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Narrativas do Medo 2 | Antologia reúne os principais nomes da literatura de terror nacional

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Narrativas do Medo irá ganhar um segundo volume no próximo mês, a antologia que tem como proposta reunir os principais autores nacionais de terror da atualidade desta vez traz 29 contos que prometem arrepiar os leitores com histórias repletas de assombrações, rituais, criaturas demoníacas, assassinos, monstros, múmias e infernos psicológicos.

Confira a lista completa dos contos que compõe a antologia:

106 VEZES, de Rô Mierling
CARTAS MARCADAS, de Cesar Bravo
TIQUE-TAQUE, de Cláudia Lemes
CABEÇA-CHATA, de Vitor Abdala
UM OLHAR PARA RECORDAR, de Ademir Pascale
O TURNO DO BACURAU, de Hedjan C.S
CLARICE, de Rodrigo Ramos
OLHA O QUE EU FIZ PARA VOCÊ, de Juliana Daglio
HOMEM GANCHO, de Aislan Coulter
AS VISÕES DE KLINTY, de Wolf Warren e Paulo G. Marinho
LADO SOMBRIO, de Angelo Arede
ALEXIA, de Melvin Menoviks 
MALIGNA, de Soraya Abuchaim 
CHUTA QUE É MACUMBA, de Flávio Karras
O SUSSURRO DO DEMÔNIO, de Glau Kemp 
AQUELA ANTIGA BR, de Vinícius Lisbôa
SÚCUBO, de Alexandre Callari
A MÚMIA DO IMPERADOR, de Paul Richard Ugo
CHUPA-CABRAS, de Rodrigo de Oliveira 
MAR DE LUA, de Márcio Benjamin
MR. ORANGE, de Geraldo de Fraga
IARA - A SEREIA DO PANTANAL, de Petter Baiestorf
NON PLUS ULTRA, de Felipe Folgosi
E O QUE VOCÊ FEZ, de Tiago Toy
RASGOS, de Oscar Nestarez 
FLORENÇA E A MÁQUINA, de Fábio Fernandes
A MÃO, de Kapel Furman
OS CRIMES DE DEZ PRAS DUAS, de Duda Falcão
BALAS PERDIDAS, do delegado Nestor Ramirez 

Publicado pelo selo Neblina Negra e organizado por Vitor Abdala, Narrativas do Medo 2 é recheado com as ilustrações sombrias e arrepiantes de Marcel Bartholo, além de contar com uma epígrafe do autor Jhefferson Passos. O livro chega às livrarias em abril.

Entrevista da BBC com John Fowles, autor de O Colecionador, em Outubro de 1977

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A Darkside Books lançará no próximo mês a edição definitiva de O Colecionador, clássico de John Fowles, e em parceria com a Biblioteca do Terror publica agora a versão traduzida de uma das entrevistas mais completas do autor cedida à BBC em 1977. 

Essa entrevista fornece ao leitor uma nova perspectiva para analisar a obra do autor, Fowles conta detalhes pessoais sobre sua infância e suas motivações, explicando sobre a origem de suas críticas socias, sempre presentes em seus livros e ao contexto ao qual está inserido como autor. John Fowles faleceu aos 79 anos em 5 de novembro de 2005, decorrência de uma insuficiência cardíaca.

No dia 23 de outubro de 1977, John Fowles foi entrevistado por Melvyn Bragg para o programa de televisão da BBC “The Lively Arts”. O que aparece a seguir é uma transcrição.

MELVYN BRAGG INTRODUÇÃO:
John Fowles é um dos poucos autores britânicos tratados com respeito pela imprensa e com alegria pelo grande público. Poucos são os autores de ficção séria que vendem milhares de livros capa dura pelo país. Menos ainda são os que vendem centenas de milhares na América. Seu novo livro é um romance intitulado Daniel Martin. É seu quarto livro e este também será, de acordo com os editores aqui e afora, um tremendo sucesso na lista dos mais vendidos, além de tomar lugar de destaque entre as páginas dos críticos mais sérios.

O Colecionador foi o primeiro romance de John Fowles. Ele foi adaptado para o cinema num filme no qual Terence Stamp faz o papel do jovem cuja a obsessão por colecionar borboletas vem acompanhada de uma obsessão por capturar e manter em cativeiro uma jovem de Hampstead. Este é também o lugar onde John Fowles estava morando na época.

Mas o livro que o tornou uma celebridade literária internacional foi The Magus. Ele vendeu surpreendentes 4 milhões de cópias ao redor do mundo. Ele o escreveu diversas vezes por um período de nove ou dez anos, enquanto estava em Hampstead e arredores entre seus 20 e 30 anos. Essa é uma história sobre as provações e tormentos vividos por um jovem professor em uma ilha grega nos anos 50. Por razões cada vez mais misteriosas, ele passa por uma série de suplícios e armadilhas e, assim como em todos os romances de John Fowles, a metafísica e as reflexões estão dispostas de maneira tão densa quanto o enredo dramático. 

Fowles tem 51 anos, ele é casado e vive com sua esposa numa bela casa em Lyme Regis, com vista para Cobb, que é onde ocorre cenas notáveis de outro romance seu, A Mulher do Tenente Francês. O jardim reflete sua paixão por botânica e sua casa é tão grande e ampla quanto seus livros.

MELVYN BRAGG:
Você disse uma vez, creio eu, que escritores tornam-se escritores muito jovens, quer saibam disso ou não. É possível ser específico de alguma forma sobre como você se tornou escritor?

JOHN FOWLES:
Eu falei isso de forma geral… como me sinto quanto a isso se aplica a qualquer escritor. O que me interessa neles como espécie é a obsessão pelo ofício, o fato de que escritores tem que estar sempre escrevendo. Acho que isso provavelmente vem da sensação de que algo é irrecuperável. Na vida de todo escritor há um sentimento de perda maior do que na das outras pessoas. E acredito que eu deva ter sentido isso. Eu não sabia disso acho que até dez ou quinze anos atrás. Na verdade, você precisa escrever livros para começar a entender esse sentimento. Existe um tipo de regresso nos livros… uma tentativa de retornar a um mundo perdido.

BRAGG:
Já que estamos falando disso, o que você poderia dizer sobre a sua infância que o levou ou o que levaria um futuro biógrafo a dizer: ah, sim, nessa época ele já era isso, ou aquilo, ou aquilo outro?

FOWLES:
Eu cresci em Leigh on Sea, uma cidade suburbana, parte de Southend on Sea. Eu levei uma vida normal de qualquer criança suburbana de classe média, mas o que me impediu de me tornar pouco a pouco um adulto suburbano normal de classe média foi meu amor pela natureza. Lembro que desde bem pequeno eu sempre amei coisas verdes, amava ir para o interior. Eu era sortudo. Tinha um tio que fazia História Natural e um primo que também. Esses foram os pontos altos dos meus primeiros dez anos, sair para caçar borboletas, ou observar pássaros, ou fazer caminhadas. Foi aí que Hitler me ajudou muito, porque tivemos que evacuar a cidade e ir para Devon, onde vivi cinco anos numa vila remota. Essa foi uma experiência que me moldou. Eu era uma criança solitária, mas a natureza sempre foi minha amiga, mais do que outros garotos.

BRAGG:
Quando você diz que era solitário, você acredita que esse tipo de solidão foi enriquecedora por um lado e, por outro lado, um bom treinamento para a vida solitária de um escritor?

FOWLES:
Creio que o isolamento é um sinal muito muito forte de um futuro escritor, a inabilidade…

BRAGG:
Ou solidão, qual deles? Isolamento ou solidão? Porque você pode ser solitário sem estar isolado.

FOWLES:
Sim, você está certo em fazer essa distinção. Acho que a sensação de uma solidão particular é mesmo uma definição melhor. Eu não estava isolado de fato, é claro. Eu ia pra escola e tudo o mais. Só que hoje eu acho que se me mostrassem uma turma cheia de crianças e me pedissem pra apontar os futuros escritores, eu provavelmente procuraria pelos inarticulados. Acima de tudo, por aqueles que não se dão bem sob nenhuma circunstância, pelos que fogem de uma discussão e depois inventam um novo cenário pra essa discussão que acabou de acontecer. É importante para um escritor viver em dois mundos. E eu diria que isso é um fator determinante… a inabilidade de viver na realidade, então você precisa escapar para mundos imaginários. Diria isso sobre todo tipo de arte, na verdade, mas sobretudo dos escritores.

BRAGG:
Esse é você agora, em 1977. Você lembra de sentir-se assim quando tinha 15 ou 16 anos?

FOWLES:
Não, de forma alguma.

BRAGG:
Porque você você foi representante de sala na escola, bom no críquete, esse tipo de coisa, o que me parece…

FOWLES:
Sim, sim. Eu era uma criança dividida, certamente. Quero dizer, eu era muito bom no críquete e adorava o jogo. Eu ainda adoro. Assim, você sabe, quando tem uma partida passando, ninguém faz nada aqui em casa. Mesmo assim, atingi o auge da minha carreira no críquete… uma vez quando peguei a segunda bola do Leary Constantine num mergulho. Sabe, acho que depois disso não dava pra progredir muito mais. Aquele tipo de escola pública e o First Eleven cricket, que era pra onde eu ia durante a guerra, tinha um número bom de jogadores profissionais jogando contra você, era maravilhoso.

BRAGG:
Há essa, imagem não somente de escritores ingleses do século XX, de que quem frequenta a escola pública a odeia, se revolta contra ela, e se torna uma vítima desnecessária dela – pelo menos do ponto de vista deles -, em vez de ser bom no que a escola espera que eles sejam. Isso aconteceu com você também, ao menos em parte?

FOWLES:
Eu não era feliz, ao menos não nos primeiros dois anos na escola pública. Passei pela experiência de reclusão, mas aí acho que acabei fazendo parte do sistema, porque você sabe como as escolas públicas são boas em fazer lavagem cerebral nos garotos. Eu certamente passei por uma. Os representantes de sala naquela época tinham um poder extraordinário. Eu era responsável pela disciplina de 600 garotos, então todos os dias eu tinha que organizar patrulhas… sabe, pra pegar os meninos que estavam do lado de fora depois do sinal e tudo o mais. Todos os dias eu fazia um julgamento, onde eu era tanto o juiz quanto o executor. É horrível agora quando eu… eu odeio encontrar algum ex-aluno daquela escola, porque fico pensando, será que eu já bati nele?

BRAGG:
Só que na época você se sentia culpado. Você achava que era assim que as coisas eram?

FOWLES:
Eu me juntei ao sistema. Mais uma vez a guerra me ajudou nisso, porque eu fui direto para a Marinha Real. Deixei de ser um pequeno líder na escola para ficar na base da cadeia na Marinha, e eu ressentia disso compreensivelmente. A Marinha me ajudou a descobrir quem eu era, alguém com um ódio profundo por qualquer tipo de autoridade, qualquer tipo de disciplina imposta. Acredito de verdade que eu deixei pra trás toda aquela história da escola pública naqueles dois anos. Não dá pra deixar essas coisas pra trás imediatamente, mas pouco depois, com certeza eu me sentia uma pessoa diferente quando terminei meus estudos em Oxford.

BRAGG:
Na Univesidade de Oxford, você lia?

FOWLES:
Eu lia francês.

BRAGG:
Você começou a escrever em Oxford, ou sua carreira de escritor já tinha começado na escola?

FOWLES:
Não, não, não, isso foi depois. Acho que talvez no meu último ano em Oxford, eu estava timidamente tentando escrever poesia na época.

BRAGG:
Sim.

FOWLES:
Eu estava muito mais envolvido com meu pequeno grupo de amigos na faculdade, jogando críquete, bebendo, fazendo botânica ou algum trabalho, naquele tempo… nós tínhamos três anos sem exames. Você só precisava fazer a prova final, o que quer dizer que ninguém fazia nada até os últimos seis meses daqueles três anos.

BRAGG:
Então esses três anos em Oxford foram de muita reflexão e exploração dos seus interesses pessoais, não é?

FOWLES:
Com certeza. Você está desdenhando demais disso.

BRAGG:
Não estou, não. Eu acho que é muito…

FOWLES:
Na verdade, esses anos foram valiosos para descobrir ou colocar mais em foco o que você é. Eu era muito mais confuso com uma personalidade dispersa do que eu…

BRAGG:
Eu acho que preciso me corrigir, porque eu não desdenho disso de forma alguma, se a pessoa tem essa oportunidade, que eu também tive. Eu tirei três anos de licença para reflexão, o que é uma forma maravilhosa de passar esses três anos.

FOWLES:
Certamente, gostei da forma como você disse isso. É isso que eu detesto na Oxford moderna, sabe. Estou falando da pressão que põem pra você conquistar algo, o que está destruindo o valor maior do sistema de Oxford e Cambridge… o ócio, o não saber para onde você está indo.

BRAGG:
E você saiu de Oxford e acabou, de certa forma, fazendo parte do tradicional… não estou desdenhando, mas descrevendo precisamente… do tradicional depósito de graduados de Oxford que não sabem o que querem fazer. Eles meio que acabam indo todos dar aula ou algo assim, não?

FOWLES:
Sim.

BRAGG:
Na sua geração?

FOWLES:
Eu fui dar aula por um ano numa universidade francesa, o que soa muito pomposo, mas eu era só um tipo de assistente com mais autoridade. O que também foi uma experiência interessante, porém solitária, mas me permitiu passar um ano numa cidade provinciana da França.

BRAGG:
Onde ela ficava exatamente?

FOWLES:
Poitiers, e eu fiz amigos franceses. Outra coisa sobre a minha geração, claro, é que por causa da guerra, o exterior só surgiu depois do que pra muita gente. Eu tinha um tipo de caso de amor com a França, o qual eu nunca superei e ainda tenho. E de lá, eu podia ir para Winchester e me tornar um professor de escola pública. Tive uma ou duas ofertas de trabalho bem interessantes, mas acabei aceitando outra mais peculiar. Eu queria trabalhar lá porque queria ficar no exterior por mais tempo. Fiquei dois anos lá.

BRAGG:
Isso foi na ilha de…?

FOWLES:
Spetses. E mais uma vez foi um caso de amor, só que com a Grécia, que era um país completamente diferente naquele tempo.

BRAGG:
Mas novamente foi solitário e com bastante tempo pra leitura.

FOWLES:
A gente lia bastante. No livro em que baseei isso tudo, The Magus, havia apenas um inglês na escola… na verdade havia sempre dois ingleses… e eu fiz um grande amigo pra vida inteira lá. E você sabe quando uma pessoa faz amigos gregos.

