando fundo no pequeno universo dos cruzeiros turísticos e o apocalipse particular de uma embarcação à deriva. 
    O Belo Sonhador é um típico navio de cruzeiros e percorre uma famosa rota de navegação ao redor das Ilhas do Caribe, o pacote de viagens inclui apresentações musicais, comidas e bebidas exóticas, além de visitas organizadas àlgumas ilhas pelo período de cinco dias. No primeiro, segundo e terceiro dias, a viagem transcorre relativamente tranquila.  No quarto dia, as portas do inferno são abertas. Tudo começou com uma simples pane no sistema elétrico, alguns anos atrás isso não seria um grande problema, mas atualmente com os navios completamente automatizados, desde fechaduras elétricas ao software de piloto automático, praticamente todos os sistemas funcionam através de energia elétrica. A equipe é especialmente treinada para agir rapidamente e evitar o pânico nessas situações. O primeiro passo é tentar conexão com a equipe em terra em busca de auxílio, porém nenhum dos dispositivos a bordo  está funcionando a contento. A confusão começa quando a tripulação descobre que estão completamente entregues a própria sorte. A comida é a primeira preocupação, como maioria dos víveres é perecível, existe um estoque extremamente finito para as dezenas de pessoas que participam do cruzeiro, informação esta que não pode ser revelada, pois a simples sugestão de definhar de fome até a morte geraria um pânico fatal. Do mesmo modo que a descoberta do corpo de uma mulher em um dos quartos, com marcas de um possível assassinato, deve ser encoberta. Mas esconder segredos de um grande número de pessoas, confinadas em um ambiente pequeno, cuja única distração é fofocar sobre o que está acontecendo é praticamente impossível.
     Sarah Lotz explorou o pânico advindo de desastres de grandes proporções em seu livro anterior, Os Três, através das ramificações que os acidentes de três aviões causaram na população, mesclando o realismo de uma narrativa não linear com  o horror e a fantasia, porém esse fenômeno foi analisado através da perspectiva da mídia e de familiares e não propriamente na de um dos sobreviventes do acidente. É neste ponto que O Quarto Dia é essencialmente diferente, primeiro porque oferece um relato vívido e cru do desastre, narrado pelas próprias "vítimas" no momento em que está acontecendo, e segundo porque aposta acertadamente em uma narrativa linear, o que possibilita um maior desenvolvimento dos protagonistas e a criação de uma ligação entre os mesmos e o leitor, elemento este que faltou em Os Três. A ligação entre os dois livros é bastante implícita, embora ambos possuam estórias completamente diferentes, se forem analisados em seu contexto é possível notar que as tramas se complementam. Em outras palavras O Quarto Dia responde a muitas questões não resolvidas em Os Três. Mas como uma boa obra de suspense, é carrega com seus próprios mistérios e deixa um grande espaço para a  imaginação do leitor tecer suas próprias teorias, não revelarei as minhas para não estragar a sua experiência com o livro, mas adianto que envolvem universos paralelos e entidades... 
   A  própria autora revelou em uma de suas últimas entrevistas que pretende escrever mais um livro da série, que desta vez narrará a origem de todos os eventos e ações que culminaram em seus dois livros, ainda não há nenhuma data ou título definido. O final de O Quarto Dia provavelmente não agradará a todos, principalmente porque não entrega uma certeza, deixando margem para várias interpretações e dependendo do seu olhar é o momento em que dezenas de questões são respondidas e as implicações das respostas são gigantescas, numa trama tão intrincada quanto Lost. Há cenas arrepiantes de degradação física e moral, além de que nota-se nos fantasmas de Sarah Lotz uma grande influência do horror asiático. O trunfo da narrativa está na construção do suspense ao longo das páginas, o ambiente claustrofóbico de um navio à deriva aliado ao desespero apocalíptico de um caos emergente e a  ação de seres sobrenaturais garante a satisfação dos leitores de horror.

Nota: ☠☠☠☠☠☠☠☠☠☠ (10/10 Caveiras)

Estante dos Livros Esquecidos IV: 50 Livros de Terror e Suspense publicados no Brasil [Especial Década 70]

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   A Estante dos Livros Esquecidos é uma seção do Biblioteca do Terror que traz listas temáticas de livros antigos de terror e suspense, já foram feitas as seguintes compilações: 40 Livros de Terror e Suspense publicados no Brasil na década de 80, Especial Coleção Casa do Pesadelo de Diane Hoh e 30 Livros de Terror e Suspense publicados no Brasil na década de 90. Desta vez é o momento de retornar aos anos 70, época em que Stephen King ainda era uma grande promessa para o gênero e na qual o mercado de livros de terror estava bastante atrelado aos sucessos do cinema, foram publicados dezenas de livros que inspiraram grandes filmes de terror, assim como suas novelizações que eram bastante populares na época. Um ponto engraçado é que o sucesso de O Exorcista no início dos anos setenta, provocou uma avalanche de traduções que carregavam no título o complemento "Satã", "Diabo" ou "Demônio", assim como marcou a ascensão e o declínio dos autores de uma obra só. Esta é uma lista que contém 50 indicações, entre obras conhecidas e desconhecidas, publicadas no Brasil especificamente nos anos setenta.

1. Vingança Diabólica de Stephen Gilbert

2. Os Meninos do Brasil de Ira Levin

3. Semente do Diabo de David Seltzer

4. Chorai pelos Estranhos de John Saul

5. A Invasão dos Ratos de James Herbert

6. Tubarão de Peter Benchley

7. O Exorcista de William Peter Blatty

8. Antologia do Horror de Boris Karloff

9. Horror em Amityville de Jay Anson

10. Carrie, A Estranha de Stephen King

11. A Profecia de David Seltzer

12. O Oitavo Passageiro de Alan Dean Foster

13. A Hora do Vampiro de Stephen King

14. O Vampíro de Frank Lauria

15. A Semente do Diabo de Dean Koontz

16. Damien - Profecia II de Joseph Howard

17. O Inquilino de Roland Topor

18. Um Passe De Mágica de William Goldman

19. A Sentinela de Jeffrey Konvitz

20. Os Mortos-Vivos de Peter Straub

21. A menina do fim da rua de Laird Koenig


22. O Gume Da Faca de John Farris

23. Visões de  Dean Koontz

24. As Formigas vêm aí! de Peter Tremayne

25. Mau-olhado de Peter Straub

26.  Lady Satã de Frank Lauria

27. O Carro de Dennis Shryack

28.  O Outro de Thomas Tryon

29. Incubus de Ray Russell

30. Nascida Inocente de Benhardt J. Hurwood

31. A sombra da outra de Naomi A Hintze

32. A Invasão das Abelhas de Arthur Herzog

33. A Praga de Hefesto de Thomas Paige

34. Demon de C. Terry Cline

35. Semente do Diabo de Ira Levin

36. O Iluminado de Stephen King

37. Orca de Arthur Herzog

38. O Psicopata de Robert Bloch
39. No Reinado das Sombras de Benhardt J. Hurwood

40. Scuba! de Joan e Clay Blair

41. Quando os Adams Saíram de Férias de Mendal W. Johnson

42. A Alma de Anna Klane de Terrel Miedaner

43. O Legado de John Coyne

44. Balada para Satã de Fred Mustard Stewart

45. A Maldição de William H. Hallahan

46. Tubarão 2 de Hank Searls

47. A Reencarnação de Peter Proud de Max Ehrlich

48. A Praga de Satã de Frank Lauria

49. Filha De Satanás, Filha De Deus de Susan Atkins

50. O Transe de Brooks Stanwood

Resenha: Darth Plagueis de James Luceno [Star Wars]

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Sinopse:
   Darth Plagueis, mais que qualquer lorde Sith antes dele, ansiava pelo poder absoluto. E de fato se torna capaz de desenvolver uma habilidade de força inimaginável: o controle da vida e da morte. Seu aprendiz Darth Sidious, ou Palpatine, aprende a dominar em segredo o lado sombrio da Força, enquanto aos olhos da galáxia procura seguir sua escalada de poder, alcançando postos cada vez mais altos na hierarquia do governo. Um deseja viver para sempre; o outro busca o controle político supremo. Juntos, eles poderão enfim destruir os Jedi e dominar a galáxia. A não ser que impiedosas tradições Sith fiquem em seu caminho...


O Lado Sombrio da Força
   O Universo Expandido de Stars Wars é definido temporalmente pela Batalha de Yavin, que ocorreu no primeiro filme da franquia, o Episódio IV: Uma Nova Esperança, além dos selos Legends e Cânone, sendo que o primeiro faz referência a todas as obras publicadas antes de 2014, data esta em que foram estipulados os novos parâmetros para o universo expandido, levando em consideração o novíssimo Episódio VII: O Despertar da Força. Darth Plagueis de James Luceno foi publicado originalmente em 2012, sua trama se inicia quase sete décadas antes da Batalha de Yavin e narra a estória de um dos mais poderosos Sith de todos os tempos, o temível Darth Plagueis, o Sábio e de seu aprendiz, Palpatine, o Darth Sidious. James Luceno, autor  de Tarkin, possui um estilo de escrita envolve a imaginação do leitor, uma narrativa consistente e complexa que seduz não por suas cenas de ação, mas por seus diálogos memoráveis. Darth Plagueis até o momento é o meu livro favorito de Star Wars, não apenas por contar a história através da visão de um dos vilões da saga, mas também por seu conteúdo, sua trama é focada na política do universo, nas conspirações, golpes e tentativas de assassinato que permeiam o intrincado e perigoso jogo do poder no Senado. 
   Darth Plagueis é um representante da espécie Munn, habitantes do planeta Muunilinst que controlavam o Clã Bancário Intergaláctico, que atua em uma posição  extremamente privilegiada dentro do sistema organizacional da galáxia, o que  o permitia a um acesso aos principais comerciantes, governantes e foras-da-lei do espaço,  e isso dentro do seu plano para a ascensão dos Sith, destruição da República e a inevitável derrota dos Jedi, era essencial. Mas o maior desejo de Darth Plagueis era o de descobrir os segredos da vida e da morte através da manipulação da força, antigos relatos de Lordes Sith fazem menção a um possível controle dos midi-chlorians, o qual possibilitaria um domínio completo sobre os processos naturais do corpo e assim a vida eterna. Paralelo a esse grande projeto de pesquisa, o Lorde Sith viajava através dos planetas da Orla-Exterior reunindo contatos, recolhendo favores e preparando o terreno para uma futura insurreição contra a ordem vigente, seus tentáculos sombrios  envolviam desde criminosos de rua até reis de planetas inteiros. Em uma dessas viagens conhece o jovem e ambicioso Palpatine e reconhecendo sua inclinação à Força o recruta como aprendiz do lado sombrio. O livro narra toda a trajetória dos dois na construção de uma teia diplomática de mentiras que acarretará na destruição da República.  
     James Luceno transporta o leitor para uma viagem aos confins obscuros do universo, tendo como guia o lado sombrio da força. Darth Plagueis é um dos protagonistas mais interessantes do Universo Expandido de Star Wars, suas ações fogem do usual conflito moral que rege as estórias focadas nas ações dos Jedi, um Sith não hesita em torturar e matar suas vítimas, seja em busca de alguma informação valiosa ou apenas por prazer. Como o próprio autor diz, em uma entrevista anexa ao final do livro, explorar as ações de um vilão em uma história é muito mais interessante que a de um herói, pois não há um limite ou uma linha de ações que se deva seguir. Quanto mais cruel e odiável for um vilão, melhor. E Darth Plagueis consegue ser esse vilão, seu principal destaque está na forma com que encara a Força, ao invés do misticismo da trilogia original, há toda uma base teórica e científica que norteia suas pesquisas.  Por outro lado o livro traz uma visão mais detalhada das origens do Supremo Chanceler Palpatine e isso possibilita novas perspectivas para analisar seus atos nos filmes clássicos.  A narrativa é completada por uma ambientação fantástica, no qual cenários de planetas e personagens conhecidos estão sempre orbitando ao redor das ações dos Sith. Darth Plagueis não é livro centrado na ação, embora haja várias cenas de assassinatos e emboscadas, mas sim nas conspirações que marcaram a insidiosa e silenciosa ascensão dos Sith, dentro do universo dos filmes é uma grande preciosidade por suprir vários pontos obscuros dentro da trama principal. Indispensável para todo o fã da saga.

