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Resenha: Trilogia Bill Hodges - Achados e Perdidos / Último Turno de Stephen King

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      Repetindo o trabalho cuidadoso do ano passado, a Editora Suma de Letras investiu bastante na obra de Stephen King em 2016, tivemos o relançamento de Cujo, um dos livros clássicos mais pedidos pelos leitores,  que estava em estado de raridade no Brasil desde a década de oitenta, em uma bela edição especial de capa dura, sendo o primeiro volume da nova coleção Biblioteca Stephen King. Porém o lançamento mais ambicioso foi a aguardada trilogia policial, protagonizada pelo policial aposentado Bill Hodges, formada por Mr. Mercedes, Achados e Perdidos e O Último Turno. Lá fora a trilogia foi publicada ao longo de três anos, enquanto por aqui tivemos lançamentos trimestrais, sendo que o último livro foi publicado com a diferença de poucos meses do lançamento original nos Estados Unidos. Eu já falei sobre Mr. Mercedes anteriormente, você pode ler a resenha aqui, o foco desta análise é nos dois últimos livros da trilogia.

Achados e Perdidos
   O principal problema de Achados e Perdidos é que ele é um livro extremamente descartável dentro da trilogia e não tem importância alguma para a história principal, ao invés de ser uma obra de ligação entre Mr. Mercedes e O Último Turno, importante para o desenvolvimento da trilogia, é um livro que não faz a menor diferença se você ler ou não. Desde que eu vi a notícia de que em Achados e Perdidos o vilão de Mr. Mercedes não iria aparecer, sabendo de sua importância no contexto geral, fiquei receoso sobre o que encontraria nesta história, seria difícil para Stephen King criar outro antagonista interessante em tão pouco tempo, mas então a primeira metade do livro me desarmou completamente. Uma estória sobre o vício da literatura, tanto seu aspecto benigno, como maligno, protagonizada por Morris Bellamy e Peter Saubers, escrita com a paixão de um professor e amante de literatura diretamente para um leitor que ama a literatura tanto quanto. E é aí que jaz o segredo,  Achados e Perdidos não é um livro sobre Bill Hodges, mas sim sobre Bellamy e Saubers.
    O "famoso" detetive só aparece lá pela página 100 e sua história é um balde de água fria no que estava acontecendo até então, todo o suspense gerado pela antecipação do clímax é brutalmente assassinado por uma estória chata e sem importância alguma. A sensação é tão estranha que fui verificar o nome do autor na capa outra vez, para ter certeza de que era apenas Stephen King escrevendo e não mais uma daquelas obras de James Patterson e fulano de tal desconhecido. O pior é que há toda uma "conspiração do destino" para que Hodges acabe se envolvendo com o caso de Saubers, o que torna todo o enredo bizarramente inverossímil para quem é fã da própria verossimilhança do universo de Stephen King. Se um grupo de crianças conseguiu enfrentar uma criatura de outra dimensão em It: A Coisa, se um garoto atravessou territórios hostis para salvar um reino em O Talismã e um casal de jovens enfrentou um carro assassino em Christine, porque diabos um adolescente, protagonista de um livro de  Stephen King, sendo este ou não uma obra sobrenatural, não daria conta de um simples vilão humano?
   Não é crível a maneira como Hodges se envolve com o caso e não é crível o modo como eles descobrem o que está acontecendo, a tecnologia facilitou muito as coisas em livros policiais, mas um mistério que há mais de trinta anos está em aberto, sem nenhuma conclusão, ser solucionado por uma simples busca no google através de um celular é decepcionante. Chega a ser desleixado. Como fã de Stephen King me senti decepcionado com o rumo que tomou Achados e Perdidos, principalmente depois de ser surpreendido positivamente com a primeira parte. O gosto que fica na boca após a leitura é o mesmo que experimentar sua comida favorita e sentir que um dos ingredientes estava estragado, sem falar que como fã de suspense policial me senti insultado pelas resoluções rápidas e toscas. A primeira parte da estória é sensacional, o King de sempre. Mas é só Hodges entrar em ação que a qualidade cai vertiginosamente. 

Nota:☠☠☠☠☠☠☠☠☠☠ (5/10 Caveiras)

Último Turno
   O Último Turno é a prova do por quê Stephen King é relembrado por seus vilões e poucas vezes por seus protagonistas, o retorno de Brady Hartsfield, o "diabólico Assassino do Mercedes"é o sopro pútrido de ação que a trilogia precisava, mas ao invés de trazer alguma novidade para o enredo,  a impressão que é passada  é a de que estamos lendo a segunda parte de Mr. Mercedes, ou seja mais do mesmo. A trilogia como um todo ficaria muito melhor se King simplesmente tivesse esquecido essa ideia de três livros e condensado o primeiro e o último num volume só, um livro de seiscentas páginas nos mesmos moldes de Novembro de 63 ou Saco de Ossos. Na primeira metade da trama fica evidente a "encheção de linguiça"é só próximo ao final que o suspense verte das páginas e consegue prender o leitor.
   A adição do sobrenatural é um elemento destoante de tudo o que havia sido mostrado até então, existem casos em que essa mistura dentro do romance policial funciona, um exemplo é Coração Satânico de William Hjorstberg, o sobrenatural no livro é um elemento a mais durante a investigação, mas aqui King fracassa, por que o usa como uma muleta para dar andamento a sua narrativa. As páginas que mostram o desenvolvimento dos poderes de Brady suscitam aquela sensação esmagadora de dejà vu em quem já leu Zona Morta, agora eu entendo a fala de King criticando os autores de suspense que só reescrevem a mesma estória com nova roupagem. Em comparação com autores policiais contemporâneos de primeira linha, como Lee Child, Jeffery Deaver e Jo Nesbo, a trama de O Último Turno parece até infantil, não consegue passar a sensação de perigo iminente e nem convence o leitor de que o vilão é uma verdadeira ameaça.
  O livro consegue se salvar na reta final, quando o que deveria ter acontecido logo no primeiro livro, o confronto entre Brady e Bill Hodges, finalmente ocorre. Stephen King não decepciona na questão entretenimento, mas fica muito aquém de suas habilidades, se você nunca leu King é provável que goste do que encontrará nas linhas da trilogia, afinal é uma leitura fácil que não oferece nenhum desafio, mas se você é um leitor constante, acredito que sentirá falta da força do velho King. Há muitos anos não encontrava um livro do King em que após ler a última linha, ao invés de tomar fôlego por causa do clímax final, suspirei agradecido por finalmente acabar a leitura. Como disse anteriormente a trilogia toda ficaria muito melhor em livro só.

Nota: ☠☠☠☠☠☠☠☠☠☠ (7/10 Caveiras)


Reféns do Demônio, livro de Malachi Martin sobre exorcismos, ganha nova edição

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   Hostage to the Devil de Malachi Martin estava em estado de raridade no Brasil desde meados da década de setenta, a única edição brasileira datava de  1976, publicada  pela Editora Novo Tempo, com o nome de Reféns do Diabo.  Recentemente a Editora Ecclesiae relançou a obra, agora como Reféns do Demônio, a nova edição contém 532 páginas que trazem cinco relatos perturbadores de casos de possessão e exorcismos analisados pela ótica de um teólogo. 

Sinopse:
    Malachi Martin, famoso padre exorcista, narra aqui cinco casos de possessão demoníaca e exorcismo de cidadãos americanos das décadas de 1970-80. Martin escreveu esta obra a partir das transcrições exatas dos relatos dos envolvidos nos casos.  Trata-se, portanto, de relatos reais e contemporâneos, transpostos para a narrativa com o mínimo ajuste necessário para preservar a identidade dos envolvidos. Além de narrar os casos, Martin ainda oferece explicações detalhadas de como se dão a possessão e o exorcismo e disponibiliza sua tradução do antigo Ritual Romano de Exorcismo de 1614. Esta edição ainda contém o prefácio do autor à edição americana de 1992, que traz dados estatísticos perturbadores quanto à presença e prática do satanismo nos EUA de hoje. 


Melhores Livros de Terror e Suspense de 2016

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Como já é canônico no site, o ano só começa após a lista dos melhores livros do ano anterior, desta vez a lista saiu em um formato um pouco diferente, ao invés de me ater a apenas livros que foram lançados no ano, a formação da lista levou em consideração as melhores leituras, entre livros de terror e suspense, independente de sua data de lançamento. Como sempre, reforço que a escolha é baseada puramente em gosto pessoal, são livros que conseguiram me conquistar seja pela qualidade de sua escrita, inovação ao abordar um tema, condução da narrativa, desenvolvimento do suspense, entre outras coisas. Enfim, vamos dar início ao sexto ano de atividades da Biblioteca do Terror!

   Socorro! de Thomas H. Block é um ótimo exemplo da síntese de uma das premissas mais famosas de livros de suspense, na qual os protagonistas estão enclausurados em um cenário sem saída e são antagonizados por uma temível ameaça iminente. Este tipo de estória se abordada corretamente tem um grande potencial empático com o leitor, a sensação claustrofóbica de angustia e desespero dos protagonistas tem que ser totalmente palatável, seja na figura de um personagem que enfrenta uma noite solitária em uma casa assombrada, ou na de um explorador perdido nas profundezas de catacumbas de civilizações perdidas, a identificação com algo passível de acontecer, verossímil, faz toda a diferença durante a leitura. Socorro! consegue esse efeito através da inserção de  protagonistas improváveis  na cabine de um avião avariado, Thomas H. Block é um piloto profissional e sua experiência com aviação é imprescindível para a criação do texto, a condução narrativa ficou a cargo de Nelson DeMille, um reconhecido escritor de suspense que curiosamente não é creditado na edição nacional. O resultado é um romance explosivo e excitante que tem uma das descrições mais detalhadas de um acidente aéreo de toda literatura. 

   Erik Larson consegue em O Demônio na Cidade Branca um feito único, uma reconstrução criteriosa e exata da vida de um serial killer, dissecando sua mente psicopata não apenas através de suas ações, mas situando-a geográfica e temporalmente dentro do contexto social da época que a produziu. Para contar a história de um homem, é preciso antes conhecer o ambiente que o moldou e cada palavra presente dentro dessas páginas é real.  Cada nome, cada morte, cada sentimento é perturbadoramente real. Para conseguir o nível de exatidão histórica presente em seu texto o autor realizou uma minuciosa pesquisa,  as últimas sessenta páginas são uma compilação de notas e fontes, obtidas através de livros, cartas e artigos que serviram de embasamento para a história. A narrativa é a mistura de um supense policial, construído a partir de um romance histórico e com um toque biográfico, que a torna bastante assustadora. Não é um livro de leitura fácil, Erik Larson utiliza cada parágrafo necessário para contar sua história, não se preocupando com a agilidade do texto, mas sim com a precisão histórica dos fatos. É uma leitura tão desafiadora que às vezes chega a ser desgastante, os personagens entram na cabeça do leitor e seus sentimentos se mesclam com seus próprios medos criando uma simbiose de emoções angustiante. 


  O final de O Quarto Dia provavelmente não agradará a todos, principalmente porque não entrega uma certeza, deixando margem para várias interpretações e dependendo do seu olhar é o momento em que dezenas de questões são respondidas e as implicações das respostas são gigantescas, numa trama tão intrincada quanto Lost. Há cenas arrepiantes de degradação física e moral, além de que nota-se nos fantasmas de Sarah Lotz uma grande influência do horror asiático. O trunfo da narrativa está na construção do suspense ao longo das páginas, o ambiente claustrofóbico de um navio à deriva aliado ao desespero apocalíptico de um caos emergente e a  ação de seres sobrenaturais garante a satisfação dos leitores de horror.

   Melodia do Mal é um livro violento que disseca o lado obscuro da alma humana atrás da resposta para a questão da origem da maldade humana, John Ajvide Lindqvist constrói um suspense magistral imerso em um horror psicológico sufocante, sua protagonista, Theres, é uma das personagens mais complexas do autor, ao mesmo tempo em que conquista o leitor com seu sofrimento e inocência, o afasta com suas manifestações de violência explícita. Se você nunca leu uma descrição detalhada de como é o som de uma cabeça humana sendo esmagada por um martelo, prepare-se, porque esta é apenas a abertura do Show de Horrores de Theres. Não perca a atração principal.