BRAGG:
Depois disso, você sentiu que precisava tentar ir para outro lugar?

FOWLES:
A Grécia foi o que me levou a querer escrever. Eu escrevia um pouco lá. Acabei voltando pra Inglaterra e hoje posso dizer que tomei uma ou outra decisão inteligente como escritor. Ou seja, aceitei trabalhos ruins quando me ofereceram melhores, mas ainda acho que…

BRAGG:
Por que você acha que isso é inteligente?

FOWLES:
Porque se você vai se tornar um escritor, você precisa pegar o tipo de trabalho que não exige muito de você. Escrever livros é um negócio que exige demais do seu tempo e do seu psicológico. Eu não acredito que um bom professor tenha grandes chances de ser um bom escritor. Um mau professor, talvez. Porque ele não estaria doando tanto de si em sala, além da simples questão de tempo. Lecionar é útil, claro, porque te permite algum tempo livre.

BRAGG:
Sim, então quais trabalhos ruins você aceitou?

FOWLES:
Lecionei por um ano numa escola para adultos em Hertfordshire, Ashridge. Novamente, foi interessante porque eles estavam fazendo cursos lá onde administradores e oficiais do comércio da união se encontravam. Essa foi a primeira vez que eu conheci mesmo socialistas e ouvi a linha socialista sendo apropriadamente aplicada.

BRAGG:
Isso te educou sobre política? Digo, mudou sua ideia de política?

FOWLES:
Não sou uma pessoa muito política, na verdade. Uma das minhas teorias é de que os problemas que o mundo está enfrentando agora não podem ser resolvidos politicamente. Eu gostaria muito mais de ver uma ocupação pelos sociólogos e biólogos. Creio que estamos vivendo uma crise biológica e não acho que os termos da política contemporânea vão ao encontro da situação atual, de forma alguma.

BRAGG:
Crise biológica no sentido de...?

FOWLES:
No sentido de superpopulação.

BRAGG:
Recursos naturais…

FOWLES:
Recursos naturais, poluição e todo o resto.

BRAGG:
Você não acredita que eles estão sob controle?

FOWLES:
Eu não acredito que eles estão sob controle. Não vejo como eles podem ficar, quando a questão é discutida noventa por cento das vezes em termos de trabalho e capital, de partidos Conservador e Trabalhista. Os franceses tem um grupo novo. Eles se autodenominam “les Verts”. Uma analogia aos “les Rouges”, os Vermelhos. Agora, se nós tivéssemos um partido verde nesse país, eu me uniria a eles na hora. Assim, por um país ecologicamente e cientificamente fundamentado. Acho que apenas os cientistas podem realmente governar a sociedade hoje em dia e tomar decisões sobre o futuro.

BRAGG:
Você acha que há chance de chegar o momento em que eles terão a oportunidade de fazê-lo?

FOWLES:
Filósofos se tornarem reis? Não, não até que haja um banho de sangue espantoso e uma catástrofe universal.

BRAGG:
Mas esses trabalhos que você teve na Inglaterra foram essencialmente como professor?

FOWLES:
Sim, sim. Dei aula por muitos anos em Hampstead, no curso de secretariado… para estudantes estrangeiras… o que eu gostei bastante. Mas você ainda não viveu até que tenha dado aula pra meninas siamesas ou lido Macbeth com elas. Lembro de lermos Romeu e Julieta, e elas não entendiam o que era tão trágico em Romeu e Julieta, porque afinal eles tinham desobedecido seus pais e mereciam tudo que aconteceu com eles. Mas era divertido.

BRAGG:
Quando você disse que esses trabalhos não tomavam muito do seu tempo, ou tomavam? Eles eram…

FOWLES:
Bem, eles tomavam, mas no sentido de que eu sabia que não era isso o que eu realmente queria estar fazendo. Eles tomavam tempo, mas eu descobri que podia me desligar facilmente deles quando chegava em casa. Escrevi O Colecionador durante as noites. Pra falar a verdade, o escrevi em um mês durante as férias. O primeiro rascunho. De certa forma, essa pressão é boa para um jovem… você sabe como jovem escritores pensam, “ah, se eu tivesse mais tempo… tempo pra pensar”. Mas de certa forma acho que esse tipo de pressão é boa para um jovem escritor.

BRAGG:
Então você começou a escrever com vinte e poucos anos, é isso…?

FOWLES:
Acho que foi… sim, acho que foi por aí.

BRAGG:
Mas não foi até você chegar quase no final dos trinta que seu primeiro livro foi lançado?

FOWLES:
Sim.

BRAGG:
Como foram esses dez anos em que você escrevia, mas não era publicado? Você ficava num estado de expectativa, ou frustração, ou ambos, ou o que?

FOWLES:
Acho que principalmente frustração, sim. Não era como se eu estivesse enviando livros e sendo rejeitado. Eu apenas sabia que eles não eram bons o suficiente. Em parte, eu também ainda estava preso ao The Magus nesse período. E eu sabia que ele não era tudo o que tinha que ser, então de novo eu passaria seis meses, então nove meses trabalhando nele, para novamente me ver derrotado e deixá-lo de lado. Escrevi O Colecionador mesmo pra tentar sair daquele atoleiro em que eu me encontrava por causa do The Magus.

BRAGG:
Você disse que o escreveu em um mês?

FOWLES:
Escrevi o primeiro rascunho em um mês, sim, depois revisei ele consideravelmente. Não levei um mês, sabe, entre o começo e o final do meu trabalho.

BRAGG:
Foi adaptado instantaneamente para o cinema?

FOWLES:
Não consigo lembrar o tempo exato que levou… mas sim, foi bem rápido.

BRAGG:
E isso permitiu que você encerrasse sua carreira no magistério, não?

FOWLES:
Sim, acho que vendi os direitos por 5.000, o que imagino ser uma barganha, mas nunca me arrependi de pegar esse dinheiro. Realmente me libertou do magistério.

BRAGG:
Você desistiu de dar aulas instantaneamente e disse: OK, é isso aí, vou ser um escritor em tempo integral?

FOWLES:
Sim, quase isso.

BRAGG:
E o que isso envolveu? Você fugiu pro interior ou ficou…?

FOWLES:
Não, a gente continuou morando em Londres por, não lembro exatamente agora, uns dois ou três anos. E então comecei a sentir que como eu não gostava da vida literária e tudo que ela envolve, eu não precisava gostar mais de Londres. Não por causa de Londres, mas porque eu não gosto mais de cidades grandes. E também me senti cada vez mais atraído pelo interior, assim, um dia nós simplesmente levantamos e começamos a procurar uma casa. Não é porque um ou outro ancestral meu eram pessoas do oeste do país. Por mais que eu sinta que meu lar é a Inglaterra, certamente é no Oeste da Inglaterra. Parcialmente é por conta dos anos que passei em Devon durante a guerra. Os ancestrais do meu pai vieram da divisa de Somerset/Dorset. Tenho uma avó da Cornualha. Tem algo a ver com o temperamento do Oeste da Inglaterra que sempre me atraiu.

BRAGG:
Você veio pra cá principalmente por causa do cenário ou construiu uma vida social, uma vida anti-literária aqui, ou…?

FOWLES:
Não, de forma alguma. Nunca precisei de outros seres humanos, pra ser sincero, o que não significa que não gosto de encontrá-los às vezes. Mas preciso menos de outras pessoas do que a maioria. Tem muito mais a ver com coisas misteriosas, como o clima, o tipo de precocidade do Oeste da Inglaterra, que é algo que sempre amei. O fato de que a primavera começa aqui um pouco mais cedo do que no resto do país, e eu amo o mar. Não acho que poderia viver hoje sem o barulho do mar. Sou uma dessas pessoas misteriosas que amam litorais, praias, beira-mar, e se me pedissem para descrever um lugar perfeito pra viver, minha única exigência é que você sempre possa ir dormir ao som do mar.

BRAGG:
Em The Magus, tem muitas… assim como em vários outros livros seus, acredito que na maioria, mas se destaca particularmente em The Magus… tem sempre brincadeiras  acontecendo. The God Game era o título original ou um possível título para ele…?

FOWLES:
Sim.

BRAGG:
E as brincadeiras são variadas e criativas…mas também são todas sobre a mesma coisa. Seja lá onde as pessoas estão… se é verdade ou mentira, e se as mentiras estão mais próximas da verdade, e do que espera-se que seja a verdade, e a diferença entre verdade e mentiras. Também a diferença ou comparação entre a verdade e a ficção?

FOWLES:
O caminho para o romance está aí. Não chamaria isso de uma receita para escrever um romance. Talvez seja porque eu sou muito apegado à cultura francesa… li bastante sobre a nova teoria do romance… pode ser por isso que tenho mais consciência desse tipo de ficcionalidade ou de ficção do que a maioria dos escritores. Isso não quer dizer que as verdades apresentadas através do artifício da ficção são necessariamente verdades artificiais. Talvez elas sejam verdades “sentidas”. Num romance que acabei de escrever, uso a expressão “sensação certa”. De certa forma, um romance é sobre como ter essa sensação certa. Acredito que as pessoas são favoráveis a esse tipo de verdade. Elas podem não analisar tanto isso quanto o escritor o faz, mas não acho que elas exijam uma verdade de que seja discutivelmente verificável. Acho que elas estão preparadas para sentir ao longo do livro. A maioria dos escritores que admiro se comunicam de fato através de sensações… Lawrence, Hardy e outros.

BRAGG:
Por que você quer brincar tanto com o leitor, dizendo uma coisa pra ele e depois falando: “Não, isso não é verdade”? Em The Magus, Conchis está constantemente dizendo…

FOWLES:
Isso é verdade sobre The Magus, que foi deliberadamente concebido como um livro-brincadeira, ou de brincadeiras se preferir, na sua fase final. Eu não considero que as brincadeiras que fiz em A Mulher do Tenente Francês sejam isso mesmo. Veja bem, dei dois ou três finais possíveis. Em um ponto eu saí do tipo de ilusão da ficção para entrar em outro tipo de ilusão. Eu não sinto mesmo que isso é uma brincadeira. Eu penso é que são verdades literárias que podem ser apresentadas.

BRAGG:
E essas verdades literárias tem a ver com a sensação certa?

FOWLES:
Algumas verdades literárias são sobre a natureza da ficção. As que eu acabei de mencionar em A Mulher do Tenente Francês são, a meu ver, verdades sobre a natureza artificial da ficção. Mas isso nada tem a ver com outros tipos de verdades no livro, que são realmente sobre sensações e que, claro, expressam opiniões sobre a vida. Eu me considero um socialista, mas não penso que um romance é o melhor lugar para fazer propaganda explicitamente socialista. O melhor lugar pra isso é num ensaio, ou num livro de não-ficção, ou, obviamente, no envolvimento de fato na política.

BRAGG:
Você acredita que seu socialismo aparece nos seus livros apesar de…?

FOWLES:
Isso eu não sei. Não sei mesmo, mas fiz um tipo de resolução há muitos anos atrás de que não colocaria muito das minhas opiniões políticas nos meus livros. Se elas entram, são filtradas e…

BRAGG:
Mas você coloca muito… me parece que você coloca muito das suas opiniões filosóficas pessoais nos seus livros.

FOWLES:
Sim, eu coloco. Sim, sim.

BRAGG:
Por que então o romance tem mais capacidade de conter opiniões filosóficas do que políticas?

FOWLES:
Pois bem... eu faço isso, mas é provável que esteja errado, porque eu não penso que filosofia séria alguma poderia ser apresentada através de um romance. Não vejo como isso seria possível. Opiniões sobre como a vida funciona e sobre o tipo de importância que você dá para as diferentes formas de viver e todo o resto. Essa é minha opinião pessoal como escritor. É função do leitor, claro, aceitar ou rejeitar.

BRAGG:
Quão grande…?

FOWLES:
Se você pensar em Jane Austen, não há valor filosófico algum em nenhum de seus trabalhos. Mas sabemos que ela se colocava numa posição moral centralizada, que foi de grande importância para a literatura inglesa e, eu diria, para a vida inglesa. Informou muito sobre a vida da classe média na Inglaterra.

BRAGG:
Você está constantemente se referindo a outros escritores, muitos deles ingleses. Você se vê como parte de um grupo e de uma tradição de escritores?

FOWLES:
Me vejo bastante, apesar de muitos críticos me dizerem que não sou, mas muito da tradição inglesa, apesar de ter sido muito mais influenciado pela cultura francesa do que a maioria dos escritores ingleses. Não existem escolas modernas para escritores ingleses. Creio que esse é um dos problemas do romance inglês. Vivemos tão distantes, estamos desconectados. Também não temos nenhum tipo de apoio das universidades. Não acho que está tudo errado, sabe, a respeito do suporte que as universidades americanas dão à ficção e aos problemas da ficção. E parte do trabalho teórico americano sobre ficção é bom. Não concordo com tudo, mas pelo menos ele existe e está sendo debatido. Aqui você tem que estar morto para alguém te notar de verdade. Minha parte inglesa entende isso. É um bom princípio dizer isso, até uma pessoa morrer e então ser esquecida ou ignorada, mas não ajuda o romance em geral.

BRAGG:
Você sente que apesar de viver em Lyme Regis, você é como um exilado aqui?

FOWLES:
Por muitos anos me senti exilado da sociedade inglesa, talvez particularmente da classe média inglesa. Nunca me senti exilado da Inglaterra em si, do seu clima, do seu interior, suas cidades, seu passado, sua arte, mas sim, sim, me sinto exilado. Penso que é uma boa coisa para um escritor. Se um escritor não está em exílio, suspeito que ele está com um problema sério.

BRAGG:
Por que?

FOWLES:
Porque penso que se você se identifica totalmente com a sociedade em que vive, deveria estar outra carreira, na qual seria ativo na sociedade. Não acho que teria aquele distanciamento essencial, a habilidade de julgar e criticar a sociedade, porque outra função importante do romance, como sabemos, é corrigir a sociedade, criticá-la.

BRAGG:
Você acha que o romance tem esse poder ainda hoje?

FOWLES:
Ah, sim… tenho certeza. Mas se os romances contemporâneos estão realmente fazendo isso, aí já não sei. Tenho certeza de seu poder para fazê-lo, sim. Por exemplo, Solzhenitsyn obviamente o fez há pouco tempo com a Rússia, acredito que Bellow também deva ter feito ou Herzog, na América. Joe Heller fez isso na América. Não acho que está além da capacidade do romance. Talvez esteja além da capacidade dos escritores ingleses contemporâneos.

BRAGG:
Já pensou em se mudar para o exterior, para então sentir-se em exílio da britanicidade? Já pensou em ir escrever no…?

