Sinopse:
A Ilha de Tha, na costa da Espanha, é uma réplica do paraíso. Sol, mar, gaivotas, pescadores e paz. Malco, um escritor de contos infantis, conheceu-a há muitos anos, ainda menino. Agora resolve voltar, de férias, em companhia de Nona, sua mulher, grávida do terceiro filho. A ilha continua linda, com seu casario branco da arquitetura mediterrânea. O mesmo sol, o mesmo mar, a mesma paz. Mas alguma coisa estranha paira no ar. Onde estão os adultos?
Opinião:
Crianças assassinas são um tema comum na literatura de terror, desde que William Peter Blatty mostrou que até uma jovem inocente não está livre das garras do mal, dezenas de obras se basearam na premissa da pureza infantil, ainda não maculada pela sociedade com os conceitos de bondade e maldade, fazendo uma ligação entre a ingenuidade e a selvageria. O diferencial dos livros está na própria justificativa das histórias, a violência pueril pode estar associada a um gene hereditário defeituoso, a influência de forças exteriores ou até mesmo a própria insanidade em seu estado mais puro e crú.
Dentro deste contexto, Os Meninos de Juan José Plans não traz nenhuma novidade, adultos enfrentando crianças que, por algum motivo ainda não explicado (a justificativa do autor é ótima), se voltaram contra o "mundo adulto" assassinando qualquer um que já tivesse experimentado a puberdade. O diferencial do livro está na maneira como a estória é contada, o suspense no início é oferecido em doses homeopáticas, o horror não é explicitado logo de cara, são em pequenas cenas que você capta com a visão periférica, que os verdadeiros segredos da trama são revelados. Logo aquela premissa inicial que parecia tão simples, torna-se complexa, alcançando seu ápice logo na metade do livro e mantendo um ritmo ágil e furioso até as chocantes páginas finais.
A estória é protagonizada por Malco e Nona, um casal buscando reencontrar a paz dos primeiros dias de matrimônio, em uma viagem para o paraíso idílico das memórias de infância do marido, a ilha de Tha. Porém o que encontram ao chegar lá é uma visão desoladora, as casas parecem ter sido abandonadas às pressas pelos moradores e os únicos sons de vida que ecoam pelo vilarejo abandonado, são risadas ao longe de crianças. Divididos entre a curiosidade e o medo o casal começa a explorar a ilha, o bônus da história é que Nona está grávida de sete meses, o que torna o processo ainda mais complicado. O que se segue é uma inexorável caminhada rumo a carnificina em uma conclusão que tem uma das cenas mais chocantes envolvendo o parto de uma criança.
Os Meninos é um livro pequeno e a narrativa rápida e concisa de Juan José Plans faz com que a leitura seja deliciosamente ininterrupta, escrito um ano antes do conto As Crianças no Milharal de Stephen King, hoje é um livro praticamente desconhecido, apesar de seu texto ter envelhecido razoavelmente bem, seus personagens tornaram-se o típico casal clichê das histórias de terror dos anos setenta. A única edição nacional é da editora Artenova de 1976, que para variar conta com erros ortográficos ultrajantes. A história foi adaptada para o cinema no mesmo ano com o titulo ¿Quién puede matar a un niño? (Os Meninos) e em um remake de 2012, Come Out and Play (Brincadeiras de Criança). Se você procura uma leitura viciante e descompromissada, boa companhia para uma viagem ou uma tarde ensolarada, Os Meninos é a indicação perfeita para você.
Nota: ☠☠☠☠☠☠☠☠☠☠ (10/10 Caveiras)