Eles Merecem a Morte de Peter Swanson
   Em Eles Merecem a Morte Peter Swanson conduz o leitor por um intrincado labirinto de suspense psicológico, formado por personagens misteriosos e reviravoltas tão surpreendentes que mudam completamente a direção da estória, quando você pensa que conseguiu resolver o quebra-cabeça que lhe revelará o segredo da trama, descobre que aquele segredo é apenas parte de algo maior, e essa sensação cresce em um ritmo vertiginoso durante a leitura até que você se vê diante de uma situação que parece não ter solução, completamente extasiado pela complexidade da mesma. A narrativa começa na sala de espera de um aeroporto, onde dois estranhos, um homem e uma mulher, trocam seus segredos mais obscuros, embalados pelo álcool e a certeza de que jamais se verão novamente. Quando o homem revela o desejo de matar sua esposa, devido à descoberta de uma traição, recebe a curiosa resposta da estranha oferecendo ajuda na sua vingança. O que se segue a essa resposta é um dos banhos de sangue mais imersivos que já encontrei em um livro, muito antes da metade do livro acontece a primeira reviravolta e a partir de então é impossível parar a leitura.

O Exorcismo de Thomas B. Allen reconstitui os principais momentos do fatídico exorcismo que aconteceu em St. Louis em 1949, através de um dos relatos mais completos sobre o assunto já documentados, o diário do padre exorcista que realizou o ritual. O caso do menino possuído ganhou as manchetes da época, os poucos detalhes revelados não impediram a mídia de lançar sua imaginação ao redor do acontecimento, anos depois essa cobertura despertaria a curiosidade de William Peter Blatty para o tema e seria a gênese do aclamado O Exorcista.   Exorcismo é uma leitura bastante pesada que, mesmo com sua escrita direta e concisa, demanda várias pausas reflexivas para a análise e digestão dos fatos. Crendo ou não na veracidade daquilo que você está lendo, é impossível passar pelas páginas sem ser atingido psicologicamente pelas descrições simples e ao mesmo tempo brutais do ritual, um exemplo é a chocante cena do batismo do possuído, o ambiente e claustrofóbico da igreja ultrapassa o papel e envolve o leitor como uma pesada mortalha sufocante. Diferente de uma obra de ficção, Exorcismo não permite ao leitor a luxúria de pausar a leitura durante os momentos de angústia, e refrescar a mente com o pensamento de que aquilo que está lendo não é real. O mal descrito nessas páginas é assustadoramente real.

Passeio Noturno de Everaldo Rodrigues
   Everaldo Rodrigues é um dos nomes da nova geração de escritores de terror que germinou no fértil solo da internet, crescendo por entre as frestas deixadas pelas grandes editoras, através da auto-publicação. Passeio Noturno é sua primeira coletânea e evidencia toda sua qualidade como contador de histórias, são oito contos que apresentam protagonistas comuns, cuja realidade é sacudida por um contato direto com o sobrenatural, seja um personagem que acometido por uma estranha coceira vê sua sanidade ser desfiada pedaço por pedaço como sua própria pele irritada ou uma cidadezinha acometida por um inexplicável surto de combustão espontânea. Passeio Noturno é o sopro pútrido de criatividade pelo qual você estava procurando.

   The Bad Seed, A Menina Má, foi publicado originalmente em 1954 e foi recebido com furor pela comunidade literária, muitos o consideraram um suspense aterrorizante, enquanto outros criticaram a morbidez e violência da história. Mas nada disso impediu o livro de se tornar um sucesso de vendas, ocasionando uma rentável e popular adaptação teatral, e posteriormente uma cinematográfica. William March constrói sua trama por meio da exploração do horror de uma mãe, ao descobrir o lado assassino de sua filha, seu êxito está na forma como coloca a criança protagonista através dos olhos da mãe, cada percepção de uma faceta maligna de sua personalidade é um prego cirurgicamente atravessado no coração materno.  A questão central do livro é a gênese da maldade. Será que todos nascemos com a semente do mal dentro de nós e é o ambiente de criação que a faz florescer? Ou há um gene maldito que nos condiciona a praticar atos violentos desde a tenra infância? O autor insere essas dúvidas com perfeição na mente do leitor e ao longo das páginas disseca cada hipótese mergulhando no turbilhão de loucura e deterioração mental da mãe, confrontada por um dilema mortal, o instinto protetor para com sua filha e o dever moral perante a sociedade, os segredos sangrentos de sua vida particular aos poucos transbordam por entre a ilusão de felicidade erguida pela sociedade. 

   O Menino que Desenhava Monstros é uma narrativa singela sobre os medos da infância.  Keith Donohue vai em contramão  à moda atual dos livros comerciais, cuja trama é feita para ser devorada em uma só noite, e conta uma história assustadora em seu próprio ritmo, utilizando cada segundo necessário para moldá-la em seus pequenos detalhes. O grande trunfo do livro está no seu final brutalmente esmagador, que só é tão surpreendente assim graças ao desenvolvimento de pequenas cenas dentro da trama, que à primeira vista parecem desconexas, mas são um soco no estômago no fim. A sensação é: como eu não consegui ver isso antes! Sem sombra de dúvidas O Menino que Desenhava Monstros tem um dos finais mais surpreendentes que já li e isso o coloca como o melhor lançamento do gênero do primeiro semestre!

   Os Condenados é mais do que uma simples história sobrenatural sobre assombrações, é um envolvente suspense psicológico que fala sobre os fantasmas pessoais, nascidos das cicatrizes de traumas da infância e de relacionamentos abusivos, e a força necessária para enfrentá-los, cuja semente está no poder do amor. Andrew Pyper constrói um clima sólido de suspense, cenas de ação e tensão são complementadas por ótimos personagens, sua escrita é mais pessoal e intimista, consegue envolver o leitor através de uma empatia e carisma que não estavam presentes em Demonologista, o vilão aqui é muito mais assustador por seu caráter único, é alguém que você ama. A narrativa é rápida, mas não é apressada, há uma história para ser contada aqui, as aflições de um homem em sua batalha individual contra seus demônios particulares, e Andrew Pyper toma o tempo necessário para fazê-lo. Em comparação com O Demonologista, em Os Condenados há uma liberdade maior para a criação do ambiente sobrenatural, já que o autor não é limitado pela obra de terceiros e nem pela preocupação de ferir a crença religiosa de alguém, não há linhas em branco para sua imaginação preencher, o final é fechado e não deixa margens para interpretações. Não é um livro que vai te dar medo, mas é um livro que vai te fazer prender o fôlego e devorar suas páginas até a última linha, roendo as unhas de tensão. Se você procura uma leitura instigante e divertida Os Condenados é o livro perfeito para você.

Evangelho de Sangue de Clive Barker
   Evangelho de Sangue se inicia com um dos prólogos mais insanos já escritos, uma overdose de visões chocantes embaladas numa refinada e  escatológica compilação de cenas que fertilizarão o solo da sua mente para uma bela safra de pesadelos.   Evangelho de Sangue é uma mistura de suspense sobrenatural com fantasia permeado com cenas sangrentas e profanas, Clive Barker mergulha suas mãos nas vísceras pútridas de seu universo de personagens para conectar as cicatrizes de antigos pesadelos, estórias passadas, criando assim interseções de começos e fins. Sua escrita é bastante pesada, carregada de adjetivos macabros e cenas chocantes que fazem até o mais empedernido dos leitores de horror respirar fundo e engolir seco, na tentativa de digerir o que seus olhos leem. Como sempre, não indico Clive Barker aos que possuem estômago fraco ou se chocam com facilidade, nada do que você tenha lido antes consegue te preparar para o que é a real sensação de ler uma estória de Clive Barker, a excitação se mescla com a repulsão, uma curiosidade pegajosa e mórbida similar àquela que nos guia em direção a acidentes fatais. Clive Barker conhece como ninguém os recônditos mais sombrios da alma humana, em especial aquele pedaço animalesco que saliva com o cheiro de sangue. 


   Frank é um jovem que vive isolado em uma ilha com seu pai, como forma de aliviar a angústia de uma vida difícil e solitária, ele cria pequenos ritos diários que envolvem atos bizarros de violência, crueldade e profanação. O mais perturbador de Fábrica de Vespas é a forma banal que o protagonista encara a violência, o olhar desinteressado sobre a dor e o prazer nos métodos de causá-la, impregnam a mente do leitor como uma mancha negra, deixando seu cérebro tão anestesiado cenas de crueldade, que chega um momento em que o mesmo já não é mais capaz de distinguir o que é violência e o que não é. Para completar o pacote, quando você menos espera é nocauteado por um final que te faz sentir como se seu cérebro tivesse sido arrancado de dentro da cabeça e batido dentro de um liquidificador.

      Spider traz a história de um homem atormentado por lembranças de sua adolescência. Desde o início o leitor é confrontado por uma narrativa irregular, é possível experimentar a loucura e o desespero do narrador na sua busca por reunir os fragmentos de memórias, para determinar o que realmente aconteceu. Tudo parece confluir para dois momentos traumáticos: o assassinato de sua mãe e a chegada da prostituta que veio viver com seu pai. Isso é tudo o que você precisa saber para adentrar o labirinto da mente de Spider, caminhe com cuidado e preste muita atenção às interseções, pois a descoberta que lhe aguarda no final é tão angustiante que vai quebrar algo dentro de você.

 Ed e Lorraine Warren: Demonologistas é a biografia que narra a trajetória deste casal, desde suas primeiras experiências com o sobrenatural, atravessando seus principais e mais difíceis casos, até o início dos anos oitenta, época em que o livro foi publicado. A finalidade da obra não é assustar, mas sim trazer informação sobre os perigos que nos espreitam na escuridão, embora muitas passagens sejam tão tensas que conseguem te deixar completamente arrepiado e com a incômoda sensação de estar sendo observado, mesmo estando sozinho no aposento. O autor, Gerald Brittle, soube transpor as entrevistas para o papel de um modo didático e instigante, a forma como os casos foram abordados conquista nossa curiosidade desde a primeira página e como o próprio afirma em uma passagem: "a qualquer um que solicite provas de "verdadeiros casos de possessão" a Ed e Lorraine Warren é melhor munir-se de coragem o suficiente para permanecer sentado durante a reposta."


   Os Meninos é um livro pequeno e a narrativa rápida e concisa de Juan José Plans faz com que a leitura seja deliciosamente ininterrupta, escrito um ano antes do conto As Crianças no Milharal de Stephen King, hoje é um livro praticamente desconhecido, apesar de seu texto ter envelhecido razoavelmente bem, seus personagens tornaram-se o típico casal clichê das histórias de terror dos anos setenta. A única edição nacional é da editora Artenova de 1976, que para variar conta com erros ortográficos ultrajantes. A história foi adaptada para o cinema no mesmo ano com o titulo ¿Quién puede matar a un niño? (Os Meninos) e em um remake de 2012, Come Out and Play (Brincadeiras de Criança). Se você procura uma leitura viciante e descompromissada, boa companhia para uma viagem ou uma tarde ensolarada, Os Meninos é a indicação perfeita para você.


O Mythos: O Fim do Mundo é logo ali de M.R.Terci

   Mythos: O Fim do Mundo é logo ali é a consolidação da grandiosa mitologia da obra de M. R. Terci, completada pela a série o Bairro da Cripta e a Trilogia Caídos, e a expressão máxima do horror e dos poderes dos Deuses Antigos Brasileiros. Quando os primeiros jesuítas portugueses colocaram os pés na colônia, com ordens para catequizar o povo indígena da região, descobriram que as crenças locais eram povoadas por criaturas assustadoras e de grande poder, em Abandonai Toda a Esperança, um pouco deste primeiro embate é mostrado. Mythos se passa nos dias atuais, com profundas referências a Monteiro Lobato, o nosso Abdul Alhazred, mostra uma realidade profundamente afetada pelos deuses indígenas, mesclando suspense policial com fantasia urbana, traz como resultado uma aventura imperdível e nostálgica. 