FOWLES:
Não, porque como eu disse, me sinto exilado de vários aspectos da sociedade inglesa, mas não da Inglaterra. Assim como vários autores bem sucedidos, em termos financeiros, já pensei em fazer isso por causa da situação do imposto. Mas como sou um socialista e acredito que os ricos devam pagar mais impostos de qualquer forma, vejo como seria errado. Também acredito que escritores, mais do que outros artistas, deveriam viver na cultura onde está seu dialeto, onde sua língua é falada. Não acho que ajuda o escritor, exceto em um ou outro caso excepcional, se exilar fisicamente de sua sociedade. Viver em um ambiente com outra língua, outra cultura e tudo o mais.

BRAGG:
Você já disse que um dos temas em Daniel Martin, que é seu livro mais recente, é essa britanicidade. O que você quer dizer com isso?

FOWLES:
Várias coisas, na verdade. Mas suponho que principalmente esses jogos de raramente dizer o que você realmente quer dizer, uma certa inexperiência e inocência, não importa o quão sofisticados possamos parecer, um certo ar de superioridade ou seja lá o que nos distingue dos galeses, escoceses, australianos e americanos.

BRAGG:
Quando você falou de jogo, estava falando de jogos como críquete?

FOWLES:
Estou falando mais ou menos sobre o inglês classe média. Não, eu falei jogos no sentido do Stephen Potter, a maneira como a maioria das conversas na classe média… ninguém está anotando um placar, mas os ingleses são cautelosos quando dizem o que sentem e o que querem dizer de verdade. Com isso quero dizer...

BRAGG:
Você fala da classe média?

FOWLES:
Posso detectar traços disso em outras classes inglesas, mas acho que é uma coisa particular da classe média. Pra mim, isso é uma coisa que nos distingue claramente da América. Todo inglês que vai pra América tem problema com ironia. Tem vários tipos de coisas irônicas que você pode dizer para outro inglês, que o americano, mesmo um americano inteligente, não vai entender. Você precisa dizer diretamente o que quer lá para se comunicar.

BRAGG:
Você acha isso restritivo?

FOWLES:
Estranhamente, eu tanto gosto como desgosto disso. A América por alguns meses é maravilhosa. As pessoas dizem diretamente o que elas querem dizer, são francas, honestas, objetivas, e aí você começa a sentir falta da desonestidade inglesa, das brincadeiras. Lembro de três semanas bem desagradáveis em Hollywood uma vez, em que fiquei cansado dessa objetividade americana. Por acaso, alguém me apresentou ao Peter Ustinov. Passei uma noite sozinho com ele e foi simplesmente incrível. Não foi porque ele era engraçado, um grande contador de histórias, mas por encontrar outra mente que entendia todos os fatos sobre as brincadeiras e esses jogos ingleses.

BRAGG:
Em The Magus, outro ponto que você levanta muito é a crença dentro do livro, que pode ou não ser sua, não sei, da importância do imprevisto. Você repete constantemente essa palavra. Você a usa em A Mulher do Tenente Francês também, com muita liberdade… mas você usa. Vamos falar do The Magus, você a usa muito lá. O que você quer dizer com ela?

FOWLES:
Suponho que venha do lado da história natural da minha vida. Se você observar a natureza de perto, não pode deixar de notar o papel que o imprevisto tem no comportamento diário do pássaro mais comum, dos animais e das plantas e outros. Percebo que minha escrita é um processo cheio de imprevistos, não do sentido de ser arriscado ou perigoso, mas sim no de que… o acaso tem um grande papel nela. Não sei de onde vem as boas ideias. Não sei como alguns dias as palavras vem certinhas e em outros elas não vem. Não sei porque os personagens não fazem o que você planejou. Parece bobo. Você quem inventou o personagem. Ele deveria ser sua criatura, mas como você bem sabe, tem horas misteriosas nas quais os personagens dizem, “eu não vou falar assim. Você pode ter planejado isso, mas eu não vou fazer.” Você ignora essas situações, nega sua existência a muito custo. Pra mim, é uma simples questão de imprevisto. Existe um mistério aí, sabe.

BRAGG:
Por que você é tão fascinado em promover a ideia de que a noção de mistério deva ser cultivada?

FOWLES:
Por mais estranho que pareça, não acredito que a certeza traz felicidade para o ser humano. Uma evidência muito forte de que nos falta mistério é o enorme sucesso de um gênero literário, ou seja, das histórias e thrillers de mistério, de detetive, de espionagem. Como eu disse, esse tem sido o gênero mais bem sucedido comercialmente do último século. Acredito que isso se deve muito à ilusão de que a ciência resolveu todos os nossos problemas, enquanto a maioria das pessoas estão vivendo suas vidinhas e consciente ou inconscientemente sabem que muito do que acontece simplesmente não é explicado. E penso que todo tipo de arte está presa à (1) ideia do desconhecido e (2) à ideia do inconhecível, do impossível.

BRAGG:
Como você…?

FOWLES:
O mistério pra mim tem energia, assim como respostas absolutas e estáveis destroem algo, elas são um tipo de prisão, apesar de obviamente haver áreas nas quais você precisa saber a resposta.

BRAGG:
Você disse que Daniel Martin foi um ponto de partida pra você… vai continuar? São temas recorrentes que já te interessaram antes, mas em que sentido você diz que foi um ponto de partida?

FOWLES:
É um pontinho de partida no sentido em que lida com o presente, é mais próximo de mim do que…, apesar de eu não ser Daniel Martin, mas é certo que é mais próximo de uma parte minha e o estilo, suponho, é também mais realista. Não tenho certeza se vou continuar com isso, mas gostaria… um romance que sempre me assombrou foi A Educação Sentimental de Flaubert. Foi um pouco, ficou um pouco atrás de A Mulher do Tenente Francês e está um pouco atrás dessa também… no sentido de ser um romance social documentário significativo. Digo, a tentativa de retratar uma época ou aspectos de uma época.

BRAGG:
Falando de tal época, então, numa época em que a ciência é… como você mesmo disse que os únicos capazes de resolver os problemas do mundo são os cientistas, onde entraria a arte, bruta como é?

FOWLES:
Eu começaria humildemente pelo entretenimento. Nunca vi nada de errado com a noção de arte como uma maneira de preencher o tempo, ocupá-lo. O que me parece ter dado errado com os romances britânicos e americanos é essa noção de que o escritor tem que escrever para a elite intelectual. O que os escritores modernos podem observar com grande tristeza é o relacionamento que os escritores vitorianos tinham com seu público. Você sabe, quando um escritor vitoriano diz, “estou escrevendo para um grande público”. Eu quero atrair um grande público e penso que já avançamos demais nessa de sermos herméticos, entende. O romance para um tal leitor profissional.

BRAGG:
A televisão tomou pra si essa ambição de atrair o grande público.

FOWLES:
Sim, sim, mas isso não é motivo para o livro dizer, “tudo bem, então estou livre dessa tarefa, posso cuidar agora da minha própria elite.” Parece que eu estou tentado a escrever mais elaboradamente e a usar, pela falta de uma palavra melhor, um estilo mais avant garde do que eu geralmente uso, quero dizer, isso é… Eu vejo um certo dever socialista no escritor, se você adere aos princípios do socialismo, você não deveria tentar se afastar do grande público. Se você puder atraí-lo, se puder escrever pra ele, então esse é o seu dever.

BRAGG:
Onde entra esse “dever”? Você disse que o escritor se encontra em algum lugar entre um pastor e um professor. Essa afirmação soa bem...

FOWLES:
Claro que não posso negar que tem coisas que eu gostaria de ensinar às pessoas. Pode ser apenas sobre sensações, mas sou um escritor de opinião, sim.

BRAGG:
Que tipo de coisas você gostaria de ensinar às pessoas?

FOWLES:
Na falta de palavra melhor, humanismo, sim. Penso que mais humanismo, mais inteligência.

BRAGG:
O que você quer dizer com humanismo?

FOWLES:
Bem, é uma palavra difícil de definir, mas suponho que tenha um significado simples, como respeito por outros seres humanos. Assim como a tradição liberal como um todo, ou, para usar o termo do século XVIII, a tradição iluminista da vida européia. Gosto mundo da literatura iluminista, do iluminismo europeu. Seja lá o que tenha sobrevivido daquela para a nossa época.

BRAGG:
Você acredita que é importante para as pessoas… tanto as pessoas quanto os personagens nos seus livros… entenderem o máximo possível?

FOWLES:
Sempre gosto de ter um personagem nessa situação no meu livro, porque acredito que dê ao livro uma certa ulterioridade. Um tipo de arquétipo que uso para associar ao livro é aquele da jornada. Essa, a história de aprendizagem na qual o personagem principal ou central tem que aprender algo, traz uma certa energia para a narrativa, e também acaba pescando o leitor, já que a maioria deles também quer aprender algo. Então é um tipo de mecanismo. Acho que é um mecanismo no livro.

BRAGG:
Você falou sobre narrativa. Acredita que ser um contador de histórias, para ser modesto, é algo que vem naturalmente ou você precisa trabalhar isso e tentar fazer a narrativa…?

FOWLES:
Não, eu não preciso trabalhar nisso, porque acontece que ao longo da minha vida, desde que eu era garoto, eu amava histórias mais do que qualquer coisa. Muito mais do que a qualidade, a sensação, ou o estilo. Eu amava a narrativa pura e simples. É por isso que eu disse várias vezes que considero Daniel Defoe meu avô na ficção inglesa, porque amo a legibilidade do Defoe, a maneira como ele te atrai. Não sei porque eu tenho um talento, se é que eu tenho, para contar histórias em particular. Não sei porque me atrai. Existem vários tipos de escritores que admiro no campo intelectual, George Eliot, por exemplo, mas nunca consigo me entender com eles porque sinto que a história, exceto em Middlemarch, de alguma forma não é poderosa o bastante. Existem poucos autores que conseguem escrever bem o suficiente em outras áreas, mas falham na história, que é o que me interessa. Virginia Woolf… consigo suportar a falta de habilidade narrativa dela porque ela é uma escritora excepcional de outras formas. Joyce, obviamente, mas não tem muitos. Isso me distancia bastante da escrita moderna, claro…

BRAGG:
Por que você acha que muito da escrita moderna perdeu interesse e energia pela narração...pela narrativa? Estamos sempre falando sobre a divisão entre a escrita moderna, que é constituída de poucas pessoas, você sendo provavelmente uma delas, que decide entre o que é visto por um pequeno grupo de literatos em Nova York e Londres como bom, coisa que não é de forma alguma amplamente divulgada, e o que é amplamente divulgado, esse grupo não considera bom de jeito nenhum. O bom e conhecido, o bom e popular… há um tipo de abismo entre os dois, não?

FOWLES:
Penso que os grandes intelectuais literários tanto de Londres quanto de Nova York perderam contato com qual deveria ser a função da literatura.

BRAGG:
Você acha que é por causa de Londres ou mais pela influência acadêmica?

FOWLES:
Veja bem, o mundo acadêmico não ajudou nem um pouco ao superglorificar o que, a meu ver, é pseudo intelectualismo, não é verdadeiramente intelectual. Tem o brilho do avant gardismo, experimentalismo, intelectualismo, o que você quiser… e acho que isso é uma traição dos vendedores. E também profundamente anti-socialista. O grande crítico literário desconhecido dos últimos 50 anos pra mim é George Lucaks, o húngaro. Ele tem defeitos, como todos sabemos, mas sua mensagem só não chegou ainda no oeste. Pra mim a mensagem dele não é fundamentalmente marxista. É mais humanista.

BRAGG:
Como você descreveria a mensagem dele?

FOWLES:
Acredito que, independente da sua visão política, o escritor não pode se deixar levar pela moda intelectual. Existe uma forma de contrato, do qual a gente estava falando agora pouco, entre o escritor e um público consideravelmente grande. Se o escritor usa um estilo experimentalista, técnicas experimentalistas, tudo bem, ele tem total liberdade de fazer isso, só acho que ele deve se perguntar, “eu estou fazendo algum bem com isso?” No geral, ele está ensinando o padre a rezar missa, mas tem essas outras pessoas lá fora que não conseguem apreciar esse tipo de escrita. Ele está perdendo elas completamente. Isso pra mim não é socialismo.

BRAGG:
Concordo.

FOWLES:
Isso não é humanismo. Não, vou te dizer o que eu acho terrível. É a relação entre a arte avant garde e uma certa vertente da Nova Esquerda. Sabe como é, essa arte experimental iconoclasta deve automaticamente ser de esquerda. Essa é pra mim uma das maiores ilusões do século. Não vejo como pode ser, porque não importa o quão contracultura seja, é fundamentalmente elitista. É hermético, é igual a todos aqueles movimentos do século XIX, simbolismo e os outros.

BRAGG:
Concordo com você nesse ponto. Também penso que o tom acadêmico na crítica e nas convenções de partido que dominam as resenhas no país e na América buscando coisas que se provem virtudes do passado, sejam elas do século XVIII ou XIX.

FOWLES:
Eles são donos de lojas. Você sabe, metade dos acadêmicos… críticos tanto na América quanto na Inglaterra… são donos de lojas. Eles fazem um negócio com alguém e se apegam a isso num grau que chega a ser absurdo. Nós precisamos muito de um novo Voltaire para…

BRAGG:
Zombar deles.

FOWLES:
Sim, para escrever um Cândido sobre eles, sim.

BRAGG:
Você gostaria de fazê-lo?

FOWLES:
Eu, infelizmente, não tenho essa perspicácia toda. Precisamos de um novo George Orwell, mas ele não está por aí, infelizmente.

BRAGG:
Quando você saiu do emprego e se tornou um escritor em tempo integral… a maneira mais fácil, você sentiu uma pressão ou se acomodou feliz e facilmente a isso?

FOWLES:
Muito, mas muito facilmente. Suponho que haja algo perverso e pagão em mim, mas eu nunca admirei muito trabalhar. Nunca vi muita virtude em fazer um trabalho que você não aprecia. Não considero escrever um trabalho, sabe. Me dá tanto prazer que até mesmo quando não estou indo bem, é prazeroso. Me dá muito mais trabalho viver quando não estou escrevendo.

BRAGG:
Como você faz com um romance? Você escreve todos os dias quando começa um livro?

FOWLES:
Não, não tenho uma rotina. Eu não escrevo se não sinto vontade, exceto durante uma fase, a última, quando você está revisando e precisa ser seu próprio disciplinador. Mas no rascunho inicial… acho difícil descrever. Você só sabe que vai fluir e aí trabalho pesado às vezes, quatorze horas por dia, ou algo assim, mas normalmente não tenho uma rotina fixa, um planejamento, nada disso.

