O mundo pode acabar de várias maneiras, desde que a humanidade aprendeu a registrar suas histórias na forma de escrita existem relatos sobre o final dos tempos, mostrando que o apocalipse é um tema que sempre nos fascinou. E ao longo dos anos, na literatura, os autores vem se superando ao imaginar destruições devastadoras, invasões de seres de outra dimensão e até mesmo grandes desastres ecológicos como arautos da nossa extinção. Mas e se as profecias religiosas e mitos estiverem errados? E se este desastre não acabar com a humanidade? E se restarem alguns poucos sobreviventes? Como eles viverão daqui para frente? Confira a seguir uma lista com os livros que tem as respostas mais interessantes e curiosas para essas perguntas.
A Praga Escarlate de Jack London (1912)
Jack London escreve uma comovente fábula sobre os últimos estertores de uma sociedade dizimada pela peste, através das lembranças de um velho professor revisita o horror dos últimos dias, retratando com emoção todo o medo e desespero que embalaram o caos da destruição, além de mergulhar na selvageria que emergiu por entre os destroços da sociedade. É um livro pequeno, pode ser devorado em poucas horas, mas tão bem escrito, que suas ideias permanecem na mente muito tempo após a leitura. Emocionante, nostálgico e atemporal.
Devastação ou A Volta a Natureza de René Barjavel (1943)
Quando René Barjavel escreveu Devastação, em meados do século XX, sua imaginação previa que demoraria ao menos cem anos para que a eletricidade fosse um dos componentes básicos de todas as atividades humanas. Essa era sua visão mais pessimista. O seu apocalipse é bem simples: de repente toda a eletricidade acaba e as grandes máquinas tecnológicas criadas pelo homem tornam-se obsoletas. A verossimilhança do livro com os dias atuais é assustadora, se uma simples noite sem luz consegue nos tirar o sono, imagina então, se essa escuridão se estender dia após dia.
A deterioração dos serviços básicos é rápida, logo a comida começa a faltar, o dinheiro perde seu valor e com a fome e o desespero surge a selvageria. É assustador se pararmos para pensar no quanto da comida que consumimos diariamente é fruto de um processo industrializado. Devastação é um livro que dialoga tanto sobre a nossa dependência da tecnologia, como também sobre a forma como tratamos a natureza.
Só a Terra Permanece de George Stewart (1949)
E o mundo não acaba com um suspiro, mas sim com um espirro. Só a Terra Permanece é um dos poucos livros que consegue exprimir o verdadeiro sentimento presente na expressão "o fim do mundo", toda a solidão que advém da morte de todas as pessoas que você conhece ou a tristeza da descoberta diária de que cada um dos pequenos prazeres que a civilização nos proporciona acabaram-se para todo o sempre. George Stewart escreve com perfeição sobre a lenta decomposição de tudo aquilo que a nossa sociedade criou em pouco mais de dois mil anos de história, ao mesmo tempo em que acompanhamos o nascimento de uma nova cultura, cujo interesse em nossos feitos tem o mesmo desdém no olhar com o qual vemos hoje as pirâmides do Egito.
Eu sou a Lenda de Richard Matheson (1954)
O clássico Eu sou a Lenda de Richard Matheson traz a assustadora estória de um homem em um mundo completamente habitado por vampiros. Mais uma vez o apocalipse cavalgou nas costas de um vírus mortal, a única diferença aqui é que as vítimas ao invés de continuarem mortas retornavam à vida com sede de sangue. Leia aqui a resenha
Chung-Li A Agonia do Verde de John Cristopher (1956)
Chung-Li A Agonia do Verde de John Cristopher explora uma das versões mais assustadoras do apocalipse: a morte da natureza. Um vírus extremamente contagioso ataca a família das gramíneas, que formam praticamente a base da alimentação de todos os animais terrestres, destruindo toda a cobertura verde do planeta. Os efeitos na cadeia alimentar são devastadores, regiões inteiras do globo perecem de fome, é então que o lado mais sombrio do homem acorda na ânsia de sobreviver a qualquer custo. Leia a resenha aqui
Um Cântico para Leibowitz de Walter M. Miller, Jr. (1959)
Mais uma vez a humanidade foi destruída por um holocausto nuclear, após a primeira bomba cair o inferno se abriu na Terra, aqueles que sobreviveram a primeira tribulação tiveram de enfrentar não apenas a aridez de um planeta estéril mas também seus próprios semelhantes degenerados, a violência emergiu com uma força brutal. No meio desse caos, uma pequena semente de iluminação luta para não ser destruída, a Ordem de São Leibowitz tomou para si o protagonismo de preservar o saber humano, para que quando a razão superasse a selvageria, o homem pudesse retomar os caminhos da ciência. Leia aqui a resenha
As Crisálidas de John Wyndham (1965)
A geografia dos Estados Unidos mudou drasticamente após um holocausto nuclear, onde antes haviam grandes cidades, hoje jaz um solo estéril e desértico, as áreas que sobraram foram maculadas pela radiação, vegetação e animais sofreram mutações estranhas, assim como os seres humanos. No meio dessa desolação os sobreviventes se organizaram em pequenas comunidades rurais, que retrocederam suas crenças para uma espécie de cristianismo fundamentalista, as mutações passaram a ser consideradas obras do diabo e aqueles que as apresentam são banidos para as terras estéreis. Em As Crisálidas, John Wyndham debate sobre os direitos humanos e o fanatismo religioso, como pano de fundo para as discussões, além do cenário desesperador e claustrofóbico, utiliza uma nova geração de crianças que, devido ao desenvolvimento em um meio ambiente radioativo, desenvolveram telepatia.