Ultra Carnem de Cesar Bravo

   Ultra Carnem é Cesar Bravo no ápice de sua imaginação, o mestre da literatura de terror nacional que surgiu nos confins mais obscuros da internet, selou um pacto com a editora Darkside Books e sua primeira cria monstruosa é nada menos que uma expansão do universo do, já clássico, Além da Carne. O cerne de Ultra Carnem está em uma tinta mágica feita de sangue, concebida durante um pacto entre um cigano e o diabo, que atiça a cobiça de homens e demônios, em uma narrativa que une cirurgicamente quatro estórias através de suas entranhas pútridas. A leitura é deliciosamente visceral, a mesma frase que tê seduz, te enoja, em uma constante altercação entre o belo e o profano, marca registrada do estilo autêntico e único de Cesar Bravo. Minha leitura favorita de 2016!


Bom Dia, Verônica de Andrea Killmore

Bom dia, Verônica foi a grande surpresa de 2016, um suspense policial que alia uma estória sensacional, tão macabra quanto inovadora, com uma escrita primorosa, que seduz pela qualidade e agilidade do enredo e uma protagonista inesquecível que enfrenta um vilão assustador, não pelos métodos cruéis pelo qual tortura e mata, mas sim pela semelhança com a realidade. É um livro brutal e perturbador, é quase como se suas páginas fossem feitas de cacos de vidro e giletes e cada vez que o leitor avança de uma para outra é cortado profundamente por seu conteúdo. É o tipo de leitura que atinge fundo o âmago de  cada um, faz refletir e provoca mudanças, é difícil acreditar que este é o primeiro livro de Andrea Killmore, muitas vezes o monstro não vive na escuridão da noite ou escondido em florestas sombrias, às vezes você interage com ele e não sabe, seu disfarce é perfeito, ele pode ser a pessoa que dá bom dia todas as manhãs ou que senta ao seu lado no ônibus diariamente. Pior, ele pode ser a pessoa com quem você divide a cama todas as noites.

Jantar Secreto de Raphael Montes

   Jantar Secreto é um livro para ser devorado sem moderação, Raphael Montes acertou a mão nesta narrativa que mistura a agilidade de um bom suspense com o toque macabro da antropofagia gourmet. Na estória um grupo de jovens do interior é forçado a adotar medidas drásticas para sobreviver na cidade grande, através de uma página na internet anunciam o serviço de jantares secretos, exclusivos para a nata da alta sociedade carioca, cujo prato principal é nada menos que carne humana. Raphael Montes consegue capturar a atenção do leitor logo nas primeiras páginas e a mantém através de um clima sufocante de suspense que aumenta sua pressão à cada linha, um livro que cumpre sua função e no final deixa como herança a sensação de saciedade, ou seria a vontade de degustar uma carne mais exótica?

Alien: Surgido das Sombras de Tim Lebbon

  Alien: Surgido das Sombras é o ótimo início da trilogia que expande o universo cinematográfico do xenomorfo, o livro é uma continuação direta do primeiro filme, mas apesar disso funciona extremamente bem como livro solo. Alien tem uma premissa comum no gênero, um grupo de pessoas visita um local que não deveria e acaba despertando forças além de sua compreensão, só que a estória ao invés de se passar em uma cabana no meio da floresta ou em ruínas de construções antigas, tem como ambientação o espaço. Eis o segredo da trama, a claustrofobia e a noção de que não há ajuda em um raio de dezenas de anos-luz. Tim Lebbon explora com perfeição essas emoções, superando a novelização de Alan Dean Foster, com descrições de cenários e personagens que desafiam a imaginação do leitor. O livro traz algumas respostas aos fãs de Alien, mas como bom primeiro livro de trilogia, serve mais como base para acontecimentos futuros do que qualquer outra coisa, de modo que cada resposta sua gera novos questionamentos mais complexos que o anteriores.

A Cidade dos Espelhos de Justin Cronin

A Cidade dos Espelhos é a aguardada conclusão da trilogia A Passagem de Justin Cronin, os fãs podem respirar aliviados porque cada segundo de espera valeu a pena, o resultado é um dos maiores clássicos pós-apocalípticos de todos os tempos. O primeiro ponto a se destacar é a forma suave como este livro se encaixa com os outros dois, cada pequena linha narrativa tem seu par, cada personagem é tratado com carinho e tem um final conclusivo, todas as pontas são amarradas, cada ponto obscuro é iluminado, enfim se você gosta de narrativas em que cada detalhe é explicado, Cidade dos Espelhos vai te causar um orgasmo. A sensação ao completar a leitura é de realização e saciedade, é difícil uma série conseguir isso, quase sempre fica um ponto em aberto, mas Justin Cronin consegue criar um final belo e emocionante. A Trilogia A Passagem toma seu lugar como um dos clássicos da nossa era.

Gwendy's Button Box, o novo livro de Stephen King

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   Stephen King mais uma vez retornará a famosa Castle Rock, abandonada após o apoteótico  final de Trocas Macabras, doce lar de Cujo, Johnny Smith de A Zona Morta e Thad Beaumont de A Metade Negra. King escreveu, juntamente com Richard Chizmar, editor da Cemetery Dance, uma novela chamada Gwendy´s Button Box.

   O site Entertainment Weekly revelou detalhes sobre o livro, a edição física americana será publicada no dia 30 de Maio de 2017 e terá 175 páginas! Inicialmente parece que haverá apenas uma edição em um box de luxo pela própria Cemetery Dance.

   A sinopse não revela muita coisa do enredo (você pode conferir a tradução no site Stephen King Brasil) porém há um destaque, assim como na própria capa, a um homem vestido de negro, será que teremos alguma conexão com a Torre Negra? O que será a tal Caixa de Botões de Gwendy?  A única referência similar que vem a minha mente é o conto A Caixa de Richard Matheson, presente na edição brasileira de O Incrível Homem que Encolheu, na estória um casal recebe uma caixa com um botão de um estranho, se eles apertarem aquele botão ganharão uma soma incalculável de dinheiro, ao mesmo tempo em que uma pessoa que eles não conhecem morrerá. 

   O dilema moral é deliciosamente resolvido com um plot twist típico de Twilight Zone, para a qual foi adaptada na segunda série dos anos oitenta. Não seria a primeira vez que Stephen King homenagearia Matheson, alguns anos atrás ele lançou o conto A Tribo, escrito em parceria com seu filho Joe Hill, uma releitura do clássico  O Encurralado. Enfim, o que você acha que vem por aí?

A Última Noite em Tremore Beach, elogiado suspense psicológico, chega esse mês ao Brasil!

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Anunciado na metade de janeiro pela Suma de Letras, A Última Noite em Tremore Beach é um suspense psicológico que flerta com o sobrenatural, o primeiro livro do espanhol Mikel Santiago é descrito pelos leitores como uma mistura do ritmo ágil de um filme de Alfred Hitchcock com a narrativa de Stephen King. Confira a sinopse:

"Recém-divorciado e no meio de um bloqueio criativo, Peter Harper decide tirar férias na bela e isolada Tremore Beach, na Irlanda. Tudo parecia correr bem, mas, depois de ser atingido por um raio durante uma tempestade, ele começa a ter terríveis dores de cabeça e sonhos cada vez mais estranhos. Conforme a linha que separa sonho e realidade fica cada vez mais difusa, Peter percebe que talvez seus sonhos sejam um aviso do horror que está por vir..."

Lançamentos como esse são interessantes para nós, leitores de terror, porque fogem do usual "modelo americano" e demonstram uma nova tendência das editoras em apostar em livros de terror de outros países, a exemplo dos já confirmados Hex do holandês Thomas Olde Heuvelt que sairá pela Darkside Books e Färjan do sueco Mats Strandberg que será publicado pela Editora Morro Branco.

A edição da Suma de Letras terá 272 páginas e chega às livrarias em 13 de Março. 

Os Principais Lançamentos de Livros de Terror [Janeiro de 2017]

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Esta nova seção do blog será uma espécie de resumo mensal sobre os principais lançamentos de livros de terror no Brasil e ao redor do mundo, minha meta é que essas listas sirvam como uma ponte que permita ao leitor brasileiro ficar sabendo as novidades do gênero, os livros que estão recebendo elogios lá fora e a nova geração de autores que já está se consolidando no mercado e arrebatando uma legião de fãs. Mais do que uma simples sinopse, quero trazer uma informação contextualizada com o momento que nós estamos vivendo, os livros de terror mais uma vez estão nas listas de mais vendidos, as editoras estão apostando cada vez mais no gênero e o ótimo feedback dos leitores, que através das redes sociais tiveram sua voz potencializada. 


Lançamentos Estrangeiros


The Body Book de Clive Barker
The Body Book contém duas histórias clássicas de Clive Barker, diretamente da sua coleção inovadora Livros de Sangue, "A Política do Corpo" e "Na própria Carne", trazendo além de conteúdo exclusivo da adaptação cinematográfica de "A Política do Corpo", informações detalhadas sobre o filme de "Na Própria Carne" que nunca chegou a ser filmado.

The Body Book é mais uma edição especial da obra de de Clive Barker que traz além dos contos citados, presentes em Livros de Sangue, curiosidades e segredos por trás das suas adaptações cinematográficas. Em 2014 já havia sido lançada a edição definitiva de "O Trem de Carne da Meia-Noite", profusamente ilustrada pelo próprio autor. Por enquanto no Brasil não temos nenhuma confirmação oficial da Darkside Books sobre quais serão os futuros lançamentos do autor por aqui, mas novas edições de Livros de Sangue é uma aposta quente. 

Unidentified de Michael McBride
Quatro adolescentes acordam em um campo de milho chamuscado sem lembrar de como chegaram lá. Tudo o que eles sabem é que havia cinco deles quando encontraram a carcaça de uma vaca mutilada. Quarenta anos depois, Eric Devlin envia um e-mail misterioso para os outros três sobreviventes: Eu me lembro de tudo. 
Karl Doering passou a maior parte de sua vida tentando entender o que aconteceu naquela noite, principalmente qual o destino de seu amigo desaparecido. Ele responde a misteriosa mensagem e descobre que Eric se matou em um celeiro decrépito, atrás do qual está um campo de milho repleto de gado mutilado. 
Quando uma garota local desaparece, Karl percebe que ele e os outros dois sobreviventes são sua única esperança. Para encontrá-la, eles deviam enfrentar memórias reprimidas tão traumáticas que levaram Eric a tirar sua própria vida... E criaturas que saíram direto dos piores pesadelos.

O estilo de escrita de Michael McBride mescla terror com ficção científica, suas histórias exploram o contato de personagens comuns com criaturas anciãs provenientes de outras eras e até mesmo de outras galáxias, como muito dos autores do gênero que começaram a escrever nos anos 2000 é totalmente desconhecido do público brasileiro. Unidentified tem recebido boas críticas, principalmente por elevar a níveis claustrofóbicos a sensação de que "não estamos sozinhos no universo", numa referência à Arquivo X.

The Mammoth Book of the Mummy, editado por Paula Guran 
Múmias humanas, preservadas por acidente ou intenção, foram encontradas em todos os continentes, exceto na Antártida. Esses restos enigmáticos da humanidade fascinaram as pessoas durante séculos. Ao longo dos anos eles adquiriram significado e simbolismo completamente diferentes de seu valor como fonte de conhecimento histórico, inspirando histórias de reanimação, reencarnação, amores que sobrevivem à morte e maldições que trazem vingança do passado.
Como uma figura do sobrenatural a múmia alcançou status icônico na imaginação popular. The Mammoth Book of the Mummy apresenta uma coleção de contos escritos para o século XXI - incluindo quatro novas histórias - que exploram, subvertem e reinventam o mito da múmia para os dias atuais. Alguns exploram o passado, outros exploram histórias alternativas e alguns trazem múmias para o nosso próprio mundo. 

Este tipo de antologia temática é bastante popular nos Estados Unidos, onde escritores de renome dividem espaço com autores desconhecidos, é uma ótima vitrine para novos talentos, muitas das grandes promessas atuais do gênero começaram deste modo. Dificilmente este tipo de obra é publicada no Brasil, mas curiosamente temos nossas próprias antologias temáticas, que exploram temas clássicos pela nossa perspectiva, mas que por serem publicadas por editoras pequenas acabam passando despercebidas. Para citar alguns ótimos exemplos, King Edgar Hotel, organizado por Alfer Medeiros e Lara Luft;  Terra Morta: Relatos de Sobrevivência ao Apocalipse Zumbi, organizado por Tiago Toy; Quando o Saci Encontra os Mestres do Terror organizado por Tânia Souza e Estranha Bahia organizado por Alec Silva, Ricardo Santos e Rochett Tavares.

