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Conflito Final: A Última Profecia de Gordon McGill

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Sinopse:
   Conflito Final: A Última Profecia, a conclusão da saga maldita, apresenta Damien adulto, Embaixador americano em Londres, a um passo de chegar à presidência dos Estados Unidos, quando poderá levar o mundo ao caos...

Opinião:
  Conflito Final: A Última Profecia é o livro que encerra a "trilogia" de novelizações da série de filmes A Profecia, adaptado a partir do roteiro de Andrew Birkin por Gordon McGill. No Brasil foram publicados: A Profecia de David Seltzer [1976, Record], narrando os eventos que antecedem a vinda do anticristo à Terra na forma de Damien Thorn e seu nascimento, Damien: A Profecia II de Joseph Howard, [1978, Record], retratando a infância e adolescência de Damien, bem como a descoberta de sua identidade e  Conflito Final: A Última Profecia de Gordon McGill [1980, Record], conclusão da série que traz Damien adulto colocando em prática seus planos de dominação mundial. Existem ainda mais dois livros escritos por Gordon McGill que dão sequência aos acontecimentos de A Profecia, porém protagonizados por outros personagens, Armageddon 2000 e The Abomination.
   De um modo geral novelizações sempre induzem certa suspeita ao leitor, cuja grande cicatriz causada pela vilipendiação de seus livros preferidos em adaptações questionáveis para o cinema queima ao ouvir essa expressão, e são recebidas com reservas. Em muitos casos os próprios autores não retém muita liberdade para realizar alterações, como é o caso deKing Kong de Delos W. Lovelace, onde o potencial de aproveitamento da estória é infinito, mas o escritor está preso a ideia dos roteiristas e do próprio filme. Há casos em que o próprio roteirista desenvolve o livro, de modo que pequenas alterações e a liberdade de criação são bem mais flexíveis, é o caso de livros como A Noite dos Mortos Vivos de John Russo eA Semente do Diabo de David Seltzer. O caso é que grande parte das novelizações deixa a desejar em qualidade, não passando muitas vezes de um apanhado de falas do roteiro conectados com descrições pobres. Na série de livros A Profecia, o primeiro volume é o melhor, tanto na criação do suspense e clima de medo como adaptação de roteiro, a qualidade do segundo decai e apesar de ser um bom entretenimento não é tão surpreendente quanto seu antecessor, a redenção chega através do terceiro volume, que se salva por seu clima apocalíptico. 
  Damien Thorn é um jovem embaixador com uma carreira em ascensão na política americana, depois de centenas de anos de cuidadoso planejamento finalmente os planos do anticristo para dominação mundial são colocados em prática. Aqueles que se opõe a seu poder sofrem mortes terríveis e uma força maligna está a sua disposição para eliminar os degraus que impedem sua gloriosa coroação ao centro do poder mundial, a presidência dos Estados Unidos. As forças do bem jazem derrotadas, mortes e mutilações de livros anteriores serviram para diminuir o círculo de pessoas que conhece a combate a verdadeira identidade de Damien, além de mitigar a força e coragem dos restantes. Porém a esperança renasce com o alinhamento das estrelas, o sinal da Segunda Vinda de Cristo. A batalha definitiva entre o bem e o mal finalmente irá começar. 
  Conflito Final: A Última Profecia é uma leitura interessante se você é fã da trilogia A Profecia, sua cota de cenas assustadoras funciona muito bem juntamente com o clima de suspense que permeia a conclusão, conforme as páginas avançam e o "conflito final" se torna iminente a leitura é apoteótica. A estória não traz nada de novo com relação ao filme, excetuando a exploração psicológica dos personagens. Foi um dos primeiros livros de terror que li, ainda na adolescência quando meu acesso a esse tipo de filme era proibido, e a primeira leitura me deixou arrepiado, as seguintes não causaram grande impressão, mas até hoje me lembro do quão tensa foi aquela primeira leitura. 


Nota: ☠☠☠☠☠☠☠☠☠(9/10 Caveiras)

O Livro dos Fenômenos Estranhos de Charles Berlitz

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Sinopse:
   Mais de 200 histórias misteriosas e inexplicáveis que desafiam a imaginação. O fascínio que o mistério exerce sobre a mente humana tem sido o motivo da ampliação de nosso conhecimento do mundo e do desenvolvimento da ciência moderna. O constante desejo de solucionar os mistérios do espaço levou-nos a explorar o sistema solar, as estrelas e os planetas de nosso universo, e até outros universos além de nossa galáxia.Certamente muitas coisas ainda permanecem envoltas em mistério. Mesmo nos dias de hoje, no apogeu da perícia científica, os mistérios do espaço, do tempo, da coincidência, de manifestações paranormais, e as exceções ao que consideramos como sendo uma lei natural, continuam indefiníveis.

Opinião:
   Vivemos em um mundo imerso em mistérios e dúvidas, mesmo com a evolução da tecnologia questões simples, como o início da vida e de onde viemos, ainda estão envoltas nas sombras revoltosas de um misticismo folclórico e das crendices populares. Diariamente nos deparamos com notícias de fatos estranhos, acontecimentos inexplicáveis que desafiam a mente humana na busca por uma resposta lógica. Desaparecimentos, milagres, profecias, aparições fantasmagóricas, reencarnações, manifestações mediúnicas, coincidências bizarras, comunicações com mortos, objetos voadores não identificados, poderes paranormais, entre centenas de outros eventos que desafiam a ciência. O Livro dos Fenômenos Estranhos de Charles Berlitz é uma compilação de mais de 200 histórias misteriosas de pessoas que entraram em contato com o sobrenatural ou vivenciaram alguma experiência particularmente perturbadora. A grande maioria dos relatos baseia-se na própria lembrança pessoal sem provas das "vítimas", mas um número assustadoramente grande possui provas registradas que podem ser encontradas em qualquer pesquisa rápida pela internet. Frequentemente atravessando a linha do aceitadamente real e das lendas urbanas, O Livro dos Fenômenos Estranhos é um bom exemplo de um livro pré-internet, uma obra que antecipa o sucesso das creepypastas ao instigar um dos sentimentos mais primordiais da humanidade, a curiosidade acerca do  inexplicável.
   Alguns dos casos mais interessantes não têm ligação com o sobrenatural e são frutos de coincidências tão bizarras que seriam inacreditáveis se não houvesse provas de sua veracidade. Uma delas é a história de Henry Ziegland, de Honey Grove no Texas, que abusou sexualmente de sua namorada em um dia de 1893. O irmão da moça chocado com a situação resolveu cumprir seu dever de honra e atirou contra o rosto do estuprador, suicidando-se logo depois com medo de ser enforcado. No entanto, Ziegland foi atingido apenas levemente pela bala, que lhe deixou uma pequena cicatriz no rosto, antes de se alojar no tronco da árvore diante da qual estava. Vinte anos depois, em 1913, Henry Ziegland decidiu cortar aquela árvore e para isso resolveu utilizar dinamite. Na explosão, a bala que havia sido disparada contra ele desprendeu-se com tanta força da árvore que lhe atingiu a cabeça matando-o finalmente. 
    Na literatura a ficção científica é um gênero reconhecido por suas "previsões" do futuro, os escritores utilizam a imaginação para criar as estórias mais mirabolantes, partindo sempre de pressupostos científicos, que em muitos casos realmente antecipam o que acontecerá. Foi somente em 1877, ao observar uma noite o céu com seus instrumentos, que o astrônomo americano Aspah Hall viu pela primeira vez duas luas circundando Marte, coisa que nenhum outro cientista declarara ter visto até então. Contudo, Jonathan Swift, autor da fantasia As Viagens de Gulliver escreveu sobre elas muito antes de Hall, chegando a dar detalhes como proporções e órbitas, cerca de 150 anos antes da descoberta oficial, em 1726. 
   Os relatos de visitantes extraterrestres ocuparam grande destaque em meados do século XX, após a grande repercussão que o Incidente de Roswell teve em 1947. Os ocupantes desses OVNIs normalmente podem ser classificados em dois tipos, aqueles que possuem a aparência humana, virtualmente indistinguíveis do homem e os famosos "humanoides verdes", cujas descrições de tamanho e proporções têm uma grande variação, mas concordam em um ponto:  pele verde com grandes cabeças fetais e grandes olhos negros. Mas há outro tipo categoria cuja ocorrência é ínfima se comparada com as anteriores, seres de formatos tão bizarros que as vítimas tendem a enlouquecer após o contato. Na noite do dia 21 de Agosto de 1955, visitantes do espaço foram vistos perto de uma fazenda em Kelly, Kentuck. Após supostamente ser avistada a queda de um disco voador, envolto em uma fumaça com as cores do arco-íris, estranhas criaturas foram vistas por duas famílias. Uma espécie de entidade brilhante que flutuava em meio aos campos de plantação, de pouco mais um de um metro de altura, tinha uma cabeça bulbiforme com orelhas enormes e pontiagudas e braços compridos, terminados em garras pontiagudas que chegavam ao chão. Os fazendeiros atiraram nas criaturas, mas sem efeito algum, logo suas casas foram cercadas por tais entidades. A polícia foi chamada, mas nenhum indício que confirmasse a história foi encontrado. No entanto um dos policiais pisou no rabo de um gato no escuro e desencadeou um pânico geral. Nada foi confirmado. 
   Os grandes desastres e tragédias são, muitas vezes, precedidos por visões, sonhos ou pesadelos que vaticinam o evento. Médiuns famosos muitas vezes fazem previsões tão genéricas que podem ser utilizadas e alteradas para servir como explicação para qualquer evento, o charlatanismo é uma imensa nuvem negra que cobre esta área. Um dos casos mais comoventes e misteriosos envolve a tragédia de Aberfan, no País de Gales, onde no dia 21 de outubro de 1966 uma enorme avalanche de carvão soterrou uma pequena escola. Mais de 140 pessoas, sendo 128 crianças, morreram. Nas semanas que se seguiram ao acidente ficou cada vez mais evidente que algumas das crianças previram aquela tragédia, bem como outras pessoas em diferentes lugares da Inglaterra. Na realidade, 35 desses casos foram coletados por J. C. Barker, psiquiatra inglês. Um deles é o relato de uma mãe, no dia do desastre sua filha começou a falar que não tinha medo de morrer, de fato chegou a narrar um sonho no qual ia até a escola, mas ela não estava lá, uma "coisa preta" descera sobre ela. Nenhuma das duas imaginou que aquilo seria uma advertência. Duas horas depois, a menina estava morta. 
   Algumas coincidências são tão bizarras que chegam a ser cômicas. O Major Summerford estava lutando nos campos da Holanda em 1918, quando foi derrubado de seu cavalo por um raio e ficou paralisado da cintura para baixo. Summerford deu baixa e transferiu-se para Vancouver. Certo dia, em 1924, quando pescava à beira de um rio, um raio atingiu a árvore sob a qual estava sentado e paralisou lhe o lado direito do corpo. Dois anos mais tarde, parcialmente recuperado, Summerford já podia caminhar. Em 1930 passeava por um parque durante um dia de verão quando um raio caiu sobre ele, paralisando-o totalmente. Faleceu dois anos depois. Contudo, quatro anos depois de sua morte, um raio caiu em um cemitério e destruiu uma sepultura. Justamente a do Major Summerford.  Outro caso curioso é o de Anthony S. Clancy, de Dublin, Irlanda. Ele nasceu no sétimo dia do sétimo mês do sétimo ano do século, que também era, por coincidência, o sétimo dia da semana. No dia do seu 27° aniversário, Clancy foi a um hipódromo no qual o cavalo número 7 chamava-se Seventh Heaven e as apostas eram de 7 contra 1. Imaginando que todas essas coincidências não poderiam ser obra do acaso Clancy apostou uma enorme quantia no cavalo. Seventh Heaven chegou em sétimo lugar. 
    Os relatos mais extensos e repetitivos envolvem o sobrenatural, são dezenas de ligações supostamente realizadas pelos mortos, que também adoram aparecer de penetra em fotos de famílias, casas assombradas, móveis assombrados e até roupas assombradas! Um dos relatos mais estranhos envolve o casal de idosos William e Minnie Winston. Minnie encontrou sangue vertendo do chão do banheiro de sua casa, seu marido ficou preocupado que algo tivesse acontecido com ela, mas o sangue não era de nenhum deles. Logo vários cômodos passaram a verter sangue. A policia foi chamada e investigações foram realizadas, o sangue era humano, mas nenhuma explicação para aquela quantidade estar espalhada por toda a casa foi encontrada. Outro tipo de registro comum são os poltergeists, espíritos que se manifestam através de perturbações físicas. Um dos casos mais famosos atingiu a família Berkbliger, eles tinham acabado de se mudar para uma casa recém-construída, numa zona rural deserta, quando pedras começaram a ser atiradas contra portas e paredes. As pedras pareciam surgir do nada e a polícia não encontrou nenhum responsável pela depredação. Os ataques começaram a se tornar frequentes, geralmente ocorrendo no começo da noite, a família corria para fora da casa tentando descobrir o vândalo causador de seus pesadelos, porém nunca havia ninguém nos arredores. As pedras eram jogadas aos montes, como se houvessem várias pessoas participando do ato. A impressa noticiou os estranhos episódios e logo a população local, comovida com o tormento da família, se reuniu para desvendar o mistério. Quando os ataques começaram ninguém soube detalhar com precisão  a direção de onde as pedras vinham, buscas ao redor da casa se mostraram infrutíferas. Pouco tempo depois o fenômeno simplesmente parou. O caso ficou sem solução e continua envolto em mistério até os dias de hoje. 
  Charles Berlitz é um especialista que se dedicou ao estudo de fênomenos inexplicáveis ao redor do globo, seus livros mais famosos são O Triângulo das Bermudas e Atlântida, O Continente Perdido, nos quais discorre de maneira detalhada sobre dois pontos misteriosos que até os dias atuais intrigam a população e as autoridades. O Livro dos Fenômenos Estranhos, diferentemente de suas outras obras, possui uma linguaguem mais acessível , de modo ágil e direto o autor expõe os fatos sem colocar a sua opinião, deixando a decisão da veracidade dos fatos nas mãos dos leitores. É uma porta de entrada para o mundo dos fenômenos inexplicáveis, cuja finalidade não é trazer respostas, mas sim questionar e prover discussões sobre as convenções de realidade. Há relatos curiosos, cômicos, tristes, inacreditáveis, arrepiantes, para o quem gosta deste tipo de leitura é um prato cheio. 

Nota: ☠☠☠☠☠☠☠☠☠☠ (10/10 Caveiras)

Resenha: Prince Of Fools de Mark Lawrence [A Guerra da Rainha Vermelha - Volume I]

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Sinopse:
   “Sou um mentiroso, um trapaceiro e um covarde, mas nunca, jamais, irei decepcionar um amigo. A menos que, para não decepcioná-lo, seja preciso demonstrar honestidade, jogo limpo ou bravura.” Assim se apresenta Jalan Kendeth, o neto da Rainha Vermelha e décimo na linha de sucessão ao trono. Um verdadeiro hedonista sem pretensões políticas, que se vê obrigado a abandonar sua boa vida após sofrer uma tentativa de assassinato. Para escapar, precisa se aliar a um perigoso guerreiro. Mark Lawrence novamente cria um anti-herói irresistível. Por que mesmo estamos torcendo por eles? – é uma pergunta comum entre os cada vez mais numerosos leitores de suas aventuras. A resposta, certamente, está no talento com que o autor conduz seus personagens e narrativas. E desta vez, a violência e o rancor de Jorg Ancrath, é substituída pela astúcia e charme do Príncipe dos Tolos.