BRAGG:
Você tem algum padrão de leitura ou você lê o que passar na sua frente?

FOWLES:
Não tenho nenhum, é a mesma coisa. Eu coleciono livros antigos, não por seu valor, não pela coisa da primeira edição, nada disso. Coleciono porque eu amo romances fora do padrão, memórias e peças também… o tipo de livros que a maioria das pessoas já esqueceu. Suponho que eu tenha uma boa coleção hoje em dia que nenhum outro colecionador de livros gostaria de ter. O que eu gosto em qualquer livro é esse jeito de máquina do tempo. Aquilo que te transporta de volta para a época em que se passava a história, o que quer dizer que eu gosto mais dos livros de memórias históricas. Amo a sensação de poder, de repente, viver há duzentos anos atrás. Julgamentos antigos, gosto muito de julgamentos de assassinato. Claro que eles também passam, às vezes, a sensação de estar numa refilmagem, de existir na mente de outras pessoas do passado.

BRAGG:
Você mencionou que não gostava em particular da vida literária de Londres. Você não gosta de parte alguma da vida literária? Ou ser uma figura literária é algo que te preocupa?

FOWLES:
Bem, na minha vida privada eu não sou uma figura literária. Nenhum dos meus amigos mais próximos são pessoas literatas. Depende muito do que você quer dizer com vida literária. Eu conheço muito bem um outro escritor, mas nós nunca discutimos livros, ou escrita, ou quase nada. Mas o circuito de coquetéis, festas de editores e todo o negócio, não, só não.

BRAGG:
Eu estava pensando aqui em algo que Daniel Martin diz no livro. Ele fala, “toda arte, da poesia mais bela até o show de strip mais furreca, tem a mesma cláusula escrita. Daqui em diante você irá se expor ao público, e irá sofrer tudo que isso pressupõe.”

FOWLES:
Sim, penso que isso é verdade.

BRAGG:
Bem, no seu caso, o que se expor ao público pressupõe?

FOWLES:
Principalmente o problema de expor a verdade, ou algo que seja razoavelmente verdadeiro. Porque assim como todo escritor, durante qualquer conversa ou situação, consigo também pensar em outras alternativas pra elas. Não sou um grande conversador, principalmente porque estou sempre construindo outras conversas além daquela que já está acontecendo e da qual eu faço parte.

BRAGG:
Que outra conversa você está construindo agora, além desta que estamos tendo?

FOWLES:
Bem, agora não estou, porque são condições bem difíceis. Estou falando de situações privadas, mais relaxadas. Porque quando se é um escritor, você constrói uma verdade melhor impressa, aquela que você pode revisar e revisar constantemente, mais do que numa conversa onde só se tem uma chance. Eu desconfio do diálogo falado no sentido ordinário, não artístico, da palavra. Nunca acho que consigo me expressar completamente numa conversa comum. Parcialmente, isso se deve ao fato de que criar romances é uma experiência rica e complexa. Eu penso que é impossível passá-la de qualquer outra forma mais breve que um romance.

BRAGG:
Você já pensou, quero dizer, você pensa no romance em comparação à poesia e a peças teatrais? Você acha que ele pode fazer coisas que outras artes não podem fazer?

FOWLES:
O romance, sim, penso que tem um território definido que outras artes literárias…

BRAGG:
É um tipo de comentário comum já muito batido, não é, o de que o romance está morto por causa da televisão e do cinema e etc…?

FOWLES:
Ah, isso é loucura. Totalmente loucura.

BRAGG:
É loucura. Por que você acha isso?

FOWLES:
Existem várias razões óbvias. O fato de que em um romance você pode analisar pensamentos e o inconsciente de uma forma que as câmera nunca podem. Tem várias coisas técnicas. Num romance você pode alterar cenários, a época, tão facilmente quanto qualquer outra coisa. Isso começa a gerar grandes problemas quando você tem que começar a fotografar, mas penso que uma razão vital é que a palavra não é uma imagem exata. Se eu digo uma frase como, “Ela andou pela rua”… se isso não for um roteiro de filme e que, portanto, é filmado, então tudo que o espectador conseguirá ver é uma “ela” andando pela rua. Num romance, é o leitor que tem que contribuir mais. 

Cada leitor vai ver a frase “Ela andou pela rua” de uma maneira um pouquinho diferente. Isso porque ele precisa criar a partir da sua própria memória. Pense por exemplo nos romances mais famosos, Guerra e Paz e Jane Austen, e em todos os milhões e milhões de leitores desses romances. Ninguém conseguiu recriar, nenhum leitor conseguiu recriá-los da mesma forma. Pra mim, essa é a riqueza maravilhosa que também se aplica à poesia. Sobre a prosa e a poesia, essa é a extraordinária liberdade de comunhão. 

É um tipo de relacionamento entre o leitor e o autor. Algo que desapareceu nas artes visuais. A câmera é uma coisa fascista. Ela diz: essa é a imagem que você está autorizado a ver. E isso anula essa liberdade de imaginação que as palavras e sinais verbais possuem. É por isso que eu tenho total certeza de que pode até ser que o romance morra, mas a prosa, o sinal verbal, nunca vai morrer, a poesia não pode morrer.
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The Living Dead | Romance inacabado de George Romero será lançado em 2019

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Recentemente foi anunciado que o escritor Daniel Kraus, co-autor de A Forma da Água com Guillermo Del Toro, assinou um contrato para finalizar um romance sobre zumbis de George Romero, história na qual o diretor estava trabalhando há quase uma década antes de falecer, o livro se chamará The Living Dead. Confira a sinopse oficial:

"Em 24 de outubro, John Doe desperta da morte. O médico legista Luis Acocella e sua assistente Charlene Rutkowksi estão no processo de vivissecção quando isto acontece, e assim se dá início a um pesadelo global inimaginável. 

Greer Morgan é uma adolescente que vive em um trailer, quando os mortos começam o seu ataque, e a natureza real de seus vizinhos é revelada. Chuck Chaplin é um belo e jovem âncora de jornal, e a praga lhe dá um sentido de propósito na vida

Karl Nishimura é o comandante do U.S.S. Vindicator, um submarino nuclear, que batalha contra o domínio zumbi de sua cidade pelo mar. Enquanto isso, uma mulher misteriosa chamada Etta Hoffmann grava o progresso da epidemia em um bunker em Washington D.C, e os sonhos arruinados e esperanças teimosas de uma nação ainda não estão prontos para desistir. 

Dividido em três períodos de tempo diferentes e combinando os comentários sociais de Romero com os dons de Kraus em lidar com o belo e o grostesco, o livro começa quando a praga zumbi explode, perdura e finalmente, em um final chocante, começa a mudar radicalmente".

The Living Dead será editado por Brendan Deneen, responsável também pela edição da série de livros de The Walking Dead, escrita por  Robert Kirkman e Jay Bonansinga. O livro chegará às livrarias americanas em meados de 2019, não há previsão para o lançamento no Brasil.

Resenha | Panzer Imortal de Tom Townsend

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Uma força maligna ressurge do passado: a vingança de um soldado invencível.

Um grupo de soldados americanos encontra um tanque de guerra nazista perdido em meio a uma floresta da Alemanha, quase quarenta após o término da Segunda Guerra Mundial. A máquina é nada menos que um exemplar em ótimo estado de conservação de um Jagdpanther, em alemão "pantera-caçadora", nome dado pelo próprio Hitler a poderosa divisão anti-tanques nazista. 

Os Jagdpanthers entraram em ação pouco antes do fim da guerra e deixaram um rastro de destruição e morte na história, poucos sobreviveram a própria destruição em combate, por isso a descoberta chama a atenção de várias autoridades assim que se espalha, bem como a história do estranho acidente envolvendo o grupo de soldados que o encontrou. Somente um deles sobreviveu, balbuciando uma história sobre assombração que logo foi descarta.

Quando um especialista em restauração de tanques morre de forma sangrenta e inexplicável segredos que há décadas jaziam enterrados começam a ressurgir, um horror indizível é despertado através da tecnologia e o resultado é uma blasfêmia que desafia todas as leis da natureza e que está em uma guerra que remonta a tempos anteriores a humanidade.

Panzer Imortal a primeira vista remete a clássicos do subgênero "máquinas assombradas", como Christine de Stephen King e O Carro de Dennis Shryack e Michael Butler, sua primeira metade em grande parte é similar a essas histórias, porém Tom Townsend utilizou uma estranha mistura entre terror e fantasia para explicar o sobrenatural no livro. E quando digo fantasia, é literalmente Senhor dos Anéis, chegando ao ponto de fazer várias citações de A Sociedade do Anel.

O resultado é instigante, imagine uma história de terror dos anos oitenta cuja narrativa adquire aspectos de uma fantasia inspirada pela mitologia tolkieniana, a leitura é divertida com direito a mortes sangrentas e bizarras além de um final épico e dramático no interior de uma montanha.

Porém Panzer Imortal não é muito mais que isso, um bom entretenimento, Tom Townsend não inova na exploração dos gêneros e sua trama avança através de muitas coincidências. Um aspecto positivo de sua escrita são as várias subtramas acontecem ao mesmo tempo em sua história, além da jornada dos protagonistas vs Jagdpanther, há uma boa exploração da polarização, da época da Guerra Fria, entre Estados Unidos e União Soviética, onde espiões se arrastam nas sombras e entrelinhas buscando detalhes sobre essa "nova tecnologia". 

Panzer Imortal é uma ótima escolha se você busca uma leitura divertida e que fuja dos padrões do gênero, não é um livro assustador, mas oferece algumas surpresas e cenas bem interessantes. 

 Panzer Imortal | Ficha Técnica 
   Autor: Tom Townsend
   Tradutor: Fábio Fraga Moreira
   Editora: Nova Cultural
   Páginas: 272
   Ano de Publicação: 1988
   Gênero: Terror/Fantasia
   Nota: ☠ ☠ ☠ ☠ ☠ ☠ ☠ ☠ ☠ ☠ (8/10 Caveiras)

Entrevista | Thomas Olde Heuvelt, autor de HEX

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O Biblioteca do Terror em parceria com a Darkside Books realizou uma entrevista com Thomas Olde Heuvelt, autor de HEX, um dos lançamentos mais aguardados da editora que finalmente chegou às livrarias esse mês. O autor holandês falou sobre suas principais influências e inspirações, revelou detalhes e curiosidades sobre sua obra, além de sua visita ao Brasil, marcada para junho. 

Biblioteca do Terror: Thomas primeiramente obrigado pela oportunidade da entrevista e seja bem vindo à Biblioteca do Terror. Os leitores brasileiros estão bastante ansiosos com a publicação de HEX, já ouvimos bastante sobre a obra, mas pouco de seu autor. Quem é Thomas Olde Heuvelt, em suas próprias palavras?

Thomas Olde Heuvelt: Obrigado por me receberem. “Biblioteca do Terror” soa muito bem, como uma biblioteca onde você pode se perder e passar dias morando lá com alguma coisa terrível escondida entre as prateleiras, até que você morre por puro medo e sofrimento.
Enfim, meu nome é Thomas Olde Heuvelt e sou um escritor de contos e romances da Holanda. Meu sobrenome vem do dialeto holandês antigo e quer dizer “Colina Velha”, mas na verdade eu sou bem jovem. Comecei bem jovem também. Meu primeiro romance foi publicado na minha cidade natal quando eu tinha dezoito anos. Agora, cinco livros depois, ganhei o Hugo Award por melhor conto na América (por uma história chamada “The Day the World Turned Upside Down”) e escrevi um romance muito aterrorizante que deu a volta ao mundo. HEX já foi vendido em 26 países e estou muito animado por agora estar disponível no Brasil também! Sim, é um romance de terror. O tipo de terror que te faz ficar acordado a noite e ir dormir com as luzes acesas. Recebo centenas de mensagens de leitores ao redor do mundo que me contam sobre o efeito que HEX teve neles. E eu, como um escritor de terror, fico muito feliz, é claro.

BdT: Em outras entrevistas você afirmou que Roald Dahl e Stephen King foram grandes influências para sua escrita. Quais outros autores ou livros do gênero você aponta como essenciais na sua formação como leitor/escritor?

TOH: Acredito que toda criança deve crescer com um contador de histórias por perto. Pra mim, meu tio foi meu contador de histórias. Ele costumava me contar histórias pra dormir sempre que eu ficava na casa dele. E ele me contou as melhores. Sem edições. Aos sete anos, ele me contou “As Bruxas” de Roald Dahl. Aos oito, “Drácula” de Bram Stoker. E ele não parou por aí. Toda vez que a gente ia pra floresta e passava por algum anel de fadas (tipo de cogumelo em círculo) no meio do caminho, ele dizia coisas como, as bruxas tinham dançado ali na noite anterior e, por isso, eu tinha que passar por ali com meus olhos fechados ou teria sete anos de azar. Eu acreditava nele. Eu acreditava em cada palavra que ele me contava. Me assustava, me deixava acordado a noite e me trazia pesadelos horríveis. 
Mas, ao mesmo tempo, eu amava cada minuto daquilo. Ele foi a pessoa que me influenciou a me tornar o contador de histórias que sou hoje. Mais tarde, comecei a ler livros adultos, li “O Cemitério” de Stephen King aos 11 e “It, A Coisa” aos 12, o que foi provavelmente um pouco cedo demais, só que eu fui fisgado desde então. Atualmente eu leio tudo que posso, desde histórias de terror e romances literários até realismo mágico e comédia. Meu livro favorito de todos os tempos é “As Aventuras de Pi” de Yann Martel. É tão rico e bem executado: a forma como ele te faz reconsiderar toda a história nas últimas dez páginas…

BdT: HEX foi bastante elogiado por reimaginar para os dias atuais um tema clássico da literatura de horror, uma história sobre bruxas e maldições, através de uma perspectiva moderna. De onde surgiu a inspiração para o tema? 