Under a Watchful Eye de  Adam Nevill 
Seb Logan está sendo vigiado. Mas ele simplesmente não sabe por quem. Quando a súbita aparição de uma figura escura estilhaça sua idílica vida costeira, ele logo percebe que o passado obscuro que pensou ter deixado para trás não o esqueceu. O mais inquietante é a estranha atmosfera que o envolve em cada avistamento, mergulhando sua mente em uma terrível paranoia. 
Ser uma vítima sem conhecer o atormentador. Ser desprezado sem conhecer a ofensa causada. Ser visto pelo que mais ninguém pode ver. Estes pensamentos o ameaçam destruir sua sanidade.
Desesperado, Seb teme que seu perseguidor não esteja trabalhando sozinho, mas sim envolvido em uma grande conspiração que ameaça a vida que construiu. Pois há portas neste mundo que se abrem para lugares desconhecidos. Lugares usados pelo piores tipos de pessoas para alcançar seus próprios fins. E sua investigação o levará por este caminho obscuro... 

Adam Nevill é o autor do elogiadíssimo e premiado The Ritual, um dos autores que há muito deveriam ter sido publicados aqui no Brasil, seus livros são pesados e obscuros, o tipo de obra que casa perfeitamente com o estilo da Darkside Books. Under a Watchful Eye tem recebido ótimas críticas, apesar sua sinopse praticamente definir a fase "anos noventa" de Dean Koontz e seu protagonista ser o clichê escritor de horror, sua trama é descrita como genuinamente assustadora. 

Little Heaven de Nick Cutter 
Da grande revelação do horror, Nick Cutter, chega o novo e assombroso romance, Little Heaven, uma mistura de Meridiano de Sangue de Cormac McCarthy com It, a Coisa de Stephen King. Um trio de mercenários incompatíveis é contratado por uma jovem para uma tarefa enganosamente simples: verificar o paradeiro de seu sobrinho, que pode ter sido levado contra sua vontade para o remoto e misterioso assentamento de Little Heaven. 
Pouco depois de chegarem ao lugar, começam a notar a existência de coisas estranhas. Na floresta através das copas das árvores, a forma sinistra de um monólito de pedra, conhecido como Rocha Negra, assombra a visão de todos. A paranoia e a desconfiança dominam o assentamento. As rotas de fuga são gradualmente cortadas com eventos em espiral em direção a loucura. O Inferno - ou a coisa mais próxima a ele - invade Little Heaven. 

Nick Cutter é autor dos elogiados The Deep e The Troop, este último consagrado por Stephen King, que praticamente o elevou ao status de clássico moderno ao afirmar que sentiu-se extremamente assustado durante a leitura e por consequência colocou os olhos de todos os fãs de terror sob os próximos lançamentos do autor. E talvez essa grande expectativa tenha decepcionado quem aguardava com ansiedade Little Heaven, enquanto The Troop foi recebido com unanimidade pelos leitores, este teve uma recepção dividida, assustador, mas não no nível de suas obras anteriores. Mesmo assim Nick Cutter, ao lado de Paul Tremblay, autor de A Head Full of Ghosts, é uma das maiores promessas a receber a coroa de rei do gênero após a aposentadoria de Stephen King. 

Anno Dracula 1899 and Other Stories de  Kim Newman 
Anno Dracula 1899 and Other Stories é a coletânea de contos de Kim Newman que se passam no mesmo universo de sua série de livros formada por Anno Drácula, Anno Dracula: The Bloody Red Baron, Dracula Cha Cha Cha e Johnny Alucard. Seus livros podem ser descritos como "horror histórico" e se passam em uma versão da realidade onde todos os vampiros das clássicas histórias de terror são reais e convivem numa macabra Inglaterra dominada por Drácula. No Brasil apenas o primeiro livro foi publicado pela editora Aleph em 2009, ao que tudo indica as vendas não foram boas o suficiente para motivar a publicação de continuações, uma pena porque o livro é ótimo.


Lançamentos Nacionais


Ruínas na Alvorada de Eduardo Kasse
Ruínas na Alvorada é o quinto e último romance da Série Tempos de Sangue, de Eduardo Kasse. Harold Stonecross caminha pelas trevas desde que foi transformado há meio milênio em um imortal, quando trocou a sua alma para salvar quem amava.

Eu li apenas o primeiro livro da série Tempos de Sangue, O Andarilho das Sombras de Eduardo Kasse, uma história de vampiros que passeia deliciosamente entre o horror e a fantasia, que conta ainda com Deuses Esquecidos, Guerras Eternas, O Despertar da Fúria e agora Ruínas da Alvorada. Espero esse ano mergulhar ainda mais fundo no universo sombrio de Kasse.

A Sombra do Cão de Alec Silva
No interior da Bahia, um mal antigo persegue um rico fazendeiro, que assiste tudo o que possuía ser consumido por um espírito vingativo e demoníaco, um Cão Negro que não mede esforços para castigar aqueles que lhe tomaram algo no passado.

A Sombra do Cão é um conto de Alec Silva  publicado na Amazon no início do ano, um aperitivo de sua coletânea de horror sobre a enigmática figura do Cão Negro que há anos está em produção. Meu primeiro contato com a escrita do autor foi através de seus contos sobre o homem-cão na antologia Green Death: Ecoterrismo Licantrópico. O Cão Negro é um entidade demoníaca que ao longo dos tempos persegue os descendentes de uma família, buscando vingança por um acontecimento misterioso do passado. A Sombra do Cão relata um desses embates que acontece em uma pequena fazenda do interior e é totalmente gore da primeira à última linha. Aguardo ansiosamente o lançamento da coletânea completa.

O Diretor  [Asylum # 3.5] de Madeleine Roux
Primavera de 1968. Jocelyn e Madge estão ansiosas. Ambas se formaram juntas: uma com honras, a outra com estilo. E, agora, elas são as novas enfermeiras do Brookline, um hospital para pacientes mentalmente instáveis. Enquanto Madge pretende conhecer os outros funcionários, talvez até seu futuro marido, Jocelyn quer simplesmente ajudar as pessoas. Afinal, não é isso o que todos deveriam querer? Pelo menos, é nisso que ela acredita e o que diz ao ser confrontada por seu chefe, o enigmático diretor Crawford.  
A rotina de Jocelyn estava tranquila até a noite em que começou a ouvir os gritos. Eram gritos assustadores. Vinham das entranhas do Brookline. E ela precisava desesperadamente descobrir a origem deles.  Sua curiosidade poderia ter lhe rendido uma punição, mas o diretor a convidou para um projeto experimental com os pacientes mais problemáticos, no porão do hospital. Uma chance para Jocelyn descobrir a verdade sobre aquele lugar. E nada poderá ser mais perturbador. Será que todos os pacientes poderão mesmo ser ajudados?

Nunca fui grande fã de livros infanto-juvenis de horror, comecei no gênero com Stephen King e parti direto para os clássicos, sem nenhuma parada em séries de sucesso como Goosebumps ou Rua do Medo, e hoje em dia pouquíssimos conseguem prender a minha atenção. Ouvi bons comentários sobre a série Asylum de Madeleine Roux e decidi dar uma chance, mas a leitura, para quem está acostumado a emoções mais fortes, se mostrou fraca e sem nenhuma grande reviravolta. Apesar disso a série tem uma sólida base de fãs aqui no Brasil, tanto que já está no terceiro livro. 

The Walking Dead: Busca e Destruição de Jay Bonansinga
Lilly Caul e seu bando acreditaram que a paz estava mais próxima. Uma velha ferrovia que ligava Woodbury e Atlanta permitiu um projeto de reconstrução que acarretaria uma nova era de trocas, progresso e democracia. Isso até a cidade ser mais uma vez atacada e todas as crianças raptadas. Quem seria capaz submeter inocentes a tal violência gratuita, e por quê? As respostas para tais perguntas vão revelar que os mortos-vivos não são o maior problema do mundo pós-apocalipse. O maior dos desafios sempre repousa em seus adversários humanos...

Os livros de The Walking apresentam uma história alternativa a série de televisão, o que era inicialmente para ser uma obra sobre as origens do temido Governador, acabou se expandindo para uma história própria com protagonistas próprios se apropriando de ambientes da TV. A Ascensão do Governador é um ótimo livro, o plot twist final é magnífico, mas a partir da O Caminho para Woodbury a história vai perdendo força e tem seu ápice numa desnecessária edição dividida em dois volumes, chamada A Queda do Governador, que apesar de sanguinário decepciona por enrolar demais na ação. Após isso, Robert Kirkman deixou a cargo de Jay Bonansinga a direção completa do rumo da série de livros e como resultado surgiram: Declínio, Invasão e Busca e Destruição. Ainda não li nenhum livro deste novo arco escrito por Bonansinga e para falar a verdade as opiniões que vi a respeito afirmam que não estou perdendo nada. 


Darkside Books lançará edição especial de Candyman, conto de Clive Barker

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A Darkside Books anunciou em seu facebook que lançará uma edição especial do conto O Proibido de Clive Barker, história que deu origem ao filme O Mistério de Candyman, publicado originalmente no quinto volume da famosa coleção Livros de Sangue.

Na história uma pesquisadora descobre, em um decadente conjunto habitacional, que lendas urbanas podem ser reais, vários assassinatos não-resolvidos são atribuídos pelos moradores locais a uma mítica criatura conhecida como Candyman. Com um gancho no lugar de uma das mãos ele estripa suas vítimas com uma crueldade digna de um cenobita.

Ainda não há informações mais detalhadas sobre a data de lançamento, mas tudo indica que não falta muito para o livro chegar às livrarias. 

Sleeping Beauties, novo livro escrito por Stephen King e Owen King, ganha data de lançamento

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Foi revelada a data de publicação de Sleeping Beauties, o novo livro de Stephen King, escrito em colaboração com seu filho mais novo, Owen King. O livro chegará às lojas americanas em 26 de setembro de 2017, numa gigantesca edição de 720 páginas! Confira a sinopse:

Em um futuro tão real e próximo que poderia ser o agora, algo acontece quando as mulheres vão dormir; elas são envoltas por uma espécie de casulo de gaze. Se elas forem despertadas, se a gaze que envolve seus corpos for perturbada ou violada, as mulheres se transformam em feras espetacularmente violentas; já enquanto dormem, vão para outro lugar...
Os homens do nosso mundo estão abandonados, deixados com seus dispositivos cada vez mais primitivos. Uma mulher, contudo, a misteriosa Evie, é imune à bênção ou maldição da doença do sono. Será Evie uma anomalia médica a ser estudada? Ou será ela um demônio que precisa ser destruído? Ambientada em uma pequena cidade apalachiana cuja principal fonte de empregos é uma prisão feminina, Sleeping Beauties é uma colaboração entre Stephen King e Owen King, pai e filho, selvagemente provocativa e gloriosamente absorvente.

Ainda não há capa oficial para o livro e nenhuma informação sobre a publicação no Brasil.

Sempre Vivemos no Castelo | Revelada a capa do novo livro de Shirley Jackson

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A editora Suma de Letras revelou a capa e sinopse de Sempre Vivemos no Castelo de Shirley Jackson:

A história nos transporta para uma pequena cidade americana onde Merricat Blackwood vive com a irmã Constance e o tio Julian. Antes existiam sete membros na família Blackwood, até que uma dose fatal de arsênico matou quase todos. Acusada e posteriormente inocentada pelas mortes, Constance volta para a casa da família, onde Merricat a protege da hostilidade dos habitantes da cidade. Mas tudo muda quando o primo Charles resolve fazer uma visita... Merricat é a única que pressente o iminente perigo, e fará o que for necessário para proteger Constance. Com um humor macabro, Shirley Jackson leva o leitor a um labirinto sombrio de medo, suspense e neurose.

Sempre Vivemos no Castelo de Shirley Jackson, inédito no Brasil, foi publicado originalmente em 1962, apenas três anos antes da morte da autora, e é uma de suas obras mais elogiadas, a história segue em oposição ao tema de seu clássico A Assombração da Casa da Colina, enquanto este nos apresenta uma casa assombrada, Sempre Vivemos no Castelo mostra como uma casa se torna assombrada. Sempre Vivemos no Castelo chega às livrarias em abril.

1977: Enfield | Darkside Books lançará livro sobre o Poltergeist de Enfield!