Opinião:
   As lendas falam que na época dos Construtores o mundo era totalmente diferente, fantástico e amedrontador, onde as armas eram feitas de um metal mágico especial e expeliam calor e projéteis mortais, onde a noite fora domada por um fogo artificial que qualquer homem poderia controlar e carruagens voadoras se espalhavam pelos céus de grandes cidades de concreto. Os Construtores alcançaram um nível inimaginável de sabedoria sobre o funcionamento da natureza, um saber tão poderoso que causou inúmeras guerras, cadáveres se acumularam até que uma grande explosão nuclear destruiu toda a civilização. A destruição foi tão vasta a ponto de modificar a disposição das terras e continentes.  O Império Quebrado floresceu nas cinzas de um mundo morto e despedaçado, uma nova sociedade  pós-apocalíptica se reorganizou em um sistema medieval de governo, seus reis e rainhas reergueram  grandes castelos nas carcaças sombrias outrora habitadas pelos Construtores, insidiosamente através dos ecos esquecidos de uma tecnologia antiga, a magia ressurgiu outorgando novos poderes aos homens. É neste mundo sombrio que surge um garoto conhecido como princípe dos espinhos. E é também neste mundo sombrio que surge um jovem mentiroso e trapaceiro conhecido como o príncipe dos tolos.  
   Prince of Fools é o primeiro volume da trilogia A Guerra da Rainha Vermelha e sua estória ocorre simultaneamente a de Prince of Thorns da Trilogia dos Espinhos, Mark Lawrence decidiu  fazer algo curioso e corajoso, escrever uma nova saga de livros  paralela a seu maior sucesso. Confesso que esperava que Prince of Fools fosse uma continuação de Emperor Of Thorns, e mostrasse como o Império Quebrado ficou após o final arrebatador envolvendo Jorg de Ancrath e o Rei Morto das Ilhas Submersas. Em um primeiro momento fiquei decepcionado, mas depois de algumas páginas fui conquistado pelo protagonista e pelas referências e ligações com Prince Of Thorns, o livro possui um tom narrativo mais leve e ágil em comparação aos  trabalhos anteriores do autor, mas a  impressão que fica é que Prince of Fools seria uma leitura mais instigante se   tivesse sido lançado juntamente com Prince of Thorns, para um público leitor que desconhece o final de Emperor Of Thorns.  O Rei Morto é a grande ameaça das duas trilogias, mas é Jorg de Ancrath que o enfrenta, o que faz parecer que a jornada dos protagonistas de Prince of Fools é sem sentido. 
  O Príncipe Jalan Kendeth é o décimo na linha de sucessão ao trono da Marcha Vermelha, assento ocupado há mais de quarenta anos pela Rainha Vermelha. Sua criação foi condizente com seu status,  príncipe em uma corte onde a cada esquina existe um herdeiro real, sua posição improvável na sucessão da linhagem real lhe deu algumas vantagens, porém negligenciado pela maioria dos nobres importantes cresceu com uma falha de caráter, que funciona como uma espécie de escudo de proteção as intrigas e mentiras da corte. Jalan não tem sonhos em alcançar uma posição política importante, sua existência é dividida entre jogos, bebedeiras e mulheres, assuntos que sempre lhe causam grandes problemas, sua habilidade jaz em sua lábia para contornar qualquer  situação que lhe pareça perigosa e se isso não bastar é mestre em descobrir rotas de fuga e correr como ninguém. 
   Prince Of Fools começa com uma reunião entre todos os herdeiros da coroa vermelha, na qual a Rainha  revela sua preocupação acerca da expansão do pútrido exército do Rei Morto. As histórias para assustar crianças antes dormir estão se mostrando verdadeiras, inúmeros relatos de cadáveres voltando a vida e visões de infames aberrações da natureza, invocadas por necromantes, se espalham como uma doença maligna por todo o Império Quebrado. Ninguém dá ouvidos a verdadeira ameaça que o Rei Morto apresenta, a Rainha Vermelha quer estar preparada para os tempos sombrios  que surgem no horizonte.  Para provar seu ponto de vista ela convoca testemunhas oculares de um ataque de um exército de mortos, guerreiros nórdicos que conseguiram escapar com vida da guerra ao norte apenas para serem capturados como escravos ao sul. Jalan que não estava prestando atenção a uma palavra do que estava sendo dito, tem seu interesse despertado pela visão de um gigantesco nórdico cheio de cicatrizes enormes.  Snorri ver Snagason em sua opinião é um exemplar perfeito para as lutas clandestinas que frequenta. Uma pequena mentira e o destino do nórdico está em suas mãos, o que não esperava é que forças além de sua compreensão estavam orquestrando aquele encontro, os dois se unirão em uma jornada que os levará aos confins de um mundo de gelo em busca de vingança e redenção. 
    Na Trilogia dos Espinhos a estória era narrada de forma não-linear, através de uma escrita fragmentada que amarrava pedaços do presente através de flashes do passado, em Prince Of Fools a narrativa linear é mais atraente e acessível aos leitores, Mark pode trabalhar com mais liberdade e profundidade a evolução de seus personagens ao longo das páginas, a personalidade de Jalan por exemplo é dissecada aos longos das páginas  através do famoso "formato" no qual há a redenção de um protagonista antipático. Para o leitor que já conhece o final de Emperor Of Thorns, o ritmo de leitura, apesar de rápido é um pouco irregular, principalmente nas páginas que descrevem a longa jornada até o norte.  O que torna a leitura mais palatável é a dualidade dos protagonistas, a brutalidade de Snorri e o humor negro de Jalan são mistura uma explosiva e engraçada.  No geral  Prince Of Fools não inova  na apresentação de seus heróis improváveis, mas entrega com qualidade aquilo que se propõe, um bom entretenimento e novas peças que contribuem para o entendimento da cultura e ambientação do  Império Quebrado. Com uma ótima conclusão Prince of Thorns deixa um gostinho de ansiedade pelos próximos livros, principalmente pela promessa de  respostas a questões não respondidas na Trilogia dos Espinhos, além da curiosidade para saber como Mark Lawrence conduzirá A Guerra da Rainha Vermelha daqui para frente. 

Nota: ☠☠☠☠☠☠☠☠☠ (9/10 Caveiras)

Resenha: Os Senhores dos Dinossauros de Victor Milán

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Sinopse:
   Em “Os Senhores dos Dinossauros”, Victor Milán consegue materializar um sonho que milhares de leitores compartilham secretamente desde a infância: cavalgar os gigantes répteis pré-históricos, como o terrível Tiranossauro Rex. O romance se passa no Império da Nuevaropa, um continente claramente inspirado na Europa do século XIV. Cultura e costumes, religião, conflitos políticos, tecnologia e armamento são compatíveis com o último período da Idade Média. Mas neste mundo, construído pelos Oito Criadores, os dinossauros também fazem parte do arsenal de guerra.

Opinião:
  Os Senhores dos Dinossauros é o primeiro volume de uma trilogia intitulada "The Ballad of Karyl's Last Ride", uma fantasia épica montada em grandes répteis jurássicos, escrita por Víctor Milán, conhecido pelos leitores brasileiros por ser um dos fundadores da série Wild Cards, sendo uma de suas criações mais famosas o Dr. Mark Meadows, além de ter tido alguns contos publicados na edição nacional da Isaac Asimov Magazine, com destaque especial para o conto O Mundo Flutuante que abriu a primeira edição da coleção. A estória se passa em um mundo chamado Paraíso, no continente de Nuevaropa, no qual existem versões medievais dos países europeus, como Alemania e Anglaterra, entretanto o autor frisa, através de uma nota no início do livro, que este mundo não é a Terra, não foi a Terra, jamais será a Terra e não é uma Terra alternativa e todo o resto é possível. A questão que mais desafia os leitores é descobrir como coexistência entre seres humanos e dinossauros é possível, Víctor Milán não entrega sua mitologia pronta e embalada diretamente nas mãos do leitor, sua narrativa segue despreocupadamente uma linha de acontecimentos, é nas entrelinhas que as informações são habilmente lançadas, uma metáfora perdida, fragmentos de pensamentos de um personagem ou até uma conversa aparentemente banal entre as damas da corte, servem como pistas para a formação do grande mosaico histórico que visa responder a questão principal: em que tipo de linha temporal bizarra o homem consegue domar dinossauros?

  Uma leitura cuidadosa revela várias referencias e a partir delas há várias teorias e conclusões possíveis, mas antes de entrar nesse campo é preciso fazer uma breve introdução aos dinossauros de Victor Milán. Curiosamente eles são baseados nas mais recentes descobertas científicas, que afirmam que todos os predadores possuíam penas, segundo as lendas dinossauros sempre existiram em Paraíso, a Cartilha do Paraiso para o Progresso de Mentes Jovens, legado dos Criadores, traz toda a terminologia popular e científica das criaturas. Mas quem são os Criadores? São as oito divindades a quem é atribuída à criação do mundo. Como são a forma de vida predominante no planeta, os dinossauros servem as mais diferentes necessidades do homem, além daqueles que são "domesticados" como montaria de guerra, dependendo principalmente do seu porte e sua constituição são utilizados ainda como animais de tração, fonte de alimento e matéria prima para a confecção de vestimentas e armaduras de couro. Existem várias maneiras de se treinar um dinossauro, há aqueles que são criados em cativeiro, mas cuja ferocidade em batalha é questionada já que são submissos a várias pessoas, e aqueles que são capturados no exato momento de seu nascimento, o primeiro ser vivo que o filhote enxerga ao sair de seu ovo é o que considera como mãe, deste modo o domador pode ensiná-lo com a certeza de que será o único ser temido pela criatura, esses homens são conhecidos como Senhores dos Dinossauros. 
      A partir de aqui é tudo especulação baseada nas minhas conclusões a partir de fragmentos da história de Paraíso, parcimoniosamente revelados pelo autor, não há nenhuma revelação do enredo e talvez esse conhecimento prévio lhe ajude durante a leitura. Os Criadores são homens da Terra, de uma versão altamente evoluída da nossa realidade, algum tipo de cataclismo tornou o planeta inabitável para qualquer forma de vida, forçando-os a buscar mundos passíveis de colonização através dos confins do espaço. Quando Paraíso foi encontrado provavelmente já era habitado por dinossauros, os escritos dizem que os Criadores depois de se certificarem que aquele mundo era agradável e que havia possibilidade do desenvolvimento de vida, trouxeram "os seres humanos", bem como ervas e sementes do antigo planeta, agora conhecido simplesmente como Lar, além dos "cinco amigos", os únicos mamíferos existentes em Paraíso, o cavalo, o bode, o cão, o gato e furão. Os Criadores serem do nosso planeta basicamente explica a nomenclatura dos países e nações, além do nome do mundo ter uma conotação mais sentimental para aqueles exilados, o paraíso. Explica também como uma sociedade medieval possa ter o conhecimento da terminologia científica de cada raça de dinossauro. Se quisermos extrapolar ainda mais nas teorias criacionistas de Paraíso, podemos considerar incluir o conto O Mundo Flutuante, como uma espécie de possível prólogo. No conto a Terra sofre os últimos espasmos da Quarta Guerra Mundial, explosões nucleares devastaram grande parte do globo, enquanto um dos últimos redutos da humanidade, uma gigantesca nave conhecida como Mundo Flutuante tripulada por astronautas de várias nacionalidades, orbita ao redor do planeta impotentes diante da destruição final. Há ainda os Anjos Cinza, porém falar sobre eles revelaria muitas partes do enredo, então deixemo-los para a resenha de The Dinosaur Knights.
  A estória começa com uma grandiosa batalha envolvendo os príncipes guerreiros do Imperador Felipe Delgao e o rebelde voyvod Karyl Bogomirskiy. O campo de batalha está coalhado de sangue de cavaleiros e criaturas,  gritos de dor e desespero de homens são abafados pelos urros de fúria de imensos dinossauros cobertos com armaduras de aço, em um tipo de visão infernal que pode enlouquecer o observador mais são. O leitor tem acesso a essas imagens através dos olhos de Rob Corrigan, um senhor dos dinossauros que assiste impassível à traição ao exército de Karyl, criando memórias que mais tarde servirão de inspiração para suas produções como menestrel.  O plano dos rebeldes fracassa, mas uma conspiração floresce neste ambiente de morte, mais sombria e destruidora que qualquer guerra, insidiosamente invadirá a corte de Nuevaropa como um câncer maligno em um corpo debilitado. A narrativa segue a visão de um grupo de protagonistas, um cavaleiro, uma dama e um senhor dos dinossauros,  a trama se desenrola aos poucos, conforme as páginas avançam o ritmo aumenta, mas inicialmente parece que a estória não evolui.
  A construção narrativa de Os Senhores dos Dinossauros é completamente diferente do que eu estava acostumado a encontrar em livros de fantasia até então, a primeira metade do livro é bem lenta, nela Victor Milán delineia as principais características das sociedades e pessoas de Paraíso, desde religiões, organizações políticas e sociais, até os contornos históricos. Porém tudo é feito de uma forma bastante implícita, através de diálogos e ações, o leitor é forçado a entrar em mundo desconhecido e, como um cego que "voltou" a enxergar, aprender aos poucos os costumes e hábitos de Nuevaropa. A segunda parte é completamente diferente, após o leitor se acostumar com o novo mundo a narrativa torna-se ágil, os protagonistas tornam-se velhos amigos e cria-se um suspense e ansiedade em torno de um clímax. O inicio de cada capítulo traz uma descrição detalhada de alguma raça de dinossauro, mas mesmo com as belas ilustrações presentes no livro, se você não pesquisar os aspectos físicos de cada criatura, as descrições já confusas das guerras ficarão ininteligíveis. O foco de Os Senhores dos Dinossauros é a construção de uma sustentação para o fantástico e promissor mundo de Victor Milán, talvez por isso não haja aquele desenvolvimento épico de batalhas que os fãs tanto esperavam, está mais para uma grande introdução da vasta mitologia de Paraíso. A conclusão é brutalmente misteriosa, se até as páginas finais existiam centenas de questões não respondidas, o último diálogo multiplica e destrói a maioria das certezas que existiam. Ansioso para o próximo volume. 

Nota: ☠☠☠☠☠☠☠☠☠☠ (8/10 Caveiras)

Resenha: Socorro! de Thomas H. Block

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Sinopse:
   Um piloto amador, uma aeromoça obstinada e uma corajosa menina lutam para conduzir até o aeroporto mais próximo um gigantesco jato avariado. Lá embaixo, no entanto, a companhia seguradora, a proprietária do avião e a Marinha Americana chegam à mesma conclusão aterradora: o mundo nunca deverá tomar conhecimento de todo o horror que aconteceu. O Voo 52 nunca deverá pousar!