Nota: ☠☠☠☠☠☠☠☠☠☠ (10/10 Caveiras)

Notícias: Stephen King e Os Invocadores do Mal

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  Esta é uma nova seção do blog onde semanalmente serão comentadas notícias relacionadas a literatura e o gênero do terror. Confira os principais assuntos desta semana:


Achados e Perdidos de Stephen King

  A Editora Suma de Letras finalmente anunciou o lançamento de Achados e Perdidos, a continuação de Mr. Mercedes, para o mês de Junho. A informação inicial era de que a obra seria publicada em Maio, alguns sites ainda comentavam que o último livro da trilogia, End of Watch, que sairá nos Estados Unidos no próximo mês, seria publicado em Julho, traduzido como O Último Turno. A Suma de Letras ainda não confirmou essa última informação, lembrando que também é esperado  para o segundo semestre, os relançamentos de Cujo e A Incendiária.

Sinopse: 

“— Acorde, gênio.”

 Assim King começa a história de Morris Bellamy.

  O gênio é John Rothstein, um autor consagrado que há muito tempo abandonou o mundo literário. Bellamy é seu maior fã — e seu maior crítico. Inconformado com o fim que o autor deu a seu personagem favorito, ele invade a casa de Rothstein e rouba os cadernos com produções inéditas do escritor, antes de matá-lo. Morris esconde os cadernos pouco antes de ser preso por outro crime. Décadas depois, é Peter Saubers, um garoto de treze anos, quem encontra o tesouro enterrado. Quando Morris sai da prisão, depois de trinta e cinco anos, toda a família Saubers fica em perigo. Cabe ao ex-detetive Bill Hodges e a seus ajudantes, Holly e Jerome, protegê-los de um assassino agora ainda mais perigoso e vingativo.


Invocadores do Mal
  Na esteira do novo filme baseado nas aventuras do casal Ed e Lorraine Warren, Invocação do Mal 2, o Grupo Editorial Pensamento anunciou o lançamento de Invocadores do Mal para este mês, escrito por Cheryl A. Wicks o livro é uma mistura de biografia e estudos de caso, dentre os mais famosos estão, uma visita a Mansão de Amityville e a casa funerária de The Haunting in Connecticut. 

Sinopse:
  A médium clarividente Lorraine Warren e seu marido, o respeitado demonologista Ed Warren, estudaram, por mais de meio século, fenômenos paranormais ao redor do mundo. Seus casos inspiraram os filmes Invocação do Mal, Amityville e Annabelle. Esta obra reúne as cinco décadas de experiência em investigação de campo desse casal, juntamente com as suas perspectivas histórica, científica e religiosa, para revelar que até mesmo o que é considerado paranormal não pode ser ignorado, tem padrões de comportamento previsíveis e pode ser mensurado cientificamente.  Por meio de milhares de palestras, estudos de caso e análise de cartas de clientes, eles revelam o que é conviver com fantasmas, poltergeists e infestações malignas, como investigá-los e solucionar seus mistérios.


Jack, O Estripador: A autobiografia
  Ainda apostando na linha da não-ficção, o Grupo Editoral Pensamento anunciou o lançamento da controversa  suposta autobiografia de Jack, O Estripador escrita por  James Carnac. A obra teve uma recepção bastante dividida por parte dos leitores, alguns criticaram a veracidade dos fatos, as memórias teriam sido escritas muito tempo depois dos assassinatos e enviadas para publicação após a morte do seu autor, as possíveis alterações que ocorreram no texto original também são apontadas por outros, mas também há um grupo que considera o livro como ficção e aproveita a leitura independente de credibilidade ou não. O típico caso: ou você gosta, ou você odeia.

Sinopse:
   Em Whitechapel, em 1888, pelo menos cinco mulheres foram brutalmente assassinadas e mutiladas. O assassino tornou-se conhecido como Jack, o Estripador. Houve muitos suspeitos, porém ninguém foi preso pelos crimes. Este livro apresenta um novo suspeito a partir de um manuscrito redigido nos anos 1920 por James Willoughby Carnac. O texto abrange desde a sua infância até a sua morte, e contém informações que nunca foram divulgadas. Além disso, os acontecimentos da época e a geografia de Whitechapel, em 1888, são descritos com total precisão, tornando James um convincente Jack, o Estripador. Para completar, o motivo oferecido por ele, para ter se tornado um assassino, nos faz crer que seu relato é puramente genuíno. Seria este livro a verdadeira confissão de Jack, o Estripador, ou um extraordinário romance muito bem escrito?


 HarperCollins Brasil e Box O Exorcista
  HarperCollins Brasil anunciou o lançamento de um box contendo as duas  reedições da obra de William Peter Blatty: O Exorcista e A Nona Configuração.


Nova Edição de Horror em Amityville 
   A Darkside Books anunciou esta semana o lançamento de uma nova edição de Horror em Amityville de Jay Anson para o segundo semestre, ainda não há muitas informações sobre capa ou data, mas a notícia é uma resposta a vários pedidos dos fãs para o relançamento do livro, que atualmente se encontra em estado de raridade. Lembrando que para o segundo semestre estão na programação da editora: O Evangelho de Sangue de Clive Barker e Coração Satânico de William Hjorstberg. 


Pré-Venda: O Menino que Desenhava Monstros
Começou a pré-venda de O Menino que Desenhava Monstros de Keith Donohue, o livro chega às lojas no próximo mês.

Sinopse:
 Um livro para fazer você fechar as cortinas e conferir se não há nada embaixo da cama antes de dormir. O Menino que Desenhava Monstros ganhará uma adaptação para os cinemas, dirigida por ninguém menos que James Wan, o diretor de Jogos Mortais e Invocação do Mal. 
   Jack Peter é um garoto de 10 anos com síndrome de Asperger que quase se afogou no mar três anos antes. Desde então, ele só sai de casa para ir ao médico. Jack está convencido de que há de monstros embaixo de sua cama e à espreita em cada canto. Certo dia, acaba agredindo a mãe sem querer, ao achar que ela era um dos monstros que habitavam seus sonhos. Ela, por sua vez, sente cada vez mais medo do filho e tenta buscar ajuda, mas o marido acha que é só uma fase e que isso tudo vai passar. Não demora muito até que o pai de Jack também comece a ver coisas estranhas. Uma aparição que surge onde quer que ele olhe. Sua esposa passa a ouvir sons que vêm do oceano e parecem forçar a entrada de sua casa. Enquanto as pessoas ao redor de Jack são assombradas pelo que acham que estão vendo, os monstros que Jack desenha em seu caderno começam a se tornar reais e podem estar relacionados a grandes tragédias que ocorreram na região. 
   Padres são chamados, histórias são contadas, janelas batem. E os monstros parecem se aproximar cada vez mais. Na superfície, O Menino que Desenhava Monstros é uma história sobre pais fazendo o melhor para criar um filho com certo grau de autismo, mas é também uma história sobre fantasmas, monstros, mistérios e um passado ainda mais assustador. O romance de Keith Donohue é umthriller psicológico que mistura fantasia e realidade para surpreender o leitor do início ao fim ao evocar o clima das histórias de terror japonesas.

Fonte: Amazon

Resenha: Menina Má de William March

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    “ March sabe onde os temores e os segredos humanos estão escondidos.” New York Times

“Uma verdadeira proeza artística.”
Atlantic Monthly
Sinopse:
   Rhoda, a pequena malvada do título, é uma linda garotinha de 8 anos de idade. Mas quem vê a carinha de anjo, não suspeita do que ela é capaz. Seria ela a responsável pela morte de um coleguinha da escola? A indiferença da menina faz com que sua mãe, Christine, comece a investigar sobre crimes e psicopatas. Aos poucos, Christine consegue desvendar segredos terríveis sobre sua filha, e sobre o seu próprio passado também.

Opinião:
    A literatura de terror passou por incontáveis mudanças ao longo dos anos, de tempos em tempos é necessário que o gênero se reinvente para acompanhar as mudanças sociais, a noção do que é assustador e do "medo" se altera entre as gerações e em meados da década de 50, as assombrações que vieram no esteio da virada do século XX, já não eram mais tão temerosas. O mundo havia passado por duas grandes guerras mundiais e as cicatrizes dos horrores vividos ainda ardiam dolorosamente, a ascensão dos primeiros casos explorados pela mídia de assassinatos em série e a percepção da ilimitada maldade humana criaram um novo tipo de monstro. Uma criatura que não se escondia na escuridão sobrenatural da noite, mas sim, no sorriso estranho de um vizinho, no interesse insistente de um colega de trabalho ou na solidão de um filho precocemente inteligente. Nessa época obras como Psicose de Robert Bloch e Vingança Diabólica de Stephen Gilbert exploraram o lado doentio humano, mas nenhuma delas foi tão fundo como William March em A Menina Má.
    The Bad Seed, A Menina Má, foi publicado originalmente em 1954, no mesmo ano em que Richard Matheson revolucionava as histórias de vampiros com Eu Sou a Lenda, e foi recebido com furor pela comunidade literária, muitos o consideraram um suspense aterrorizante, enquanto outros criticaram a morbidez e violência da história. Mas nada disso impediu o livro de se tornar um sucesso de vendas, ocasionando uma rentável e popular adaptação teatral, e posteriormente uma cinematográfica. William March constrói sua trama por meio da exploração do horror de uma mãe, ao descobrir o lado assassino de sua filha, seu êxito está na forma como coloca a criança protagonista através dos olhos da mãe, cada percepção de uma faceta maligna de sua personalidade é um prego cirurgicamente atravessado no coração materno. 
    A questão central do livro é a gênese da maldade. Será que todos nascemos com a semente do mal dentro de nós e é o ambiente de criação que a faz florescer? Ou há um gene maldito que nos condiciona a praticar atos violentos desde a tenra infância? O autor insere essas dúvidas com perfeição na mente do leitor e ao longo das páginas disseca cada hipótese mergulhando no turbilhão de loucura e deterioração mental da mãe, confrontada por um dilema mortal, o instinto protetor para com sua filha e o dever moral perante a sociedade, os segredos sangrentos de sua vida particular aos poucos transbordam por entre a ilusão de felicidade erguida pela sociedade. 
    A narrativa de William March é carregada do senso moral da época em que o livro foi escrito, diálogos que atualmente denotariam uma inocência infundada são realistas para aquele momento da história, porém sua principal característica, chocar o leitor perante os atos de uma psicopata infantil, permanece inalterada. O texto é leve e ágil, a construção do suspense ao longo da história é claustrofóbica, os desfechos prováveis vão sendo cada vez mais apertados até sobrar apenas uma conclusão esmagadora. A tradução conseguiu aliar a sensação de uma narrativa da época com um ritmo moderno e viciante, uma vez iniciada a leitura é impossível ter paz de espírito até saber o final, e uma vez chegando lá você aprende que nunca mais conseguirá encarar uma criança com os mesmos olhos novamente. 