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1977: Enfield é como se chamará a edição da Darkside Books de This House Is Haunted: The Investigation of the Enfield Poltergeist, escrito pelo investigador Guy Lyon Playfair. Ainda não há nenhuma confirmação sobre data de lançamento ou capa oficial, mas sabemos que a edição brasileira terá 288 páginas com tradução de Giovanna Louise Libralon, a mesma responsável pela versão em português de Ed & Lorraine Warren: Demonologistas.

Guy Lyon Playfair é um parapsicólogo que se dedica à pesquisa de fenômenos paranormais, seu primeiro livro A Força Desconhecida, publicado no Brasil pela Editora Record em 1975, é fruto de seu trabalho no Instituto Brasileiro de Pesquisas Psicobiofísicas e relata alguns dos casos mais intrigantes de mediunidade, como por exemplo as cirurgias psíquicas do cirurgião da faca enferrujada, Arigó.

A lenda que envolve o  Poltergeist de Enfield, assim como a história da casa de Amityville, é cercada por controversas, a investigação conduzida por Guy Lyon Playfair e  Maurice Grosse se estendeu por meses, entre os vários relatos de testemunhos de fenômenos paranormais, jaz a descoberta de que alguns deles foram "fabricados" pela própria família, este é o ponto central defendido pelos céticos, embora os investigadores tenham chegado a conclusão de que havia uma entidade no local.

As críticas a esse livro falam sobre o excesso de credulidade de Playfair, ao mesmo tempo que exaltam o valor da obra como um dos poucos documentos detalhados sobre uma investigação de campo sobre um fenômeno poltergeist. Enfim, nossas dúvidas só serão saciadas durante a leitura. Vale a pena lembrar que Invocação do Mal 2 foi levemente baseado no caso de Enfield.

Na Escuridão da Mente | Detalhes sobre a edição nacional do assustador livro de Paul Tremblay

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Na Escuridão da Mente de Paul Tremblay, tradução de A Head Full of Ghosts, finalmente chegará às livrarias no final deste mês, a Bertrand Brasil divulgou a capa e a sinopse da obra:

"Um dos livros mais assustadores do ano, vencedor do prêmio Bram Stoker Award. A vida dos Barrett é virada do avesso quando Marjorie, de 14 anos, começa a demonstrar sinais de esquizofrenia aguda. Depois que os médicos se mostram incapazes de deter os acessos bizarros e o declínio de sua sanidade, o lar se transforma em um circo de horrores, e a família se vê recorrendo a um padre da região. Acreditando que seja um caso de possessão demoníaca, o padre Wanderly sugere um exorcismo e entra em contato com uma produtora que está ávida para documentar tudo. Com o pai de Marjorie desempregado e as dívidas se acumulando, a família hesitantemente aceita, sem imaginar que A Possessão se tornaria um sucesso imediato. Quinze anos depois, uma autora best-seller entrevista Merry, a irmã mais nova de Marjorie. Ao se recordar dos acontecimentos de sua infância, uma narrativa alucinante de terror psicológico é desencadeada, levantando questões sobre memória e realidade, ciência e religião... e sobre a real natureza do mal."

Na Escuridão da Mente recebeu o prêmioBram Stoker Award de melhor livro de 2015, ano cuja competição era encabeçada por Evangelhos de Sangue de Clive Barker, além de críticas extremamente elogiosas o comparando ao clássico O Exorcista de William Peter Blatty, com as mais empolgadas declarando que a obra redefiniu o subgênero dos livros de exorcismo. A edição brasileira terá 266 páginas e já está em pré-venda com data de lançamento em 28/04/2017.

Resenha Especial: Os Pássaros de Frank Baker & Daphne du Maurier & Alfred Hitchcock

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   Os Pássaros de Alfred Hitchcock de 1963 foi um dos primeiros filmes de suspense a explorar com grande êxito a premissa das histórias protagonizadas por animais assassinos, fugindo da perspectiva da ficção-científica, a qual explicava a origem de seus vilões através de mutações radioativas ou como vindos de outra galáxia, para destilar o horror através da máxima de que um simples animal inofensivo em grupo tornava-se um predador feroz.

   Na literatura esse subgênero floresceu nas décadas seguintes e não houve criatura que não inspirasse pesadelos sombrios e asquerosos: James Herbert colocou seus personagens para enfrentar uma multidão esfomeada de ratos em A Invasão dos Ratos; David Fisher explorou o horror de uma família ao enfrentar uma matilha de cães raivosos em A Matilha Assassina, cinco anos antes de Stephen King dar vida ao assustador Cujo; 

   Martin Cruz Smith mergulhou no misticismo indígena para dar vida a horda sanguinária de morcegos-vampiros de Terrores da Noite; Thomas Paige invocou das profundezas ancestrais do planeta besouros carnívoros em A Praga de Hefesto, assim como Ezekiel Boone invocou aranhas canibais em A Colônia; Arthur Herzog mostrou que abelhas são mortíferas em A Invasão das Abelhas e é claro, os pássaros ganharam destaque nas obras de  Frank Baker e Daphne du Maurier, coincidência que mais tarde acabou em polêmica.

   Voltando a Hitchcock, no final de agosto de 1961, ele se deparou com uma notícia bizarra sobre  uma cidadezinha americana, segundo o Santa Cruz Sentinel, os moradores locais foram acordados às três da manhã com o estrondo de centenas de pássaros caindo em cima de suas casas. Os mais corajosos, que pegaram suas lanternas e saíram para ver o que estava acontecendo, foram atacados por bicos e garras num frenesi de violência incitado pela luz.

   Na manhã seguinte as ruas da cidade estavam cobertas por um tapete de penas e sangue, vidros quebrados de janelas e muitas histórias de confrontos entre seres humanos e pássaros. Hitchcock interessou-se pelo tema e iniciou então uma pesquisa para seu próximo filme. O roteiro foi escrito por Evan Hunter, mais conhecido talvez como Ed Mcbain, cuja versão oficial diz que o filme Os Pássaros foi baseado em um conto de Daphne du Maurier publicado na coleção The Apple Tree, em 1952, posteriormente foi levantada a questão da similaridade da premissa do mesmo com o romance de Frank Baker, publicado em 1936.

As Aves de Daphne du Maurier
   The Apple Thee foi publicado no Brasil em 1953 pela editora Mérito, com o tíltulo de Beija-me outra vez, desconhecido e traz a única tradução do conto de Daphne du Maurier, num português anterior à Reforma Ortográfica de 1971. Contém seis estórias: Monte Veritá, uma novela que mescla fantasia e suspense, centrada em uma seita de mulheres que possui vida eterna, com uma narrativa ágil e imersiva; As Aves; A Macieira, uma interessante estória de vingança entre um casal; O Pequeno Fotógrafo, um drama com um final trágico, porém clichê; Beija-me Outra Vez, Desconhecido, uma história chata com um plot twist interessante e O Velho, pequeno conto com um excelente final.

   As Aves é a melhor estória da coletânea e basicamente é um grande clímax onde um homem do campo tenta proteger sua família de uma invasão de pássaros, seu principal trunfo está exatamente na rapidez com que o suspense evolui, Daphne du Maurier consegue explorar maravilhosamente a sensação claustrofóbica que os protagonistas experimentam ao se verem presos em casa, fazendo uma  grande metáfora com gaiolas. A narrativa é totalmente absorvente e o texto prende o leitor até o final da leitura, muito similar ao apresentado por Hitchcock.

Os Pássaros de Frank Baker
   Há uma grande similaridade entre as narrativas de Os Pássaros de Frank Baker (1936) e A Praga Escarlate de Jack London (1912), ambas utilizam o fim do mundo como premissa para examinar os costumes sociais da Londres de suas épocas. Baker e London abordam o apocalipse de modos diferentes, enquanto o segundo opta pela destrutiva rapidez de uma doença mortal, o primeiro se apóia no lento desgastar das engrenagens sociais como efeito da invasão dos pássaros, porém os resultados são basicamente os mesmos: críticas aos costumes da época, às relações de trabalho e sociedade, assim como uma dissecação do comportamento das pessoas diante de uma catástrofe.

   Frank Baker utiliza o medo, personificado através da figura dos pássaros como ponto de partida para suas análises. A edição da Darkside Books possui uma introdução de Ken Moog, que faz uma ponte essencial entre obra e autor, contextualizando o período real com o ficcional, há muitos traços do próprio autor inseridos no protagonista e conhecendo esse paralelo entende-se melhor algumas das atitudes do personagem. O tom apocalíptico do livro não se foca no fim do mundo como um lugar físico, mas sim na própria ideia de sociedade, aproveitando até o último suspiro da civilização para descrever o quão frágil a mesma é.   

   Como livro de terror Os Pássaros tem um desenvolvimento lento, a escrita de Baker é bem descritiva e o suspense é entregue em pequenas doses ao leitor, o horror é inserido de modo subjetivo nas cenas, como uma senhora sendo atacada em meio à rua durante um belo entardecer, que servem mais para contextualizar as mudanças internas do personagem do que como cenas de horror gráfico. Mesmo assim o ritmo narrativo prende a atenção, a constante ameaça que paira no horizonte aliada a claustrofóbica narração em primeira pessoa, são ingredientes que potencializam a força da conclusão. São as páginas finais que trazem a vertiginosa explosão de penas e sangue que sacia a sede do fã do gênero.  

Sobre Pássaros e Plágios

   O primeiro ponto a se ressaltar é que o filme de Hitchcock possui muito mais em comum com o livro de Frank Baker do que com o conto de du Maurier, dizem que o próprio autor pensou em seguir adiante com um processo por direitos autorais com o filme, mas foi aconselhado sobre a dificuldade que seria efetivamente provar as semelhanças. A polêmica se estendeu à literatura, já que foi descoberto que du Maurier era parente do editor da primeira edição do livro Baker, mas o conflito não foi adiante, Baker e du Maurier entraram em um entendimento amigável, esta afirmou em uma correspondência que desejava que Hitchcock tivesse comprado seu romance ao invés do conto, já que o mesmo é mais profundo e melhor desenvolvido.

  Comparando as duas obras, livro e conto, nota-se que o desenvolvimento narrativo de ambas são muito similares, tanto que o conto poderia ser utilizado como um prólogo para o romance. A época em que ambos foram escritos dita o tom de violência presente, Baker a introduz de forma mais velada, enquanto du Maurier a utiliza de maneira explícita, sendo que sua estória possui menos consciência crítica. Se você procura uma história sobre pássaros que seja rápida e ágil indico sem sombra de dúvidas du Maurier. Agora se procura uma estória mais profunda, que incite reflexão, é em Frank Baker que você encontrará alento. Diferenças à parte, se você gosta do tema animais assassinos encontrará diversão na leitura de ambas as obras.

As Aves de Daphne du Maurier: ☠☠☠☠☠☠☠☠☠☠ (10/10 Caveiras)
Os Pássaros de Frank Baker: ☠☠☠☠☠☠☠☠☠ (9/10 Caveiras)

Resenha: Bazar dos Sonhos Ruins de Stephen King

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   Stephen King fez sucesso escrevendo sobre as sombras da noite, mesmo mostrando que podia discorrer sobre as quatro estações, foi sua tripulação de esqueletos que o tornou conhecido, deste modo acabou mergulhando depois da meia noite em pesadelos e paisagens noturnas para mostrar que tudo é eventual e agora, ao cair da noite, em meio a escuridão total sem estrelas, nos mostra seu bazar de sonhos ruins. O próprio King adverte: fique à vontade para escolher seus produtos, mas tenha cuidado, pois os melhores têm dentes.

  O Bazar dos Sonhos Ruins é a nova coleção de contos de Stephen King e reúne seus últimos trabalhos no gênero, formada por 19 contos (coincidência?) e dois poemas, grande parte já publicados em revistas ou em formato digital, sendo que dois deles, Mister Delícia e Obituários são inéditos, este último recebeu o Edgar Alan Poe Award de melhor conto.  O diferencial desta coleção está nas breves introduções que Stephen King faz antes da cada uma das estórias, uma espécie de carta direta para o seu leitor fiel na qual discute suas inspirações e contextualiza aspectos pessoais presentes no texto. O que, é claro, melhora ainda mais a experiência da leitura.