Opinião:
  Socorro! de Thomas H. Block é um ótimo exemplo da síntese de uma das premissas mais famosas de livros de suspense, na qual os protagonistas estão enclausurados em um cenário sem saída e são antagonizados por uma temível e iminente ameaça. Este tipo de estória se abordada corretamente tem um grande potencial empático com o leitor, a sensação claustrofóbica de angustia e desespero dos protagonistas tem que ser totalmente palatável, seja na figura de um personagem que enfrenta uma noite solitária em uma casa assombrada, ou na de um explorador perdido nas profundezas de catacumbas de civilizações perdidas, a identificação com algo passível de acontecer, verossímil, faz toda a diferença durante a leitura. Socorro! consegue esse efeito através da inserção de  protagonistas improváveis  na cabine de um avião avariado, Thomas H. Block é um piloto profissional e sua experiência com aviação é imprescindível para a criação do texto, a condução narrativa ficou a cargo de Nelson DeMille, um reconhecido escritor de suspense que curiosamente não é creditado na edição nacional. O resultado é um romance explosivo e excitante que tem uma das descrições mais detalhadas de um acidente aéreo de toda literatura. 
   O livro foi publicado no final da década de 70 e Thomas H. Block baseou sua fictícia aeronave no Concorde, o inovador jato supersônico comercial famoso por sua grande altitude de voo,  os passageiros podiam olhar pelas janelas e ver a curvatura do globo terrestre,  além de ser reconhecido por sua grande velocidade, era mais rápido que a rotação da Terra, o que permitia sair de um continente após anoitecer e alcançar outro ainda de dia.  O primeiro voo comercial tripulado do Concorde aconteceu em 21 de janeiro de 1976, ao todo foram produzidos apenas 20 modelos da aeronave o que não ajudou na sua popularização, o maior problema enfrentado por sua empresa aérea foi a quebra da barreira do som, quando uma aeronave ultrapassa a velocidade do som, Mach 1, provoca um estrondo sônico causado pela mudança da pressão do ar, em outras palavras se o Concorde sobrevoasse uma região habitada, construções seriam profundamente abaladas e janelas seriam quebradas. Isso restringiu os voos à apenas grandes extensões intercontinentais de água.  Em meados dos anos 2000 um grave acidente marcou a decadência dessas aeronaves. O último voo do gênero aconteceu em 24 de outubro de 2003. 
  O Straton 797, um potente jato supersônico comercial está fazendo a linha São Francisco a Tóquio com a lotação máxima de 300 passageiros, sendo um dos aviões mais modernos da geração praticamente se pilotava sozinho, apenas com a ajuda do piloto automático. Um atraso na decolagem culminou em um evento de situações improváveis que resultarão em um dos acidentes mais horríveis da literatura. A Marinha Americana programou uma série de testes envolvendo um novo protótipo de míssil sem carga em uma região remota do pacífico, uma aeronave controlada a distância cruzaria a linha de ataque e seria perseguida pelo sistema eletrônico do míssil. Os responsáveis certificaram-se de que nenhum voo comercial seguiria por aquela região, o único programado, o voo 52 do Straton 797  já teria atravessado com segurança a zona de testes antes que o primeiro míssil fosse lançado. Mas aquele pequeno atraso colocou o avião diretamente no raio de ação do míssil, programado para destruir qualquer alvo móvel ele atravessou fuselagem do Straton, ceifando vidas pelo caminho e  saindo do outro lado incólume a não ser por restos de sangue e cérebro que rapidamente congelaram à aquela altitude.
  O buraco na fuselagem do avião rapidamente causou uma enorme despressurização, a força do vácuo sugou e despedaçou cadeiras e corpos humanos em um raio de um metro a partir do ponto de impacto, as pessoas pegas de surpresa não tiveram nenhuma reação a não ser o extremo horror, seus corpos foram esmagados em direção a poltrona, parafusos e outros artigos menores tornaram-se projéteis mortais, o ar logo se tornou rarefeito e aqueles que não morreram de ataques do coração ou devido a mutilação, lutavam contra a máscara de oxigênio sentindo os pulmões explodirem, como não havia vedação entre o rosto, a máscara era inútil e deixava todo o ar escapar através de suas junções com e pele. O piloto automático logo tratou de descer o avião a uma altura em que a pressão interna se estabilizasse com a externa, na tentativa de evitar maiores danos. Foram necessários três minutos para essa manobra. Nesse meio tempo, dos trezentos passageiros, mais de cem tiveram mortes instantâneas, os outros que conseguiram colocar a máscara respiratória tiveram danos cerebrais severos causados pela privação de oxigênio. 
   Alguns entraram em estado catatônico, a grande maioria guardou uma centelha de animal de inteligência que aliada ao choque os tornam extremamente agressivos. Alguns poucos passageiros tiveram a sorte de estarem hermeticamente fechados nos banheiros da aeronave e conseguiram sobreviver com sequelas mínimas, porém estão presos em um avião completamente recheado de cadáveres e uma horda de "zumbis" violentos. Sua única saída é entrar em contato com o controle de navegação e pedir ajuda. Mas em terra, há muitos olhos voltados para aquele acidente, a Marinha decide que aquele avião deve ser derrubado de toda maneira para que seu erro seja escondido da população, a Empresa Aérea responsável pelo avião não quer se responsabilizar por centenas de passageiros com danos cerebrais que terão de receber cuidados pelo resto da vida. E tudo isso acontece apenas nas primeiras páginas de Socorro! Thomas H. Block e Nelson DeMille criam uma narrativa viciante, com cenas de ação explodindo a cada página e um profundo e angustiante suspense que cresce a cada linha, é uma leitura claustrofóbica, o tipo de livro que você não consegue parar a leitura, a  velha promessa de "apenas mais um capítulo" antes de dormir é impossível de manter, pois no final de cada um deles há sempre um gancho que te puxa para mais além e além, reserve um fim de semana inteiro para devorar a obra, pois não terá paz até descobrir o que acontece na última página. 

Nota: ☠☠☠☠☠☠☠☠☠☠ (10/10 Caveiras)

Resenha: Contos de Alguns Lugares de Paul Richard Ugo

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Sinopse:
   Os lugares onde vivemos são os verdadeiros personagens. Vinte e dois contos de terror, mistério e fantasia onde os lugares são minuciosamente descritos, levando o leitor a um passeio por fatos e ambientes baseados em lendas e misteriosos acontecimentos, alguns reais e outros imaginários. Neste primeiro trabalho de Paul Richard Ugo, a morte e o sobrenatural são tratados de maneira diferente do que se costuma ver em outros thrillers literários. Os Contos de Alguns Lugares têm como característica os lugares onde as tramas acontecem, com uma descrição detalhada que leva o leitor a visualizar os ambientes fazendo com que estes se transformem também em personagens.

Opinião:
   O mal e sua influência nefasta se fazem presentes em todos os lugares, na maioria das vezes a bondade viceja em meio a este ódio transformando-o em algo belo, mas em alguns lugares nem sempre isso acontece. Há vielas tão escuras, presentes nas profundezas dos melhores bairros, em que a luz da justiça não consegue iluminar, partes do planeta em que o véu da realidade é tão fino que abraça o sobrenatural, locais inóspitos do globo onde lendas e monstros são reais, mais do que isso há partes da alma humana que descendem de tempos pré-históricos, do lado animal do homem no qual conceitos de prazer e dor se mesclam para criar aberrações sociais, assassinos, psicopatas e o ser mais temível de todos,  o homem comum, aquele que não conhece  seus limites até ser obrigado a confrontá-los em uma situação de vida ou morte.  Richard Paul Ugo mapeia essas regiões fantásticas em vinte e duas estórias no livro Contos de Alguns Lugares, dissecando o lado negro do coração humano, através de seus piores temores e medos. 
    A duração dos contos é variada, alguns conseguem saciar o leitor em poucas páginas, outros maiores e mais elaborados deixam a sensação de "quero mais", há ainda aqueles que podem ser medidos pelo número de batidas que o coração alcança durante a leitura, além daqueles que são rápidos e afiados como o corte de uma faca.  "Deixem Emma em Paz" abre a coleção com uma estória macabra de vingança adolescente, o texto segue a esperada linha do estereótipo da premissa, mas é coroado por um final sangrento e misterioso. "Catarse" narra a busca por autoconhecimento de um jovem que no caminho terá de enfrentar seus piores medos, além de uma criatura lendária saída diretamente dos mitos indígenas americanos. "Chez Renée Dinner Restaurant"é o primeiro de uma safra de estórias que tem como plano de fundo a cidade de Baltimore, a premissa é simples: e se você descobrir que aquela deliciosa e exótica carne, do prato de maior sucesso de seu restaurante favorito é preparada com um toque, literalmente, humano? "Por Dentro da Hora Morta" e "Fenômeno da Voz Eletrônica" possuem ligações com o macabro restaurante, seus protagonistas enfrentarão a morte e sentirão o sabor do horror!
   "O Gato" tem um estilo que remete as narrativas dos anos setenta, no qual a histeria se mistura com o sobrenatural, com um resultado deliciosamente sombrio! Sabe aquele animais que às vezes parecem te encarar na rua sem motivo algum? Bem, talvez haja um motivo sim... Em "Madaleine" uma estranha babá alimenta as crianças com fins malignos, a estória tem um toque gótico moderno, inspirado nas macabras estórias de Poe. Do mesmo modo "A Bandeja de Prata" evoca o misticismo das bruxas medievais, através do objeto que pode trazer a vida uma das piores criaturas que já existiram. "A Pele" fala sobre uma seita canibal arrepiante, e "Webcam"é uma releitura extremamente atual das assustadoras histórias de fantasmas. Em "O Túnel", a profecia do anticristo se mescla com a distorcida mentalidade nazista numa recriação perfeita do clima angustiante das narrativas de Lovecraft, assim como "A Adega dos Morgan" que flerta com visões terríveis de criaturas atemporais. Em "O Décimo Terceiro" um jovem descobre sua sangrenta herança e em "Morte Barata" um homem tem uma estranha conversa com as baratas, que aguardam sua morte para devorá-lo! "O Fado de Antônio" narra as aventuras de um serial killer português e sua luta contra suas convicções religiosas. 
   "As Vidas de Charles" conta a estória de um homem que sempre que adormece vive uma vida paralela, em uma delas ele é dono de uma loja de antiguidades, na outra um famoso ator de cinema, o que ambos tem em comum é o bafo da morte em seus pescoços. Qual será o verdadeiro Charles? Em o "Pequeno Conto da Lower East Side" um músico faz um pacto em busca de fama. "Cabaret" e "Amor de Cortiça" falam tragicamente sobre o amor e suas desilusões, enquanto "A Tatuagem" mostra que a luta entre o bem o mal é mais terrena do que imaginamos. E por fim em "Alegres Folhas Mortas", o autor se coloca como personagem e recebe uma incumbência "maldita" das mãos de um mestre do sobrenatural. Contos de Alguns Lugares se destaca pela qualidade de suas estórias, geralmente há grande variação de ritmo em um livro de contos, mas Richard Paul Ugo soube fracionar a exata medida de sobrenatural para deleitar o fã de horror sem que  o medo torne-se banal, cada página traz uma nova surpresa, em cada linha jaz escondido um arrepio. A especialidade do autor são finais chocantes, o leitor encontrará sempre uma grande surpresa na conclusão dos contos, poucas vezes acontece o esperado. Você vai descobrir que alguns lugares não são regidos pelas leis naturais e seu maior inimigo é você mesmo. Preparado?

Nota: ☠☠☠☠☠☠☠☠☠☠ (10/10 Caveiras)

Estante dos Livros Esquecidos I: 40 Livros de Terror e Suspense publicados no Brasil [Especial Década 80]

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  A Estante dos Livros Esquecidos é uma nova seção do blog que tem como finalidade servir de porta para o fantástico mundo dos livros de terror das décadas de setenta e oitenta, obras que inspiraram clássicos dos cinemas ou são novelizações de estórias consagradas, mas que jazem esquecidas nas estantes empoeiradas de bibliotecas e sebos ignoradas pelos leitores da atualidade. De uma forma bastante didática e demonstrativa pretendo fazer compilações de listas temáticas de livros, biografia de autores e coleções, reunindo o maior número possível de informações sobre as obras para facilitar a busca do leitor por determinado tipo de leitura. Para começar eu preparei uma lista com 40 livros pouco conhecidos de terror que foram publicados no Brasil na década de oitenta, alguns títulos já foram resenhados no site, outros ainda estão por vir. Confira:

1 - O Satanista de Dennis Wheatley

2 - As Miniaturas do Terror de Tabitha King

3 - As Duas Vidas De Audrey Rose de Frank De Felitta

4 - A Irmandade Sinistra de Michael Palmer



7 - A Última Vítima de Dan Barton



10 - A Coisa de Alan Dean Foster


11 - A Assombração da Casa da Colina de Shirley Jackson


12. No Limite da Realidade de Robert Bloch


13. Terrores da Noite de Martin Cruz Smith


14. Natal Negro de Thomas Altman


15. A Alma de Anna Klane de Terrel Miedaner


16. Cerimônias Satânicas de T.E.D. Klein

17. O Diabo nunca dorme de Daniel Rhodes


18. As Possuídas do Diabo de Thomas Tryon


19. A Casa do Mal de Dean Koontz


20. Fome de Viver de Whitley Strieber


21. Quarentena de Josh Webster


22. O Espírito do Mal de William Peter Blatty


23. Conflito Final: A Última Profecia de Gordon McGill


24. O demônio de Gólgota de Frank de Felitta


25.  Luar de James Herbert


26. A Besta Fera de Jack Woods


27. Estranha Obsessão de Richard Lortz


28. O Sepulcro de F. Paul Wilson


29. Gremlins de Steven Spielberg 


30. O Passa-Paredes de Marcel Aymé


31. Meia-Noite de Dean Koontz


32. A Serpente e o Arco-Íris de Wade Davis


33. O Monstro Branco de Bram Stoker


34. Os Visitantes da Noite de James Herbert


35. O País de Outubro de Ray Bradbury


36. A Casa das Bruxas de H. P. Lovecraft


37. 666 - O Limiar do Inferno de Jay Anson


38. Jogo da Perdição de Clive Barker


39. Comunhão de Whitley Strieber


40. As Possuídas de Ira Levin

Resenha: O Demônio na Cidade Branca de Erik Larson

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"Um livro envolvente, dinâmico, e bem pesquisado (...) com uma verdade realmente mais estranha que a ficção."The New York Times

"Uma história fulgurante sobre o lado escuro da Exposição Internacional de Chicago."New York Magazine

"Eu nasci com o demônio. Não pude evitar o fato de ser um assassino, assim como um poeta não pode evitar a inspiração para compor."H. H. Holmes 

Sinopse:
   Em O Demônio na Cidade Branca, Erik Larson cria um livro dinâmico e envolvente, recheado de informações assustadoras. Um retrato literário de uma realidade mais estranha que qualquer ficção. Embora os dois homens — o arquiteto Daniel Hudson Burnham e o jovem médico psicopata Henry H. Holmes — nunca tenham se encontrado, ao menos não formalmente, os seus destinos se uniram por um evento único e mágico, que na época acreditava-se possuir um caráter transformador quase igual ao da Guerra Civil; a Grande Exposição de Chicago, em 1893.