TOH: Desde que “As Bruxas” de Roald Dahl me traumatizou, eu quis escrever uma história sobre uma bruxa. Então há alguns anos atrás criei o conceito de uma cidade assombrada por uma mulher do século XVII condenada por bruxaria. Ela tem os olhos costurados, porque as pessoas acreditavam que ela lançava mau olhado. Mas ela está lá ainda hoje. Mostrei o conceito pra um amigo e ele me esculhambou. Com razão. Era entediante, sem graça e nada original. A gente começou a brincar com ele então. E se a bruxa não fosse essa aparição assustadora e sobrenatural, mas o bobo da cidade? E se os habitantes estão tão acostumados com a presença dela, que ao invés de sentirem medo, eles penduram uma toalha na sua cabeça quando ela aparece no meio da sala pela milionésima vez? De repente, comecei a me empolgar. Esse toque fazia a história vibrar. E aí você começa a ficar mais prático, imagine se isso se passasse na sua cidade nos dias atuais, como as pessoas iriam lidar com isso? Todo mundo teria um aplicativo de celular, é claro - o HEXApp - para relatar aparições e rastreá-la. E eles fariam de tudo para impedir que forasteiros a vissem. 
Eles a cobririam com as coisas mais loucas, como um galpão de ferramentas e arbustos. ou um coral de senhorinhas quando ela aparece em público. Só que ao mesmo tempo - e é aí que nós voltamos para o horror clássico - no fundo, eles ainda têm muito medo dela. Eles têm medo do desconhecido que ela representa. Eles têm medo do dia em que ela pode vir a abrir os olhos. E eles temem o que pode acontecer com eles caso não obedeçam às regras da cidade. E sejamos honestos, a maldição dessa mulher, Katherine van Wyler, é bem aterrorizante. Se você ouvi-la sussurrar, faz com que você se mate. O mesmo acontece se você deixar a cidade por muito tempo. Então os habitantes tem todos os motivos para terem medo. 

BdT: O Brasil é um país que tem um rico folclore nacional acerca de seres sobrenaturais, nossa cultura teve grande influência de elementos europeus e africanos, de modo que o tema de HEX é bastante familiar aos brasileiros. Uma das nossas histórias mais populares é sobre a Pisadeira, uma mulher com uma aparência assustadora que ataca suas vítimas à noite durante o sono, pisando em seu peito com seus dedos secos e compridos com unhas sujas e amareladas. A vítima fica paralisada, consciente de todo o horror, mas sem poder se mover. Existe alguma história folclórica holandesa do gênero que teve influência na criação da bruxa de HEX?
 
TOH: Eu amei! Que história incrível! É um filme de Hollywood esperando pra acontecer. Eu sou louco por folclore e histórias de terror do mundo inteiro, então sim, amo esse tipo de coisa. Talvez porque tenhamos tão pouco disso na minha terra natal. A Holanda é muito Calvinista por natureza, e assim também é sua literatura. Nós somos provavelmente o povo mais pé no chão do mundo. Quando uma pessoa sã vê uma mulher desfigurada do século XVII surgir no canto da sala, ela corre e grita. Quando um holandês vê uma mulher desfigurada do século XVII surgir no canto da sala, ele suspira, pendura um pano de prato na cara dela e vai ler o jornal. Nós não temos o costume de contar histórias de terror, ou de lidar com o sobrenatural. No entanto, eu incorporei esse jeito prático e pé no chão dos holandeses para lidar com o sobrenatural nos personagens do livro. Dessa forma, eu meio que continuei honrando minhas raízes. 

BdT: A caça às bruxas começou na Europa em meados do século XV e teve grande impacto nas histórias que eram transmitidas oralmente na época. Por exemplo, nos contos antigos de cavaleiros de armaduras temos as bruxas e feiticeiras aparecendo como mulheres sedutoras ou velhas sábias. A partir da Inquisição a figura dessas histórias muda completamente, as bruxas tornam-se canibais, com um paladar especial para crianças, e ganham uma aparência assustadora. Qual é a sua visão sobre essa mudança de perspectiva e como ela influenciou na criação da bruxa de HEX, Katherine van Wyler, com seus olhos e boca costurados?

TOH: Baseei muito elementos do livro na caça às bruxas medieval, principalmente nas superstições que a cercava. Porque as mudanças que as pessoas notavam nas mulheres e que levavam a população a acusá-las de bruxaria,  eram todas baseadas em superstições (em sua maioria religiosas). Francamente, não acho que a sociedade está tão diferente hoje em dia. Claro, temos nossas tecnologias modernas e a ciência já eliminou muitas das superstições que costumávamos temer, mas introduziu um elemento de afastamento ou uma carga na população ou até mesmo na sociedade como um todo, e as pessoas tendem a retornar aos seus instintos primordiais e instintivos. Você só precisa disso para a sociedade desmoronar. Essa é a parte verdadeiramente assustadora de HEX, penso eu: o espelho que ergue para o leitor, que faz com que ele se pergunte como agiria nessa situação. Todos gostamos de pensar que agiríamos de maneira diferente, que seríamos racionais… mas a conclusão ameaçadora é a de que não podemos ter certeza de que realmente iríamos. 

BdT: Tanto a ambientação, em uma cidadezinha americana, como a personificação de uma bruxa do século XVII demandaram muita pesquisa de sua parte. Como foi esse processo de pesquisa e qual foi a curiosidade mais bizarra e assustadora que você encontrou?

TOH: Descobri que as superstições do povo holandês dos séculos XVI e XVII não eram tão diferentes daquelas que saltaram o Atlântico e foram para as Américas. Faz sentido - elas tinham as mesmas raízes. E, sim, havia algumas histórias aterrorizantes lá. Tipo como em épocas de doença, as crianças, de repente, começavam a “brincar de funeral”. Colocavam uma delas em um caixão e carregavam para fora da cidade para representar os rituais funerários. Isso era visto como um mau presságio - eles acreditavam que a criança que brincava disso seria o primeiro a morrer num futuro próximo. Ou a história sobre os comedores de mantos… durante A Peste, abriam-se as covas coletivas para enterrar novos corpos e, na maioria das vezes, eles descobriam que os cadáveres antigos, já enterrados, tinham “comido” o manto que cobria seus rostos e tinham sangue ao redor de suas bocas. Hoje sabemos que é porque corpos em decomposição às vezes tossem sangue e as bactérias que saem da boca que acabam por comer o manto… mas naquela época eles acreditavam que os mortos tinham se levantado de seus túmulos para se alimentar dos vivos.
Cara, você precisa ver meu histórico de busca do Google. Quando se escreve o tipo de coisa que eu escrevo, você desenterra as coisas mais loucas.

BdT: O que você achou do projeto gráfico do seu livro aqui no Brasil, feito pela DarkSide Books? 

TOH: Eu amei! É diferente de tudo que eu já vi antes. A DarkSide sempre surpreende com um trabalho artístico maravilhoso. Gostaria de saber ler em português, porque aí eu teria todos os livros deles na minha estante, só porque eles são tão incríveis. Eles sempre trazem algo novo e original. Eu amei a projeção moderna do olho da bruxa se abrindo. É fascinante e tem relação com o toque moderno do conto da bruxa.

BdT: Mais uma vez obrigado pela entrevista e para finalizar você pode nos contar mais sobre seus projetos futuros? Tem planos de conhecer o Brasil? 

TOH: Realmente, mal posso esperar pra ouvir dos leitores brasileiros se eles gostaram do livro, se ficaram arrepiados ou se tiveram pesadelos. Mais uma vez, estou amando o alvoroço que a DarkSide está criando para o livro. E o melhor de tudo: vou visitar e autografar livros aí em Junho! Estarei em São Paulo, Porto Alegre e Rio de Janeiro. Então venha dizer oi e ter sua edição de HEX autografada. Sobre novos projetos: estou atualmente terminando meu próximo romance. É um romance sobre possessão. Eu sempre quis escrever um desses, mas com um toque especial chave. O que já está batido em romances sobre possessão é o aspecto religioso - sempre tem um demônio ou um espírito maligno que possui uma pessoa e um padre vem para exorcizá-lo. Já conhecemos essa história. 
Eu, no meu tempo livre, sou um alpinista, e sempre que estou nas montanhas, sinto como se elas fossem criaturas elevadas. Como se tivessem uma alma. Não sou uma pessoa muito espiritual, mas outros alpinistas já vieram com histórias parecidas. E cada montanha tem uma alma muito específica e diferente que é única dela. Elas são lugares de poder. Então minha parte escritor pensou, “Não seria legal se tivesse esse cara, um alpinista que sofreu um acidente terrível e desceu, possuído pelo espírito da montanha? Ter essa força da natureza-malvada revoltada dentro dele? Essa é a premissa do novo livro. Vai ser empolgante e vai ser aterrorizante, isso eu prometo.

Lançamentos nacionais de terror e suspense para ficar de olho no primeiro semestre de 2018!

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O primeiro semestre de 2018 está repleto de grandes lançamentos no cenário da literatura de terror nacional, com destaque para grandes editoras publicando novos e conhecidos autores, além de toda uma nova geração de escritores publicando de forma independente. Nos últimos anos o gênero cresceu exponencialmente e a expectativa é que esse ano seja ainda melhor. Esta é uma época maravilhosa para se ser um leitor de terror. Confira alguns dos principais lançamentos:

Indigesto: Contos Gástricos de Flávio Karras
Quem nunca lidou com algo indigesto? Parentes, trabalho, aborrecimentos do cotidiano, um filme patético, o noticiário político... exemplos não faltam. Nesta coletânea busquei dar forma aos temas do dia-a-dia muitas vezes ignorados ou sequer imaginados que o apetite pode esconder. Numa narrativa simples e intercalada com doses de terror, fantasia e humor leviano apresento situações envolvendo alimentação além do caráter nutricional e biológico, mas a função social que o simples ato de comer representa. Que esta publicação possa embrulhar seu estômago e sua mente de forma agradável.
Indigesto é um "arroto pútrido" de criatividade, a receita da coletânea de Flávio Karras mistura terror e fantasia com uma pitada ardente de humor ácido e uma cobertura de weird fiction. Uma leitura divertida que nos leva aos extremos da alimentação, histórias que assustam, angustiam e nos fazem refletir sobre um ato tão natural do ser humano, comer. Indigesto é literalmente um livro para se devorar!

In nomine patris: Tenebris Hibernus de  Décio Gomes
Carregando nas costas o peso das terríveis ações de Irvine Aurish, Jullian Bergamo deixa para trás as cinzas e os destroços de sua vida e parte em uma missão de caça à maléfica feiticeira. Pelo caminho, seguindo pistas e sinais deixados pela mulher, depara-se com um perigoso pedido de ajuda: viajar até Dongji, um vilarejo afetado por um rigoroso inverno, para descobrir a fonte de um misterioso problema que envolve seres da noite, sugadores de sangue, provenientes das lendas folclóricas de uma China longínqua e antiga.
Este é o terceiro livro de Décio Gomes protagonizado pelo exorcista  Jullian Bergamo. Meu primeiro contato com o autor  e seu personagem foi na antologia Arquivos do Mal, com o conto As Almas dos Enforcados, e fiquei fascinado pelo seu estilo de escrita excepcional e capacidade de evocar o horror em qualquer ambiente, com um conjunto de detalhes e descrições de tirar o fôlego. Não demorou muito para eu embarcar na leitura de In nomine patris: Dominus Mortuorum, o primeiro da série de Bergamo e ser surpreendido mais uma vez, Décio vai além das convenções do subgênero do exorcismo e apresenta uma história arrepiante sobre um demônio necromante. Tenebris Hibernus está na minha lista de próximas leituras. 

Deuses Caídos de Gabriel Tennyson
Um serial killer com poderes paranormais está assassinando evangelistas famosos — e os vídeos de cada um deles sendo torturados ganham cada vez mais público na internet. O assassino se proclama o novo messias, e os pecadores devem temer sua justiça.
Deuses Caídos é o lançamento que aguardo com mais ansiedade desde que ouvi falar da história há alguns anos atrás, Gabriel Tennyson já tem dois contos resenhados aqui no blog, O Senhor do Vento e o Último Evangelista, ambos publicados como Gabriel Requiem, e é dono de uma das escritas mais viscerais da nossa literatura. Com fortes influências de Clive Barker, Lovecraft e F. Paul Wilson é uma das grandes promessas para esse ano. 

Imperais de Gran Abuelo de M. R. Terci

Ainda sem capa oficial um dos grandes lançamentos do universo assombrado de M. R. Terci chega às livrarias ainda esse semestre pela editora Pandorga: Os Imperais de Gran Abuelo. Aqueles que já conhecem os horrores que habitam as páginas das séries do Bairro da Cripta, Caídos, O Mythos e Assombrada BR, já sabem o que esperar da obra: páginas que vertem sangue e criaturas ancestrais que pulam diretamente do papel para os nossos pesadelos mais obscuros. Com uma profunda base histórica o autor reimagina os tempos do Império do Brasil, em uma versão macabra povoada por horrores antigos e inomináveis, onde uma escuridão que perpassa eras encontrará resistência em um valente grupo de soldados.

Trabalhos Ocultos de Cláudia Lemes
Alguns contos vão parar em antologias, outros ficam na gaveta. Desses últimos, selecionei quatro contos e uma novela que abrangem vários espectros do suspense e terror, desde o mais Hitchcockiano ao puro e manjado estilo slasher. É um trabalho paralelo e sem pretensões, para aqueles que gostam de boas histórias de ninar. Divirtam-se.
Os Trabalhos Ocultos de Cláudia Lemes é aquele tipo de coletânea indispensável para o fã de terror, a escrita ágil e viciante da autora cria um clima de suspense sufocante que não deixa o leitor se libertar de suas garras até que devore a última linha de seus contos. Suas histórias perpassam vários gêneros, mas todas possuem como fio condutor o macabro. Destaque para a maravilhosa novela Massacre no Acampamento Pornô, uma homenagem ao gênero slasher, que diverte e emociona o fã de filmes clássicos como Sexta-feira 13. Altamente indicado!

A Casa dos Pesadelos de Marcos Debrito
Dez anos depois de estar cara a cara com aquela assombração, Tiago finalmente concorda em voltar à mesma casa para visitar sua avó. Agora adolescente, ele pretende provar para si mesmo, que a terrível imagem que o aterrorizara nas madrugadas por tanto tempo, não passava de uma criação tenebrosa da infância. Mas, ao chegar no casarão, o jovem se depara com o misterioso quarto de seu falecido avô, agora mantido fechado, e tratado como espaço proibido. As restrições com relação ao aposento, as sensações e barulhos no meio da noite logo alimentam nele a suspeita de que algo terrível habita o local. Tomado por uma estranha coragem e desejo de ver-se finalmente livre do medo, tudo que o rapaz deseja é descobrir o que há por trás daquela porta. Então, o pesadelo toma novo impulso quando a figura sombria da infância mostra-se real novamente...
Uma das minhas melhores leituras do ano passado foi O Escravo de Capela de Marcos Debrito, um livro que me deixou assombrado muito tempo depois de ter lido sua última linha, a forma como o autor trabalhou o horror, tanto no contexto sobrenatural, com bases no folclore nacional, quanto no social, na ambientação em uma fazenda de escravos foi sublime. Esses dois níveis de representação se completam criando uma sensação de terror que ultrapassa as páginas. Grandes expectativas para o seu próximo lançamento.