   Não há como definir a coleção dentro de um só gênero, especialmente para este bazar Stephen King escolheu suas criações mais brilhantes e sombrias, desde o horror explícito de um carro canibal em Milha 81 até o suspense dramático de Obituários. É possível, porém traçar um tema comum à todas as narrativas, a morte é uma presença que paira através de cada linha e seu abraço gelado é a fonte de todos os sonhos ruins... 

  Os protagonistas de todas as estórias, de forma direta ou indireta, são forçados à encarar a morte, seja a de um estranho ou um ente querido, em um acidente ou um assassinato, ou até mesmo enfrentar a estranha jornada de sua própria morte. King descreve com detalhes seus sonhos ruins acerca da mortalidade e o medo do que nos espera no além, alguns escritos na mesma época que o sombrio Revival, sua incursão mais aprofundada ao tema.

   Ler esta coleção de Stephen King é como entrar em uma casa assombrada, a grande emoção está em testar cada maçaneta para descobrir que tipo de estória bizarra jaz atrás de cada uma das portas obscuras, por isso não vou entrar em detalhes sobre cada conto. Mas deixo o breve aviso: cuidado com o garotinho malvado e não escreva obituários. Sua única luz ao caminhar pelas páginas deste livro será a pequena lanterna que King oferecerá antes de cada conto, não a desperdice. Stephen King não decepciona em O Bazar de Sonhos Ruins.

Nota: ☠☠☠☠☠☠☠☠☠☠(10/10 Caveiras)

5 Motivos para aguardar ansiosamente o Coração Satânico de William Hjorstberg voltar a pulsar!

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   Coração Satânico é uma das minhas leituras favoritas de todos os tempos, sempre que alguém me pede uma indicação de livro de terror este é um dos nomes que está na ponta da língua, e  não é só porque durante a leitura, a mistura realista entre suspense policial e terror, me fez pensar duas vezes antes de enfrentar a escuridão da madrugada para ir ao banheiro, ou pelo final extremamente perturbador, mas também porque todas as pessoas me deram feedback da leitura foram unânimes: este é um livro assustador pra cacete! A obra, que estava em estado de raridade, recebeu uma transfusão de sangue dark e uma nova edição diabólica está sendo invocada. No próximo mês os leitores já poderão dissecar e degustar seus próprios corações satânicos, mas nada melhor pra aguçar o apetite do que uma breve lista de motivos para aguardar ansiosamente esta preciosidade.

1. O final vai explodir sua mente, partir sua alma ao meio e despedaçar seu coração!
   É sério. Coração Satânico tem um dos finais mais perturbadores que eu já li. Do tipo que você devora as páginas em um primeiro momento e depois relê várias vezes até conseguir acreditar que realmente é aquilo o que acontece. 

2. Um noir místico-ocultista-satânico!
   Coração Satânico mescla a agilidade de um suspense policial com o clima de uma história de horror, é uma trama insidiosa que testa a sua sanidade com ataques rápidos e ferozes, o primeiro é uma facada no cérebro, a mente é desafiada a acompanhar o desenrolar do mistério inicial, quando você começa a achar que está entendendo, o próximo ataque é desferido direto no coração, o medo e a tensão aumentam sua frequência cardíaca causando arrepios e calafrios, e então quando você menos espera, surge o ataque mais baixo, um horror que corrói os intestinos e deixa um gosto ruim na boca, transformando toda sua coragem em um pântano fecal.

3. Reinventando velhos medos!
  Coração Satânico foi publicado originalmente em 1978, numa época em que o furor das conspirações satânicas no gênero estava em decadência, o sucesso que O Bebê de Rosemary e O Exorcista alcançaram fez com que suas premissas fossem replicadas exaustivamente, Hjorstberg imprimiu um novo fôlego para o gênero ao trazer uma abordagem mais realista e obscura, mergulhando fundo em temas tabus, como o vodu, para descobrir novas criaturas rastejando nos velhos medos.

4. Viciante e vertiginoso.
   Se você tiver coragem o suficiente para encarar a leitura é melhor separar um tempo para Coração Satânico, pois uma vez que você começa a ler é extrememente difícil se afastar do livro, é como se seu espírito fosse possuído e aprisionado dentro daquelas páginas... E no final, talvez você descubra que uma parte dele jamais sairá de lá.

5. A Edição da Darkside Books.
   Coração Satânico é mais um livro que a Darkside Books retira do estado de raridade, a única edição brasileira era a da Best Seller de 1988, a capa da nova edição conseguiu capturar a aura mística e de estranhamento da estória de um modo que só é possível entender após se recuperar do choque das páginas finais, um coração humano embrenhado com uma serpente e uma galinha preta. Coração Satânico chegará as livrarias no final de maio, em capa dura e com 320 páginas!

Lista dos Vencedores do Bram Stoker Awards 2016

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   O Bram Stoker Awards, o prêmio máximo da literatura de horror, é concedido anualmente pela The Horror Writers Association para os trabalhos que mais se destacaram em cada uma das onze categorias da premiação, que vão desde melhor romance de estreia até melhor roteiro. Este ano o evento nomeado em homenagem ao autor do clássico Drácula, aconteceu na noite de sábado, dia 29 de abril, confira a lista dos ganhadores e respectivas sinopses:

Superior Achievement in a Novel (Melhor Romance)
The Fisherman de John Langan 
  No estado de New York, nos arredores de Woodstck, o Dutchman’s Creek flui para fora do reservatório Ashokan. Sua inclinação torna a correnteza rápida, oferecendo a promessa de boa pesca e de algo mais, uma possibilidade fantástica demais para ser real. Quando Abe e Dan, dois viúvos que encontram consolo na companhia um do outro e na paixão compartilhada por pescaria, ouvem o rumor sobre o rio e o que pode ser encontrado lá, o remédio para suas perdas, eles o descartam como sendo apenas mais uma história de pescador. No entanto, logo se veem envolvidos em uma lenda tão antiga e profunda quanto o reservatório. É uma história sobre pactos sombrios, segredos enterrados há muito tempo e de uma figura misteriosa conhecida como: o Pescador. Ele colocará Abe a Dan face a face com tudo o que perderam e com o preço de deverão pagar para recuperá-lo.


Superior Achievement in a First Novel (Melhor Romance de Estreia) 
Haven de Tom Deady
   Em 1961, a pequena cidade de Haven pensou que havia se livrado de seu monstro. Depois de uma série de assassinatos de crianças, Paul Greymore foi encontrado carregando uma menina ferida. Seu rosto, desfigurado por um acidente na infância, parecia confirmar que ele era o monstro que a comunidade buscava. Com Paul na prisão, os assassinatos pararam. Por dezessete anos, Haven conheceu a calmaria novamente.
   Mas Paul cumpriu sua pena e agora retornou a Haven - a cidade onde cresceu e cenário de seus supostos crimes. Ele insiste que ele não cometeu esses crimes e várias pessoas da cidade acreditam nele, incluindo o padre local, um rapaz chamado Denny, e seu melhor amigo Billy. O problema é que, agora que Paul está de volta em casa, os assassinatos bizarros começaram novamente - e os padrões combinam com as mortes do passado de Haven. Se Paul não é o assassino, quem é? Ou o QUE é?
   Um grupo improvável de aventureiros tenta descobrir a verdade, mergulhando em túneis há muito escondidos que podem ser habitados por uma estranha criatura predatória. Haven é um épico de horror convincente no espírito de It - A Coisa ou Summer of Night, um romance de estreia impressionante de um talentoso autor que sabe que os horrores mais sombrios espreitam dentro dos seres humanos, mesmo quando há um monstro à solta.

Superior Achievement in a Young Adult Novel (Melhor Romance Juvenil)
Snowed de Maria Alexander
   Charity Jones é uma adolescente de 16 anos, gênio em engenharia, que sofre intimidação em sua escola, por conta sua origem e seu ceticismo, no conservador Condado de Oak, Califórnia. Tudo muda em sua vida quando sua mãe, assistente social, traz para casa um jovem fugitivo chamado Aidan para passar as férias. Semelhantes em vários sentidos, Charity e Aidan rapidamente se apaixonam. Mas parece que ele não é a única novidade: Charity encontra o cadáver, brutalmente assassinado, de um dos seus piores perseguidores da escola e juntando as peças descobre que um assassino está agindo no Condado de Oak. Enquanto ela e seu clube de céticos investigam esta e outras mortes, chegam à conclusão de que a cada descoberta o mistério torna-se mais sombrio e mortal. Uma coisa é certa: há uma batalha sangrenta nesta temporada de férias que vai mudar suas vidas - e história da humanidade - para sempre. Eles estarão prontos?

Superior Achievement in Long Fiction (Melhor Ficção Longa/Novela) 
The Winter Box de Tim Waggoner
   É o aniversário de vinte e um anos de casamento de Todd e Heather. Uma nevasca explode fora de sua casa, mas está muito mais frio lá dentro. Seu casamento está caindo aos pedaços, o amor que uma vez compartilharam acabou e em seu lugar há apenas um ressentimento amargo. À medida que a noite avança, coisas estranhas começam a acontecer na casa - coisas ruins. Se eles conseguirem trabalhar juntos, podem encontrar uma maneira de sobreviver até de manhã ... mas apenas se não abrirem a Caixa de Inverno.

Superior Achievement in Short Fiction (Melhor Conto)
“The Crawl Space” de Joyce Carol Oates, publicado em Ellery Queen Magazine

Superior Achievement in a Fiction Collection (Melhor Coletânia de Contos)
The Doll-Master and Other Tales of Terror de Joyce Carol Oates
   De uma das escritoras contemporâneas mais importantes, The Doll-Master e and Other Tales of Terror é uma coleção de seis histórias assustadoras. Na história do título, um jovem se torna obcecado com a boneca de sua prima, após ela morrer tragicamente de leucemia. À medida que envelhece, ele começa a coletar "bonecas encontradas" em bairros vizinhos e armazena seus tesouros em uma estação abandonada na propriedade de sua família. Mas que tipo de bonecas será que são aquelas? Em "Gun Accident", uma adolescente fica emocionada quando seu professor favorito lhe pede para cuidar de sua casa enquanto está fora, mas quando um intruso invade a residência enquanto ela está lá, o destino de mais de uma vida é mudado para sempre. Em The Doll-Master e and Other Tales of Terror, Joyce Carol Oates evoca o "fascínio da abominação" que está no cerne da mais profunda, mais perturbadora e mais memorável história humana.

Superior Achievement in an Anthology (Melhor Antologia)
Borderlands 6 org. de Oliva F. Monteleone & Thomas F. Monteleone
  Esta antologia não temática de horror apresenta obras nunca antes publicadas de: Louis Dixon, John McIlveen, Jack Ketchum, Rebecca J. Allred, Dan Waters, Michael Bailey, John Boden, Trent Zelazny e Brian Knight, Bob Pastorella, Peter Salomon, Carol Pierson Holding, Steve Rasnic Tem, Darren O. Godfrey, David Annandale, Anya Martin, G. Daniel Gunn e Paul Tremblay, Gordon White, Sean M. Davis, Tim Wagoner, Bradley Michael Zerbe e Gary A. Braunbeck . Incluindo também uma novela, já publicada anteriormente de David Morrell

Superior Achievement in Non-Fiction (Melhor Não-Ficção)
Shirley Jackson: A Rather Haunted Life de Ruth Franklin
   Ainda reconhecida por milhões principalmente como autora de The Lottery, Shirley Jackson (1916-1965) está curiosamente ausente do cânone literário americano mainstream. Um gênio do suspense literário e horror psicológico, Jackson sondou a ansiedade cultural da América do pós-guerra mais profundamente do que ninguém. Agora, a biógrafa Ruth Franklin revela a vida tumultuada da autora de clássicos como A Assombração na Casa da Colina e Sempre Vivemos no Castelo.
   Colocando Jackson dentro da tradição gótica americana, cujas raízes remetem à Hawthorne e Poe, Franklin demonstra como sua contribuição única para este gênero veio de seu foco no "horror doméstico". Quase duas décadas antes de a Mística Feminina acender o movimento das mulheres, as histórias de Jackson e as crônicas de não-ficção já exploravam a exploração e o isolamento desesperado das mulheres, particularmente das mulheres casadas, na sociedade americana.
   Cada vez mais presciente, Shirley Jackson emerge como uma ferozmente talentosa, determinada e prodigiosamente criativa escritora em um tempo quando era incomum para uma mulher ter uma família e uma profissão. Uma mãe de quatro filhos e a esposa do proeminente crítico e acadêmico do New Yorker Stanley Edgar Hyman, Jackson viveu uma vida aparentemente bucólica na cidade de North Bennington, Vermont, na Nova Inglaterra. No entanto, bem como suas histórias, que canalizavam o ocultismo enquanto explorava a claustrofobia do casamento e da maternidade, a ascensão criativa de Jackson era assombrada por um lado mais sombrio. Como sua carreira progrediu, seu casamento tornou-se mais tênue, sua ansiedade aumentou, e ela tornou-se viciado em anfetaminas e tranquilizantes. Em detalhes, Franklin examina com perspicácia os efeitos da educação de Jackson na Califórnia, na sombra de uma mãe hipercrítica, seu relacionamento com seu marido, justapondo as infidelidades de Hyman, comportamento dominador e ciúme profissional com sua infalível admiração pela ficção de Jackson.
   Com base em uma abundante correspondência previamente desconhecida e dezenas de novas entrevistas, Shirley Jackson - uma exploração de um talento surpreendente formada por uma infância prejudicial e um casamento turbulento - torna-se a biografia definitiva de um avatar geracional e de um gigante literário americano.