O Castelo da Morte ou A Câmara dos Horrores do demônio
   H. H. Holmes era o típico cavalheiro da sociedade americana no final do século XIX, um jovem e promissor  médico que esbanjava inteligência e carisma entre suas pacientes, bonito e bem educado era considerado um dos melhores partidos da região, o que atraía uma legião feminina a sua farmácia. Mas o que ninguém desconfiava é que por trás de todos aqueles sorrisos de simpatia e das feições que transbordavam bondade, existia um monstro carniceiro, cujas perversões e fantasias com torturas suplantavam em crueldade o bicho-papão da época, Jack, O Estripador. Nascido Herman Muldget, Holmes fugiu para Chicago ainda jovem em busca de riquezas e das comodidades que uma cidade grande proporcionaria para a realização de seus desejos macabros, entre eles o anonimato e a fácil obtenção de vítimas. Através de inúmeros golpes e calotes ele conseguiu adquirir uma farmácia, onde construiu uma sólida reputação, os lucros permitiram comprar parte do quarteirão em frente a seu estabelecimento. Os próximos anos de sua vida foram empenhados na construção de seu maior sonho, o famoso "Castelo da Morte".
    O Castelo de Holmes era um edifício de três andares que possuía mais de cem quartos, o térreo era formado por pequenas lojas, desde uma farmácia, um relojoeiro, uma mercearia e até serviços de barbearia e restaurante eram oferecidos por empregados de Holmes, o segundo e terceiro andares eram exclusivamente formados por quartos de hóspedes. Segundo relatos a beleza exterior da construção era oposta a seu interior sombrio, um verdadeiro labirinto de corredores escuros que faziam curvas estranhas e terminavam abruptamente em paredes rústicas, a impressão geral é que o interior era menor do que a visão externa do prédio levava a acreditar. Isso porque, Holmes em seu projeto, havia adicionado várias passagens secretas, quartos separados por paredes falsas, que  o permitiam observar as acomodações, alçapões e rampas que levavam a salas a prova de som, câmaras de gás, e seu projeto mais ambicioso que estava escondido no porão, um  laboratório completamente aparelhado com instrumentos cirúrgicos, no qual dissecava e conduzia suas experiências com cadáveres, além de um forno crematório. Estima-se que no período de funcionamento do hotel Holmes tenha matado um número entre 27 e 200 mulheres. Mas como um homem conseguiu construir tamanha estrutura macabra e mantê-la em segredo? Como ninguém notou  a quantidade crescente de mulheres desaparecidas? O método de construção de Holmes foi extremamente inteligente, os operários eram trocados semanalmente, demitidos antes que pudessem descobrir a verdadeira finalidade do prédio, numa espécie bizarra do modelo fordista de produção, exemplo é o engenheiro que projetou o forno crematório, até a descoberta dos corpos acreditou ter trabalhado na construção de uma fábrica de vidros. A resposta para a segunda pergunta é mais simples. Nesse mesmo período ocorreu em Chicago, A Exposição Mundial Colombiana, atração que atraiu centenas de milhares de visitantes a cidade. 
   A ideia inicial da grande Exposição Mundial de Chicago era comemorar os quatrocentos anos do descobrimento da América por Colombo, mas aos poucos suas gigantescas estruturas arquitetônicas começaram a servir de exemplo para a grandiosidade da população americana, o mundo voltou seus olhos para Chicago e vários países mandaram delegações representativas, a Espanha, por exemplo, mandou três réplicas em tamanho original das três caravelas de Colombo, o Japão mandou um séquito para construir um jardim e um templo e representar sua cultura, do Egito obras e artefatos faraônicos acompanhadas de autênticos moradores da cidade do Cairo e da África uma tribo inteira de pigmeus foi trazida especialmente para a ocasião. A Cidade Branca,  como ficou conhecida a Exposição, marcou a época como uma das maiores realizações do homem moderno, sua principal atração era uma grandiosa  roda gigante, que tinha capacidade para mais de duas mil pessoas e cuja volta completa demorava mais de vinte minutos. A Exposição reunía centenas de pessoas diariamente,  nos dias de pico foram registrados quase meio milhão de visitantes,  número este que deixou a cidade de Chicago à beira do colapso, hotéis com a capacidade máxima improvisavam camas em corredores e salas, restaurantes produziam toneladas de comida todos os dias e a própria mobilidade urbana foi prejudicada. Toda essa reunião de pessoas também marcou a maior concentração de criminosos já vista, a polícia recebia dezenas de chamados por hora envolvendo roubos, assaltos e desaparecimentos, mas devido aos poucos servidores disponíveis apenas os casos que envolviam a nata da sociedade eram investigados. E foi neste cenário de beleza e horror que H. H. Holmes e seu Castelo da Morte floresceram.

  Erik Larson consegue em O Demônio na Cidade Branca um feito único, uma reconstrução criteriosa e exata da vida de um serial killer, dissecando sua mente psicopata não apenas através de suas ações, mas situando-a geográfica e temporalmente dentro do contexto social da época que a produziu. Para contar a história de um homem, é preciso antes conhecer o ambiente que o moldou e cada palavra presente dentro dessas páginas é real.  Cada nome, cada morte, cada sentimento é perturbadoramente real. Para conseguir o nível de exatidão histórica presente em seu texto o autor realizou uma minuciosa pesquisa,  as últimas sessenta páginas são uma compilação de notas e fontes, obtidas através de livros, cartas e artigos que serviram de embasamento para a história. A narrativa é a mistura de um supense policial, construído a partir de um romance histórico e com um toque biográfico, que a torna bastante assustadora. Não é um livro de leitura fácil, Erik Larson utiliza cada parágrafo necessário para contar sua história, não se preocupando com a agilidade do texto, mas sim com a precisão histórica dos fatos. É uma leitura tão desafiadora que às vezes chega a ser desgastante, os personagens entram na cabeça do leitor e seus sentimentos se mesclam com seus próprios medos criando uma simbiose de emoções angustiante. O foco narrativo segue duas linhas diferentes, uma protagonizada pelo assassino e outra por Daniel Hudson Burnham, o brilhante construtor da Cidade Branca, ambas possuem seus próprios atrativos e são instrutivas por si só, de um modo que você não encontrará apenas um história sobre serial killer, mas também, um fragmento de um período da História Americana, especialmente de Chicago, recheado de pequenas narrativas. Se você é um leitor que busca um livro diferente e desafiante, este livro é para você, a leitura é uma caminhada árdua por caminhos inexplorados, você vai suar, querer desistir, mas no final ficará surpreso com a visão e a experiência que adquiriu. Se quer um empurrão a mais, uma adaptação do livro está sendo feita, protagonizada por Leonardo DiCaprio e dirigida por Martin Scorsese, promete ser o filme definitivo sobre o "primeiro serial killer americano."

Nota: ☠☠☠☠☠☠☠☠☠☠ (10/10 Caveiras)


Resenha: O Regresso de Michael Punke

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Sinopse:
   Em 1823, os caçadores da Companhia de Peles Montanhas Rochosas desbravavam as terras inexploradas dos Estados Unidos, enfrentando diariamente o clima implacável, as feras selvagens e a ameaça constante de confronto com os índios, que defendiam suas terras da invasão dos homens brancos. Em uma das missões da companhia, Hugh Glass, um dos melhores e mais experientes caçadores do grupo, fica frente a frente com um urso-cinzento, é atacado e termina gravemente ferido, claramente sem chances de sobreviver. Os homens que deveriam esperar sua morte e lhe oferecer um funeral apropriado o abandonam, levando consigo as armas e os suprimentos. Entre delírios, Glass os observa fugindo e é tomado por um único desejo: vingança. Uma determinação cega que o torna capaz de atravessar quase cinco mil quilômetros de terras intocadas e selvagens, fugindo de predadores, sobrevivendo à fome e à agonia dos ferimentos mais terríveis, a fim de concluir seu objetivo. 

Opinião:
  Quando os europeus "descobriram" a América centenas de tribos indígenas habitavam o continente, as novas colônias eram erigidas em cima de rios de sangue e sobre campos de cadáveres, cada palmo de terra era disputado até a morte pelos nativos que, sobrepujados em tecnologia, foram obrigados a se embrenhar cada vez mais para o interior de suas próprias terras. Esse arranjo funcionou  em meados do século XVI, na época das Treze Colônias Inglesas, quando a população branca europeia era ínfima. No início do século XIX, a imigração, aliada aos avanços tecnológicos da indústria e da agricultura, resultou em uma imensa explosão populacional e a expansão para o Oeste Selvagem fez-se necessária. E assim se iniciava o desbravamento mítico do interior dos Estados Unidos, imortalizados pelo gênero western, pioneiros, cowboys, índios, garimpeiros e foras da lei, lutavam pela sobrevivência em uma natureza selvagem, um mundo fantástico e desconhecido onde o predador mais perigoso era o próprio homem. 
  O Regresso é uma das muitas histórias baseadas em fatos reais que ocorreram nesta época, que evoca toda a bravura do espirito humano através da incrível tenacidade em superar situações extremas, alimentado por apenas um desejo, a vingança. Hugh Glass foi um dos corajosos desbravadores, que motivados pelas promessas de riqueza e munidos de grande curiosidade sobre o mundo que os cerca, partiram para o Oeste Selvagem em busca de glória, experiente caçador acabou participando de um dos muitos grupos da Companhia de Peles Montanhas Rochosas, fundada por William Henry Ashley, que realizava expedições para capturar peles de animais e realizar comércio entre caçadores e índios. Em uma dessas missões Glass foi atacado por um gigantesco urso, as patas do animal atravessaram toda a extensão de suas costas, rasgaram pedaços de sua garganta e laringe e terminaram quase arrancando seu couro cabeludo. Os homens de sua companhia se assustaram ao notar que aquela massa de sangue ainda respirava, não havia muita esperança olhando seu estado, o frio implacável e a falta de instrumentos médicos decentes eram grandes inimigos. Após muita discussão, suas feridas foram suturadas e dois homens destacados para ficar para trás e acompanhar seus últimos momentos, proporcionando uma cova adequada para o futuro cadáver. Glass apesar de estar em péssimo estado, não morria,  seus pretensos companheiros acabaram abandonando-o às intempéries acreditando que a morte não tardaria a chegar. O que não esperavam é que de alguma maneira ele sobreviveria. Sobreviveria para buscar vingança.
   Deixado perto de uma nascente, ferido e mutilado Glass se agarra com todas suas forças aos resquícios de vida que ainda restam em seu corpo gelado, imerso em uma batalha interna contra infecções precisa ultrapassar seus extremos para conseguir comida. Sua humanidade é reduzida a frangalhos quando em um momento de fraqueza é obrigado que vilipendiar uma carcaça pútrida de búfalo para não perecer de fome.    A escrita de Michael Punke é visceral e imaginativa, suas descrições da região das Montanhas Rochosas são de uma vivacidade estonteante e transportam o leitor diretamente para o meio das planícies e montes gelados, confrontando-o com escolhas éticas, angustiantes batalhas contra animais selvagens e com a beleza de natureza inexplorada.  Uma das cenas mais perturbadoras, e que exemplificam o tom narrativo,  é quando Glass encontra alguns índios que ficam impressionados e enojados com os ferimentos em suas costas, ao tocar as frágeis bandagens ele sente uma massa fervilhante de vermes se alimentando da podridão de sua pele infeccionada.  O livro deu origem ao filme de Alejandro González Iñárritu, protagonizado por Leonardo DiCaprio, e apesar de ser baseado em um personagem real, grande parte do texto é ficcional, principalmente os detalhes sangrentos da jornada de Hugh Glass.  O resultado é um livro impressionante, o tipo de leitura imersiva que seduz empaticamente o leitor, cada página traz uma nova surpresa e emoção e no final a leitura é tão frenética que não há descanso. Sem sombra de dúvidas, um dos melhores livros do ano.

Nota: ☠☠☠☠☠☠☠☠☠☠ (10/10 Caveiras)

Resenha: Terra Amaldiçoada de Douglas Lobo

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Sinopse:
   Demitido de seu emprego em São Paulo, Fabrício Machado retorna a sua terra natal, no interior do Piauí. Ali, espera reavaliar sua vida para decidir o rumo a seguir. Logo, porém ele descobre que o ambiente rural arcaico onde cresceu está em extinção. O progresso chegou, ameaçando sua fazenda, sua família e todo um modo de vida. Quando uma série de assassinatos começa a ocorrer, Fabrício desconfia que uma presença maligna assombra sua terra. Uma força que não cessará de matar até que se vingue do mundo que a criou. 

Opinião:
   O tempo corre de maneira diferente no campo e na cidade, enquanto nas grandes metrópoles os segundos se esvaem em congestionamentos e situações estressantes, o ambiente rural está imerso em um nevoeiro atemporal de morosidade que atrasa o caminhar do ponteiro dos relógios, alimentando a sensação de que o dia possui o dobro das horas que realmente tem. Essa diferença é mais notável durante a noite, na cidade o silêncio noturno é formado por uma cacofonia de vozes de pedestres, barulhos de automóveis e todos aqueles sons que marcam o adormecer cosmopolita. Já no campo este silêncio está envolto em uma aura sobrenatural, a noite em uma fazenda é o momento em que a realidade é engolida pela escuridão e a opressora tranquilidade da calada da noite parece esconder gritos mudos de horror e tensão. A quietude rural é formada por um coral de insetos que às vezes segue o ritmo de uma orquestra infernal e não lhe dá sossego,  em outras se cala repentinamente obliterada pelo urro de algum animal desconhecido. Nesse ambiente a mente esquece as linhas que separam o real do lendário, criaturas que fazem parte do folclore ganham formas através das sombras, é neste momento onde a loucura e a sanidade se mesclam, que o lugar que você conhece torna-se uma terra amaldiçoada. 
   Douglas Lobo consegue recriar com perfeição todo esse cenário mítico do interior, onde o saber das crendices populares é mais aceito do que as explicações científicas, de um modo que o leitor sente-se inserido dentro da estória, mais do que isso, representa bem o saudosismo de "tempos mais simples", através de um olhar atual que contextualiza o efeito que as inovações tecnológicas tiveram na vida do homem comum do campo. Há uma importante crítica social escondida atrás das linhas sobrenaturais do texto, o assassinato em massa da agropecuária familiar através do advento das grandes empresas alimentícias. Falo isso por experiência própria, há quinze anos meu avô gerenciava uma fazenda aviária onde criava frangos para o abate, juntamente com os fazendeiros vizinhos perfaziam quase metade da demanda de uma grande empresa no Paraná. Ano passado ao retornar à sua fazenda fiquei chocado ao descobrir que mais de noventa por cento dos "galinheiros" faliram, a bela visão de um rico pedaço de floresta que povoava a horizonte foi destruída para dar lugar a moderno e automatizado incubatório, onde as aves são especialmente selecionadas e alimentadas com rações transgênicas para engordar rapidamente. É praticamente uma "matrix" aviária. . Enquanto os bairros pobres nas margens das cidades aumentam para todos os lados, por causa do êxodo rural, as  as pequenas propriedades rurais são engolidas por plantações e pastos gigantescos. Gostei bastante  do modo utilizado pelo autor para explorar essa relação entre a necessidade moderna e a tradição familiar, que serviu de base para a inserção do sobrenatural. 
   Terra Amaldiçoada explora a raiz  folclórica do mito do lobisomem, não a figura europeia demonizada pelos jesuítas dentro das tradições indígenas, mas sim a própria manifestação bestial e selvagem da natureza, o protetor sanguinário que não distingue meio termos na  busca por vingança. No livro o protagonista retorna a sua cidade natal após se decepcionar com a vida em uma grande metrópole, seu intuito é recarregar as forças em um ambiente familiar com a ajuda de seus conhecidos e parentes, mas que encontra ao voltar, no entanto, é totalmente diferente daquela imagem idílica que estava impressa em sua mente, a opulência dos fazendeiros foi substituída pelas ruínas causadas pelos tentáculos da automatização, a antiga máquina provinciana de existência está desgastada e modo de vida moderno engole os trabalhadores, com a popularização da educação ninguém mais quer ser apenas um peão recebendo ordens quando pode ser um engenheiro ou advogado na cidade grande. Em meio a essa transformação social, estão os cruéis e misteriosos assassinatos de grandes fazendeiros na região, seus corpos são encontrados dilacerados com uma brutalidade animalesca, assim como suas criações que  jazem estripadas nos campos. Segredos pútridos do passado surgem à tona infectando a população com medo. Quando a pilha de cadáveres começa a aumentar e a polícia não possui nenhuma pista do suposto criminoso, os sussurros que falam de uma maldição ancestral aumentam, aquilo que parecia ser apenas mais uma lenda se prova real.   
   A narrativa de Douglas Lobo é ágil, as cenas são bem construídas e a leitura é rápida e prazerosa, Terra Amaldiçoada não é um livro que se propõe a assustar o leitor, embora consiga arrancar arrepios com algumas cenas sangrentas, como a vívida descrição da luta de vida e morte de um personagem que tem sua cabeça abocanhada pela criatura, os segundos de lucidez antes da decapitação são angustiantes,  é uma obra bastante reflexiva. O sobrenatural serve como base para discutir vários assuntos tabus, como o estupro, o preconceito, além de outras questões sociais que envolvem o meio rural, como a reforma agrária por exemplo. Terra Amaldiçoada consegue prender todo o tipo de leitor, desde aquele que procura uma boa e velha história sangrenta de terror e aquele que busca algo além, com cenários fantásticos e uma prosa agradável, ótima escolha para uma noite de lua de cheia. 

