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Hemeroteca do Terror II | As primeiras publicações de Edgar Allan Poe no Brasil

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A Hemeroteca do Terror é uma seção destinada a preservação e resgate da memória da literatura de terror no Brasil, com principal fonte em matérias, curiosidades e notícias de jornais e periódicos antigos. Nessa segunda edição iremos analisar as primeiras publicações de Edgar Allan Poe no Brasil.

Uma das primeiras menções rastreáveis a Edgar Allan Poe em periódicos antigos no Brasil é de 7 de setembro de 1867 na edição número 12 do La Gazette du Brésil, um jornal francês publicado no Rio de Janeiro (que acabou encerrando suas publicações no ano seguinte), voltado ao público imigrante da cidade e que também era distribuído nos transatlânticos que aportavam em terras brasileiras. O jornal publicou parte da sátira de Poe sobre fraudes, "Diddling: Considered as One of the Exact Sciences." em francês. O texto foi publicado  originalmente em 1843 no jornal Saturday Courier da Filadélfia.


Já a primeira publicação completa de um texto em português de Edgar Allan Poe foi Assassinatos na Rua Morgue em 1882. Com tradução do original em "inglez" pelo escritor Julio Ribeiro, que viria a chocar a sociedade brasileira em 1888 com o polêmico A Carne, o conto saiu em formato de folhetim, sendo publicado semanalmente a partir da edição de 8 de outubro de 1882 do jornal Diario do Brazil, do Rio de Janeiro. 

As publicações em formato de folhetim foram bastante populares no final do século XIX no Brasil e são responsáveis por uma grande mudança na forma como os textos eram produzidos, divulgados e lidos. Inicialmente sendo uma diversão relegada a burguesia, acabou ganhando o gosto popular e modificando profundamente os hábitos de leitura da época. Nesse formato floresceram autores como Machado de Assis, Lima Barreto e José de Alencar, com a publicação de histórias com enredos atraentes e ganchos cheios de tensão. É nesse contexto que leitor brasileiro tem seu primeiro contato  com a prosa de Edgar Allan Poe.



Mas não eram apenas os contos de Poe que faziam sucesso nas páginas de jornais, seus poemas também eram publicados pelos diversos veículos da época, como é o caso de "O Eldorado", publicado no Almanaque Brasileiro Garnier de 1904. 


Na primeira década do século XX nota-se a popularidade de Edgar Allan Poe pelas centenas de matérias que citam seu nome, uma particularidade da época se encontra na forma como ele era referenciado nas mais diversas publicações, alguns jornais adicionaram o "d" ao seu nome, de modo que há várias referências a Edgard Allan Poe ou apenas Edgard Poe. Além de matérias sobre sua vida e morte, é possível encontrar vários acontecimentos bizarros da época que são comparados a suas narrativas. O Gazeta de Notícias de 16 de março de 1908 apresenta o caso de um leão que quase mastigou o braço de um incauto no zoológico e cita o corvo de Poe: nunca mais! nunca mais! Já O Correiro da Manhã de 29 de março de 1907 compara a assustadora descoberta de dezenas de ossos humanos em um terreno abandonado a uma história de Edgard Poe ou E. T. A. Hoffman.

Nessa mesma época também nota-se a importância da leitura pública, em especial a declamação de poesias, como uma forma da qual os mais diversos indivíduos, mesmo aqueles que não eram letrados, podiam participar dos hábitos sociais de leitura  da época. O Correiro Paulistano de 17 de outubro de 1913 cita uma concorrida "reunião cívica" onde o Sr. Sigefredo Navarro, diretor de uma escola, recitou o poema O Corvo de Edgard Poe e foi muito aplaudido. Enquanto o jornal O Paiz, do Rio de Janeiro, na edição de 19 de abril de 1909, traz o cronograma de uma festa, onde a leitura de O Corvo com a tradução de Machado de Assis era uma das principais "diversões da noite".


A primeira edição publicada no Brasil de um livro de Edgar Allan Poe, segundo Denise Bottmann no artigo Alguns aspectos da presença de Edgar Allan Poe no Brasil, é a coletânea Novellas Extraordinarias, publicada por H. Garnier Livreiro-Editor em 1903. Fazem parte dessa publicação os seguintes contos:  “O rei peste”; “O corvo (Gênese de um poema)”; “Pequena discussão com uma múmia”; “O homem das multidões”; “O sistema do doutor Breu e do professor Pena”; “Colóquio entre Monos e Uma”; “Colóquio entre Eiros e Charmion”; “Poder da palavra”; “A carta roubada”; “Duplo assassínio na rua Morgue”; “O escaravelho de ouro”; “O poço e o pêndulo”; “Hopfrog”; “O demônio da perversidade”; “O gato preto”; “William Wilson”; “Silêncio”; “Sombra” e “Berenice”.


E assim teve início a gigantesca história das publicações de Edgar Allan Poe no Brasil, desde as primeiros contos em formato de folhetim (abandonados e esquecidos pelo público com a difusão do rádio) até as edições de colecionador da Darkside Books, são mais de um século de história. 


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