Dança na Escuridão de Marcus Barcelos
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Ainda sem capa e sinopse oficiais confirmadas, Dança na Escuridão é a aguardada continuação de Horror na Colina de Darrington de Marcus Barcelos, que será publicada pela Faro Editoral ainda esse semestre. Tive a honra de ter acesso ao manuscrito do autor e posso afirmar que Marcus Barcelos elevou a história de Ben Simons a um outro patamar, a trama está mais sombria e complexa, além de sua grande evolução narrativa, vários pontos do primeiro livro recebem explicação e dão ao leitor uma nova perspectiva sobre os acontecimentos de HNCD. É um dos grandes lançamentos desse ano! Imperdível!

O Cão Negro de Alec Silva
Quando, em 1767, uma jovem camponesa é torturada e morta sob acusação de bruxaria, um espírito vingativo de um cão de pelos negros surge, vagando pelo mundo, através dos séculos, destruindo vidas e enlouquecendo quem cruza seu caminho. Após gerações de vingança, mortes e loucuras, o Cão Negro se aproxima do ápice de seu complexo plano de justiça quando, em pleno século XXI, um caso surpreendente de licantropia amedronta algumas cidades Brasil obriga a jovem e ambiciosa investigadora Paula a tentar desvendar os assassinatos. Logo ela descobre haver uma forte ligação nos ataques do Lobo e no aparecimento de Marcos, um homem misterioso que guarda consigo segredos perigosos e sombrios. Investigando o caso a fundo, recolhendo relatos e montando o quebra-cabeça mortal, a detetive verá sua vida envolvida por uma entidade sobrenatural capaz de grandes coisas quando determinada a cumprir sua vontade.
O Cão Negro de Alec Silva, minha leitura atual, é outro livro de terror nacional cujo lançamento eu aguardava há eras com ansiedade. Um dos pontos interessantes de toda a obra do autor é seu cuidadoso processo de pesquisa sobre simbologias e significados em diferentes culturas de temas que utiliza em suas histórias, o resultado são tramas com profundas bases históricas e uma verossimilhança perturbadora. O Cão Negro é um romance de terror fix-up, formado por vários contos que se passam em épocas diferentes, que surpreende logo nas primeiras páginas. A primeira história traz o "julgamento" de uma bruxa, a origem de toda a maldição, com detalhes arrepiantes e sangrentos. Para fãs de terror visceral, é uma obra-prima. 

Creepypastas: lendas da internet org. de Glau Kemp
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Os fóruns web estão repletos de histórias sobre casos misteriosos, investigações policiais não resolvidas, fotos sem explicação, descrições de rituais e manifestações demoníacas, versões bizarras e não oficiais de jogos eletrônicos, relatos de episódios macabros de desenhos infantis. São narrativas virais e anônimas espalhadas nos recônditos mais obscuros da internet, sem que se possa rastrear seus verdadeiros autores. Ou sua veracidade. Acabaram conhecidas como creepypastas - algo como um copypaste (de copiar e colar) de situações assustadoras. Mas e se as lendas mais famosas da Internet não forem boatos?
Creepypastas é uma antologia com um tema interessante e pelas informações que a organizadora Glau Kemp já compartilhou sobre autores e contos está imperdível! Ano passado a autora lançou o ótimo Quando o Mal tem um nome e co-organizou Arquivos do Mal, uma antologia que explora os lugares assombrados de São Paulo, ambos leituras surpreendentes, carregadas de altas doses de terror e tensão. A qualidade da escrita de Glau Kemp fez com que eu ficasse de olho em qualquer projeto futuro associado ao seu nome. Creepypastas é mais um título para a lista.

Paraíso Perdido | DarkSide lançará adaptação em graphic novel do clássico de John Milton

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A DarkSide Books anunciou oficialmente a publicação da adaptação em graphic novel do clássico de John Milton, Paraíso Perdido, pelas mãos talentosas e traços sombrios do espanhol Pablo Auladell. Nos últimos as adaptações em quadrinhos de grandes obras literárias tem ganhado espaço no mercado brasileiro, a transposição para uma nova mídia é uma ótima aposta, pois proporciona o contato de uma legião de novos leitores com textos clássicos e importantes. Confira a sinopse oficial:

"Após serem expulsos do Paraíso, os anjos planejam sua vingança nas chamas do Inferno. Impedidos de atacar diretamente o céu, decidem confrontar a criação divina: o homem. 'Mais vale reinar no Inferno do que servir no Céu.'

Há 350 anos, o conflito entre Deus e Satã narrado em PARAÍSO PERDIDO, obra-prima de John Milton, virou um marco na literatura. Seus dez mil versos sobre a criação do mundo, a tentação e o desejo por redenção receberam reconhecimento instantâneo e serviram de inspiração para peças de teatro, músicas, pinturas e livros, ecoando na obra de mestres como Mary Shelley, C.S. Lewis e Neil Gaiman.

Milton criou seu épico mergulhado nas trevas de uma cegueira repentina. Entre as angústias reais do luto após a perda de sua segunda mulher e de sua filha mais nova, além da culpa religiosa enraizada na sua formação, Milton também precisou rever sua vida e a relação distante com a família.

Determinado a não deixar a perda da visão e o sofrimento provocado pela gota afetarem seu ofício, ditou PARAÍSO PERDIDO do começo ao fim para ajudantes, amigos e até mesmo suas filhas. Fruto de um árduo trabalho e reflexo da perseverança do autor, o poema levou cerca de cinco anos para ser concebido, e foi publicado em 1667 em sua primeira versão. Milton morreu em 1674, o mesmo ano em que foi lançada a edição definitiva de seu clássico.

Agora, a obra colossal foi reimaginada pelo premiado quadrinista e ilustrador espanhol Pablo Auladell. Com seu traço sombrio, quase desolado, o tributo captura o lirismo de Milton para quem ainda não teve o prazer de ler os cantos originais. Ao mesmo tempo, complementa a experiência do leitor, dando ainda mais vida ao texto. Assim como o poema ganhou notoriedade pela beleza de suas palavras, a graphic novel conquista pelas imagens, retratando a complexidade e tragédia de uma história atemporal com um toque pessoal, mas que respeita totalmente o texto original de John Milton."

Paraíso Perdido | Ficha Técnica 
   ISBN:  978-85-9454-106-2
   Autor: John Milton
   Ilustrador: Pablo Auladell
   Tradutor: Érico Assis
   Editora: DarkSide
   Páginas: 320
   Mês de lançamento: Abril

Resenha | O Homem de Giz de C. J. Tudor

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O Homem de Giz é um suspense psicológico que mergulha em uma espiral de paranoia, assassinatos e sinais misteriosos para contar uma história sobre amadurecimento, amizade, perda e a sempre traumática passagem abrupta da infância para a fase adulta. Com toques delicados e sombrios que remetem às histórias de Stephen King e Ray Bradbury sobre o tema, C. J. Tudor imprime em sua primeira obra uma voz narrativa própria e original, e como resultado obtém um suspense sólido e instigante que prende o leitor do início ao fim.

A história é narrada por Eddie Adams e se desenvolve simultaneamente em dois períodos de tempo diferentes: em 1986, como diria Bradbury, no outono da infância um grupo de amigos se envolve em acontecimentos macabros, permeados de acidentes bizarros e assassinatos, interligados por um elemento em comum, estranhas figuras de "homens de giz" desenhadas pela cidade e nos locais dos crimes; e em 2016, onde trinta anos após os eventos traumáticos, o mistério que marcou a infância do grupo ainda jaz sem solução.

Mas os segredos não permanecerão enterrados por muito tempo, uma visita do passado e um incidente irão reabrir feridas de traumas antigos e revirar memórias esquecidas em seus túmulos. C. J. Tudor mostra que às vezes o tempo não cura os machucados, ao contrário, sua ação direta acelera a putrefação e as cicatrizes resultantes se desenvolvem como um tumor nos recônditos mais sombrios da mente e do coração. E basta apenas um gatilho para liberar a insanidade.

A narração fragmentada do protagonista aumenta ainda mais a sensação claustrofóbica e angustiante de suspense, o leitor desde início se vê diante de uma mente à beira da loucura, e cambaleando entre traumas e segredos tem acesso apenas a uma perspectiva dos acontecimentos, a do próprio Eddie. O desafio é enxergar além dessas limitações e juntar as pistas soltas do quebra-cabeças em meio a história, para então desvendar o que realmente aconteceu. 

O Homem de Giz não tem uma grande reviravolta no seu final, ao contrário, sua solução é construída aos poucos ao longo das páginas e talvez por isso mesmo seja muito mais chocante. Enquanto as peças se encaixam e os nós da narrativa se desfazem o leitor é literalmente arrastado por uma narrativa ágil e alucinante. Mais do que em sua temática, são nesses momentos em que a influência de Stephen King se manifesta na escrita de C. J. Tudor, com inteligência e sutileza a autora flerta com o sobrenatural, tornando o trabalho de adivinhação do leitor ainda mais complexo.

A edição em capa dura de O Homem de Giz da Intrínseca está impecável, o trabalho de acabamento com páginas em preto e figuras de giz nas folhas de guarda e lombada dão um ar macabro ao livro e complementam a experiência da leitura. Se você é o tipo de leitor que busca um livro instigante, ágil, cheios de momento de tensão e suspense contínuo, O Homem de Giz é perfeito para você.

 O Homem de Giz | Ficha Técnica 
   Autor: C. J. Tudor
   Tradução:  Alexandre Raposo
   Editora: Intrínseca
   Páginas: 272
   Gênero: Suspense
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   Nota: ☠ ☠ ☠ ☠ ☠ ☠ ☠ ☠ ☠ ☠ (10/10 Caveiras)

Novas HQs da DarkSide Books | Black Dog de Dave McKean e O Corvo de James O'Barr

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E tem mais HQs chegando pelo selo Darkside Graphic Novel nos próximos meses, a editora cadastrou dois novos títulos na Biblioteca Nacional: a elogiada Black dog: os sonhos de Paul Nash de Dave McKean, com tradução de Bruno Dorigatti em uma edição de 120 páginas, e a graphic novel cult imensamente pedida pelos fãs, O Corvo de James O'Barr, com tradução de Érico Assis e uma edição especial com 272 páginas. Confira as sinopses:

O Corvo de James O'Barr
Quando James O'Barr despejou a dor e a angústia de uma tragédia pessoal nos desenhos que compõem O Corvo, a história intensamente catártica de Eric - que retorna dos mortos para vingar o seu assassinato e o de sua noiva nas mãos de uma gangue de rua - conquistou leitores em todo o mundo. A história que deu origem ao filme com Brandon Lee, retorna em uma edição expandida, refletindo a visão da intenção original do autor com trinta páginas de obras de arte adicionais, uma introdução de James O'Barr e sequências perdidas restauradas usando a técnica original do artista.

Black dog: os sonhos de Paul Nash de Dave McKean
A nova graphic novel de Dave McKean é baseada na vida do lendário artista Paul Nash, pintor surrealista durante a Primeira Guerra Mundial. Os Sonhos de Paul Nash trabalha com memórias de soldados reais, e todas essas histórias se somam em uma peça comovente sobre como a guerra e as situações extremas nos mudam, como lidamos com essa dor e, no caso de Nash, transformando suas pinturas em poderosos e fantásticos escapes psicológicos.

Informações oficiais, como data de lançamento e capa, devem ser divulgadas em breve.

A Casa dos Pesadelos | Medos de infância assombram o novo livro de Marcos DeBrito

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Na próxima semana chega às livrarias A Casa dos Pesadelos,  o novo livro de Marcos DeBrito autor de À Sombra da Lua, Condado Macabro e O Escravo de Capela, pela Faro Editorial. Um suspense psicológico que mergulha na região onde o véu que separa a realidade da fantasia e a sanidade da loucura é tão fino que esses conceitos se misturam, onde nascem, crescem e prosperam os piores pesadelos, pois onde mais é sua moradia senão no canto mais obscuro da nossa mente? Confira a sinopse:

"Dez anos depois de estar cara a cara com aquela assombração, Tiago finalmente concorda em voltar à mesma casa para visitar sua avó. Agora adolescente, ele pretende provar para si mesmo, que a terrível imagem que o aterrorizara nas madrugadas por tanto tempo, não passava de uma criação tenebrosa da infância. Mas, ao chegar no casarão, o jovem se depara com o misterioso quarto de seu falecido avô, agora mantido fechado, e tratado como espaço proibido.

As restrições com relação ao aposento, as sensações e barulhos no meio da noite logo alimentam nele a suspeita de que algo terrível habita o local. Tomado por uma estranha coragem e desejo de ver-se finalmente livre do medo, tudo que o rapaz deseja é descobrir o que há por trás daquela porta. 

Então, o pesadelo toma novo impulso quando a figura sombria da infância mostra-se real novamente... mas, desta vez, ela quer atacar o seu irmão mais novo.  Determinado a impedir que o caçula passe por terror semelhante, Tiago, mesmo apavorado, decide enfrentar a criatura. E o que descobre expõe terríveis segredos do passado que ninguém poderia imaginar."

Se você é de São Paulo, o evento oficial de lançamento de A Casa dos Pesadelos acontecerá no dia 18 de abril, quarta-feira na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, localizada no Piso Térreo na Avenida Paulista, nº 2073. Mais detalhes na página do evento no Facebook

 A Casa dos Pesadelos | Ficha Técnica 
   Autor: Marcos DeBrito
   Editora: Faro Editorial
   Páginas: 144
   Gênero: Suspense
   Mês de lançamento: Abril
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Os livros mais perturbadores da DarkSide Books

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Nada melhor numa sexta-feira 13 do que indicações de livros de terror que nos tirem do lugar comum, leituras que sejam tão impactantes que suas histórias e personagens fiquem ecoando em nossa mente muito tempo depois de ler a última linha. Nos últimos anos a DarkSide tem se especializado em trazer obras que figuram no topo de listas de livros mais perturbadores de todos os tempos, sejam eles ficção ou os aterrorizantes relatos baseados em fatos reais. Esta é a lista dos cinco livros que considero os mais perturbadores do catálogo da editora. Obras que te fazem refletir acerca do sobrenatural e são ótimas para preparar o solo fértil da imaginação para uma safra inesquecível de pesadelos.