Nota: ☠☠☠☠☠☠☠☠☠☠ (10/10 Caveiras)

Notícias: Coleção Hitchcock e o horror gótico de Loney.

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   Esta semana: A nova coleção que publicará os livros que deram origem aos clássicos do mestre do suspense, o novo livro de Joe Hill, o lançamento do sombrio Loney de Andrew Michael Hurley e Estação Perdido de  China Miéville.


Coleção Hitchcock
   A Editora Vestígio anunciou os dois primeiros lançamentos da sua nova coleção que publicará os livros que deram origem aos clássicos do mestre do suspense, Alfred Hitchcock. Vertigo: Um Corpo que Cai de Boileau – Narcejac e A Dama Oculta de Ethel Lina White  chegam às livrarias no início de junho em uma edição especial de capa dura. Lembrando que ainda este ano é esperado o lançamento de Os Pássaros de Frank Baker pela Darkside Books, que já publicou Psicose de Robert Bloch.

Vertigo: Um Corpo que Cai de Boileau – Narcejac
 Encarregado por um antigo colega de seguir sua jovem e bela mulher, o detetive Flavières logo se vê perdidamente apaixonado pela moça. Essa impropriedade não o impede de investigar os temores de seu amigo Gévigne a respeito da esposa: suas ausências, seus mistérios, uma melancolia que a leva a olhar para as águas do Sena por horas a fio… Nenhum amante, nenhuma simulação, nenhuma doença. Apenas uma estranha relação com a bisavó, morta em circunstâncias terríveis e a quem a jovem Madeleine não chegou a conhecer… Um clássico de Pierre Boileau e Thomas Narcejac, especialistas na arte de conduzir a trama – e o leitor – até onde menos se espera. Este instigante e sinistro roman noir foi adaptado por Alec Coppel e Samuel A. Taylor e filmado por Alfred Hitchcock em 1958. Um corpo que cai é considerado um dos melhores filmes de todos os tempos.


A Dama Oculta de Ethel Lina White
   Livro que deu origem ao clássico homônimo de Alfred Hitchcock, A dama oculta é por si só uma obra envolvente e extraordinária. Sua força está na maestria com que Ethel Lina White constrói atmosferas sinistras e perturbadoras, que pairam até mesmo sobre as cenas aparentemente mais corriqueiras. Iris Carr é uma jovem e bela socialite que retorna para a Inglaterra após um período de férias no continente europeu. Sentindo-se só e intimidada durante a viagem de trem, ela encontra conforto na companhia de uma estranha que conhece apenas como “srta. Froy”. O conforto logo se transforma em pânico quando a srta. Froy some sem deixar vestígios. Questionando a própria sanidade e desconfiando das reais intenções das pessoas a sua volta, Iris tenta desesperadamente desvendar o súbito desaparecimento de sua companheira de viagem – uma mulher que ninguém mais se lembra de ter visto! Não é difícil perceber por que Hitchcock adotou este clássico e se viu compelido a imprimir-lhe, em 1938, sua marca cinematográfica.


  Tales From Darkside Of Joe Hill
  No ano passado foi anunciado que Joe Hill estava trabalhando no projeto do reboot da clássica série dos anos oitenta Tales from the Darkside, sendo o responsável pela criação dos roteiros dos novos episódios.  Infelizmente o projeto foi cancelado, mas seu conteúdo não se perderá nas brumas do esquecimento, dois lançamentos prometem trazer à luz as criações grotescas de Hill. Em junho chegará nas livrarias dos Estados Unidos a primeira de quatro edições de uma graphic novel que adaptará os melhores episódios, e em novembro será lançado o scriptbook, livro que contará todo processo criativo envolvendo a ideia para a nova série, além de compilar os roteiros originais. 
    "Quando me ofereceram a oportunidade de reinventar Tales from the Darkside, eu mergulhei fundo" disse Joe Hill. "Esta série foi um marco para a minha geração: o nosso Twilight Zone, nosso Outer Limits. De imediato, eu queria fazer algo que honrasse o espírito da 'Darkside' original... e ao mesmo tempo queria criar algo maior, fazer algo totalmente novo. No final, escrevi três roteiros e esbocei uma visão de todo um universo 'Darkside'. Eu imaginava uma série de histórias de horror individuais, que acabariam interligadas por uma única mitologia. Queria fazer algo similar a Locke & Key. Mas TV é difícil e acabou que desistiram da série. É um grande prazer compartilhar os scripts, ao lado das ilustrações maravilhosamente doentias de Charles Paul Wilson. Aqui está o que a série poderia ter sido, mas que agora acontecerá apenas na sua imaginação".


Loney de Andrew Michael Hurley
   Parece que a editora Intrínseca, após o sucesso de Caixa de Pássaros de Josh Malerman, decidiu apostar mais uma vez em um autor estreante, essa semana foi anunciado como um dos lançamentos do próximo mês, Loney de Andrew Michael Hurley.  O livro foi vencedor do Costa Book Award 2015 na categoria de autor estreante e eleito Livro do Ano pelo British Book Awards, sua história é descrita como descendente do horror gótico inglês e explora o lado místico de um pequeno vilarejo, com direito a florestas obscuras, casas sombrias, bruxaria e rituais de mutilação de animais. Stephen King disse que ficou impressionado com Loney e o jornal The Telegraph Telegraph publicou uma matéria bastante elogiosa ao livro: O Renascimento das Histórias de Fantasmas.


Sinopse:
   Quando os restos mortais de uma criança são descobertos durante uma tempestade de inverno numa extensão da sombria costa da Inglaterra conhecida como Loney, Smith é obrigado a confrontar acontecimentos terríveis e misteriosos ocorridos quarenta anos antes, quando ainda era criança e visitou o lugar. À época, a mãe de Smith arrastou a família para aquela região numa peregrinação de Páscoa com o padre Bernard, cujo antecessor, Wilfred, morrera havia pouco tempo. Cabia ao jovem sacerdote liderar a comunidade até um antigo santuário, onde a obstinada sra. Smith crê que irá encontrar a cura para o filho mais velho, um garoto mudo e com problemas de aprendizagem.
   O grupo se instala na Moorings, uma casa fria e antiga, repleta de segredos. O clima é hostil, os moradores do lugar, ameaçadores, e uma aura de mistério cerca os desconhecidos ocupantes de Coldbarrow, uma faixa de terra pouco acessível, diariamente alagada na alta da maré. A vida dos irmãos acaba se entrelaçando à dos excêntricos vizinhos com intensidade e complexidade tão imperativas quanto a fé que os levou ao Loney, e o que acontece a partir daí se torna um fardo que Smith carrega pelo resto da vida, a verdade que ele vai sustentar a qualquer preço. Com personagens ricos e idiossincráticos, um cenário sombrio e a sensação de ameaça constante, Loney é uma leitura perturbadora e impossível de largar, que conquistou crítica e público. Uma história de suspense e horror gótico, ricamente inspirada na criação católica do autor, no folclore e na agressiva paisagem do noroeste inglês.


Estação Perdido de  China Miéville
  A Boitempo Editorial revelou que Estação Perdido de  China Miéville, um dos romances mais celebrados do autor, chegará as livrarias em julho. 

“Com seu novo romance, o colossal, intricado e visceral Estação Perdido, Miéville se desloca sem esforço entre aqueles que usam as ferramentas e armas do fantástico para definir e criar a ficção do século que está por vir”.
 Neil Gaiman

Sinopse:
   O aclamado romance que consagrou o escritor inglês China Miéville como um dos maiores nomes da fantasia e da ficção científica contemporânea. Miéville escreve fantasia, mas suas histórias passam longe de contos de fadas. Em Estação Perdido, primeiro livro de uma trilogia que lhe rendeu prêmios como o British Fantasy (2000) e o Arthur C. Clarke (2001), o leitor é levado para Nova Crobuzon, no planeta Bas-Lag, uma cidade imaginária cuja semelhança com o real provoca uma assustadora intuição: a de que a verdadeira distopia seja o mundo em que vivemos.
   Com pitadas de David Cronenberg e Charles Dickens, Bas-Lag é um mundo habitado por diferentes espécies racionais, dotadas de habilidades físicas e mágicas, mas ao mesmo tempo preso a uma estrutura hierárquica bastante rígida e onde os donos do poder têm a última palavra. Nesse ambiente, Estação Perdido conta a saga de Isaac Dan der Grimnebulin, excêntrico cientista que divide seu tempo entre uma pesquisa acadêmica pouco ortodoxa e a paixão interespécies por uma artista boêmia, a impetuosa Lin, com quem se relaciona em segredo. Sua rotina será afetada pela inesperada visita de um garuda chamado Yagharek, um ser meio humano e meio pássaro que lhe pede ajuda para voltar a voar após ter as asas cortadas em um julgamento que culminou em seu exílio. Instigado pelo desafio, Isaac se lança em experimentos energéticos que logo sairão do controle, colocando em perigo a vida de todos na tumultuada e corrupta Nova Crobuzon.


Resenha: Exorcismo de Thomas B. Allen

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"Bem-vindo à terra abandonada
Entre aqui criança e pegue minha mão
Há apenas cinco palavras para se dizer
Enquanto você desce, desce, desce
Você vai queimar no Inferno"
 Burn in Hell - Dimmu Borgir


Ora Pro Nobis...
  Antes de iniciar a leitura é imprescindível que você se dispa de todos os pré-conceitos e estereótipos que a indústria cinematográfica disseminou, a realidade é muito mais chocante e perturbadora que a ficção, independente de sua crença, ou da falta dela, os fatos contidos nesta obra terão um grande impacto sobre a sua visão do sobrenatural e a forma como somos afetados por nossas crenças. Portanto, se isso lhe fizer sentir-se mais agradável, vista o manto de sua religião e tenha em mente as orações que lhe ensinaram quando era criança. No caminho em que você está prestes a entrar há apenas escuridão e a própria esperança fraqueja a cada passo. É hora de dissecar um exorcismo. 