Nota: ☠☠☠☠☠☠☠☠☠☠ (10/10 Caveiras)

Estante dos Livros Esquecidos II: Coleção Casa Do Pesadelo de Diane Hoh [O Terror Infanto-Juvenil]

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   Nem todos os livros de terror são dominados por monstros, de fato existem histórias de serial killers e thrillers psicológicos que conseguem desencadear uma resposta tão forte e visceral quanto uma narrativa de terror. Isso se deve pela natureza do horror, o gatilho que causador do "medo"é diferente para cada pessoa, essa disparidade é ainda mais pronunciada quando a questão é colocada entre jovens e adultos. A adolescência é um período infernal, naquele momento assustador em que o corpo infantil passa por mudanças e alterações o medo é uma constante, seja o de não ser aceito em grupo social ou a humilhação e alienação que permeiam o ambiente escolar. Os livros de terror infanto-juvenis tratam de temas que os adolescentes enfrentam diariamente, alguns extremamente pesados como a perda de um familiar ou as drogas, outros tabus como o primeiro amor e o sexo,  inserindo criaturas e situações sobrenaturais em provações que retratam a premissa mais arrepiante de todas, crescer. Os jovens leitores se identificam com os problemas apresentados e aprender a lidar com seus próprios problemas pessoais.
   No início dos anos noventa os livros de terror infantos-juvenis se popularizaram através de duas grandes séries, Goosembumps de R. L. Stine e A Casa do Pesadelo de Diane Hoh, os livros traziam estórias simples e ágeis, nas quais adolescentes e crianças enfrentavam fantasmas, vampiros e maldições como uma espécie de metáfora para os pequenos problemas do dia-a-dia. Mas longe se parecerem com estórias com morais didáticas, eram realmente assustadoras. Diferente de  Goosembumps, que trazia tramas infantis com intervenções explícitas do sobrenatural, Casa do Pesadelo era voltada para os jovens, com temáticas mais "adultas" flertava com o horror psicológico, deixando às vezes em aberto a questão de tudo ser real ou apenas fruto de histeria, geralmente o horror era a projeção externa de um medo do protagonista. No Brasil foram traduzidos pela Editora Rocco apenas 16 volumes dos 29 publicados nos Estados Unidos, conheça a seguir a coleção completa brasileira com suas respectivas capas e sinopses.  


1. O Grito Silencioso
   No alto da colina, envolta em sombras e protegida pelo silêncio, está a Casa do Rouxinol, um pavilhão da Universidade de Salem e novo lar de Jéssica. Conhecido como Casa do Pesadelo, o lugar esconde tenebrosos segredos, que parecem brincadeiras, de tão absurdos. Mas... e se não forem?

2. A Verdade ou a Morte
   No alto da colina, envolta em sombras e protegida pelo silêncio, está a Casa do Rouxinol, um pavilhão da Universidade de Salem. Para os estudantes, é a Casa do Pesadelo. Pois foi ali que o terror começou. Quando a estudante Parrie Moore conhece as outras garotas numa festa, junta-se a elas num inocente jogo de verdade ou desafio. Tinha tudo para ser divertido. Mas, a cadas dia, os desafios ficam mais estranhos, mais perigosos. O jogo passa a ganhar vida própria. Parrie está assustada. Mas é apenas um jogo... Ou não?

3. Atração Fatal
   Hailey Kingman, caloura da Universidade de Salem, presenciou o primeiro encontro de Darlene e Robert. Ele tinha levado um fora da namorada, Gerrie, e queria deixar a "ex" enciumada. De imediato, todos percebem a estratégia do rapaz. Menos Darlene. Garçonete, moça simples, mas muito charmosa, ela está disposta a tudo para conquistar sua nova paixão. Durante uma festa onde parece não faltar ninguém, Darlene é humilhada publicamente por Robert. Decepcionada, jura vingança. A partir daquela noite os alunos da Universidade de Salem passam a ser perturbados por acontecimentos muito estranhos. 

4. A Sonâmbula
   No alto da colina, envolta em sombras e protegida pelo silêncio, está a Casa do Rouxinol, um pavilhão da Universidade de Salem. Para os estudantes, é a casa do pesadelo. Pois ali que o terror começou. Quin Hadley está sob suspeita. Suas crises de sonambulismo estão cada vez mais freqüentes. E o pior: ela jamais se lembra do que fez ou onde esteve. Isso não chegava a ser um problema até começarem estranhos acidentes à noite, no campus da Universidade de Salem. Todas as pistas apontam para a jovem sonâmbula. Nem mesmo ela tem certeza de sua inocência. 

5. O Último Encontro 
   No alto da colina, envolta em sombras e protegida pelo silêncio, está a Casa do Rouxinol, um pavilhão da Universidade de Salem. Para os estudantes, é a Casa do Pesadelo. Pois foi ali que o terror começou. Uma noite que você nunca esquecerá. Ligue para mim. Demi foi ousada. Ela mandou publicar estas palavras na seção de encontros pessoais do Diário de Salem. Muitos rapazes ligaram. E as noites eram tudo que o anúncio prometia. Inesquecíveis. Assustadoramente inesquecíveis. Porque,um a um, os rapazes que encontravam Demi começavam a sofrer pequenos acidentes assustadores. Desaparecendo. Até mesmo... morrendo.

6. O Sussurro
   Shea Fallon não podia contar a ninguém o que tinha feito. Não dava para escolher, era agir assim ou nada. De qualquer maneira sabia que ninguém conseguiria descobrir. Isso, é claro, até ouvir aquele sussurro sinistro ao telefone.  "Não tenha medo. Ninguém saberá o que você fez. Tomei providências para isso." Quem estaria por trás daquilo, e como chegou a saber de tudo? Shea estava assustada. E mais terrível ainda... qual seria o preço daquele segredo?

7. Bela Gentileza
  Quando Johanna sofreu um acidente e ficou com seu lindo rosto marcado, passou também a sofrer ameaças. Alguém na universidade não suportava a feiura... e para acabar com ela era até capaz de matar... O belo é do bem? O feio é do mal? Nem sempre. Mas alguém na Universidade de Salem pensava assim. Para que o bem imperasse na face da Terra, era preciso destruir o feio. Não ser bonito era uma afronta.

8. O Monstro
  Boatos circulam pela Universidade de Salem. São histórias sobre um monstro vagando no campus e atacando violentamente estudantes na madrugada. Abby McDonald acredita que os rumores não passam de tolice. Um trote de algum grupo baderneiro ou de veteranos fazendo uma performance teatral extraclasse. No momento Abby tem coisas importantes demais na cabeça para se preocupar com boatos. E o mostro com certeza não era uma delas. Mas deveria ser. Porque a verdade sobre o monstro é mais terrível do que a jovem poderia imaginar..

9. A Iniciação 
   No alto da colina, envolta em sombras e protegida pelo silêncio, está a Casa do Rouxinol, um pavilhão da Universidade de Salem. Para os estudantes, é a Casa do Pesadelo. Pois foi ali que o terror começou. Eles se autodenominavam Os excluídos e se encontravam secretamente em volta de uma fogueira no meio da floresta. Molly Keene, caloura da Universidade de Salem, participou da cerimônia de iniciação ao lado daquele grupo de estudantes tão solitários quanto ela. Era apenas isso mesmo? Ou não?

10. O Livro dos Horrores
  A autora de livros de horror Victoria McCoy, nova escritora residente da Universidade de Salem, sabe como fazer horror real. Por isso, Reed fica eletrizada quando é contratada para ser sua nova assistente... até descobrir que todos os assistentes anteriores da autora desapareceram. A partir daí, coisas assustadoras começam a acontecer na vida de Reed... coisas que parecem ter saído diretamente dos famosos livros de horror de McCoy. E o próximo terá um final muito pior do que os piores pesadelos de Reed.

11. Prisioneiras
   Quem gosta de emoções fortes vai acompanhar, com o coração aos pulos, as aventuras de Daisy, Tônia e Molly, as três amigas quer resolveram fazer o curso de verão na Universidade de Salem. Só que a viagem era para ter sido apenas uma grande brincadeira. Pelo menos, foi com este objetivo que elas saíram de casa e enfrentaram uma terrível tempestade na estrada. Quando perceberam que não adiantava prosseguir e procuraram abrigo em uma casa abandonada, lá no alto da montanha, não sabiam que estavam a segundos de viver a mais tenebrosa de todas as experiências. E que a casa que a princípio pareceu aconchegante e acolhedora logo se transformaria em um verdadeiro inferno.

12. O Sequestro
  O pai e a mãe de Nora já tinham morrido há muito tempo. Mas a jovem não se lembrava de nenhum deles. Aliás nem conseguia recordar a própria infância. Nenhum momento. Nenhum rosto. Nem a morte de pessoas tão importantes parecia fazer diferença. Restavam apenas alguns pedaços. pedaços que iam e vinham como se fossem vagos pesadelos. De repente os dias de Nora tornaram-se mais assustadores que suas noites. quase foi estrangulada por uma corda de pular. Em seguida levou um tombo da escada por cauda do par de patins abandonado no meio do caminho. Não demorou muito para ter certeza de que aqueles ataques estavam diretamente ligados ao seu passado esquecido. Nora precisava lembrar ou... pagaria com a própria vida.

13. O Boneco
 Convidada para participar da festa de Halloween que aconteceria na Casa do Pesadelo, Jaye resolveu apresentar um número de ventriloquia. Precisava de um boneco. Como o modelo que encontrou no shopping estava além do orçamento previsto, decidiu chamar Fiona para interpretar o personagem. Fiona era pequena e bem magrinha. Mais perfeita, impossível. As duas trabalharam incansavelmente durante quinze dias para criar uma história assustadora. Ocupada com os ensaios, Jaye acabou negligenciando todos que estavam habituados a andar junto dela. Não via a hora de poder voltar a viver normalmente, passeando e se divertindo ao lado do namorado e das amigas. Fiona, entretanto, acabou descobrindo que tinha sido usada apenas em função do seu tipo físico e ficou completamente descontrolada. A partir daquele momento, coisas aterrorizantes começaram a acontecer.

14. A Voz no Espelho 
   Uma certa euforia tomou conta da Universidade de Salem por conta dos preparativos para o Natal. Annie adorava aquele período do ano, até presenciar os acidentes que duas de suas melhores amigas sofreram, e de desconfiar que ela poderia ser a próxima vítima. Primeiro foi Helene que levou um tombo da escada. Ela estava no último degrau, pregando enfeites na parede e ajudando a decorar o salão. Logo em seguida Gerrie sofreu um grave acidente de trenó. Diante de problemas tão sérios, Annie até que tentou, mas era praticamente impossível ficar animada como antes. Até porque, na opinião dela, os tais "acidentes" significavam muito mais do que simples coincidências. 

15. Lição de Morte 
  Um professor atraente e misterioso. Uma aluna inteligente e sonhadora. De repente, ela passa a sofrer ameaças de morte. E todos são suspeitos...

16. Desejos Macabros 
  Alex jamais se esqueceria daqueles olhos de vidro, azuis, gélidos, que pareciam persegui-la. Bobagem. Por que temer se o boneco é uma máquina velha que supostamente realiza desejos e distribui previsões para o futuro? Ela jamais perderia tempo diante daquela porcaria. Mago! Pois sim! O Vinnie que inventasse outra forma de ganhar dinheiro. Vinnie era o dono da pizzaria, ponto de encontro dos alunos da universidade de Salem. Foi lá que pela primeira vez Alex teve a sensação de estar sendo observada pelo boneco. Um sentimento que provocava arrepios.


Especial Maldito! A biografia de Zé do Caixão de André Barcinski e Ivan Finotti [Resenha e Recomendações]

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Sinopse:
  Ele veio ao mundo numa sexta-feira 13, em março de 1936. Quase oitenta anos depois, José Mojica Marins construiu um legado artístico incomparável em nosso país e se consagrou como um dos grande mestres do Terror mundial. O público conhece sua voz gutural, as infindáveis garras que ele chama de unhas, sua barba cerrada e suas roupas, sempre escuras como a noite. Mas até que ponto o Brasil reconhece toda genialidade do homem por trás do mito?

Quando o pesadelo ganhou  vida!
   Existem casos especiais nos quais a existência de um personagem fictício ultrapassa a de seu próprio criador, é o caso de Drácula e James Bond, nomes icônicos da literatura, cujo brilho fulgurante eclipsa a identidade das mentes por trás de suas estórias, Bram Stoker e Ian Fleming respectivamente. Ou ainda os casos de Sherlock Holmes de Sir Arthur Conan Doyle e o Necronomicon de H. P. Lovecraft, cujo reconhecimento por parte dos leitores é tão grande a ponto de se tornarem parte do imaginário popular, como figuras reais.  Zé do Caixão é um exemplo nacional desse tipo de ocorrência, criado por José Mojica Marins, é um personagem que saiu diretamente das telas do cinema para se tornar uma lenda urbana, um ser mitológico  utilizado pelas mães brasileiras como paliativo a malcriação das crianças. Quem nunca deixou as unhas da mão crescerem e foi avisado por alguém que se se transformaria no Zé do Caixão?  
  Em meados de 1963 um jovem brasileiro almejava o sucesso fazendo aquilo amava, cinema popular, com pouco dinheiro para custear suas produções usava toda sua inteligência e carisma para conquistar "patrocinadores", buscando auxílio de familiares e aspirantes a atores, que compravam cotas de participação. Se você quisesse participar de um filme de Mojica era fácil, você desembolsava alguns cruzeiros e seria eternizado em película! O papel dependeria do quanto você poderia contribuir, se fosse generoso seria o protagonista, poderia beijar a mocinha e quem sabe até participar de uma cena mais "quente", mas se não tivesse muita coisa, bem... Filmes do terror sempre precisam de cadáveres não é? Após alguns fracassos e um modesto sucesso em filmes anteriores, Mojica buscava fazer uma "fita" especial, que o arrancasse do anonimato diretamente para a boca do povo! A resposta veio em forma de  um pesadelo, Mojica sonhou que uma figura o arrastava por um cemitério, sentiu tanto medo que decidiu compartilhar esse horror com as pessoas, se conseguisse reproduzir metade do ambiente de seu sonho em um filme... No dia seguinte começou a trabalhar em um roteiro, o primeiro rascunho do clássico À Meia-Noite Levarei Sua Alma. 