Superior Achievement in a Poetry Collection (Coletânea de poemas)
Brothel de Stephanie M. Wytovich
   Wytovich interpreta uma madame em uma coleção de horror erótico que desafia a conexão filosófica entre a morte e o orgasmo. Há um striptease que acontece no bordel que não é nem fato nem ficção, nem fantasia e nem memória. É uma dança do erotismo, da morte e da decadência. O corpo humano torna-se uma estação de serviço para a dor, para o prazer, para o solitário e o confuso. A sexualidade está pendurada na porta e o ato de amar está longe de tudo o que é decente. Suas mulheres abrem suas pernas para a violência, para em seguida, fumar um cigarro e ficar de quatro patas. Eles usam seus corpos como armas e aprendem a encontrar-se no clímax dos limites que cruzam, a fim de definir sua humanidade... ou falta dela.
   Wytovich nos mostra que a definição do feminino não está associada à palavra vítima. Seus personagens ressuscitam uma e outra vez, lutando contra estereótipos, matando expectativas. Ela nos mostra que o sexo não é sobre o amor; é sobre controle. E quando o controle é desproporcional à fantasia, ela nos mostra o verdadeiro significado de femme fatale.

Superior Achievement in a Graphic Novel (Melhor Graphic Novel)
Kolchak the Night Stalker: The Forgotten Lore of Edgar Allan Poe
   Entre histórias de corações delatores e enterros prematuros, de gatos pretos e da morte vermelha, o repórter Carl Kolchak luta com horror e loucura cada vez mais profundos quando os eventos dos contos de Edgar Allan Poe ganham vida na moderna Baltimore.

Superior Achievement in a Screenplay (Melhor Roteiro)
A Bruxa, roteiro de Robert Eggers
   Nova Inglaterra, década de 1630. O casal William e Katherine leva uma vida cristã com suas cinco crianças em uma comunidade extremamente religiosa, até serem expulsos do local por sua fé diferente daquela permitida pelas autoridades. A família passa a morar num local isolado, à beira do bosque, sofrendo com a escassez de comida. Um dia, o bebê recém-nascido desaparece. Teria sido devorado por um lobo? Sequestrado por uma bruxa? Enquanto buscam respostas à pergunta, cada membro da família enfrenta seus piores medos e seu lado mais condenável.


Resenha: A Cidade dos Espelhos de Justin Cronin

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“O emocionante final de uma trilogia que será reconhecida como um dos grandes feitos da ficção fantástica americana.” – Stephen King

“Nesta conclusão de sua trilogia épica, Justin Cronin apresenta toda a dor, a alegria e as reviravoltas do destino que os eventos de A passagem e Os Doze prenunciaram. Como nos livros anteriores, traz um grande elenco de personagens, todos eles com personalidades plenamente desenvolvidas e que cativam o leitor.” – Publishers Weekly

A Ascensão do Mito do Vampiro
   Crenças e mitos sobre vampiros surgiram em várias culturas ao redor do mundo ao longo dos séculos, histórias que mesclavam o misticismo à religião em um amálgama que era uma fonte real de terror para a população, tanto que o vampiro clássico, assim como o conhecemos hoje, o cadáver que se ergue de seu caixão para sugar o sangue dos vivos e assim manter sua aparência eternamente jovem, nasceu através dos relatos de histeria coletiva que assombraram a Europa na Idade Média. Um dos casos históricos mais famosos que ilustra o clima de horror da época é o de Peter Plogojowitz, que  morreu em setembro de 1828, aos 62 anos, em um pequeno vilarejo sérvio.

  Três dias após sua morte, Plogojowitz apareceu à noite para sua família exigindo comida, duas noites depois quando retornou, seu filho, que se recusou a atendê-lo, foi encontrado morto na manhã seguinte. O pavor tomou conta do vilarejo quando vários moradores começaram a apresentar os sintomas de uma estranha doença, palidez e indisposição, cuja causa foi identificada como perda excessiva de sangue. Logo se espalharam relatos de sonhos nos quais Plogojowitz fazia uma visita noturna às vítimas para sugar seu sangue através de uma mordida no pescoço. Nove pessoas morreram desta estranha doença nas semanas seguintes. 

  Um grupo foi reunido para exumar os cadáveres, mas quando os caixões foram abertos foi notado que o corpo de Plogojowitz estava bem conservado, seus olhos estavam abertos e sua pele corada, porém o mais terrível era que havia sangue fresco em seus lábios. Uma estaca foi cravada em seu coração e diz-se que sangue verteu da ferida, seu corpo então foi queimado e os restos de suas supostas vítimas, após verificado não haver sinais de vampirismo, foram envoltos em alho e enterrados em solo sagrado novamente. 

   Relatos como esse acenderam o temor público dos vampiros, com tamanha popularidade não demorou muito para que as criaturas invadissem também a literatura. As primeiras estórias eram francamente inspiradas em fatos reais e o vampiro era retratado como nada mais que um parasita morto-vivo, cuja única preocupação era a alimentação. E assim o vampiro começou a assombrar as páginas da ficção, porém o público dessas estórias eram em grande parte nobres que na segurança de seus castelos e mansões viam a tudo aquilo como uma fantasia camponesa. Foi então que o vampiro passou por sua primeira grande transformação, para se inserir no ambiente de seu leitor, a criatura sanguinária ganhou atributos carismáticos e sensuais, uma figura sombria que reina até hoje e cujo filho pródigo mais sombrio é o Drácula de Bram Stoker. 

O Apocalipse Vampiro e o Renascimento Vampírico
   Lançado em 1897, Drácula de Bram Stoker se tornou o padrão de comparação para qualquer outro romance sobre vampiros, seu grande sucesso fez com que as histórias vampíricas se popularizassem e nas décadas seguintes dezenas de livros inflaram o subgênero até a decadência. O mundo havia mudado, duas guerras atualizaram as definições de horror da humanidade e os monstros que  jaziam em castelos europeus obscuros já não causavam medo nos leitores. Foi só em 1954 que surgiu outra obra que conseguiu ter o mesmo impacto e ousar para além dos limites conhecidos do gênero.  Foi Richard Matheson e seu clássico Eu sou a Lenda.

  Matheson inovou ao realizar a dissecação do mito clássico do vampiro através de uma ótica científica, considerando o próprio vampirismo como uma doença, porém mais do que isso, ele é responsável por trazer as criaturas sanguinárias de sua morada européia para o ambiente comum do americano médio. Nos últimos anos o apocalipse ganhou popularidade na cultura popular e o tema do apocalipse vampiro voltou a ser explorado pelos escritores. Pode-se destacar como exemplo a fantástica Trilogia da Escuridão de Guillermo Del Toro e Chuck Hogan; o nacional Noite Maldita de André Vianco ou a trilogia A Caçada de Andrew Fukuda. Mas nenhum mergulhou tão fundo no gênero como Justin Cronin e sua Trilogia da Passagem.

A Cidade dos Espelhos ou a Épica Conclusão de um Clássico!

  E com toda essa explicação histórica este é o exato ponto onde eu queria chegar: para uma obra conseguir se afirmar como um clássico da literatura é preciso forçar os limites do gênero e percorrer caminhos nunca antes explorados; é preciso tatear pela escuridão da incerteza guiado apenas pela luz da criatividade, sem saber o que irá encontrar no final ou até mesmo se chegará até lá. Justin Cronin consegue fazer isso e o resultado é a trilogia A Passagem, um épico que rompe as fronteiras do horror, da ficção científica e da fantasia para ser a obra definitiva sobre o apocalipse vampiro.

   A Cidade dos Espelhos é a peça final que se encaixa com perfeição no grande mosaico formado por A Passagem e Os Doze, sua narrativa além de elevar a trama principal a outro patamar, explicita com perfeição cada ponto obscuro deixado pelos livros anteriores. "Origens", "porquês" e "comos" são amarrados com maestria, em nenhum momento Cronin força uma conclusão apressada, as mais de seiscentas páginas do livro tomam o tempo necessário para contar sua estória, seja através dos flashbacks que constroem a base para o entendimento dos acontecimentos do presente ou no próprio desenvolvimento da narrativa. 

  A estória do último livro da trilogia começa alguns anos depois da conclusão de Os Doze, após um século de escravidão e terror, a humanidade finalmente está passando por uma época de paz e sossego, tanto que a própria lembrança do que aconteceu está começando a desbotar e adquirir o tom místico das lendas antigas. A Queda aconteceu há tanto tempo que as novas gerações já esqueceram de como era a vida nas grandes cidades, hoje gigantescos monumentos fúnebres que marcam o que a humanidade perdeu; e o mais importante esqueceram que o mal se originou em meio aquelas ruínas e que ainda jaz naqueles destroços, apenas esperando a hora certa para ressurgir. E esse momento se aproxima cada vez mais. 

   Se você gostou dos dois primeiros livros, A Cidade dos Espelhos não vai te decepcionar. Justin Cronin cumpre com toda a expectativa que cresceu ao longo dos anos, cada segundo de espera para o aguardado lançamento deste livro vale a pena quando você lê a página final e se despede dos protagonistas, o autor consegue surpreender dando um final belo e emocionante para uma trilogia que se iniciou de forma tão violenta e assustadora. Há muito tempo eu não terminava a leitura de uma trilogia me sentindo tão satisfeito e saciado com as respostas que encontrei, geralmente os autores preferem deixar espaço para a imaginação do leitor completar o quadro final, mas a trilogia A Passagem não. E a sensação é ótima. É uma leitura obrigatória a todo fã do gênero, ou melhor, a todo leitor que adora uma história bem contada.  

Nota: ☠☠☠☠☠☠☠☠☠☠ (10/10 Caveiras)

Strange Weather | Conheça o novo livro de Joe Hill

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Enquanto aguardamos o anúncio oficial da editora Arqueiro sobre a data de publicação de The Firemam no Brasil, foram revelados detalhes sobre o novo livro de Joe Hill, Strange Weather. O livro conterá quatro novelas: uma envolvendo fragmentos de cristais afiados que inexplicavelmente começam a cair do céu; um paraquedista que se vê abandonado em uma nuvem sólida; um segurança mentalmente desajustado e uma câmera que apaga memórias.

Strange Weather chegará às livrarias americanas em 24 de Outubro.

Resenha: Na Escuridão da Mente de Paul Tremblay

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"Me assustou pra valer, e eu não sou nada fácil de assustar." Stephen King

"Um dos livros mais assustadores que você lerá neste ou em qualquer ano."Guardian

Sinopse:
   A vida dos Barrett é virada do avesso quando Marjorie, de 14 anos, começa a demonstrar sinais de esquizofrenia aguda. Depois que os médicos se mostram incapazes de deter os acessos bizarros e o declínio de sua sanidade, o lar se transforma em um circo de horrores, e a família se vê recorrendo a um padre da região. Acreditando que seja um caso de possessão demoníaca, o padre Wanderly sugere um exorcismo e entra em contato com uma produtora que está ávida para documentar tudo. Com o pai de Marjorie desempregado e as dívidas se acumulando, a família hesitantemente aceita, sem imaginar que A Possessão se tornaria um sucesso imediato. Quinze anos depois, uma autora best-seller entrevista Merry, a irmã mais nova de Marjorie. Ao se recordar dos acontecimentos de sua infância, uma narrativa alucinante de terror psicológico é desencadeada, levantando questões sobre memória e realidade, ciência e religião... e sobre a real natureza do mal.