...draco maledicte adjuramus te per Deum... 
    O ritual do exorcismo é observado como prática em diversas culturas antigas, egípcios e babilônios creditavam algumas doenças e desastres naturais à ação de demônios,  muitas das religiões atuais não creem na possessão e a própria Igreja Católica Romana, uma das únicas a ter um ritual formal de exorcismo sancionado, evita posicionar-se nos casos levantados pela mídia moderna. Em grande parte isso se deve pela desconstrução do pensamento medieval, o que antes a religião tinha como possessão, a medicina passou a diagnosticar como distúrbios de esquizofrenia ou de múltiplas personalidades. 
   No Cristianismo o exorcismo é uma cerimônia pela qual um padre expulsa  demônios ou espíritos malignos que infestam uma pessoa, local ou objeto através de uma série de ritos descritos no Rituale Romanum. Enquanto possessão, é uma condição na qual, supostamente, uma entidade assume o controle do corpo e da mente de um indivíduo suplantando a sua vontade, essa posse pode se manifestar em diversos níveis.  Em seu primeiro estágio o espírito, geralmente de algum parente ou familiar recém falecido, paira ao redor da pessoa, suas materializações ocorrem através de pequenos sons, como o arranhar em uma parede ou batidas rítmicas, é o chamado encosto.  
   No próximo estágio as ações do espírito caracterizam-se pela obsessão ao redor de sua vítima, os ruídos aumentam de intensidade e há o deslocamento de pequenos objetos pelo ambiente, ocasionando alterações perceptíveis em seu humor. O último estágio é a manifestação completa de uma possessão demoníaca, caracterizada pela mudança brusca de  comportamento da vítima, a agressividade e automutilação, a aversão a objetos sagrados, como cruzes e água benta, alterações na voz, bem como o domínio de uma língua desconhecida, são exemplos de sinais que identificam um verdadeiro possuído. 
   A recomendação ao exorcista é certificar-se de que o suposto possuído não esteja sofrendo de algum malefício da mente, após todas as hipóteses perturbações físicas serem descartadas é o momento de adentrar ao campo espiritual. O padre deve realizar uma confissão de todos os seus pecados, para que o demônio não  possa utilizar suas fraquezas  como munição durante o ritual, e sob autorização de um bispo, escolher no mínimo duas pessoas para auxiliarem na tarefa. O exorcismo é a última defesa da religião contra as forças do mal, é um momento em que o religioso coloca em perigo sua alma imortal contra forças malignas, na tentativa de salvar outra alma da danação eterna.

.... Ab insidiis diaboli, libera nos, Domine! ...
  O Exorcismo de Thomas B. Allen reconstitui os principais momentos do fatídico exorcismo que aconteceu em St. Louis em 1949, através de um dos relatos mais completos sobre o assunto já documentados, o diário do padre exorcista que realizou o ritual. O caso do menino possuído ganhou as manchetes da época, os poucos detalhes revelados não impediram a mídia de lançar sua imaginação ao redor do acontecimento, anos depois essa cobertura despertaria a curiosidade de William Peter Blatty para o tema e seria a gênese do aclamado O Exorcista.  É interessante ressaltar que Blatty não conseguiu acesso ao material que compõe esse livro, seu romance foi construído a partir de fragmentos de vários casos famosos e apesar de ter entrado em contato com um dos religiosos envolvidos, a licença poética que tomou é gigantesca. 
   A edição da Darkside é a segunda a aportar em terras nacionais e difere da primeira edição por trazer um texto revisado pelo próprio autor, o livro conta, além do texto completo no qual o jornalista faz um estudo sobre o caso, com o diário do padre exorcista, publicado em sua versão integral, e uma seção de notas que especificam as fontes e a bibliografia. Desde o início de sua pesquisa Thomas B. Allen deixa explícita sua visão de observador imparcial, as suposições sobre o que realmente aconteceu naqueles meses com aquela família ficam a cargo dos leitores, seu texto se propõe a narrar os acontecimentos de acordo com as fontes, ressaltando cuidadosamente os pontos de interseção onde sempre que há alguma passagem que não foi bem documentada ou surgem versões divergentes do que possa ter acontecido, a narrativa se divide e mostra os dois lados sem qualquer tipo de interpretação. 
   Exorcismo é uma leitura bastante pesada que, mesmo com sua escrita direta e concisa, demanda várias pausas reflexivas para a análise e digestão dos fatos. Crendo ou não na veracidade daquilo que você está lendo, é impossível passar pelas páginas sem ser atingido psicologicamente pelas descrições simples e ao mesmo tempo brutais do ritual, um exemplo é a chocante cena do batismo do possuído, o ambiente e claustrofóbico da igreja ultrapassa o papel e envolve o leitor como uma pesada mortalha sufocante. Diferente de uma obra de ficção, Exorcismo não permite ao leitor a luxúria de pausar a leitura, durante os momentos de angústia, e refrescar a mente com o pensamento de que aquilo que está lendo não é real. 
   O horror jaz na questão de que aquilo realmente aconteceu, ou ao menos é o que afirmam dezenas de pessoas, entre médicos,  psicólogos, religiosos e familiares que tiveram contato com o menino possuído. Se você busca uma leitura agradável ou é impressionável a ponto de não dormir a noite com a simples sugestão do sobrenatural este livro não é para você, esta é uma obra de não-ficção que vai ao cerne de um assunto tabu e que tira a paz de espírito de muitas pessoas, a religião. A questão de se você sentirá medo ou não na leitura é profundamente pessoal, dependerá daquilo que você acredita. Exorcismo é tão detalhado a ponto de trazer a grande maioria das orações em português e latim, mas não recomendo a leitura em voz alta. Sabe-se lá que tipo de forças você pode acordar...

Domine, exaudi orationem meam. 

Amém.

Nota: ☠☠☠☠☠☠☠☠☠☠ (10/10 Caveiras)

Notícias: Os Condenados e Independence Day

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   Um dos livros que já estava na lista de anunciados da Darkside Books para este ano, Os Condenados de Andrew Pyper, finalmente ganhou data de lançamento e teve seu projeto gráfico revelado, a expectativa é de que até o final de junho o livro já esteja nas livrarias. 


“O medo clássico tem um novo nome. Andrew Pyper.”
 — STEPHEN KING —

“Excelente em todos os sentidos.”
— DENNIS LEHANE —

“Inteligente, criativo. [...] isso é o que demônios fazem melhor: nos hipnotizam, nos seduzem, nos paralisam.”
— THE NEW YORK TIMES BOOK REVIEW —

“Pyper é um mestre do terror. [...] Leitura compulsiva e assustadora, Os Condenados é uma história sobre infernos pessoais e relações que nos assombram.”
— LAUREN BEUKES —
Sinopse:
   Danny Orchard conseguiu enganar a morte e ganhou uma segunda chance para viver. Só que ele não voltou do inferno sozinho. Em OS CONDENADOS, Andrew Pyper, autor do fenômeno O Demonologista, explora as conexões de amor e ódio entre irmãos gêmeos, numa história sobrenatural muito além da vida e da morte e digna de nossos piores pesadelos. Danny passou por uma experiência de quase-morte em um incêndio há mais de vinte anos. 
   Sua irmã gêmea, Ashleigh, não teve a mesma sorte. Danny conseguiu transformar sua tragédia pessoal em um livro que se tornaria um grande best-seller. Ainda que isso não signifique que ele tenha conseguido superar a morte da irmã. Claro, ela nunca mais o deixaria em paz. Mesmo depois de morta, Ash continua sendo uma garota vingativa e egoísta, como sempre. Mas agora que seu irmão finalmente tenta levar uma vida normal, ela se torna cada vez mais possessiva. Danny parece condenado à solidão. Qualquer chance de felicidade é destruída pelo fantasma de seu passado, e se aproximar de outras pessoas significa colocá-las em risco.


Independence Day: O Ressurgimento de Alex Irvine
  O Grupo Autêntica através do seu selo Nemo irá publicar a novelização do vindouro Independence Day: O Ressurgimento, escrita por Alex Irvine. É interessante ressaltar que o universo de Independence Day já conta com quatro livros publicados, entre eles a novelização original adaptada por Stephen Molstad em 1996, uma prequel publicada dois anos depois chamada Independence Day: Silent Zone, além de Independence Day: War in The Desert que narra acontecimentos análogos ao filme original, mas que não foram mostrados nas telas. 
   Como preparação para lançamento do filme, essa semana chegou as livrarias americanas Independence Day: Crucible de Greg Keyes, a história que servirá de conexão entre o filme original e sua continuação, que mostra como a humanidade utilizou engenharia reversa na tecnologia alienígena para se preparar para o novo ataque. Então dentro desse contexto Independence Day: O Ressurgimento é o quinto livro da franquia. 

Sinopse:
   Vinte anos se passaram desde a primeira invasão alienígena. Vinte anos de paz, reconstrução e avanços tecnológicos – incluindo uma base na lua e aviões que utilizam tecnologia inimiga. Mas o período de trégua está chegando ao fim: os aliens retornam para o acerto de contas, com naves ainda maiores e armas mais perigosas, causando milhões de mortes e destruição em massa. As poucas esperanças da Terra estão depositadas no grupo que inclui o cientista David Levinson, um senhor da guerra no coração da África e uma piloto de caça, filha do ex-presidente Tom Whitmore. Unindo a ação e os personagens carismáticos que fizeram do primeiro filme um estrondoso sucesso de bilheteria, Independence Day – O Ressurgimento promete arrebatar os fãs de cinema e de ficção científica.


The Beauty of Horror de Alan Robert
  Há um tempo atrás os leitores foram tomados pela mania dos livros de colorir para adultos, apesar das obras serem temáticas não surgiu nada voltado para os leitores de terror, afinal supostamente colorir deve acalmar pessoas não? Mas isso está prestes a mudar, um verdadeiro fã do gênero sabe que não há nada mais relaxante que colorir cadáveres mutilados, monstros horríveis e cenas deturpadas de crimes. Beauty Of Horror de Alan Robert promete fazer você gastar uma caixa inteira de lápis vermelho.

Fonte das Imagens: Bloody Disgusting

666 [Volume I]: 6 Livros de Terror, 6 Motivos para Lê-los e 6 Motivos para Evitá-los

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   666 é uma nova seção do blog que tem como objetivo suprir o abismo entre a quantidade de livros que leio e o tempo disponível para traduzir a experiência das leituras em palavras. Nesses quatro anos e meio de idade o Biblioteca do Terror cresceu de uma maneira assustadora, tudo graças a vocês, leitores fiéis que sempre compartilharam suas impressões, críticas e sugestões me incentivando sempre a melhorar. Assim como a seção de notícias nasceu de pedidos, a ideia da 666 surgiu a partir de várias indicações, principalmente de leitores que acompanham minhas leituras no Skoob
   Na correria diária de faculdade e trabalho várias leituras passam ser receber nenhum comentário, por isso pretendo utilizar esse espaço para escrever sobre esses livros, sempre relacionando seis obras e duas outras situações, que nesse caso serão seis motivos para lê-las e seis motivos para evitá-las. Nessa primeira edição serão abordados livros que sofreram com a ação do tempo, ou seja, envelheceram mal e ficaram datados. E isso para uma obra de terror é a pior coisa que pode acontecer, seu elemento assustador perde todo seu poder, e o livro se torna apenas mais um objeto acumulando poeira nas estantes de bibliotecas e sebos. Mas isso não significa que tudo esteja perdido...