Um estranho em um país estranho!
    Zé do Caixão é um coveiro temido pelos habitantes de uma pequena cidade do interior, descrente e sádico é conhecido por sua crueldade, um personagem estranho que se veste com  capa e cartola pretas e caminha pelas ruas como se fosse superior a Deus e ao Diabo, ninguém possui coragem o suficiente para desafiá-lo e aqueles que tentam são brutalmente reprimidos. Sua grande obsessão é gerar um filho perfeito e para isso não medirá esforços para colocar em ação seus planos maquiavélicos. O personagem imaginado por Mojica tinha tudo para ser um sucesso, com inspirações nos grandes clássicos de Karloff e Lugosi, ele planejava um filme macabro e sangrento que conquistasse o público pelas vísceras,  À Meia-Noite Levarei Sua Alma possuía cenas explícitas de violência que até então ninguém tinha tido coragem de levar para um cinema. O resultado final foi tão chocante e expressivo para a época, que os expectadores ficaram embasbacados ao fim da projeção. Prenunciando as quilométricas filas de blockbusters vindouros, como O Exorcista e Tubarão, Zé do Caixão foi o primeiro feto  do cinema de horror nacional. Isso tudo é verdade, mas as coisas parecem tão belas e nostálgicas se colocadas através desta ótica que esquecemos que esta época foi marcada por um câncer no centro do poder brasileiro, a ditadura militar. 
    Para entender a  história da "ascensão e queda" do Zé do Caixão é preciso retornar a meados dos anos sessenta quando o governo militar estava estabilizando seus tentáculos por todo o território nacional,  ainda não estávamos no auge da censura, as coisas piorariam muito, mesmo assim a repressão era forte. Existia o chamado Serviço de Censura de Diversões Públicas, formado por censores que "zelavam pela saúde metal e física do jovem brasileiro", em outras palavras eram responsáveis pelo material final que 90 milhões de pessoas consumiam como entretenimento. Nesse período a censura, "estuprou e mutilou" milhares de filmes, nacionais e estrangeiros, peças de teatro, músicas, telenovelas, radionovelas e até livros! Tudo o que fosse considerado contrário a moral da época era simplesmente cortado, muitos filmes eram lançados com tantos cortes que a própria narrativa era prejudicada, em alguns casos o filme era tão censurado que nem valia  a pena liberar para o público o resultado final. 
  Mojica desde o início travou uma guerra contra a censura, que via em seus filmes uma propaganda contra a moral e aos costumes religiosos, a figura do anti-herói que pratica ações negativas e não é punido por isso era contrária ao pensamento do regime. Quando À Meia-Noite Levarei Sua Alma começou a fazer sucesso entre o público o filme foi interditado, dezenas de cenas foram extirpadas pelos censores e o filme só foi liberado após uma pequena modificação no final, que destruiu toda a questão da personalidade do Zé do Caixão, nos momentos "finais" de sua existência ele é obrigado a aceitar a salvação religiosa. Qualquer outra pessoa desistiria de seu trabalho nessas condições, mas Mojica tinha um incrível talento para autopromoção e usou a própria censura para promover seu filme. Um  artigo de jornal da época trazia uma entrevista em que ele afirmava que no escritório da "Censura", na primeira vez que assistiram ao filme todos ficaram horrorizados, "Inicialmente queriam queimar o filme e me prenderam!", Mojica havia dito. Esse tipo de declaração funcionava como combustível para a população, que incitada pelo sentimento de apreciação de algo proibido, em uma sociedade na qual expressar opinião contrária ao governo era mortal, lotava os cinemas. 
   É muito importante ressaltar que o terror sempre foi um gênero apreciado pelos brasileiros, exemplos disso estavam no rádio, nos anos cinquenta um programa chamado Incrível! Fantástico! Extraordinário! fazia sucesso ao trazer a figura do  Almirante, narrando causos fantásticos de assombrações enviados pelos próprios ouvintes; e nas bancas de revistas e livrarias através da explosão dos quadrinhos de terror, no  início dos anos sessenta haviam mais de 30 títulos diferentes sendo publicados regularmente, além dos famosos bolsilivros, com as coleções de livros de bolso de terror. Ou seja, havia um grande público para os filmes de Mojica. Porém o "horror" sempre foi uma das principais vítimas da censura, o gênero sempre esteve associado ao lado erótico e profano do homem, mesmo as narrativas mais simples evocavam uma cena forte,  como a nudez de uma atriz ou uma cena explícita de violência, e geralmente eram barradas. . Por mais sucesso que Mojica fizesse seus filmes passavam meses em tramite legal até serem liberados, alguns sendo terminantemente proibidos, cada dia perdido de projeção era prejuízo para os distribuidores e patrocinados, que logo começaram a rarear. Mojica sem verba para fazer os filmes que gostava começou a rodar filmes encomendados, produções péssimas e roteiros furados  cada vez mais afundavam seu nome. E então a explosão da pornochanchada nos anos oitenta levou a figura do Zé do Caixão à lama. 

The Ressurection of Coffin Joe.
  Apesar de ter sido uma celebridade na  década de sessenta e setenta, com programas populares na televisão, inúmeros produtos licenciados, como revistas em quadrinhos e fotonovelas criadas em parceria com o grande R. F. Lucchetti, e apesar de ser um nome reconhecido por muitos brasileiros, Zé do Caixão caiu no esquecimento. Poucos hoje em dia conhecem verdadeiramente a estória por trás do mito, mesmo com a grande maioria de seus filmes disponibilizados gratuitamente no youtube, apenas um pequeno número de brasileiros realmente já assistiu a algum deles. Se Mojica hoje é reconhecido como um mestre do cinema de terror, não não é por causa de nenhuma iniciativa  do governo ou da própria classe brasileira, mas sim porque o mundo descobriu Coffin Joe. Nos anos noventa as produções de Zé do Caixão explodiram no circuito underground americano, seus filmes foram premiados em festivais e seu nome ganhou peso no exterior. O devido reconhecimento nacional chegou tarde, quando seu nome voltou  a mídia foi para um público novo, que não conhecia suas obras e não soube lhe dar o devido valor. Essa reedição de Maldito da Darkside Books chega em um momento providencial no mercado. 

O Livro Maldito! À página 666 eu levarei sua alma!
  A edição da Darkside contém 666 páginas que dissecam a vida de Mojica Marins,  grande parte delas recheadas de fotos e imagens arrepiantes de sua carreira, sendo as que as últimas cem trazem uma relação de todos os seus trabalhos. A escrita de Ivan Finotti e André Barcinski é extremamente ágil e didática, os autores conseguem transportar o leitor para a época em que a história ocorre, não apenas discorrendo sobre fatos da vida do biografado, mas também fazendo uma importante correlação com o contexto social da época. Ler Maldito não é apenas mergulhar na vida de um dos personagens mais obscuros do cinema brasileiro, é também um olhar atento sobre a imigração no sudeste, a evolução do cinema nacional, em especial na influência da ditadura militar, e a gênese do pornochanchada nos anos oitenta. Exatamente por isso não é um livro indicado para pessoas frágeis ou menores de idade, há várias imagens explícitas além da abordagem de vários filmes do lado B do cinema nacional, cuja existência a mente incauta da atualidade apenas imagina,  para citar um exemplo, 48 Horas de Sexo Alucinante, no qual a protagonista deseja ter relações sexuais com um touro. 
   Maldito combina perfeitamente imagens e textos em um resultado absolutamente impecável, com uma estrutura similar aos livros da Coleção Dissecando, como Evil Dead e Sexta-Feira 13, o livro traz uma dissecação dos bastidores das principais obras de Mojica, todos os problemas de produção, curiosidades macabras e a engenhosidade com que ele conseguia contornar e vencer os problemas. O tom se altera entre o dramático e o cômico, cada produção de Zé do Caixão sempre encontrava algum tipo de problema bizarro, um exemplo é o não filmado Sapos, a ideia era um filme que misturasse parapsicologia e catástrofe natural, similar a Pássaros e a Planeta dos Macacos, para a realização das filmagens Mojica pediu ao público que enviasse ao estúdio todos os anfíbios que encontrassem. O resultado você imaginar. É de praxe Zé do Caixão em qualquer aparição pública lançar uma das suas reconhecidas maldições, e essa reedição de Maldito serve como contrafeitiço para uma das piores maldições a que foi imposto, o esquecimento do publico. Uma leitura marcante e emocionante. Vale a pena cada centavo. 

Nota:☠☠☠☠☠☠☠☠☠☠ (10/10 Caveiras)

Recomendações Multimídia

A série de TV

  
Filmes do Zé do Caixão


Videoclipe "Maldito" da Banda Maldita

   A Banda Maldita fez uma incrível homenagem a Mojica no seu último single, Maldito (Zé do Caixão) que faz parte do álbum vindouro Estranhos em uma Terra Estranha. Zé do Caixão faz uma aparição especial no sombrio clipe, dividindo um jantar com os membros da banda em um ambiente sensual e profano, repleto de mulheres, caveiras e sangue! [Confira o vídeo aqui!]

Estante dos Livros Esquecidos III: 30 Livros de Terror e Suspense publicados no Brasil [Especial Década 90]

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   Os anos noventa foram marcados por um grande declínio nas publicações de livros de terror, embora nessa mesma época a Editora Abril começasse a publicar a série Goosebumps de R. L. Stine e ser o auge da "grande explosão" de popularidade de Clive Barker com a publicação dos Livros de Sangue, e F. Paul Wilson com O Ciclo do Inimigo, sua primeira metade vivenciou os últimos suspiros de grandes coleções, como Mestres do Horror e da Fantasia da Editora Francisco Alves e Os Melhores do Mistério da Nova Cultural, tanto que a maioria dos livros raros de Stephen King foram publicados com baixa tiragem nessa época. Já na segunda metade o estado do mercado editorial piorou a decadência do gênero, as editoras publicavam apenas nomes reconhecidos pelo público, e excetuando King, os próprios já não estavam mais tão em alta assim, como é o caso de Dean Koontz, reverenciado nos anos oitenta, definhou na década seguinte, para cair no completo esquecimento posteriormente. Mesmo assim bons livros foram publicados nesses anos, embora seja preciso ir fundo nas estantes de sebos e bibliotecas antigas para encontrá-los, a seguir uma lista com 30 obras publicadas nessa época.


1. O Anjo da Morte de Robert Black

2. Esconderijo de Dean Koontz

3. A Experiência de Yvonne Navarro

4. A Filha de Satã de Lois Horowitz

5. O Clube do Fogo do Inferno de Peter Straub


6. A Casa sobre o Abismo de W. H. Hodgson


7. A Maldição do Titanic de Robert J. Serling


8. O Filho de Rosemary de Ira Levin


9. Sr. Assassino de Dean Koontz


10. Depois da Meia-Noite de Stephen King


11. Livros de Sangue de Clive Barker


12. Madison, 1300 de Ira Levin


13. Fogo Frio de Dean Koontz


14. A Trama de Maldade de Clive Barker


15. A Metade Negra de Stephen King


16. O Berço de Paul Kent


17. Ancestrais de Robert Y. Kline


18. Renascido de F. Paul Wilson


19. Natal Negro de Thomas Altman


20. Raça da Noite de Clive Barker


21. Kuroikaze Vento Negro de F. Paul Wilson


22. A Tumba e Outras Histórias de H. P. Lovecraft


23. Visões da Noite de Ambrose Bierce


24. Histórias Sobrenaturais de Rudyard Kipling de Peter Haining


25. Descendentes de Jean Simon


26. O Pacto de Frank Peretti



27. Represália de F. Paul Wilson


28. Implante de F. Paul Wilson


29. Exorcismo: Uma História Verdadeira de Thomas B. Allen


30. Os Caminhos Escuros do Coração de Dean Koontz



Resenha: Carniceiro Mefítico de Jean Thallis

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Sinopse:
   Os repentinos sequestros em Colniza, norte do Mato Grosso, cobriram a cidade com uma mortalha de horror. Pedro faz parte de uma das muitas famílias que vivem em assentamentos com produção de café, apesar de jovem, possuí filha e como todos, também está amedrontado, temendo que sua filha seja o décimo sétimo rapto. Mas a tristeza de ver Bia raptada, sua primogênita, será apenas o prelúdio para a mais sórdida imersão na animalidade humana. Seu débil esforço na tentativa de resgatá-la correndo atrás daquele demônio, o levará para o emaranhado da floresta amazônica, onde horrores mais tétricos que a morte o rondarão no sonho e em vigília.

Opinião:
    O folclore brasileiro é rico em sua manifestação cultural, de norte a sul do país existem lendas e mitos regionalistas que são inspirados em crenças indígenas, há uma grande variação no teor desses relatos, parte disto se deve pela nossa grande extensão territorial, mas a principal barreira é a cultura da oralidade das tribos indígenas, nenhuma delas desenvolveu a escrita de modo que as lendas foram passadas no boca a boca de geração a geração. Esse forma de transmissão de informações ocasiona todo tipo de modificação, a maior delas é evidenciada pelo choque cultural advindo da interferência da cultura europeia, através dos jesuítas portugueses. Um exemplo disso é a lenda da Iara, a versão conhecida atualmente é a de uma índia de cabelos negros e olhos verdes que seduz homens para as profundezas das águas como uma espécie de sereia, mas há uma versão mais antiga que faz alusão a uma entidade antropofágica, chamada de Ipupiara, um monstro aquático absolutamente arrepiante. Mas o que isso tem a ver com Carniceiro Mefítico? Simples, Jean Thallis utiliza a figura do Curupira como vilão em sua narrativa, mas não a visão romanceada do menino travesso que utiliza a deformação de seus pés para enganar aqueles que invadem as matas, e sim a criatura que habita as histórias indígenas, de um tempo anterior ao dos europeus, repletas de violência, raptos de crianças e abusos sexuais. 
   O desbravamento do interior do Brasil é um processo que tem suas raízes fixas em meados do século XVII através das expedições dos bandeirantes, porém foi apenas no século XX que o povoamento dessas regiões se intensificou, através de incentivos do governo, que tencionava garantir a soberania nacional a partir da ocupação, famílias inteiras "ganhavam" pedaços de terra para se tornarem criadores de animais ou donos de campos de plantações. Colniza, uma pequena cidade do interior mato-grossense, é uma das muitas comunidades que surgiram deste modo, seus plácidos habitantes são homens comuns que buscaram o refúgio do campo para sustentar suas famílias. Porém a sensação luxuriosa de bucolismo é destruída quando as crianças do assentamento começam a desaparecer, os sequestros são tão repentinos e envoltos em mistério que nenhum responsável é apontado e acredita-se que os tentáculos do sobrenatural estejam por trás dos desaparecimentos. 
  Pedro é um jovem agricultor que está tão temeroso com essa onda de sequestros quanto os outros pais, sua filha pequena tem e mesma idade das vítimas e seu coração transforma-se em gelo perante a mera sugestão que possa perdê-la, suas noites são passadas em vigília, atrás de portas e janelas fortemente reforçadas, para evitar arrombamentos. Se depender de suas forças o sequestrador jamais chegará a um metro de sua filha. Mas o mal sempre está à espreita e um pequeno deslize de atenção é tudo o que o monstro precisa para atacar. Pedro ouve os gritos de sua filha e o extremo horror se apossa de sua alma quando vê a criatura que a segura. Um homem de um branco cadavérico, com cabelos laranja espetados  misturados com terra, olhos completamente negros como a noite, um sorriso pontiagudo que reflete as intenções mais psicóticas e o que lhe permite identificar a criatura, os pés virados para trás. O monstro dispara para a floresta com seu prêmio entre os braços e Pedro vai atrás. Tem início então uma perseguição pelo interior da floresta amazônica que revelará os segredos mais pútridos e obscuros que jazem por trás de toda a beleza do verde. 
   Carniceiro Mefítico é um livro pesado, extremamente vívido e explícito em suas descrições de violência, necrofilia e outros temas tão bizarros que embrulham a mente só de lembrar, a leitura é uma experiência torturante e angustiante ao mesmo tempo que instigante e prazerosa, é como ser amarrado a uma mesa de cirurgia e ter seus órgãos internos arrancados por um psicopata tendo a dor como única anestesia. Diferente de outros escritores do gênero, Jean Thallis não convida o leitor para um passeio no escuro por uma casa assombrada ou cemitério à noite, na verdade sequestra o leitor para um tour de force em abatedouro humano em plena luz do dia. Não recomendo o livro para pessoas sensíveis e que se chocam com facilidade, mesmo com minhas cicatrizes de leitor de "combates" anteriores me senti desconfortável durante a leitura, não foram poucas as vezes que tive que desviar os olhos para digerir uma cena absolutamente doentia ou deixar o livro de lado por sentir meus dedos pegajosos com a quantidade de sangue que há nas páginas. 
  A narrativa de Jean Thallis é simples e visceral, seu estilo remete a Clive Barker em Livros de Sangue, mas sua coragem vai além ao explorar temas e sensações que mesmo Barker evitou. Este é o segundo livro do autor,  precedido por Lapso Esquizofrênico, e foi publicado de modo independente, se mesmo o terror nacional tem pouco espaço nas editoras o subgênero gore é totalmente ignorado, por isso é tão importante apoiar os nomes brasileiros que se lançam na cruzada de publicar suas visões malditas. Jean Thallis ainda faz algo mais admirável ao disponibilizar Lapso Esquizofrênico e Carniceiro Mefítico para download gratuito em seu site (clique no nome dos livros para ir direto para as páginas), no qual também é possível encontrar vários contos de sua autoria. Carniceiro Mefítico não se propõe exatamente a assustar o leitor, embora algumas passagens consigam, o foco é no choque da exploração carnal do lado mais escuro da alma humana. É um livro que te surpreenderá se tiver estomago e coragem suficiente para chegar até suas páginas finais.  