Hellraiser - Renascido do Inferno de Clive Barker
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Hellraiser - Renascido do Inferno traz como protagonistas os Cenobitas, criaturas que modificaram seus corpos através de ganchos, pinos e pregos para que seus nervos e músculos fiquem expostos, em uma espécie de tortura eterna onde cada grama de sofrimento e agonia é transformado no êxtase orgástico de uma experiência sexual. Inspirado por suas visitas a clubes undergrounds de sado masoquismo, Clive Barker cria seu horror a partir da justaposição de imagens contraditórias, o profano e o sagrado, o prazer e a dor, mostrando que não existe uma divisão clara entre bem e mal ou certo e errado, mas sim um grande campo de interseção entre os dois, recheado de sangue, vísceras e sonhos assassinados.

A Fábrica de Vespas de Iain Banks
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A Fábrica de Vespas é um livro violento, seu protagonista é um jovem que vive isolado em uma ilha com seu pai, e como forma de aliviar a angústia de uma vida difícil e solitária, cria pequenos ritos diários que envolvem atos bizarros de violência, crueldade e profanação. Um dos pontos mais perturbadores do livro é a forma banal com que o protagonista encara a violência, o olhar desinteressado sobre a dor e o prazer nos métodos de causá-la, impregnam a mente do leitor como uma mancha negra, deixando seu cérebro tão anestesiado com cenas de crueldade, que chega um momento em que o mesmo já não é mais capaz de distinguir o que é violência e o que não é. 

O Colecionador de John Fowles
O Colecionador é um sufocante suspense psicológico que tem como tema a obsessão de Frederick Clegg por Miranda Grey. Fowles disseca com precisão a mente doentia de seu protagonista, oferecendo ao leitor uma visão detalhada e sombria de seus pensamentos, revelando que o "monstro" não é um ser sobrenatural que vive em cemitérios ou casas abandonadas, mas pode ser aquele vizinho silencioso que te dá olhares estranhos ou aquele colega de trabalho metódico que parece estar sempre nos mesmos aposentos que você. Uma obra que inspirou desde autores como Thomas Harris e Stephen King, bandas como Slipknot, até as controversas citações de assassinos seriais, que afirmaram se sentirem inspirados pelas ações de Clegg.

Demonologistas de Ed e Lorraine Warren
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Diferente das  histórias de ficção, em Demonologistas, você não tem a luxúria de apaziguar seus pensamentos com a certeza absoluta de que aquilo que você está lendo não é real, de que tudo não passa da imaginação perturbada do autor, Ed e Lorraine Warren a todo momento oferecem provas de que realmente enfrentaram o que está descrito nessas páginas. Qualquer busca na internet sobre os áudios de possessão gravados, dão resultados suficientes para alimentar pesadelos por décadas. Demonologistas é uma leitura extremamente tensa, ao mesmo tempo em que curiosidade nos impulsiona a devorar as páginas, o resquício de um sentido primitivo nos previne das revelações que podem estar na próxima linha. Dizem que a ignorância é uma benção, mas em casos como os citados neste livro, a ignorância é a chave para a condenação eterna.

Exorcismo de Thomas B. Allen
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Um exorcismo é a última defesa da religião contra as forças do mal, é um momento em que o religioso coloca em perigo sua alma imortal na tentativa de salvar uma alma inocente da danação eterna. É um ritual que há décadas vem sendo executado nas mais diversas culturas e religiões, e o que você encontra nas páginas de Exorcismo de Thomas B. Allen é simplesmente o relato mais completo e detalhado já documentado sobre o tema. É uma leitura bastante pesada que, mesmo com sua escrita direta e concisa, demanda várias pausas reflexivas para a análise e digestão dos fatos. Crendo ou não na veracidade daquilo que você está lendo, é impossível passar pelas páginas sem ser atingido psicologicamente pelas descrições simples e ao mesmo tempo brutais do exorcismo. 

O Corvo | Detalhes da edição definitiva da clássica graphic novel de James O’Barr

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A DarkSide Books aproveitou a sexta-feira 13 para anunciar oficialmente vários lançamentos já rumorados aqui na Biblioteca do Terror, um deles é a edição definitiva da clássica graphic novel de James O’Barr, há muito tempo pedida pelos fãs aqui no Brasil. Confira a sinopse:

"E se a morte não fosse o fim para quem deseja vingança? A partir de uma tragédia pessoal, James O’Barr criou a história de Eric Draven, que retorna para perseguir seus assassinos depois que estes interromperam uma vida de sonhos ao lado de sua amada Shelly. 

Sucesso desde quando começou a ser publicada de forma seriada e independente, em 1981, a jornada espiritual e a incapacidade de vencer o luto, aliadas à arte em preto e branco, as citações musicais de ícones do pós-punk e o lirismo do autor, carregam a graphic novel com uma sombria melancolia, que cativou e tocou o coração dos leitores. 

Esta versão definitiva deste clássico dos quadrinhos traz a força da arte e dos textos góticos de O’Barr, em edição mais que especial. Além de reunir a história completa criada pelo autor na época do lançamento, O Corvo – Edição Definitiva apresenta ainda trinta páginas de artes inéditas, além de uma sequência que o quadrinista não se sentiu a vontade para produzir nos anos 1980, conforme O’Barr confessa na introdução inédita."

O Corvo chega às livrarias nacionais em junho.

O Corvo | Ficha Técnica 
   ISBN:  978-8594541185
   Autor:  James O’Barr
   Tradutor: Érico Assis
   Editora: DarkSide
   Páginas: 272
   Mês de lançamento: Junho
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Bem-Vindo à Casa dos Espíritos | A sombria fantasia urbana de Christopher Buehlman

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Bem-vindo à Casa dos Espíritos é um daqueles títulos da DarkSide anunciados há alguns anos, que assim como HEX, chamou a atenção dos leitores e que finalmente ganha uma data de lançamento: o livro chega às livrarias brasileiras no início de maio. O livro flerta com a fantasia urbana e com o horror, utilizando como tema uma sólida base em lendas do folclore eslavo. O estilo de Christopher Buehlman é apontado como mistura entre Scott Fitzgerald e Dean Koontz. Confira a sinopse oficial:

"Você é o nosso convidado de honra para ler o que poucos conseguem ver. Uma casa perdida no meio do nada parece ser um bom lugar para esconder os mais sombrios segredos. Principalmente quando se trata de uma casa invisível a olhos não autorizados por seu dono, o enigmático Andrew Ranulf. 

Há muitas coisas que você deveria saber sobre Andrew. A mais importante de todas seria manter distância dele. Mas talvez você não consiga resistir à tentação de descobrir o que esse cara está evocando. Ele é um fenômeno que surge em todos os lugares onde Bem-vindo à Casa dos Espíritos é lançado. Não diga que não foi avisado. 

Protagonista do livro de Christopher Buehlman, Andrew é um imigrante russo que guarda em casa uma perigosa relíquia da antiga União Soviética. Membro dos Alcoólicos Anônimos, há dez anos longe das garrafas, ele também é um bruxo famoso. Sua técnica de conversar com os mortos através de vídeos atrai muitos clientes. Por mais estranho que pareça, Andrew também tem sentimentos e possui uma dona para o seu gélido coração: uma sereia de carne, osso e escamas. Todo cuidado é pouco para não seguirmos seu canto até o fundo do lago."

 Bem-Vindo à Casa dos Espíritos | Ficha Técnica 
   ISBN:  978-85-9454-008-9
   Autor: Christopher Buehlman
   Tradutora: Carolina Coelho
   Editora: DarkSide
   Páginas: 380
   Mês de lançamento: Maio
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Pandemic | O novo livro de Robin Cook

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O último livro de Robin Cook publicado no Brasil foi Benefício da Morte em 2015, desde então a editora Record tem preferido apostar em nomes como Lee Child e Jo Nesbo, deixando os leitores do mestre do thriller médico sem novas edições. É bom lembrar que as publicações nacionais já estavam bem atrasadas em relação aos lançamentos americanos, desde Benefício da Morte, Cook já lançou Nano, Cell, Host e Charlatans. E se prepara para mais uma publicação, que chega as livrarias internacionais em dezembro, Pandemic.

O público brasileiro parece não ter recebido bem a mudança na temática dos livros de Robin Cook, se nas décadas de oitenta e noventa ele era conhecido por seus temas sombrios, beirando a ficção-científica, e ação explosiva, em seus lançamentos recentes explora mais o lado político e predatório das grandes corporações médicas americanas.

Pandemic talvez reverta essa imagem, décimo primeiro livro protagonizado pela dupla Jack Stapleton e Laurie Montgomery, pode ser uma ótima aposta para a editora retomar as publicações de Robin Cook já que o casal é conhecido dos fãs brasileiros, afinal os dez outros livros da série foram publicados pela Record. Confira a sinopse do livro:

"Depois que uma jovem aparentemente saudável sofre um repentino mal súbito no metrô de Nova York e morre assim que chega ao hospital, seu caso é inicialmente diagnosticado como um virulento ataque de gripe. Isto até ela chegar na mesa de autópsia do Dr. . Jack Stapleton, onde ele faz uma descoberta estranha: primeiro, que a jovem já passou por um transplante de coração e, segundo, que seu DNA é idêntico ao do coração transplantado.

As suspeitas aumentam quando surgem mais duas incidências de jovens com o mesmo ataque de mal súbito e Jack teme que isso possa ser o início de uma pandemia sem precedentes. Mas os fatos não se encaixam. Há algo de errado sobre esses casos, algo assustador, e cabe a Jack descobrir o que é, antes que seja tarde demais.

Assim começa uma corrida contra o tempo, durante a qual Jack descobre o lado sombrio do mercado de transplantes de órgãos. Seu nome é Bui Zhao, empresário e membro do conselho do hospital que vem fraudando o sistema, usando órgãos e células de porcos quiméricos, através do gene editado biotecnologicamente CRISPER/CAS9, que permite que genes de suínos sejam inseridos em células humanas vivas. 

Em um confronto mortal e arriscado, Jack deve enfrentar Zhao, o megalomaníaco disposto a arriscar o destino do mundo para investir em seus interesses comerciais, se quiser salvar o futuro da medicina."

Ainda não temos nenhuma confirmação oficial da Record sobre um possível lançamento de Robin Cook, mas a esperança é a última que morre.

Resenha | HEX de Thomas Olde Heuvelt

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HEX de Thomas Olde Heulvet reimagina as clássicas histórias de bruxas e pequenas cidades amaldiçoadas para os dias atuais, com uma narrativa ágil e cheia de tensão, o autor inova ao fazer uma abordagem moderna de temas já conhecidos da literatura de terror. E como resultado essa nova perspectiva, além de adicionar várias camadas ao texto, atinge o leitor com mais profundidade por tratar de temas atuais, que geram grande identificação por sua semelhança com nosso dia a dia. Um exemplo é a viralização de vídeos supostamente sobrenaturais, elemento presente nas redes sociais, mas ignorado na maioria das histórias contemporâneas de assombração.

O primeiro grande acerto de HEX é a perspectiva sob a qual a história é narrada, ao invés da clássica visão do estrangeiro que entra em contato com uma comunidade fechada, é atormentado pela percepção de que há um segredo por trás da falsa sensação de normalidade, e que passa a história toda tentando descobrir o que está acontecendo, o autor opta por uma abordagem mais ousada. A narrativa é feita do ponto de vista dos próprios moradores da cidade e acompanhamos os seus esforços para dissuadir os "estrangeiros" a ficarem em suas terras, bem como esconder a fonte de sua maldição. O horror não está nas aparições da bruxa, na verdade a população já está acostumada com a sua figura aparecendo dentro de casas ou no meio das ruas. E por mais que haja um medo primordial do que ela pode fazer, sua visão é encarada como banal.

Esse é o segundo ponto interessante acerca de HEX: a construção do clima da história. Se você acha que encontrará susto fácil nessas páginas está enganado, Thomas Olde Heuvelt acerta no tom narrativo ao apresentar vários núcleos de personagens com potencial para desencadear o horror. A leitura é permeada pela sensação sufocante de que alguma coisa de ruim está na iminência de acontecer, qualquer personagem pode ser o elo fraco que irá romper a calmaria e despertar a ira da bruxa. A agonia está em descobrir qual deles será, conforme as páginas avançam e nos apegamos a determinados protagonistas, a inquietante sensação de que ninguém está salvo se solidifica e é assim que o autor nos prende em sua história. Em relação ao clima de tensão, a evolução da narrativa de HEX é similar a obras como Cerimônias Satânicas e O Homem de Palha, após um início misterioso e aparentemente inocente, temos um desenrolar cada vez mais agoniante até uma conclusão chocante e perturbadora. E poucas vezes esse tipo de narrativa termina de forma feliz.

O terceiro ponto a ser destacado é a própria bruxa, Katherine Van Wyler, ou mitologia criada ao seu redor. Thomas Olde Heuvelt desenvolve com precisão sua personalidade, as histórias de suas maldições, de seus olhos e boca costurados e as monstruosidades que causou. Esses elementos que descobrimos ao longo da história são o que a tornam tão assustadora, por mais que em grande parte das cenas ela simplesmente fique aparecendo e caminhando ao redor da cidade, é o conhecimento dos horrores que ela pode causar que nos assusta. Katherine é como uma bomba relógio pronta para explodir a qualquer minuto e seu contato cada vez mais traumático com os núcleos de protagonistas é o início da catarse do leitor. 

O último ponto a ser destacado é a população de Black Spring e a forma como enfrenta sua maldição, o contraste entre o primeiro capítulo e a página final é gritante, o autor consegue desenvolver essas mudanças de forma verossímil e tecer várias críticas sociais no processo. Conforme os eventos de desenrolam e a histeria começa a corroer as relações sociais, a loucura e o caos começam a brotar em meio a sorrisos tensos e cumprimentos forçados. Sua narrativa faz uma ótima análise da alma humana e sua índole perante a adversidade. 

HEX é um grande livro pela forma como aborda temas clássicos, Thomas Olde Heuvelt conseguiu a partir de uma premissa simples criar uma sólida história de terror que funciona extremamente bem nos dias atuais. Mais uma vez a edição sombria da DarkSide é um complemento à experiência de leitura, suas páginas finais são uma explosão poética de violência e loucura, um livro que vai encantar até os leitores mais exigentes. 

HEX | Ficha Técnica 
   Autor: Thomas Olde Heuvelt
   Tradução: Fábio Fernandes
   Editora: Darkside Books
   Páginas: 368
   Gênero: Terror
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   Nota: ☠ ☠ ☠ ☠ ☠ ☠ ☠ ☠ ☠ ☠ (10/10 Caveiras)

The Cabin At The End Of The World | O novo livro de Paul Tremblay

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The Cabin At The End Of The World é o novo livro de Paul Tremblay, vencedor do Bram Stoker Awards com Na Escuridão da Mente, que deve chegar somente em junho às livrarias americanas, mas já está recebendo vários elogios de autores como Stephen King e Mariana Enriquez. Confira a sinopse:

"Wen, de sete anos, e seus pais, Eric e Andrew, estão passando as férias em uma remota cabana em um lago tranquilo de New Hampshire. Seus vizinhos mais próximos estão a mais de duas milhas ao longo de uma estrada de terra esburacada.