Furor Homicida de Richard Neely
[Editora Record, 1970, 267 páginas]

Por que ler?
   Imagine se Norman Bates tivesse aulas de etiqueta de assassinatos com Hannibal Lecter? O resultado seria um livro similar a Furor Homicida. Richard Neely cria dois protagonistas formidáveis, Lambert Post, o tímido e introvertido, e Charles Walter, o carismático sedutor. A primeira metade do livro descreve a evolução da relação entre os dois, com uma dose de violência estritamente controlada, os assassinatos que surgem desta união de mentes são reproduzidos com uma carga de suspense esmagadora. O leitor é preso num dos cômodos mais sombrios da mente dos protagonistas e é obrigado a acompanhar a ação em primeira pessoa, tendo sua perspectiva alterada de tempos em tempos, para dar aquele toque a mais de emoção. 

Por que evitar?
  Se a premissa de Furor Homicida não fosse tão boa, o livro seria perfeito. Infelizmente dezenas de filmes e livros que vieram posteriormente , se apropriaram da mesma fórmula utilizada pelo autor para enganar seus leitores e expectadores. Talvez na década em que foi escrita a grande revelação fosse chocante, porém o leitor moderno descobre o segredo na metade do livro. E isso torna a leitura metade final enfadonha, mesmo com a adição de novos protagonistas, que tentam desvendar os misteriosos assassinatos, a narrativa começa a tropeçar, principalmente na espécie de inocência infantil que envolve esses personagens. Mesmo assim o resultado final é interessante, se alguém quiser se aventurar na leitura, a questão central da relação dos protagonistas vale por si só a viagem. (6/10)

Madison, 1300 de Ira Levin
[Editora Best Seller, 1991, 220 páginas]


Por que ler?
   Ira Levin se tornou imortal após escrever O Bebê de Rosemary, mas após a publicação de Os Meninos do Brasil em 1976 sua carreira como escritor de ficção entrou em um hiato. Foi no início da década de noventa que Madison, 1300 foi lançado com a premissa de ser um assustador thriller hightech e recuperar sua fama como um dos "mestres do suspense". O livro traz novamente o claustrofóbico cenário de um edifício habitacional, construído por um jovem ambicioso e rico, suas paredes escondem um segredo perturbador. Há câmeras escondidas em todos os apartamentos e o dono do local tem acesso a todas as filmagens através de uma sala de controle. 

Por que evitar?
   O gatilho da narrativa é a chegada de uma nova inquilina, seu envolvimento amoroso com a mesma e a consequente descoberta deste antro de perversão. É a partir daí que a história deveria começar a se desenvolver, mas não é o que acontece, simplesmente não há suspense na situação! Os personagens não são convincentes e suas ações menos ainda. Quando o leitor finalmente atravessa a pesada areia movediça que é a narrativa, o final não chega a receber nenhuma resposta emocional. É de longe o pior de Ira Levin, a sensação é de que a estória iniciou-se como um roteiro, há uma adaptação protagonizada por Sharon Stone chamada Invasão de Privacidade, e foi parcamente adaptada para romance. Evite. (4/10)

O Legado de John Coyne
[Editora Record, 1979, 176 páginas]

Por que ler?
    O Legado de John Coyne é mais um daqueles livros adaptados de sucessos do cinema que nasceram na emblemática década experimental do gênero do terror. De um lado temos nomes como Stephen King, Dean Koontz e Peter Straub publicando quase ao mesmo tempo seus primeiros livros, obras que definiriam os rumos da literatura de horror moderna, ao mesmo tempo por outra perspectiva, o sucesso de O Exorcista e Tubarão implicava no crescimento exacerbado de novelizações. A premissa de O Legado é construída a partir da questão de uma sociedade secreta com propósitos escusos, a protagonista é seduzida para o interior de uma dessas organizações, e o suspense jaz na descoberta das reais intenções por trás de todas as maquinações. 

Por que evitar?
    A edição nacional de O Legado protagoniza um grande defeito: a sinopse revela praticamente a estória inteira, as mortes que deveriam ser um choque são citadas e a surpresa da narrativa perde-se em meio a tanta informação revelada. Mesmo assim o estilo ágil de John Coyne consegue seduzir o leitor e transportá-lo para um ambiente de mistério, numa época em que a construção do suspense era mais lenta, o livro tem sua reviravolta principal perto da última página, e isso resulta na sensação de questões não respondidas e mal resolvidas, um ácido que corrói nosso sexto sentido de leitor. O Legado é um típico romance comercial, mas algumas cenas tem seus méritos. (5/10)

A Maldição de William H. Hallahan
[Editora Record, 1974, 217 páginas]

Por que ler?
    A Maldição de William H. Hallahan é o típico livro de terror dos anos setenta, no qual o suspense é construído aos poucos, duas narrativas diferentes se desenvolvem: a primeira delas imersa na normalidade, acompanha a vida de um homem comum que luta para evitar a destruição de seu prédio e é assombrado por um estranho ruído noturno; a segunda envolta em mistérios é protagonizada por um detetive obcecado em uma busca genealógica por descendentes de uma misteriosa família, há poucos indícios do "porque", mas suas ações demonstram que o resultado final não será nada amigável. A ligação entre essas duas estórias fica explícita somente nas páginas finais, a tensão é criada a partir de sessões espíritas e de hipnose, o momento que todas as peças se encaixam... É arrepiante! 

Por que evitar?
  São oferecidas ao leitor poucas doses deste "suspense assustador" ao longo das páginas, a escrita de  William H. Hallahan não é nada fácil, as frases lutam entre si em busca de sentido e muitas vezes terminam em estradas sem saída. A sugestão do sobrenatural é leve e quase nada é explicado, a interpretação gera dezenas de dúvidas que permanecem sem resolução. A Maldição é um livro misterioso que se nega a oferecer respostas fáceis, se faz de difícil e se entrega nos momentos em que você menos espera. É uma leitura interessante, mas que não entretém, tanto pela sua morosidade, quanto pela dificuldade. Se você é um leitor que gosta de desafios mentais, encontrará alento dentro destas páginas. (6/10)

A Fúria de John Farris
[Editora Record, 1976, 359 páginas]

Por que ler?
  A primeira vez que ouvi falar de A Fúria de John Farris foi através de uma discussão entre fãs fervorosos de Stephen King, que negavam que A Incendiária era uma cópia deste livro. Ambas estórias tem pontos de conexão, mas desenvolvimentos e conclusões seguem caminhos diferentes. Numa época em que o clichê era jovem, John Farris misturou crianças com habilidades psíquicas a governos corruptos, organizações privadas obscuras e cientistas imorais por meio de uma narrativa explosiva e carregada de cenas ação. A trama gira em torno da busca de um pai por seu filho telepata, raptado pelo governo, enquanto procura informações sobre o seu paradeiro tem que enfrentar a os próprios raptores em confrontos sangrentos e mortais.

Por que evitar?
     A escrita de John Farris é enfadonha ao extremo, o suspense é até bem construído e algumas cenas de ação conseguem te fazer prender o fôlego, mas o conjunto geral não convence. Cenas emocionantes são cortadas ao meio por monólogos arrastados e chatos, as motivações de personagens secundários são inacreditáveis e a leitura demora a engatar. É um livro que deveria ter sido interessante na época em que foi lançado, mas que hoje em dia só traz mais do mesmo e isso de maneira bem regular. (3/10)

A Alma de Anna Klane de Terrel Miedaner
[Francisco Alves, 1984, 224 páginas]

Por que ler?
   A Alma de Anna Klane é um livro fascinante que discorre sobre um dos temas mais polêmicos dentro dos círculos acadêmicos: a existência da alma. Será que "alma"é apenas um conceito religioso ou sua essência pode ser comprovada através da ciência? Essa é a questão central do romance de Terrel Miedaner. Anna Klane é uma menina de inteligência e percepção raras, quando um tumor é diagnosticado em seu cérebro seu pai nega-se a autorizar a operação, pois acredita na possibilidade da cura através do poder da mente. 
  O embate com o médico acaba indo aos tribunais de justiça e a decisão lógica, é claro, pende em direção a realização da cirurgia. Após o procedimento cirúrgico, enquanto os médicos se congratulam pelo sucesso, o pai de Anna Klane, motivado pela percepção de que algo na mente de sua filha quebrou-se irreparavelmente, a incita ao suicídio. A narrativa se baseia no seu posterior julgamento, o advogado de defesa terá a difícil missão de provar que   Anna Klane após a cirurgia já não possuía mais uma alma. 

Por que evitar? 
   A narrativa seduz o leitor desde as primeiras páginas, no julgamento as opiniões de vários especialistas sobre o assunto são detalhadamente dissecadas, de um modo que o leitor tem material mais que suficiente para realizar a análise da questão central e tirar suas próprias conclusões. Nesse sentido de questionamento existencial a obra alcança nota máxima. Agora como livro de ficção, seu grande pecado jaz em seu final, não por ser inconclusivo, mas por ir em uma direção completamente diferente do caminho  que a própria narrativa constrói. É como se Terrel Miedaner tirasse nota máxima em todas as provas, mas acabasse reprovado no final por causa de faltas. É um ótimo livro, com uma bela estória que aborda um assunto interessante, mas que tem um fim péssimo. Enfim a leitura vale pela beleza do caminho pelo qual você viajará, mas não tenha grandes expectativas em relação ao destino final. (7/10)


Resenha: Guerra do Velho de John Scalzi

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Sinopse:
   John Perry fez duas coisas no seu aniversário de 75 anos: visitou o túmulo da esposa e alistou-se no exército. As Forças Coloniais de Defesa, misteriosamente, estão recrutando idosos para conquistar novos territórios interestelares. Detentores de uma tecnologia inovadora, as FCD são capazes de criar supersoldados com habilidades jamais vistas, e um exército disposto a arriscar tudo.