Nota: ☠☠☠☠☠☠☠☠☠☠ (10/10 Caveiras) 

Darkside Books relançará O Exorcismo de Thomas B. Allen

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 Uma publicação obscura na década de noventa, através da Editora Nova Fronteira, marcou a primeira edição de O Exorcismo de Thomas B. Allen, no original Possessed: The True Story of an Exorcism, livro de não-ficção que revira as raízes do caso real que serviu de inspiração para O Exorcista de William Peter Blatty. A Darkside Books anunciou que relançará o livro em Maio, numa assustadora edição de capa-dura que conterá como "especial" uma reprodução de uma tábua Ouija, que pode ser "jogada" através do marcador de páginas temático. Confira o release da editora: 


  Um fenômeno quase paranormal atingiu o mundo em 1973. Multidões sofreram de náuseas, desmaios, alucinações e calafrios, numa histeria coletiva sem precedentes. Todos aparentemente possuídos por um filme: o já clássico O Exorcista, dirigido por William Friedkin e adaptado do romance que o roteirista Willian Peter Blatty lançara dois anos antes e que completa 45 anos em 2016.
   Se a ficção consegue ser tão assustadora, imagine o poder contido na história real? Muitos não sabem, mas a obra-prima de W. Peter Blatty não se trata de uma invenção. Ela foi inspirada num fenômeno ainda mais sombrio, desses que a ciência não consegue explicar: um exorcismo de verdade.
   A história real aconteceu em 1949, e você pode conhecê-la — se tiver coragem! — no livro EXORCISMO, do jornalista Thomas B. Allen, lançamento da DarkSide Books em 2016. Exorcismo narra em detalhes os fatos que aconteceram com Robert Mannheim, um jovem norte-americano de 14 anos que gostava de brincar com sua tábua ouija, presente que ganhou de uma tia que achava ser possível se comunicar com os mortos.
   Thomas B. Allen contou com uma santa contribuição para a pesquisa do seu trabalho. Ele teve acesso ao diário de um padre jesuíta que auxiliou o exorcista Bowdern. Como resultado, seu livro é considerado o mais completo relato de um exorcismo pela Igreja Católica desde a Idade Média. Os investigadores paranormais Ed e Lorraine Warren definiram a obra de Thomas B. Allen como “um documento fascinante e imparcial sobre a lluta diária entre o bem e o mal”.
EXORCISMO é um livro exclusivo da DarkSide Books, que vem em capa dura e o padrão de qualidade quase psicopata da editora. Ele ainda vem com uma surpresa para os leitores mais audaciosos: uma reprodução da tábua Ouija que pode ser jogada usando o marcador de página.

Lista dos Indicados para o Bram Stoker Awards 2016!

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  The Horror Writers Association (A Associação dos Escritores de Horror) liberou esta semana a lista dos indicados ao Bram Stoker Awards 2016, que se refere as obras publicadas no ano de 2015, este ano a apresentação da premiação ocorrerá na primeira StokerCon na noite de sábado, 14 de Maio, com transmissão ao vivo online. Nomeado em homenagem ao autor do seminal Drácula, o Bram Stoker Awards acontece anualmente e premia em onze categorias diferentes, desde ficção tradicional até poesia, roteiros e não-ficção.

Superior Achievement in a Novel (Romance)
Clive Barker – The Scarlet Gospels 
Michaelbrent Collings – The Deep 
JG Faherty – The Cure 
Patrick Freivald – Black Tide 
Paul Tremblay – A Head Full of Ghosts

Superior Achievement in a First Novel (Primeiro Romance) 

Courtney Alameda – Shutter 
Nicole Cushing – Mr. Suicide
Brian Kirk – We Are Monsters 
John McIlveen – Hannahwhere 
John Claude Smith – Riding the Centipede

Superior Achievement in a Young Adult Novel (Juvenil)

Jennifer Brozek – Never Let Me Sleep 
Michaelbrent Collings – The Ridealong 
John Dixon – Devil’s Pocket
Tonya Hurley – Hallowed
Maureen Johnson – The Shadow Cabinet 
Ian Welke – End Times at Ridgemont High 

Superior Achievement in a Graphic Novel (HQs)

Cullen Bunn – Harrow County, Vol. 1: Countless Haints 
Victor Gischler – Hellbound 
Robert Kirkman – Outcast, Vol. 1: A Darkness Surrounds Him 
Scott Snyder – Wytches, Vol. 1 
Sam Weller, Mort Castle, Chris Ryall, & Carlos Guzman (editors) – Shadow Show: Stories in Celebration of Ray Bradbury

Superior Achievement in Long Fiction (Novela) 

Gary A. Braunbeck – Paper Cuts (Seize the Night) 
Lisa Mannetti – The Box Jumper 
Norman Partridge – Special Collections (The Library of the Dead) 
Mercedes M. Yardley – Little Dead Red (Grimm Mistresses) 
Scott Edelman Becoming Invisible, Becoming Seen (Dark Discoveries)

Superior Achievement in Short Fiction

Kate Jonez – All the Day You’ll Have Good Luck (Black Static #47)
Gene O’Neill – The Algernon Effect 
John Palisano – Happy Joe’s Rest Stop (18 Wheels of Horror) 
Damien Angelica Walters – Sing Me Your Scars (Sing Me Your Scars)
Alyssa Wong – Hungry Daughters of Starving Mothers (Nightmare Magazine #37)

Superior Achievement in a Screenplay (Roteiro)

Guillermo del Toro & Matthew Robbins – Crimson Peak 
John Logan – Penny Dreadful: And Hell Itself My Only Foe 
John Logan – Penny Dreadful: Nightcomers
David Robert Mitchell – It Follows 
Taika Waititi & Jemaine Clement – What We Do in the Shadows 

Superior Achievement in an Anthology
Michael Bailey – The Library of the Dead 
Ellen Datlow – The Doll Collection: Seventeen Brand-New Tales of Dolls 
Christopher Golden – Seize the Night 
Nancy Kilpatrick and Caro Soles – nEvermore! 
Jonathan Maberry – The X-Files: Trust No One 
Joseph Nassise and Del Howison – Midian Unmade 

Superior Achievement in a Fiction Collection
Gary A. Braunbeck – Halfway Down the Stairs 
Nicole Cushing – The Mirrors 
Taylor Grant – The Dark at the End of the Tunnel 
Gene O’Neill – The Hitchhiking Effect 
Lucy A. Snyder – While the Black Stars Burn 

Superior Achievement in Non-Fiction
Justin Everett and Jeffrey H. Shanks (ed.) – The Unique Legacy of Weird Tales: The Evolution of Modern Fantasy and Horror 
Stephen Jones – The Art of Horror 
Michael Knost – Author’s Guide to Marketing with Teeth 
Joe Mynhardt & Emma Audsley  – Horror 201: The Silver Scream 
Danel Olson – Studies in the Horror Film: Stanley Kubrick’s The Shining 

Superior Achievement in a Poetry Collection
Bruce Boston – Resonance Dark and Light 
Alessandro Manzetti – Eden Underground 
Ann Schwader – Dark Energies 
Marge Simon – Naughty Ladies 
Stephanie M. Wytovich – An Exorcism of Angels


Resenha: Um Passado Sombrio de Peter Straub

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"Aterrorizante... Um Passado Sombrio é povoado por personagens vívidos, compreensivos e movidos por terrores humanos e sobrenaturais. É o tipo de livro impossível de largar depois que se começa a ler. Sua leitura me prendeu noite adentro. Straub constrói um terror de outro mundo sem nunca perder contato com seu atraente elenco de jovens quer envelhecem belamente. Coloque este livro no topo da sua lista."  Stephen King

Sinopse:
   Em 1966, um carismático e astuto guru, de passagem por um campus universitário do Meio-Oeste norte-americano, reúne um restrito grupo de discípulos, entre estudantes de colegial e universitário de fraternidade, num ritual secreto que resulta em um corpo horrivelmente dilacerado, um garoto desaparecido e as almas abaladas de todos os envolvidos. Quarenta anos depois, um escritor de relativo sucesso e amigo de infância da maioria dos garotos que participaram do ritual – além de marido de uma das garotas envolvidas –, sai em busca de informações sobre essa noite aterrorizante, com um projeto de livro em mente. Porém, para consegui-las, precisará não apenas reencontrar antigos colegas com quem perdeu o contato há décadas, mas também incitá-los a reexaminarem os eventos inomináveis que os têm assombrado desde então. 

Opinião:
   A construção narrativa de Um Passado Sombrio é feita através do chamado "Efeito Rashomon", gíria que faz referência a um filme homônimo japonês, sinônimo para qualquer situação ou história cuja veracidade dos eventos é difícil de ser comprovada, devido a conflitos de julgamentos e pontos de vista de várias testemunhas. É o típico caso no qual cada parte envolvida possui uma versão diferente do que aconteceu, a própria conclusão adquire tons de cinza por ser mutável e dependendo das escolhas do leitor, baseado em seu personagem ou versão favorita, o final pode ter múltiplas interpretações, sendo assim não espere por um livro com final fechado e uma narrativa linear. Ler Peter Straub é embarcar em uma viagem por uma cidade estranha à noite, enquanto outros autores contemporâneos de suspense preferem seguir um estrada reta e dar os leitores apenas pequenos vislumbres das esquinas escuras, Straub mergulha nos becos sombrios e revira as  entranhas pútridas e fedorentas dos segredos da alma humana, trocado em miúdos isso significa muitos desvios, alongamentos e às vezes becos sem saída, fazendo com que o livro tenha um ritmo próprio e por conseguinte  uma leitura lenta.
   Em meados da década de sessenta um carismático guru chega a um campus universitário, com sua incrível lábia discorre sobre o poder secreto da natureza e sobre rituais com resultados extraordinários, sua promessa de mudar o mundo daqueles que o seguirem, ao menos que por alguns instantes, faz com que um pequeno grupo de conhecidos se una ao redor de sua estranha figura. Porém sua experiência acaba dando errado, durante o ritual algo inominável acontece e as repercussões são catastróficas, uma pessoa é brutalmente mutilada e os sobreviventes sofrem as mais diversas manifestações, um deles perde a sanidade e mergulha na loucura para esquecer suas visões, outro sente o princípio de uma cegueira que insidiosamente lhe tirará a visão e há aquele que simplesmente desaparece para nunca mais ser encontrado. O suposto guru foge, deixando para trás uma trilha de horror e mentes despedaçadas. Quarenta anos depois um escritor, marido de uma das vítimas do ritual, decide desencavar os segredos sobre o que realmente aconteceu naquele dia, embarcando em uma viagem no lado mais escuro da alma humana descobrirá que o sobrenatural está a distância de simples piscar de olhos. 
     Um Passado Sombrio é um livro difícil de classificar principalmente pelo número de pequenas estórias que permeiam a narrativa, a obra é um mosaico construído minuciosamente a partir de retalhos, e como em uma antologia a qualidade das mesmas varia substancialmente. É um livro cujos tentáculos ultrapassam as páginas e ecoam em outras mídias, como é o exemplo de Um Lugar Especial,  uma pequena novela que narra a infância de um dos personagens e cuja leitura é imprescindível para o pleno entendimento da obra, do mesmo modo que o audiobook, lançado este ano e narrado pelo próprio Straub,  chamado Mallon the Guru & The Collected Short Stories of Freddie Prothero, que supostamente complementa um grande buraco deixado pela incógnita do suposto guru. Nós leitores brasileiros não temos acesso a totalidade dessas obras, então a sensação que fica é de que o próprio romance parece incompleto. Paralelo a isso há várias referências a outras obras do autor, como por exemplo a Trilogia da Rosa Azul, que compartilham o mesmo cenário "assombrado" de Milwaukee, no estado de Wisconsin, a cidade no qual os outonos sombrios de Bradbury ganham vida  e propiciam o clima perfeito para o lado obscuro do ser humano florescer através da pura maldade. Em suma  é uma boa leitura, embora algumas partes da narrativa se arrastem, as cenas explícitas da ação do sobrenatural fazem jus a Ghost Story, o que não as impede infelizmente de serem eclipsadas por um final decepcionante. Contra indicado para iniciantes em Peter Straub.