Uma tarde, enquanto ela está caçando gafanhotos no jardim de frente, um estranho aparece inesperadamente na entrada da garagem. Leonard é o maior homem que ela já viu, mas é jovem e amigável e a conquista quase instantaneamente. Os dois conversam e brincam até Leonard abruptamente pedir desculpas e dizer a Wen: 'Nada do que vai acontecer é culpa sua'.
 
Mais três estranhos chegam à cabana carregando objetos ameaçadores e não identificáveis. Enquanto Wen corre para avisar os pais, Leonard grita: 'Seus pais não vão querer nos deixar entrar, Wen. Mas eles precisam. Precisamos da sua ajuda para salvar o mundo'.

Assim começa uma história insuportavelmente tensa sobre paranoia, sacrifício, apocalipse e sobrevivência, que se desenrola até uma conclusão devastadora, na qual o destino de uma família amorosa e possivelmente de toda a humanidade estão entrelaçados."

The Cabin at the End of the World é o terceiro livro da "nova fase" do autor como escritor de terror, além de Na Escuridão da Mente publicado ano passado pela Record, há Disappearance at Devil's Rock, lançado nos Estados Unidos em 2016.  

Ainda não há nenhuma informação da editora sobre futuros lançamentos no Brasil, nos resta esperar que Paul Tremblay não entre no limbo dos autores de terror esquecidos pela Record, ao lado de  Michael Koryta, Dean Koontz e F. Paul Wilson.

Resenha | No Reino do Terror de R. F. Lucchetti

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Foi nas histórias em quadrinhos que o terror nacional ganhou espaço, corpo e identidade. A  popularização do gênero  ganhou força em meados da década de 50, uma onda que cresceu nas décadas seguintes, as bancas eram povoadas por dezenas de títulos que traziam histórias de horror de autores nacionais e internacionais, revistas como Seleções de Terror, Histórias do Além, Kripta, Spektro e Pesadelo marcaram época e hoje são grandes raridades. Entre os talentosos autores brasileiros da época um nome em especial se destaca: Rubens Francisco Lucchetti e sua prolífica produção.

No Reino do Terror, publicado em 2001 pela editora Opera Graphica, faz um importante resgate histórico da produção de Rubens Francisco Lucchetti no universo das histórias em quadrinhos. Não apenas por trazer dez de seus roteiros mais macabros ilustrados pelos principais desenhistas com quem colaborou, mas também pela visão intimista e pessoal da entrevista concedida a Marco Aurélio, seu filho e organizador do livro, que presenteia o leitor com uma contextualização da época em que as obras foram produzidas e detalhes da vida do roteirista. 

Além da entrevista, cada história possui uma introdução de Lucchetti explicando inspirações e curiosidades por trás de cada um de seus roteiros. São 144 páginas belamente ilustradas por nomes como Nico Rosso, Rodolfo Zalla, Eugênio Colonnese, Júlio Shimamoto e Flávio Colin. Apesar de ser uma ínfima parte de toda sua obra, as dez histórias presentes em No Reino do Terror, formam um ótimo panorama da grandiosidade e importância de Lucchetti e seu trabalho para a literatura nacional.

Na primeira história Lucchetti faz uma macabra releitura do clássico de Shakespeare, Romeu e Julieta, desenhada por Nico Rosso e publicada originalmente em 1968 na revista Cripta, conhecida por suas histórias em quadrinhos curtas. Na história um casal decide colocar em prática um plano arriscado e indo contra a vontade de suas famílias os dois decidem ficar juntos para todo o sempre... Lucchetti utiliza uma técnica infalível para surpreender o leitor: o clímax e a surpresa da trama estão presentes no último quadrinho da história.

Em Um Crime Mais Que Perfeito Lucchetti aborda a clássica história do triângulo amoroso sob a perspectiva do marido que decide matar sua esposa, desenhada por Nico Rosso e publicada originalmente em 1971 na Revista de Terror, é uma homenagem a Alfred Hitchcock. Na trama um marido coloca em prática o plano perfeito para dar fim ao seu casamento, porém ele não contava com um pequeno detalhe...

Em No Princípio Era o Verbo, desenhada por Nico Rosso e publicada originalmente em 1971 na revista Estórias Adultas, Lucchetti aborda o polêmica do aborto em um história curta, são apenas quatro páginas que contém uma grande carga emocional e incitam uma profunda reflexão.

As histórias de mistério são homenageadas por Lucchetti em Atrás da Porta, desenhada por Nico Rosso e publicada originalmente em 1971 na revista O Samurai. Na trama os herdeiros de um barão se reúnem como urubus ao redor de seu leito de morte, quando ele finalmente atravessa para o além eles são desafiados a passar uma noite na casa velando seu corpo m funeral, para então ter acesso a seu testamento. Porém a cobiça e curiosidade afetará cada um deles e no final apenas um sobrará...

Publicada pela primeira vez em 1972 na Revista de Terror, Era Uma Vez...é uma história fantástica que mergulha no universo das maldições de terras exóticas e distantes. Na trama, desenhada por Nico Rosso, um jovem colecionador de objetos de arte fica obcecado por uma estatueta feminina que esconde segredos além da sua imaginação...

Mulher Diabólica, desenhada por Nico Rosso e publicada originalmente na Revista de Terror em 1972, é uma das melhores e mais surpreendentes histórias de Lucchetti, que dessa vez aborda o tema do triângulo amoroso sob uma perspectiva sobrenatural... Apaixonado pela esposa de seu melhor amigo, Edgar decide levar seu relacionamento às escondidas até o limite: é chegada a hora de matar o marido. O que Edgar não sabe é que sua amante guarda um horripilante segredo e talvez seja tarde demais para voltar atrás...

Em A Única Testemunha, desenhada por Rodolfo Zalla e publicada na revista Calafrio em 1981, Lucchetti cria uma história macabra sobre vingança centrada mais uma vez no tema do triângulo amoroso. Um importante político, após um acidente, passa seus dias presos a uma cadeiras de rodas, até que uma noite sua esposa e seu médico decidem colocar em prática seu plano mortal para poderem ficar juntos. O que eles não esperavam é que a retribuição seria tão rápida e mortal e viria em uma forma tão estranha...

Em Como Matar sua Esposa, desenhada por Eugenio Colonnese e publicada em 1982 na revista Calafrio, Lucchetti traz uma versão sombria e engenhosa do clássico mistério sobre o assassinato entre um casal. A população da cidade começa a se perguntar sobre o misterioso desaparecimento da esposa do médico e o motivo dele estar cavando um buraco em seu porão...

Em Virgínia, desenhada por Julio Shimamoto e publicada originalmente na revista Calafrio em 1982, Lucchetti mistura a ciência e o sobrenatural em uma história onde o elixir da juventude é fonte de um terror sem limites. Dois amigos estão reunidos, um deles irá revelar os resultados de sua pesquisa de décadas e um segredo enterrado há mais de trinta anos ressurgirá para assombrar a imaginação de todos...

Na última história, João e Maria, desenhada por Flávio Colin e publicada na revista Calafrio em 1993, Lucchetti habilmente cria uma história de terror no contexto brasileiro, o horror não advém do sobrenatural, mas sim das agruras que somos obrigados a enfrentar no dia-a-dia. João e Maria é uma história de terror, amor e perda. Seu final é cruel e impactante.

No Reino do Terror | Ficha Técnica 
   Autor: R. F. Lucchetti
   Organização: Marco Aurélio Lucchetti
   Editora: Opera Graphica
   Páginas: 144
   Gênero: Terror/Suspense
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   Nota: ☠ ☠ ☠ ☠ ☠ ☠ ☠ ☠ ☠ ☠ (10/10 Caveiras)

Jack, o Estripador | Record lança livro sobre a investigação definitiva de Donald Rumbelow

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Finalmente uma das obras mais elogiadas sobre as investigações de Jack, o Estripador chega ao Brasil. Escrito por Donald Rumbelow o livro foi publicado pela primeira vez em 1975, ganhando edições ampliadas ao longo dos anos conforme novas informações foram surgindo, sendo a última delas publicada em 2013, edição esta traduzida pela Record.

O autor é uma das maiores referências do tema no mundo, foi  consultor chefe dos principais filmes e programas de televisão sobre Jack, o Estripador nos últimos 35 anos, e além de ser ex-curador do Museu de Crimes da Polícia da Cidade de Londres, é conhecido pela famosa London Walks, um circuito de caminhada pelas ruas de Londres onde atua como guia, percorrendo as ruas onde o estripador deixou seus rastros de sangue. Confira a sinopse oficial: 

"Um dos maiores mistérios policiais de que se tem notícia, o caso do homem que assassinou umas série de prostitutas de forma sádica e cruel em Londres, em 1888, transformou o assassino conhecido como Jack, O Estripador no serial killer mais famoso da história. Donald Rumbelow é ex-policial e é um especialista no caso, atuando inclusive como consultor para obras audiovisuais sobre o assassino.

Neste livro, ele submete as teorias sobre a identidade e a motivação do famoso assassino a intenso escrutínio, com uma lista de possíveis suspeitos que vai desde um ex-presidiário paupérrimo e um marinheiro mercante até Lewis Carroll, autor de Alice no País das Maravilhas, e Randolph Churchill, pai do ex-primeiro-ministro inglês Winston Churchill. 

O autor examina a mitologia que envolve o caso e propõe uma análise sobre o perfil do Estripador,além de traçar paralelos com outros terríveis casos famosos na tentativa de esclarecer as razões para as atrocidades cometidas na Londres vitoriana."

Jack, o Estripador já está à venda nas livrarias.

 Jack, o Estripador | Ficha Técnica 
   ISBN:  978-8501113092
   Autor:  Donald Rumbelow
   Tradutor: Alessandra Bonrruquer
   Editora: Record
   Páginas: 378
   Mês de lançamento: Abril
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Geek Love | Cultos bizarros e mutilações no controverso romance de Katherine Dunn

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A primeira vez que ouvi falar de Geek Love foi alguns anos atrás, quando pesquisava por obras com premissa similar a Raça da Noite de Clive Barker, que abordassem o tema do "monstro" por uma perspectiva diferente da usual na literatura de terror.

O livro de Katherine Dunn, publicado pela primeira vez no Brasil na década de noventa com o título  Amor de Monstro, me chamou atenção por sua premissa bizarra: um show de horrores onde as deformidades são fabricadas através de métodos extremamente cruéis, como mutilações e ingestões de venenos, tudo isso realizado de forma consensual. 

Infelizmente, embora fosse pouco conhecido, o livro estava em estado de raridade no Brasil e a notícia de que a DarkSide vai lançar uma nova edição me surpreendeu. Geek Love não é exatamente um livro de terror, mas seus temas fluem para esse lado mais sombrio, o cerne da história parece girar em torno da constituição da família, como conceito primordial, e da nossa percepção do significado da palavra "monstro". Discussão essa que Clive Barker explora com personalidade em Raça da Noite. 

A abordagem de Katherine Dunn explícita e visceral de tabus e temas pesados suscitou um grande debate entre os leitores, não existe meio termo, ou você ama Geek Love ou odeia. É incrível o número de pessoas que ficaram horrorizadas com algumas passagens do livro, eu ainda não o li, mas só essa questão aguçou ainda mais minha curiosidade, principalmente pela editora ter lançado uma obra com fama similar, A Fábrica de Vespas, cuja leitura foi deliciosamente perturbadora. 

Para completar Geek Love concorreu na época de seu lançamento, em 1989, ao Bram Stoker Award na categoria de melhor romance, juntamente com Meia-Noite de Dean Koontz, mas perdeu para o clássico Carrion Comfort de Dan Simmons. Confira a sinopse oficial da DarkSide:

"Senhoras e senhores, sejam bem vindos ao circo dos Binewskis, um lugar repleto de atrações extraordinárias e seres estranhos que vão surpreender o mais cético dos espectadores. Quando os ambiciosos donos de um circo itinerante se veem diante da decadência de seu próprio negócio, eles decidem mudar o jogo de maneira nefasta. 

Com o uso de substâncias radioativas e drogas, eles transformam seus filhos em aberrações - um espelho de sua própria moral - para salvar o negócio da família. Suas apresentações pelo país inspiram devoção de alguns e ódio de outros, e as tensões e valores familiares são levados a um novo nível. Geek Love lança sua luz sobre as nossas noções de bizarro e normal, belo e feio, sagrado e obsceno."

Geek Love | Ficha Técnica 
   ISBN:  978-85-9454-044-7
   Autor:  Katherine Dunn
   Tradutora: Débora Isidoro
   Editora: DarkSide Books
   Páginas: 464
   Mês de lançamento: Maio
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Outsider | Novo livro de Stephen King será publicado em junho no Brasil!

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A editora Suma finalizou a semana com uma ótima notícia para os fãs de Stephen King: Outsider, sua obra mais recente, chega às livrarias nacionais em junho! 

O lançamento oficial americano acontecerá em 22 de maio, o que significa que a versão nacional será publicada com menos de um mês de diferença para a original! A editora revelou a capa e sinopse oficiais, além do título em inglês optou-se por manter a perturbadora ilustração da versão americana. Confira a sinopse oficial:

"O corpo de um menino de onze anos é encontrado abandonado no parque de Flint City, brutalmente assassinado. Testemunhas e impressões digitais apontam o criminoso como uma das figuras mais conhecidas da cidade — Terry Maitland, treinador da Liga Infantil de beisebol, professor de inglês, casado e pai de duas filhas.

O detetive Ralph Anderson não hesita em ordenar uma prisão rápida e bastante pública, fazendo com que em pouco tempo toda a cidade saiba que o Treinador T é o principal suspeito do crime. Maitland tem um álibi, mas Anderson e o promotor público logo têm amostras de DNA para corroborar a acusação. O caso parece resolvido.

Mas conforme a investigação se desenrola, a história se transforma em uma montanha-russa, cheia de tensão e suspense. Terry Maitland parece ser uma boa pessoa, mas será que isso não passa de uma máscara? A aterrorizante resposta é o que faz desta uma das histórias mais perturbadoras de Stephen King dos últimos tempos."

Maiores detalhes devem ser divulgados em breve.
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