Opinião:
    Na época das grandes navegações os desbravadores se lançaram rumo ao desconhecido em busca de riquezas e novas terras, munidos apenas de sua própria coragem e envoltos no misticismo medieval mapearam todo o globo terrestre, encontrando lugares onde havia abundância inimaginável de fauna e flora. O único problema é que essas terras já eram habitadas por outras civilizações desenvolvidas, o conflito sangrento de culturas que culminou a partir dessa interação modificou profundamente as relações internacionais existentes. O colonialismo emergiu e as sociedades europeias afirmaram sua "superioridade" através do poderio militar. Imagine um futuro próximo onde essa história se repete, mas desta vez em uma escala universal, e seja bem vindo à Guerra do Velho.
  O homem dominou a viagem espacial e descobriu dezenas de mundos habitáveis, o único problema é que a humanidade não era a única raça que desejava ampliar seus domínios, existia vida além das estrelas, criaturas cujo desenvolvimento tecnológico era similar ou superior ao dos seres humanos e que eram tão hábeis e cruéis quanto. O início dessa expansão interestelar deu-se quando a Terra alcançou seu ápice populacional, guerras eclodiram e países inteiros foram destruídos. Os herdeiros das ruínas de países subdesenvolvidos não viram alternativa de existência a não ser como colonos em outros planetas. As primeiras viagens foram catastróficas, inúmeros mortos e certeza de que as outras raças não entregariam suas terras sem lutar. Surgiu então a necessidade da criação de um exército. As Forças Coloniais de Defesa nasceram com uma missão aparentemente simples, garantir a dominação desses planetas e proteger os colonos de outros invasores. 
    Os cientistas das Forças Coloniais e da Terra evoluíram por caminhos diferentes ao longo dos anos, questões políticas e culturais dificultaram as relações e no final ambas as instituições, fechadas em seus próprios mini universos, criaram um misticismo ao redor uma da outra. A crença que reinava na comunidade científica terráquea é de que as Forças Coloniais haviam descoberto uma forma de imortalidade, por meio da engenharia reversa na tecnologia de inimigos derrotados. Provas disso estavam nas máquinas que utilizavam, mil anos mais avançadas que qualquer coisa do nosso planeta, e do alistamento misterioso: apenas seres humanos que completavam seu septuagésimo quinto ano de idade poderiam entrar para suas fileiras. 
   A estória de Guerra do Velho começa no dia do aniversário de 75 anos de John Perry, através de uma narrativa com personalidade própria e em primeira pessoa, o autor introduz seu universo e seus protagonistas de maneira fantástica, fazendo com que o leitor sinta na própria pele a experiência de ser um novato nas Forças Coloniais e a viciante sensação de excitação e consternação, que advém da descoberta de todos os segredos que envolvem o processo. Uma vez iniciada a leitura é impossível regular a gula de devorar capítulo atrás de capítulo para descobrir o que acontece na próxima página, todos os méritos vão para a escrita de Scalzi e sua capacidade de seduzir o leitor com um texto ágil e bem humorado, que faz da leitura uma experiência agradável e prazerosa. 
   Se você está buscando um livro de ficção científica que seja ao mesmo tempo acessível e lotado de ideias instigantes, Guerra do Velho é definitivamente a escolha perfeita, a simplicidade da narrativa, em oposição ao texto truculento que se espera de uma ficção científica militar, faz toda a diferença durante a leitura. O desenvolvimento da estória muitas vezes lembra um jogo de videogame, com suas descrições de batalhas estelares e missões de invasão a planetas inimigos, e o resultado é mentalmente inebriante. Guerra do Velho é o primeiro lançamento da Editora Aleph de uma saga que já possui seis livros publicados, seu final deixa um gancho fantástico e cruel para o segundo volume: As Brigadas Fantasma. O mais difícil será segurar a ansiedade até a próxima publicação. 

Nota: ☠☠☠☠☠☠☠☠☠☠ (10/10 Caveiras)


Notícias: Fantasmas, Demônios e Viagens no Tempo!

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   Nos últimos dias as editoras brasileiras tem causado furor entre os leitores através dos grandes anúncios de futuros lançamentos, o destaque é que ao que tudo indica finalmente chegou o momento do horror e a ficção científica, entre as notícias mais quentes estão o retorno de Shirley Jackson às livrarias nacionais, a indireta da Darkside Books sobre a publicação de The Demonologist, o livro do casal Warren, e a publicação de uma coletânea de ficção científica, com foco no tema das viagens no tempo, que contém histórias de nomes como Richard Matheson, Jack Finney e Ray Bradbury!



We Have Always Lived in The Castle  de Shirley Jackson
   A  única publicação de um livro de Shirley Jackson no Brasil ocorreu no início dos anos 80 pela Francisco Alves, através da coleção Mestres do Horror e da Fantasia, com o clássico A Assombração da Casa da Colina. Após décadas finalmente a autora ganhará mais uma tradução, a boa notícia é que a Suma de Letras anunciou que vai lançar We Have Always Lived in The Castle e má notícia é que isso só  vai acontecer ano que vem. A editora não disse nada sobre uma nova edição de A Assombração da Casa da Colina.

"A Suma de Letras publicará “We Have Always Lived in the Castle”, livro essencial para os fãs de terror. Considerado por Donna Tartt e Neil Gaiman um dos livros mais importantes do gênero, a história nos transporta para uma pequena cidade americana onde a família Blackwood vive em um cenário de aterrorizante suspense na busca por um assassino."


Capas Internacionais

Sherlock Holmes and the Servants of Hell de Paul Kane
  E se Sherlock Holmes encontrasse os Cenobitas? E se o maior detetive do mundo caísse no inferno criado por Clive Barker? Essa é a premissa do novo livro de Paul Kane, Sherlock Holmes and the Servants of Hell, reconhecido pelo próprio Barker como uma especialista em sua obra. O livro será lançado nos próximo mês nos Estados Unidos e Inglaterra e é bastante aguardado pelos fãs, pois mostrará uma versão mais antiga dos Cenobitas. É importante lembrar que Pinhead, ou HellPriest como Clive Barker revelou ser seu nome em Evangelho de Sangue, "nasceu" após a Primeira Guerra Mundial, segundo a mitologia dos filmes.

   "Final de 1895. Sherlock Holmes e seu fiel companheiro Dr. John Watson são chamados para investigar um caso de uma pessoa desaparecida. É o tipo de mistério que que Holmes adora saborear - a pessoa em questão desapareceu dentro de um quarto trancado - e o tipo com que pode se ocupar e testar os limites de seu corpo  e mente. Mas este é apenas o início de uma investigação que vai os colocar em contato com uma organização sombria, cujo nome é sussurrado com medo, conhecida apenas como  "A Ordem de Gash". A medida de que mais e mais pessoas vão desaparecendo de maneira similar, os indícios apontam para um asilo  sinistro na França e para o submundo de Londres. No entanto, este submundo é completamente diferente do que Holmes conhece e ele vai descobrir isso assim que se encontrar cara a cara com os servidores do Inferno: Os Cenobitas..."


 The Demonologist: A Extraordinária Carreira de Ed e Lorraine Warren
   A Darkside postou em suas redes sociais uma imagem do casal Warren e uma enigmática frase que dá a entender que futuramente eles farão parte do catálogo da editora. Lembrando que tempos atrás uma postagem semelhante foi feita com Hellraiser, e não demorou muito para o anúncio do lançamento de Hellbound Heart. Resta saber qual livro será, minha aposta é em uma de suas obras mais populares: The Demonologist. 


Noturnos de John Connolly
   Nunca li nada de John Connolly mas essa coletânea é bastante elogiada pelos leitores internacionais. O livro chega às livrarias ainda este mês.

   Primeira coletânea de  John Connolly, “Noturnos” fala sobre o confronto entre os mundos infantil e adulto em dezesseis histórias aterrorizantes. O autor se inspira em alguns dos mestres do horror como M.R. James, Ray Bradbury, Stephen King, mas sem abrir mão do estilo que o consagrou em  O Livro das Coisas Perdidas. A antologia reúne contos sobre amores perdidos, crianças desaparecidas, demônios, palhaços assustadores e fantasmas vingativos.


As Melhores Histórias de Viagem no Tempo 
 Dentre as temáticas do universo sci-fi, nenhuma delas é tão popular, envolvente e plural quanto as viagens no tempo. Esta coletânea reúne, em um único volume e pela primeira vez no Brasil, dezoito contos de alguns dos gigantes do universo sci-fi, abrangendo cinco décadas, de 1940 a 1990, e incluindo desde “Um Som de Trovão”, de Ray Bradbury, que inspirou o nome da famosa teoria do Efeito Borboleta, até Ursula K. LeGuin, em “Outra História ou um Pescador do Mar Interior”, ou mesmo uma ideia impensável, como no conto do premiado Jack Dann “Inversão do Tempo”, que propõe respostas surpreendentes para uma pergunta perturbadora: e se todos viajassem no tempo, menos você?

Lista de Autores/Contos:

Theodore Sturgeon, "Yesterday Was Monday"
Henry Kuttner, "Time Locker"
Arthur C. Clarke, "Time's Arrow"
Jack Finney, "I'm Scared"
Ray Bradbury, "A Sound of Thunder"
Richard Matheson, "Death Ship"
L. Sprague de Camp, "A Gun for Dinosaur"
Poul Anderson, "The Man Who Came Early"
R.A. Lafferty, "Rainbird"
Larry Niven, "Leviathan!"
Joe Haldeman, "Anniversary Project"
Jack Dann, "Timetipping"
Connie Willis, "Fire Watch"
Robert Silverberg, "Sailing to Byzantium"
John Kessel, "The Pure Product"
Charles Sheffield, "Trapalanda"
Nancy Kress, "The Price of Oranges"
Ursula K. Le Guin, "Another Story, or A Fisherman of the Inland Sea"


Resenha: Wild Cards: Jogo Sujo de George R. R. Martin

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Sinopse:
   Quando um vírus alienígena atingiu a Terra quatro décadas atrás, ele transformou parte da população mundial em raças de super-humanos conhecidas como Ases e Coringas. Agora, no Bairro dos Coringas em Nova York, uma selvagem guerra de rua começa entre a Máfia e a gangue conhecida como Punhos Sombrios. Enquanto isso, uma corajosa companhia de heróis precisa ir ficar nas sombras para travar sua própria guerra contra os poderes do submundo. Desfrute da ação de dez dos mais talentosos escritores de ficção científica explorando novas e desconhecidas áreas desse assombroso mundo compartilhado.

Uma pequena Introdução à Carta Selvagem
   A Carta Selvagem é um vírus alienígena que se espalhou pelo planeta Terra há mais de quarenta anos atrás, o resultado de sua propagação foi catastrófico no qual grande parte da população mundial foi atingida. A maioria acabou desenvolvendo mutações horríveis, transformaram-se em monstros arrepiantes, logo foram segregados da sociedade "normal" e ficaram conhecidos como curingas. Uma pequena parte tirou a sorte grande no baralho mortal e recebeu poderes de super-heróis, os chamados ases. Mas diferente de qualquer coisa que você está acostumado a encontrar nos quadrinhos, não há heróis e vilões em Wild Cards, ao menos não na concepção básica destas palavras. Cada um tem seus próprios interesses, e proteger a população, não é um deles.
   O diferencial da saga Wild Cards está na forma como ela é escrita, vários autores participaram do projeto, contribuindo com personagens e ambientações que serviram de base para os mais de vinte livros já escritos. A festa toda foi organizada por George Martin e se iniciou em meados dos anos oitenta. A editora Leya já publicou cinco volumes, O Começo de Tudo; Ases nas Alturas; Apostas Mortais; Ases Pelo Mundo e Jogo Sujo. Os três primeiros livros funcionam como uma espécie de trilogia clássica, onde são apresentados os protagonistas e acontece o arco do Astrônomo. Uma nova safra de aventuras de inicia com Ases pelo Mundo.