Nota: ☠☠☠☠☠☠☠☠☠☠ (8/10 Caveiras)

As 50 Melhores Antologias e Coletâneas de Terror

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   Um conto de terror é uma breve espiada na escuridão desconhecida, uma "refeição rápida" com uma alta concentração de sustos que pode ser degustada em menos de uma hora, mas cuja digestão muitas vezes atravessa noites inteiras fermentando pesadelos. Não é à toa que alguns dos maiores escritores de horror de todos os tempos são reconhecidos por seus contos, como é o caso de H. P. Lovecraft e Edgar Allan Poe. Porém nunca encontrei em português uma lista  que trouxesse indicações sobre livros de contos de terror, geralmente apenas os contos são listados, por isso fiz uma compilação com 50 dos meus livros favoritos do gênero. Confira:


50. Fantasmas do Séc. XX de Joe Hill


48. No Limite da Realidade de Robert Bloch




44. O Grande Livro das Histórias de Fantasmas org. Richard Dalby

43. Solomon Kane de Robert E. Howard


41. Clássicos do Sobrenatural



38. O Passa-Paredes de Marcel Aymé

37. Medo, Mistério e Morte de Carlos Orsi

36. 13 dos Melhores Contos de Vampiros org. Flávio Moreira Da Costa

35. O País dos Cegos e Outras Histórias de H. G. Wells

34. Terra Morta: Relatos de Sobrevivência a um Apocalipse Zumbi

33. Rosto de Caveira e Outros Contos de Robert E. Howard

32. As Portas da Fantasia de Robert Bloch e Ray Bradbury


30. Tudo É Eventual de Stephen King

29. Coisas Frágeis de Neil Gaiman

28. Quando O Saci encontra os Mestres do Terror

27. O Vampiro de Karnstein de Sheridan Le Fanu

26.  Pesadelos e Paisagens Noturnas de Stephen King

25. Histórias de Arrepiar de Robert Westall

24. O País de Outubro de Ray Bradbury

23. A Casa das Bruxas de H. P. Lovercraft



20. Histórias Sobrenaturais de Rudyard Kipling

19. Mausoléu de Duda Falcão

18. Contos Clássicos de Vampiro

17. Quatro Estações de Stephen King

16. King Edgar Hotel org Alfer Medeiros e Lara Luft

15. Homens, Lobos e Lobisomens

14. O Rei de Amarelo de Robert W. Chambers

13. Visões da Noite de Ambrose Bierce

12. O Incrível Homem Que Encolheu de Richard Matheson

11. O Bairro da Cripta de M. R. Terci

10. Além da Carne de César Bravo

9. Contos de Horror do Século XIX de Alberto Manguel

8. A Casa do Passado de Algernoon Blackwood

7. Máquinas Que Pensam 

6. Os Melhores Contos de Medo, Horror e Morte

5. Contos de Imaginação e Mistério de Edgar Allan Poe

4. Os Melhores Contos de H.P. Lovecraft
 

3. Tripulação de Esqueletos de Stephen King

2. Livros de Sangue de Clive Barker

1. Sombras da Noite de Stephen King


[Lançamento] O Quarto Dia de Sarah Lotz

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  Na ocasião da publicação de Os Três de Sarah Lotz, uma massiva ação de marketing garantiu que o livro fosse lançado simultaneamente em vários países, com poucas informações sobre a trama reveladas e com elogios de grandes de autores, como Stephen King, o mistério e ansiedade dos leitores para conhecer o resultado da obra chegou às alturas. Essa expectativa foi confrontada por um livro não linear e metalinguístico que dividiu opiniões, entre aqueles que odiaram a história e não entenderam o final, e aqueles que amaram a história e também não entenderam o final.  A grande questão da obra são as inconclusivas páginas finais, um plot twist misterioso, no qual muitas perguntas ficam sem respostas e as que são dadas não suprem a curiosidade do leitor. Praticamente ao mesmo tempo em que ocorria o lançamento de Os Três, a autora revelou que estava trabalhando em uma espécie de continuação chamada O Quarto Dia, desta vez os acontecimentos ocorreriam em um microcosmo, um navio de cruzeiro no qual centenas de pessoas desaparecem sem deixar rastros. 
   Mas O Quarto Dia não é uma sequência direta, há várias referências no texto suficientes para o leitor saber que ambas as estórias acontecem no mesmo universo, mas segundo comentários há a questão de que a realidade de O Quarto Dia é uma versão diferente de Os Três, algo similar ao que acontece na série Lost. Isso serve como uma dimensão de quem ou o que seriam as referidas "entidades" que se envolvem em ambos os desastres. É um livro que estou na expectativa para ler, mas já sei que terá uma estrutura tão confusa quanto seu antecessor. O lançamento está previsto para Abril. 



Sinopse oficial:
   Em "O Quarto Dia", Sarah Lotz conduz o leitor por uma viagem de réveillon que tinha tudo para ser perfeita. Mas às vezes o novo ano reserva surpresas desagradáveis... Janeiro de 2017. Após cinco dias desaparecido, o navio O Belo Sonhador é encontrado à deriva no golfo do México. Poderia ser só mais um caso de falha de comunicação e pane mecânica... Se não fosse por um detalhe: não há uma pessoa viva sequer no cruzeiro. As autoridades acham indícios de uma epidemia de norovírus, mas apenas descobrem os corpos de duas passageiras. Para piorar, todos os registros e gravações de bordo sofreram danos irreparáveis. Como milhares de pessoas podem ter sumido sem deixar rastro? Teorias da conspiração se alastram, mas só há uma certeza: 2.962 passageiros e tripulantes simplesmente desapareceram no mar do Caribe.

Caveira Talkshow: Lançamentos Darkside Books 2016!

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  Ontem à noite aconteceu o primeiro Caveira Talkshow, um evento especial no qual a Darkside Books abriu as portas do inferno e, além de revelar alguns de seus principais lançamentos para o ano de 2016, apresentou novos reforços nacionais em seu time de autores.  O local escolhido não poderia ser mais "dark", um antigo matadouro transformado em bar temático cujas paredes transpiravam o sangue de sua história, já na recepção o convidado desavisado percebia que só poderia estar em um pesadelo, Freddy Krueger lhe recebia gesticulando com suas garras para tirar uma fotografia, daquelas especiais que capturam um pedaço da sua alma, ao lado de um Jason completamente assustador e um Pinhead com um olhar de despedaçar almas, porém o personagem mais tenebroso estava escondido nas sombras: Frank, o coelho gigante de Donnie Darko, cuja visão lhe desafiava a encará-lo por mais de cinco segundos sem sentir arrepios percorrendo a espinha. O evento foi apresentado em conjunto por João Gordo e pela radialista Luka, da 89 Rádio Rock, e contou com a participação de blogueiros e autores, além da presença especial e emocionante de Zé do Caixão! Sem mais delongas vamos aos lançamentos :


O Evangelho de Sangue de Clive Barker
   Não poderia começar por ninguém menos que Clive Barker, por anos o autor viveu nas sombras empoeiradas de sebos antigos, onde suas edições eram disputadas com unhas e dentes pelos fãs ardorosos, as mesmas pessoas que sentirão o coração ser trespassado por dezenas de pregos pontiagudos ao ouvir que O Evangelho de Sangue, tradução de The Scarlet Gospels chegará em breve às livrarias! E mais! Implicitamente foi deixado bastante claro que Clive Barker será uma presença garantida no catálogo futuro da Darkside Books, então não é mais um sonho distante imaginar novas edições de Livros de Sangue, O Jogo da Perdição e Raça da Noite e quem sabe até livros inéditos como Mr. B Gone e as continuações de Abarat. O inferno é o limite! O Evangelho de Sangue é o retorno de Clive Barker ao universo sádico dos cenobitas, numa estória que mostra a origem e o final dos sacerdotes da carne, com a participação de um de seus personagens mais famosos, o detetive Harry D'Amour, protagonista de A Última Ilusão, conto presente no sexto volume de Livros de Sangue, que deu origem ao filme Mestre das Ilusões.

Donnie Darko de Richard Kelly
Por que você usa essa fantasia idiota de coelho?
Por que você está vestindo essa fantasia ridícula de homem?

   A sensação de quem assiste a Donnie Darko pela primeira vez é a de ter seu cérebro mergulhado numa solução de mercúrio acompanhada da violenta percepção de sua massa encefálica sendo batida em um liquidificador. Mais um exemplar para a estante da Coleção Dissecando que traz todos os segredos dos bastidores do filme cult Donnie Darko. A edição nacional contará com um prefácio exclusivo escrito por Jake Gyllenhaal. 

Os Condenados de Andrew Pyper
 Os Condenados, lançamento mais recente de Andrew Pyper autor de O Demonologista, é um dos livros que a Darkside Books já havia dado pistas de publicação no ano passado. Em seu novo livro Pyper se aventura pelos caminhos assombrados das histórias de fantasmas, seu protagonista, Danny, é um escritor de sucesso que escreveu um best-seller baseado em sua experiência de quase morte, advinda de um incêndio colossal que acabou apagando a vida de sua irmã gêmea, Ashleigh. É nesse momento que o autor insere alguns pequenos detalhes que deixam a narrativa mais interessante, Danny não é o exemplo de boa pessoa, na verdade sua alma tem um lado escuro que aterroriza sua família, e a ligação entre os gêmeos é tão poderosa que impediu que Ashleigh seguisse adiante e ela assombra seu irmão a cada segundo de sua pós-vida. A grande virada acontece quando Danny encontra o amor de sua vida e para finalmente alcançar a felicidade tem que confrontar seus antigos fantasmas. Há bons comentários lá fora sobre este livro, Stephen King elogiou a trama comparando-a a clássicos, e isso é motivo o suficiente para eu colocá-la no topo da lista de leituras, sem falar na belíssima edição que será similar a do  Demonologista. 

A Casa dos Espíritos de Christopher Buehlman
Essa é uma das grandes surpresas anunciadas pela Darkside, The Necromancer´s House, A Casa dos Espíritos de Christopher Buehlman, um dos novos nomes do gênero terror cujo estilo está sendo comparado a uma mistura de Scott Fitzgerald e Dean Koontz. O livro habita aquele limbo existencial entre o horror e a dark fantasy, com uma inclinação especial à mitologia eslava, por exemplo, temos como  personagem uma Rusalka, uma espécie de  espírito-sereia, que nasce da alma de uma jovem  que morre perto de algum rio ou lago, e que tem como principal objetivo seduzir e afogar homens na imensidão de suas águas escuras. O livro conta a história de Andrew Ranulf um enigmático bruxo que possui duas características especiais, a primeira é sua casa visível apenas para quem ele deseja e a segunda sua capacidade conversar com os mortos através de fitas vídeos. Ponto, é só isso que eu preciso saber para querer ler isso. 

A Hora do Pesadelo – Arquivos de Elm Street, de Robert Englund
   A primeira vista A Hora do Pesadelo – Arquivos de Elm Street parece ser apenas mais um volume da famosa Coleção Dissecando, mas não se engane, este livro foi escrito por ninguém menos que Robert Englund, o Freddy Krueguer, então sua narrativa, além de explanar os bastidores dos filmes da série, segue uma linha autobiográfica bastante interessante. Não preciso nem comentar que o livro é cultuado pelos fãs da série.

Fábrica de Vespas de Iain Banks
  Entre os sonhos mais desvairados dos leitores de terror está a publicação de alguns livros considerados impublicáveis pelas editoras nacionais, um eufemismo para medo, seja por seu teor psicopata e violento ou pela complexidade que a tradução e a edição demandam, como é o caso de House Of Leaves de Mark Z. Danielewski e Swan Song de Robert R. McCammon, adicione-se a isso que até recentemente o terror era um gênero cujo público era considerado escasso e de retorno duvidoso. A Darkside mudou esse cenário publicando livros que ninguém acreditaria dar certo, dentre os quais destaca-se Hellraiser de Clive Barker, The Wasp Factory, Fábrica de Vespas de Iain Banks é mais um desses títulos. O livro simplesmente consta nas primeiras posições de todas as listas que compilam as obras mais chocantes e cruéis de todos os tempos, publicado em 1984 é tão aclamado quanto criticado por suas descrições explícitas de violência. Fábrica de Vespas é narrado por Frank, um adolescente de dezessete anos, que vive com seu pai em uma pequena ilha escocesa, sem nenhum contato com o mundo exterior. O relato de Frank é perturbador, os comentários dos leitores sugerem algo similar aos escritos do Marquês de Sade, com passagens grotescas e quase intragáveis sobre tortura e mutilação de animais e crianças. É o tipo de livro que a Darkside nasceu para publicar, o tipo de livro destinado àquela pequena parcela de leitores que tem estomago suficiente para embarcar na leitura e o tipo de livro indicado para aqueles que querem se desafiar a conhecer seus limites. 

O Menino que Desenhava Monstros de Keith Donohue
  Dois anos atrás publiquei uma pequena matéria sobre a compra dos direitos de publicação de The Boy Who Drew Monsters, O Menino que Desenhava Monstros de Keith Donohue, para quem ainda não o conhece, o autor  escreveu um dos meus livros favoritos sobre o mito do Doppelganger, o gêmeo maligno, A Criança Roubada, que volta e meia é indicado aqui no blog. Seu estilo de escrita é bastante sombrio, os contornos que definem a linha que separa o real da fantasia se nublam através da inserção cuidadosa do sobrenatural na trama, o O Menino que Desenhava Monstros parece seguir esses mesmos contornos distorcidos.  O livro conta a história de Jack, um garoto traumatizado por um acidente que trancou-se na escuridão do seu quarto para fugir de seus medos, sua única válvula de escape são seus desenhos, figuras de monstros que representam uma espécie de exorcismo de fobias. Tudo muda quando as criaturas que desenha começam a criar vida e ameaçar sua família... É o tipo de livro que vai fazer você conferir embaixo da cama antes de dormir. 

Noturno de Scott Sigler
   Scott Sigler é o autor de Infected, uma série que cruza o clima apocalíptico de uma história de zumbi com a legítima herança do clássico de Jack Finney, seu livro Noturno é um suspense paranormal que pode ser definido como uma mistura de O Silencio dos Inocentes com Hellboy. 

Os Pássaros de Frank Baker
  Em 1936 o inglês Frank Baker, inspirado na obra O Terror de Arthur Machen, lançou um pequeno livro chamado Os Pássaros em uma pequena tiragem que vendeu pouco mais de trezentas cópias. Sua estória passou despercebida até que em 1963 o grande Alfred Hitchcock lançou um filme homônimo com uma premissa muito, muito parecida. Sua consternação ocorreu no momento em que a ideia original para aquela trama havia surgido de um conto de Daphne du Marier, publicado na coletânea Kiss Me Again Stranger em 1952. Baker cogitou a ideia de mover uma ação judicial por plágio, mas acabou desistindo quando um conselho judicial julgou o teor de ambas as obras diferentes. Daphne du Marier negou ter conhecimento da obra de Baker, porém curiosamente ela era prima do editor que publicou a pequena tiragem original de Os Pássaros, diz-se que esse editor estava animado com a história e que pode ter comentado com ela sobre os aspectos gerais, o que talvez possa explicar a semelhança entre as duas obras. Curiosamente Rebecca, o livro mais famoso de du Marier  também sofre esse mesmo estigma com o livro A Sucessora da brasileira  Carolina Nabuco, publicado quatro anos antes do seu. Paralelo a isso não sei muito bem o que esperar de Os Pássaros de Frank Baker, mas a sua marca de clássico aguça minha curiosidade de leitor. 

Menina Má de William March
   Não deixe um rosto bonitinho, um sorriso meigo e uma capa "fofinha" enganarem você. Publicado em 1954 The Bad Seed, Menina Má de William March é um suspense que sempre fulgura nas listas das histórias mais assustadoras de todos os tempos protagonizadas por crianças, ao lado de obras como Os Gêmeos de Thomas Tryon. O livro suscita a questão fundamental da inocência infantil, será que um serial killer nasce com a maldade inerente em sua alma ou é corrompido com o tempo? Este é o tipo de livro que modifica profundamente o leitor após a leitura. Provavelmente será o lançamento que mais surpreenderá os leitores. 

O Que Mais os Espíritos Sussurraram?
  No começo do ano já haviam sido anunciadas a Limited Edition  do Circo Mecânico Tressaulti de Genevieve Valentine, American Crime Story: O Povo Contra O. J. Simpson de Jeffrey Toobin, Batman: Arkham Knight de  Marv Wolfman, Exorcismo de Thomas B. Allen e o primeiro livro da Coleção Medo Clássico, Frankenstein de Mary Shelley. Agora a lista se adicionam Breaking Bad: Arquivo Oficial, o primeiro lançamento da nova Coleção Fora de Série, que apresentará os bastidores de séries clássicas de televisão. A Coleção DarkLove também aumentará com o lançamento do primeiro volume de As Crônicas de Amor e Ódio: Kiss of Deception de Mary E. Pearson. O Último Adeus de Cynthia Hand e Em Algum Lugar nas Estrelas de Clare Vanderpool. Além do misterioso e macabro livro de não-ficção Confissões do Crematório de Caitlin Doughty. Ilana Casoy retornará com o seu Casos de Família, André Barcinski, um dos autores da biografia do Zé do Caixão, publicará Viva La Vida Tosca: a biografia de João Gordo. E finalmente a apresentação dos autores nacionais que assombrarão as páginas da Darkside em 2016: Rô Merling, Alexandre Callari e Cesar Bravo.

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