Opinião:
   O exorcismo na literatura de terror é um tema bastante controverso, suas raízes estão arraigadas no cerne de todas as grandes religiões, cada uma dessas crenças possui seus próprios textos sagrados e rituais utilizados para expulsar espíritos malignos e demônios. Inúmeras obras de ficção e não-ficção já tentaram dissecar o tema da "possessão" a partir de diversas perspectivas, desde a ótica do ceticismo científico até a completa imersão no misticismo religioso, independente da abordagem todas tem um ponto em comum: dialogam diretamente com um dos medos mais profundos da humanidade, o medo do desconhecido. Um exorcismo é o campo de batalha final localizado entre o plano físico e espiritual onde sacerdotes religiosos enfrentam poderes sombrios além de sua compreensão, colocando sua própria alma imortal em perigo para salvar da danação eterna uma alma inocente. 

   O Exorcista de William Peter Blatty praticamente fundou o subgênero  no início da década de setenta, descrevendo passo a passo o processo de possessão de uma jovem e seu consequente ritual de exorcismo. Quarenta anos depois, o que se podia perceber na literatura sobre o tema, eram narrativas que pouco evoluíram em sua abordagem, que percorria a mesma lógica regida pelo clássico de Peter Blatty. Isto é, até o lançamento de Na Escuridão da Mente de Paul Tremblay, um dos livros de terror mais celebrados dos últimos tempos, vencedor da categoria de melhor livro do Bram Stoker Awards de 2015 e famoso por assustar o próprio mestre do terror, Stephen King. Então você pergunta, o que este livro tem de tão especial?

   Paul Tremblay mergulha no centro do subgênero para tecer uma narrativa que ao mesmo tempo em que abraça os clichês, através de várias referências à clássicos da cultura popular, percorre caminhos inexplorados atualizando as definições de "possessão demoníaca" para o século XXI. Na Escuridão da Mente funciona como um catalisador para as próprias crenças do leitor, que é conduzido através de uma trama obscura que a todo momento questiona a própria construção dos fatos: será a protagonista realmente uma alma atormentada por demônios ou não passa de uma adolescente com problemas psiquiátricos lutando para compreender sua própria condição? O véu que separa a realidade da histeria é tão fino que a tensão prende o leitor dentro das páginas até a última palavra na ânsia de uma resposta para seus temores.

   O livro traz a história Merry Barrett, uma jovem que através de uma série de entrevistas relembra o período mais traumático de sua infância, o exorcismo de sua irmã mais velha, Marjorie. A partir sua perspectiva infantil da época, ela narra as mudanças no comportamento de sua irmã, visitas a psicólogos e padres e o desespero familiar ao enfrentar problemas financeiros e os ataques cada vez mais comuns de Marjorie. Em meio a todo o horror e desesperados para pagar as dívidas, os Barretts concordam com a ideia de documentar através de uma série de televisão todos os preparativos e o próprio ritual. A estória se constrói a partir do enfrentamento da dualidade entre doença mental e possessão demoníaca ao mesmo em que critica a exposição da mídia e o próprio fanatismo religioso.

  O horror presente em Na Escuridão da Mente não é do tipo que se baseia em vozes demoníacas ou móveis se arrastando pelos cômodos para impressionar seu leitor, mas sim na profunda e inquietante tensão psicológica que permeia o ambiente familiar, retorcendo pequenos detalhes para causar uma sensação de estranhamento e insegurança que afeta a todos os personagens, até o próprio leitor. Mas talvez o grande trunfo do livro seja seu final, construído com perfeição a partir das últimas páginas é um grito de horror cujo desespero fica ecoando na mente muito tempo após a leitura. Na Escuridão da Mente é uma obra-prima moderna que vai agradar aos fãs do gênero sedentos por novos pesadelos.

Nota: ☠☠☠☠☠☠☠☠☠☠ (10/10 Caveiras)

Resenha: A Dádiva de Deus de Bernard Taylor

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Sinopse:
   Primeiro a moça, a desconhecida. Depois veio o bebê. Depois a morte. Para Alan, Kate e seus filhos, a paz e a felicidade pareciam ter sido destruídas para sempre. Mas, no final das contas, isso talvez não fosse verdade: eles tinham ainda Bonnie. A linda Bonnie, de cabelos louros e de olhos azuis. Em sua dor e seu desespero, a pequenina Bonnie era uma dadiva de Deus. Mas era mesmo? Um acidente fatal pode ser suportado. Mas seria o único? Gradualmente, sem qualquer justificativa, Alan descobre-se perseguido por suspeitas tão fortes e tão terríveis que ele teme pela própria sanidade mental. Que poder maléfico é esse que ameaça destruir sua família?

Opinião:
   Na linha temporal da evolução dos livros de terror sobre sobre crianças assassinas é possível destacar o abismo que há entre o suspense psicológico de A Menina Má de William March (1954) e o horror explícito de Melodia do Mal de John Ajvide Lindqvist (2010), ambas estórias abordam a maldade como uma herança genética, partindo do pressuposto de que todos nascemos com a semente do mal em nosso íntimo, com a diferença que algumas pessoas possuem o coração tão negro e putrefato que esta semente encontra o solo perfeito pra florescer. O diferencial entre esses dois livros está na abordagem do tema, enquanto em A Menina Má a violência é tratada com mais subjetividade e o horror é tecido através da implicação da inocência com a violência; Melodia do Mal mergulha nas vísceras sangrentas do gênero para trazer a visão mais explícita possível, mesclando gore com um denso suspense psicológico. A Dádiva de Deus de Bernard Taylor (1976) seria mais um livro entre tantos outros do tema, senão fosse por sua abordagem ousada, baseada diretamente no sobrenatural.

   Na natureza existe uma espécie de pássaro  parasita: o cuco. Diferente de outras aves, a fêmea do cuco, não faz ninho para seus ovos, na verdade quando chega a hora mágica ela procura o ninho de outro pássaro e deposita seus ovos entre os que já estiverem lá. Quando a verdadeira "mamãe" retorna a seu ninho, mal sabe que está chocando ovos que não são seus. Assim que os filhotes de cuco nascem eles começam a se livrar de seus "irmãos adotivos", para que assim possam ter mais espaço para crescer e a total atenção da "mãe" na alimentação. É a natureza em seu estado mais brutal. Esta é uma boa metáfora para a estória de A Dádiva de Deus, a família protagonista conhece uma jovem grávida e por educação acaba convidando-a para uma visita,  após um estranho jantar ela entra em trabalho de parto e em meio a confusão que segue ao nascimento da criança, acabam descobrindo que a jovem simplesmente desapareceu, deixando em sua cama uma linda menininha desprotegida. O bebê de aparência angelical ganha o nome de Bonnie e é adota pela família, porém conforme os anos vão se passando, mortes bizarras começam a acontecer ao seu redor. Serão apenas coincidências? 

   O segredo de A Dádiva de Deus está na narrativa de Bernard Taylor, diferentemente de outros livros dos anos setenta, ele consegue fazer com que o leitor crie uma conexão real com os personagens e seja afetado pelas mortes que acontecem. A narrativa é contada do ponto de vista dos pais e a construção da sensação de normalidade e sua consequente desconstrução ao longo das páginas geram o suspense que permeia toda a história. Em seu íntimo o leitor sabe o que lhe espera no final, mas há uma força maior que o impele a continuar lendo e se torturar com a tensão, naquele típico livro feito para ser devorado de uma vez só. Dádiva de Deus não chega a ser explícito em suas cenas de violência, mas a forma com que a trama é conduzida a partir da segunda metade, transforma o suspense em um horror psicológico tão fascinante quanto. É um livro que possui um final perturbadoramente maléfico, se você é fã do terror dos anos setenta e gosta do sabor ácido do horror nonsense da época, este livro é para você!

Nota: ☠☠☠☠☠☠☠☠☠☠ (10/10 Caveiras)

Resenha: 1977: Enfield de Guy Lyon Playfair

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Sinopse:
   Enfield, subúrbio de Londres. Na fria noite de 31 de agosto de 1977, a vida de uma família simples e comum mudaria para sempre. Pequenas batidas e sons inexplicáveis, móveis caindo sem nenhum motivo aparente, esse parecia um verdadeiro caso de poltergeist. Desde os primeiros dias, os pesquisadores de atividades psíquicas Maurice Grosse e Guy Lyon Playfair acompanharam o caso e conseguiram documentar mais de seiscentas páginas de transcrição de fitas cassetes e registros em vídeo dos surpreendentes e assustadores eventos, aqui relatados exatamente como aconteceram.

Opinião:
   Existem várias teorias que tentam explicar porque o cérebro humano é tão fascinado pelo terror. O que motiva alguém a continuar devorando as páginas de um livro que faz seu coração disparar? Ou a assistir a uma cena de filme que lhe embrulha o estômago? Uma das explicações é a adrenalina que essas sensações injetam em nosso sangue, em outras palavras o medo é viciante; outra explicação vai além e invoca um sentimento primal de sobrevivência: nós vivenciamos essas sensações de horror na ficção como uma espécie de teste preparatório, para que quando formos confrontados com um desafio real, estarmos preparados. Mas jamais iremos enfrentar um vampiro ou um fantasma na vida real, não é?

   O principal refúgio que a mente do leitor de terror possui é o pensamento de que todos os horrores descritos naquelas páginas não passam de ficção, nos acostumamos a procurar a origem do sangue falso ou a costura nas costas do monstro, não para acabar com a graça da cena, mas para conseguir dormir em paz à noite. O problema com as histórias baseadas em fatos reais é que esse raciocínio não funciona, histórias como 1977: Enfield transformam a leitura em um desafio. O horror não está na descrição dos objetos que se movem sozinhos ou nos sussurros e sons estranhos que preenchem o silêncio de cômodos vazios. Não, o medo está no drama de uma família, tão real e palpável, que tira o sono pela simples percepção de que aquilo poderia acontecer com qualquer um.

   1977: Enfield não é uma leitura fácil, possui o tipo de história que ultrapassa as páginas do livro e se instala no fundo da mente, naquele recôndito escuro onde os pesadelos ficam escondidos e que só é acessível à noite, quando você está próximo de ultrapassar a barreira que separa a vigília do sono. Playfair deixa claro em seu prefácio, se você procura uma história que tenha um clímax hollywoodiano este livro não é para você. Um fenômeno poltergeist real é mais perturbador que o retratado pelos cinemas, a vida não segue um roteiro, não há nenhum controle sobre como ou quando o sobrenatural vai se manifestar, não existem heróis que aparecem no último minuto para salvar o dia. 

    Por esse motivo a narrativa do livro é bastante irregular, embora o suspense esteja presente desde a primeira página, muitas vezes o capítulo seguinte àquele cheio de ação não mostra nenhuma evolução da manifestação, quando você acha que terá um vislumbre inquestionável de atividade paranormal, ela simplesmente acaba. Diferente do que Jay Anson fez em Horror em Amityville, Playfair não romantizou a história, não a tornou mais palatável para os leitores, ao contrário, cada acontecimento é detalhado com precisão e exaustão, o sobrenatural nunca é a primeira explicação, cientificamente tenta-se reproduzir cada evento que ocorre em Enfield. Esse cuidado torna o livro ainda mais perturbador.

     1977: Enfield não é um livro para ser devorado de uma só vez, sua história é feita para ser desmembrada aos poucos, cada capítulo é um passo em direção ao final de um corredor cheio de portas trancadas, ao leitor é dado apenas um pequeno vislumbre do que há por trás de cada uma delas, só percebemos aquilo que a limitação de nossos sentidos e da tecnologia permitem, deixando a interpretação à cargo das crenças, ou da falta delas, de cada um. Isso faz com que a experiência da leitura seja extremamente pessoal, o que a história representa para mim será diferente do que ela representa para você. Enfim, se você gostou de Demonologistas de Gerald Brittle e Exorcismo de Thomas B. Allen encontrará o mesmo prazer sombrio em meio às páginas deste livro. Você terá coragem de abrir as portas de Enfield?

Nota: ☠☠☠☠☠☠☠☠☠ (9/10 Caveiras)
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