A Nova Trilogia: Ases Pelo Mundo
   Ases pelo Mundo poderia ser uma ótima coletânea se não fosse pela exacerbada visão americanizada de seus escritores, há uma nota de superioridade na forma como exprimiram suas visões do resto do planeta, leia-se países pobres do terceiro mundo, baseada em estereótipos que dão a entender que o único bom lugar para se viver é os Estados Unidos da América. Um exemplo é a rápida passagem pelo Brasil, que evidencia o caráter da violência em nosso país, mas não leva em consideração nenhuma das nossas belezas, passando uma imagem ruim da nossa realidade, que chega a ser surreal. Não que todos os contos sejam ruins, não estou generalizando, além de que nem todos os autores são americanos, há algumas pérolas em meio aos textos, mas a grande maioria decepciona. A grande variação de qualidade entre as estórias dificulta a leitura. 
    Talvez o grande problema se dê por conta da ambientação, como este livro é o primeiro de um novo arco, cada autor tentou criar as raízes de suas estórias e personagens, deixando o desenvolvimento dos mesmos para os próximos volumes. E realmente Ases pelo Mundo faz muito mais sentido após a leitura de Jogo Sujo, já que ambos se complementam. Jogo Sujo  liga todas as ações que aconteceram ao redor do globo, com o bairro dos curingas. Na estória de Ases pelo Mundo um grupo de cartas selvagens é destacado para viajar através do mundo, liderados pelo Dr. Taychon e pelo enigmático senador Hartman, para conhecer a situação dos portadores do vírus nos demais países.
   É lógico que dezenas de maquinações e conspirações acontecem em cada lugar que visitam, ao invés de ajudar os infectados, a herança que deixam para trás é uma trilha de sangue e destruição. O principal destaque do livro é a apresentação de Ti Malice, uma espécie de vampiro, cujo corpo físico é semelhante ao do Gollum, que se alimenta do sangue das pessoas e no processo as oferece um estado de nirvana, imerso em orgasmos e prazeres inimagináveis. Quem experimenta essa sensação ao menos uma vez, fica mortalmente viciado e se torna escravo da criatura. Malice os chama de seus cavalos.

O Jogo Sujo: A Política das Ruas e do Governo

   Jogo Sujo recupera a aura fantástica da série. É importante destacar que o livro é dividido em duas partes, a primeira acontece antes e durante Ases pelo Mundo, e é nesse momento que entendemos algumas das ações que os ases e curingas realizaram naquele livro; e uma segunda que narra o retorno desta viagem e suas repercussões. São duas as subtramas principais, que na verdade estão conectadas como todo o resto, uma guerra sangrenta entre gangues que explode nas ruas do bairro dos curingas e a corrida presidencial dos Estados Unidos. No conflito entre as gangues de um lado temos a máfia e de outro uma organização chinesa conhecida como Punhos Sombrios, a briga é pelo território e os lutadores são curingas e ases com poderes incríveis, as estórias dessa parte são as que tem mais cenas de ação e também são mais sangrentas. Na corrida presidencial de um lado temos um senador, cujos segredos sombrios só o leitor conhece e do outro um pastor "limpo", pessoa não infectada pelo vírus, imerso em um discurso de ódio contra os cartas selvagens.  
   O problema é que todos os autores que começaram estórias no livro passado querem utilizar seus personagens novamente, alguns deles são relevantes, outros bastante dispensáveis, mas há casos de alguns que por terem uma linha narrativa muito diferente dos citados, são subutilizados. É o caso do fantástico Ti Malice que não decepciona na sua única e rápida aparição. Há um grande potencial de vilão na sua figura, mas que  infelizmente passa em branco em Jogo Sujo. O próprio George Martin escreveu um posfácio anos depois, que está presente na edição nacional, se desculpando por sua organização. Segundo ele muitos assuntos foram discutidos, muitas pontas ficaram soltas e o desenvolvimento da trama central às vezes ficou em segundo plano. 
   Apesar disso Jogo Sujo é uma ótima leitura para quem é fã de Wild Cards, temos o retorno tão aguardado de dois protagonistas, o Grande e Poderoso Tartaruga e outro surpresa. O destaque vai para Croyd Crenson, o Dorminhoco, que é essencial para a ligação das tramas deste volume! A agilidade do texto também tem variação entre os contos, mas o plano de fundo compartilhado diminui bastante essa diferença, de modo que a leitura não fica comprometida. Se você gosta da saga Wild Cards recomendo a leitura de ambos os livros, porém não espere muito de Ases pelo Mundo. Jogo Sujo ao menos é divertido. 

Nota: ☠☠☠☠☠☠☠☠☠☠ (7/10 Caveiras)

Resenha: Loney de Andrew Michael Hurley

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Sinopse:
   Quando os restos mortais de uma criança são descobertos durante uma tempestade de inverno numa extensão da sombria costa da Inglaterra conhecida como Loney, Smith é obrigado a confrontar acontecimentos terríveis e misteriosos ocorridos quarenta anos antes, quando ainda era criança e visitou o lugar. À época, a mãe de Smith arrastou a família para aquela região numa peregrinação de Páscoa com o padre Bernard, cujo antecessor, Wilfred, morrera havia pouco tempo. Cabia ao jovem sacerdote liderar a comunidade até um antigo santuário, onde a obstinada sra. Smith crê que irá encontrar a cura para o filho mais velho, um garoto mudo e com problemas de aprendizagem.
   O grupo se instala na Moorings, uma casa fria e antiga, repleta de segredos. O clima é hostil, os moradores do lugar, ameaçadores, e uma aura de mistério cerca os desconhecidos ocupantes de Coldbarrow, uma faixa de terra pouco acessível, diariamente alagada na alta da maré. A vida dos irmãos acaba se entrelaçando à dos excêntricos vizinhos com intensidade e complexidade tão imperativas quanto a fé que os levou ao Loney, e o que acontece a partir daí se torna um fardo que Smith carrega pelo resto da vida, a verdade que ele vai sustentar a qualquer preço.

Opinião:
   Como diria Ray Bradbury, Loney é um livro sobre a última estação da infância, quando a mentalidade de uma criança é confrontada por uma situação além de sua compreensão e as cicatrizes advindas desta experiência marcam o desabrochar da fase adulta. O problema do livro é que sua estória está sendo vendida como uma mistura de suspense e horror gótico, quando na verdade está mais para um drama psicológico que se apoia parcamente em elementos sobrenaturais para construir sua narrativa. O tema central de Loney é a religião, Andrew Michael Hurley discute sobre os limites da fé e a força das crenças inserindo personagens católicos no ambiente supersticioso do interior da Inglaterra. Uma premissa ousada que tinha tudo para funcionar, mas que fracassou pela falta de inovação.
  Talvez um leitor de primeira viagem, e que relativamente não conheça o gênero, possa ser "surpreendido" por Loney, mas como um leitor experiente, não pude deixar de sentir uma espécie de déja vu durante a leitura. O suspense de Loney se baseia na clássica interação entre "visitantes da cidade" e "moradores do vilarejo", essa estranha dualidade está presente em todas as páginas, o horror na narrativa de Hurley é bastante implícito e assim como nos filmes de terror, são as pequenas situações inseridas dentro de cenas aparentemente normais, como um animal estripado na beira de uma rodovia ou o olhar enviesado de um habitante local, que servem de base para a criação do clima de suspense. Nesse sentido Loney consegue atingir o alvo e chamar a atenção para suas entrelinhas misteriosas, o problema é que a estória só fica nessa sugestão, no momento em que o ritmo parece que vai engrenar a narrativa é brutalmente cortada por anticlimáticos monólogos religiosos.
  A história de Loney acompanha a visita de dois irmãos a um pequeno vilarejo inglês, um deles possui uma espécie de autismo que dificulta sua comunicação, acompanhados de sua família e do grupo de oração da igreja realizam uma espécie de ritual anual que se repete em todos os feriados da Páscoa.Nessa reunião, entre orações e jejuns, todos pedem um milagre para o menino autista. Mas esta viagem será diferente das anteriores, entre os motivos estão um novo padre e um segredo que está respirando nas florestas escuras do vilarejo. Andrew Michael Hurley decide explorar as questões religiosas em detrimento ao sobrenatural, ao invés de desenvolver os mistérios locais, opta erroneamente por deixá-los em segundo plano e isso acaba com a tensão em sua narrativa. A minha motivação durante a leitura era à espera de uma grande reviravolta que reacendesse a chama do texto, o que não acontece.
  A ambientação sombria do interior da Inglaterra, com suas mansões decrépitas envoltas em nevoeiros de misticismo e lendas antigas, é subutilizada. Há algumas cenas particulares, que se analisadas sozinhas, funcionam maravilhosamente na criação do suspense, um exemplo é a corrida desesperada dos personagens por um floresta à noite e sua macabra descoberta, mas na análise do todo, isso se perde. Não há um suspense que te inspire a virar as páginas, o próprio mistério da trama tem seu final revelado logo no primeiro capítulo, o encargo do texto é relatar os acontecimentos que levaram os protagonistas até aquele ponto. Ler Loney é experimentar a premissa de Cerimônias Satânicas de T. E. D. Klein ser canibalizada por uma narrativa similar a Um Oceano no fim do Caminho de Neil Gaiman, mas que falha na construção de personagens carismáticos e envolventes, ambientada em numa cópia pálida do cenário de A Mulher de Preto de Susan Hill. Se você está procurando um livro de terror, passe longe de Loney, mas se procura uma leitura que incite uma reflexão sobre a religiosidade, talvez ele lhe agrade.

Nota: ☠☠☠☠☠☠☠☠☠☠ (6/10 Caveiras)

Os 5 Livros Mais Assustadores de Robin Cook

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   Um dos momentos mais críticos no qual experimentamos a totalidade da fragilidade humana é quando somos obrigados a ir a um hospital, nossa mente, já debilitada por algum tipo de mazela, é confrontada pela percepção da mortalidade. É um momento em que as receitas caseiras da mãe e da avó já não funcionam mais e somos obrigados a colocar nossas vidas nas mãos de completos desconhecidos. Médicos e enfermeiros que devotam suas existências a salvar vidas de outras pessoas. Mas e se esse não for caso? E se essa pessoa que supostamente deveria cuidar da nossa saúde, tiver outros planos em mente? Planos esses, que não envolvem uma expectativa de vida longa para o seus pacientes? Essa é a premissa da maioria dos romances de Robin Cook, reconhecido como o fundador do subgênero do suspense médico, sua narrativa faz questionamentos sobre a ética no mundo da medicina e a todas as áreas que envolvam prestações de serviço relacionadas à saúde. 
   Sua experiência como médico lhe dá base para escrever de forma didática sobre o dia-a-dia e os desafios da profissão, e sua imaginação fértil lhe provém das situações mais assustadoras que um paciente poderia enfrentar. Seus livros conseguem atingir o leitor através da verossimilhança de suas conjunturas com o que se passa na nossa mente enquanto aguardamos com ansiedade o atendimento. Qual será a história por trás daquela mancha de sangue no jaleco do médico? Ou do choro angustiado de um familiar que acabou de receber uma notícia sussurrada por uma enfermeira? A genialidade de Robin Cook não está na profundidade do conhecimento que possui sobre a área médica, mas sim na maneira como compreende os medos de seus pacientes. Conheça agora os cinco temas mais assustadores abordados por Robin Cook.


Cérebro e o Horror de um Futuro Tecnológico
   Poucas áreas evoluíram tanto nos últimos cinquenta anos como a medicina, os avanços tecnológicos permitiram um salto gigantesco na prevenção, detecção e combate à doenças antes tidas como incuráveis. É inegável que os equipamentos modernos facilitaram muito a vida de médicos e pacientes, mas será que essa interação é totalmente benéfica? Atualmente as discussões giram em torno da nanotecnologia e dos implantes de chips, que monitorarão todas as funções do corpo, e como convergência disso, discussões sobre a própria liberdade. Cérebro foi escrito no início dos anos oitenta, quando a tecnologia ainda engatinhava no solo fértil das possibilidades, Robin Cook se aproxima da ficção-científica para indagar: o que nos espera no futuro? Será que a tecnologia será capaz de substituir nossos órgãos mortais? Porém, a pergunta mais importante é: que tipo de caminho sangrento nos levará até esse ponto? Qual é o limite dos sacrifícios morais a serem feitos em nome da ciência? Você vai descobrir uma das visões mais sombrias deste futuro em Cérebro.