Não tenho Boca e Preciso Gritar de Harlan Ellison (1967)
Não tenho Boca e Preciso Gritar é um conto de Harlan Ellison, que pode ser encontrado no Brasil na coletânea Máquinas que Pensam, que é considerado uma das visões pós-apocalípticas mais assustadoras de todos os tempos. A humanidade conseguiu criar um supercomputador com inteligência artificial, porém a máquina, após descobrir que foi criada apenas com o propósito de servir como um escravo aos caprichos do homem, se rebelou. A humanidade foi completamente aniquilada, exceto um pequeno grupo de pessoas, que sofrem diariamente as torturas mais cruéis que a máquina pode imaginar. Não tenho Boca e Preciso Gritar é a brutal estória dessa vingança.
A Dança da Morte de Stephen King (1978)
A Dança da Morte é a obra de Stephen King que ao lado de It - A Coisa divide o primeiro lugar entre as listas de melhores obras do autor. É um grandioso épico sobre sobrevivência que explora as qualidades e defeitos do ser humano, através de personagens críveis e reais. Como você agiria perante o apocalipse? Após uma gripe matar 99% da humanidade, os escassos sobreviventes começam a se reunir em dois pólos diferentes. Um conflito mortal é inevitável.
A Estrada de Cormac MacCarthy (2006)
A Estrada é um dos livros mais perturbadores que já li pelo simples motivo de que o mundo está tão ferrado que é difícil imaginar outro final para os protagonistas senão a morte, não há nenhuma esperança no horizonte, não há lugar para ir, não há escapatória. A narrativa de Cormac MacCarthy é exuberante e maravilhosa, parte da beleza da leitura surge do modo como a história é contada. É uma leitura inesquecível. Leia a resenha aqui
A Trilogia da Escuridão de Guillermo del Toro (2009)
Os vampiros de Guillermo del Toro estão em uma zona perdida entre a ciência e o sobrenatural, após um avião pousar em New York carregando uma macabra carga, a semente da destruição é plantada e uma estranha doença se espalha entre a população. Ao longo da trilogia os cenários da devastação são maravilhosamente construídos, um destaque especial para a fazenda de seres humanos, gerenciada pelos vampiros, onde as pessoas são criadas como gado para alimentação.
A Passagem de Justin Cronin (2010)
O apocalipse vampiro de Justin Cronin começa em uma floresta peruana, após um ataque de morcegos, um dos membros da equipe de pesquisadores morre e retorna à vida com uma estranha condição. Os cientistas logo tratam de tentar reproduzir esse efeito em outros seres humanos, doze prisioneiros são selecionados como cobaias para os testes. Eles conseguem, mas as criaturas são incontroláveis. Quando as paredes das celas provam não serem fortes o suficiente para mantê-los presos, não sobra uma gota de sangue para contar a história da queda da humanidade. A trilogia intercala a narrativa do próprio apocalipse com a dos descendentes dos sobreviventes, cem anos depois, que precisam lutar contra essas criaturas para assegurar a liberdade da raça humana.
Faca de Água de Paolo Bacigalupi (2015)
Em Faca de Água o futuro é árido, após anos de excessos e uso descontrolado a água atingiu um nível de escassez alarmante, tornou-se um artigo de luxo, e grandes corporações batalham pelo direito de explorar nascentes e lagos. Paolo Bacigalupi cria uma narrativa assustadora e verossímil sobre um futuro próximo onde as mudanças climáticas cobraram seus juros da humanidade. Com a sede, o abismo social entre os ricos e pobres cresceu, enquanto nas ruas pessoas morrem por poucos mililitros de água, nos hotéis de luxo o desperdício continua a todo vapor. É o tipo de livro que deveria ser de leitura obrigatória.