Coma e o Mercado Negro de Órgãos
  Imagine que você ou algum familiar irá fazer uma pequena cirurgia, um procedimento tão simples que não há nenhuma preocupação quanto a seu sucesso, um processo rotineiro graças ao auxílio da tecnologia. Mas o destino é inevitavelmente cruel e sua operação acaba sendo um fracasso. Você não morre, na verdade isso não é pior que pode acontecer, mas entra em coma. Apenas mais um número na taxa de pacientes que se deitam na cama cirúrgica e jamais acordam. A dor da família é grande, a sensação de perda e os futuros gastos com manutenção médica são dolorosas punhaladas no peito, a probabilidade de algo dar errado em uma operação, mesmo que seja mínima, sempre existe. Mas imagine que você descobre que esse hospital em particular tem uma grande incidência desse tipo de evento? Ao adentrar nas entranhas escuras e esterilizadas da máquina da saúde, a protagonista de Coma descobrirá uma assustadora rede de tráfico de órgãos. A questão é: como enfrentar  algo assim? O horror nasce quando as únicas pessoas que poderiam te ajudar, são os vilões.


Toxina e a Qualidade do que Você Come
   A única coisa em que você pensa na hora em que está esperando um adolescente preparar sua refeição em um fast-foodé: espero que esse cara tenha higiene. Mas e se eu te disser que um cabelo no meio da sua carne é coisa mais higiênica que pode vir de "brinde"? Em Toxina, Robin Cook faz uma crítica direta à industria da carne e ao seu modo de produção. Há todo um mundo de pessoas e ações que estão por trás da simples fabricação de um hambúrguer, e sua qualidade pode sofrer alterações desde o modo como os animais são abatidos, há abatedouros que são verdadeiros infernos na proliferação de doenças, ao acondicionamento desse produto. Imagine então que seu lanche feliz estava contaminado por uma bactéria conhecida como E. Coli, na verdade por uma das cepas mais violentas dessa nossa amiguinha que gosta de viver em fezes. Toxina reconstitui minuciosamente os passos da comida que está na sua mesa, desde a fritura na chapa contaminada com saliva até o nascimento do animal infectado com a bactéria. Esse livro definitivamente vai mudar a maneira como você enxerga a comida. 

Mutação e os Perigos da Engenharia Genética
   Mutação foi escrito no início da década de noventa e sua história fala sobre as consequências, riscos e benefícios da engenharia genética. Robin Cook fez uma homenagem à Mary Shelley e seu grande clássico, tanto que seu protagonista se chama Victor Frank, e mais do que isso adaptou a ideia para os tempos modernos. Devido a problemas de fertilidade o casal protagonista busca refúgio em métodos alternativos de concepção, como a barriga de aluguel. A premissa gira em torno do famoso cromossomo 6, há um outro livro do autor com o mesmo nome, cuja manipulação está ligada diretamente aos neurônios. A ideia dos pesquisadores era criar  seres humanos super inteligentes, mas brincar de deus nunca dá certo. O resultado é absolutamente arrepiante. Mutação é um livro cuja discussão central não envelheceu.

Médico ou Semideus ou Deus?
   Esse é um livro um pouco diferente dos thrillers médicos de ação de Robin Cook, apesar da carga de suspense ser sufocante seu ritmo é bem mais lento, de fato Médico ou Semideus é um livro que faz uma reflexão sobre a extensão dos poderes de um médico, ou como diz a sinopse: a trágica constatação de que a medicina é incapaz de policiar a si mesma.  É uma das primeiras obras do autor a falar sobre a guerra da privatização de hospitais públicos e o conflito entre os médicos que defendem pontos diferentes sobre o assunto, além de se imiscuir por caminhos tabus como a discussão sobre a eutanásia. A trama acompanha um grande hospital e o recente aumento do número de mortes em cirurgias, uma investigação é colocada em curso e as descobertas são perturbadoras. Este livro é a tradução final dos medos de um paciente ao colocar sua vida nas mãos de um médico. 


Resenha: Livros de Sangue II de Clive Barker

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Sinopse:
     Neste segundo volume de seus Livros de Sangue, Clive Barker nos apresenta cinco novelas de arrebatadora engenhosidade que nos tirarão o fôlego e descontrolarão nossos nervos... "Pavor", "A Corrida do Inferno",  "O Testamento de Jackeline Ess", "As Peles dos Pais" e "Novos Assassinatos na Rua Morgue" são as novelas que compõe esta edição.

Opinião:
    Ler Livros de Sangue é degustar um banquete antropofágico, enquanto criaturas infernais despedaçam cadáveres em uma cópula insana, em a honra a deuses anciões. Clive Barker é uma das mentes mais imaginativas que já se aventurou pela literatura de horror, com sua escrita visceral e explícita sente-se confortável tanto em dar vida a grotescos horrores sobrenaturais, cujas descrições pútridas fertilizam o solo da nossa mente para uma safra excepcional de pesadelos, como em explorar o monstro sanguinário e cruel que habita a essência de cada um de nós. O Volume II continua a diabólica dissecação de seu antecessor e se imiscui pelos caminhos tortuosos do horror psicológico, flertando com o lado erótico do profano até conceber os pesadelos mais perturbadores, recheados com visões infernais que lhe acompanharão até os finais dos tempos:

                                                   Pavor
   O pavor é a personificação mais brutal do medo, é o momento em que a mente se desliga completamente da realidade e tudo o que existe é  "aquilo", mais do que a simples sensação de um calafrio percorrendo a espinha é um horror primitivo, que surge das profundezas do ser e em menos de um segundo destrói os milhares de anos da evolução humana. Uma pessoa dominada pelo pavor está tão próxima da selvageria quanto é possível, apenas quem já enfrentou uma fobia sabe o quão devastador um conflito direto pode ser.  Clive Barker no primeiro conto desde volume explora esse pavor, tece teorias para suas origens e suposições para a sua superação, mas a chave para desvendar esse mistério está na experimentação. E qual a melhor forma de se fazer isso do que forçar as pessoas a enfrentarem seus medos?
   O protagonista terá sua sanidade testada em um experimento que o levará aos limites da percepção humana. Qual é o seu maior medo? Imagine ser trancafiado em um quarto escuro com ele. Ter sua liberdade retirada sabendo que única maneira de sair daquela situação é enfrentá-lo. Pavor é um conto angustiante, uma leitura desconfortável, as descrições das sensações experimentadas pelos personagens são claustrofóbicas e o leitor é forçado a sentir a loucura em primeira pessoa. Quando você chega tão próximo ao âmago de uma pessoa é impossível não sentir a atração de algo dentro de si, e quando o centro dessas atração é a escuridão, o resultado é ainda pior. É uma das melhores coisas que Clive Barker já escreveu. Existe uma adaptação de 2009, que no Brasil recebeu o nome de Lentes do Mal, que consegue passar um pouco do clima da estória, mas em comparação com a mesma é um pálido reflexo do horror aqui exposto. 

A Corrida do Inferno
    E se o apocalipse fosse decidido em uma corrida? Clive Barker presenteia o leitor com  um conto que consegue ser ao mesmo tempo visualmente perturbador e bem-humorado. A eterna luta entre o bem e o mal, que sacramenta a maioria das histórias de terror,  é decidida no que a humanidade vê como uma  simples corrida, são poucos os que sabem a verdade por trás deste evento primitivo. A cada cem anos uma legião infernal vem à Terra para participar da maratona e se vencerem, o mundo acabará, mas se um humano ultrapassar a linha de chegada primeiro, teremos mais cem anos de "paz". 
   O interessante sobre A Corrida do Inferno é que a estória começa diretamente na largada do evento e não acaba no seu final, muitos dos autores modernos prefeririam terminar a estória no fim da corrida, deixando assim uma imensa lacuna a ser preenchida pela imaginação do leitor, mas não. . Clive Barker prefere explorar o limite da sanidade de seus leitores, até que ponto uma mente pode ser bombardeada com visões aterradoras sem se quebrar? Outro ponto é a narrativa, mesmo sendo tão ágil quanto a própria corrida há espaço para o desenvolvimento dos personagens, e a mesma não se resume a apenas o evento, o horror  está nos bastidores e para essa corrida o leitor tem uma credencial de sangue que lhe fornecerá acesso completo a todos os detalhes infernais.

O Testamento de Jackeline Ess
   Não existe assassino, monstro ou criatura divina mais cruel e sádico que uma mulher em sua cruzada em busca de vingança. O Testamento de Jackeline Ess começa como uma espécie de pesadelo onírico, no qual a mesma tenta desesperadamente cometer suicídio em sua banheira, mas é salva a tempo por seu marido. De alguma maneira todas as provações pelas quais passou em vida, mescladas com a experiência de quase morte, lhe despertaram um poder. O poder da carne. E as maravilhas e horrores que pode fazer são inimagináveis. Dito isso seu ódio desperta uma sede de vingança e o que acontece a seguir é digno de uma das memoráveis orgias sanguinárias dos Cenobitas. Esta é uma história de amor, que literalmente, irá despedaçar seu coração.

As Peles dos Pais
   Este é sem sombra de dúvidas um dos contos mais profundos de Clive Barker, uma verdadeira obra de arte que reflete sobre o medo do desconhecido e a angustiante insegurança que advém desta percepção. As Peles dos Pais é a semente que germinou anos depois em Raça da Noite (Nightbreed), diferenciando-se entretanto por ter um tom mais pessimista e por abordar a sexualidade de uma forma mais selvagem e profana. As criaturas desta estória foram abortadas dos pesadelos mais insanos de Clive Barker, um exemplo são as duas criaturas unidas numa espécie de monstruosidade cujo resultado final é mais repugnante que a soma das partes, seus membros esticados e eram enfiados em feridas na carne um do outro. Este é um conto que desafia o leitor a abrir sua imaginação para receber as criações de Barker, o único problema de deixar essas imagens entrarem em nossa mente é que elas jamais irão desaparecer...

Novos Assassinatos na Rua Morgue
      A obra de Clive Barker foi muito influenciada pelos trabalhos de Edgar Allan Poe e a estória que fecha este volume é uma grande homenagem ao mestre e a seu conto clássico. Novos Assassinatos na Rua Morgue é uma história de detetive mergulhada em sangue e vísceras, seu diferencial está no seu conteúdo, pois não se trata de uma releitura e sim de uma espécie de continuação.  O protagonista é neto do narrador do conto de Poe, segundo ele a história dos assassinatos é verdadeira, seu avô em uma viagem à América acabou conhecendo o famoso escritor e lhe contou sobre o acontecido, que mais tarde foi imortalizado nas páginas de seus livros. Como o próprio título já diz uma nova onda de mortes assola a Rua Morgue, mas desta vez a brutalidade dos assassinatos alcança novos níveis de depravação. A leitura vale a pena por seu final sangrento e original. 

Minha nota: ☠☠☠☠☠☠☠☠☠☠ (10/10 Caveiras) 

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